GT 003. A luta pelo espaço nos centros urbanos contemporâneos
Apresentação Oral em GT
Enderson Geraldo de Souza Oliveira
‘Tá no jornal, tá na rua’ ou um diálogo entre Antropologia e Comunicação acerca de disputas, pastiches e paisagens na fisionomia urbana contemporânea de Belém do Pará, na Amazônia
Não é raro notar em Belém, em especial em áreas mais habitadas ou mesmo frequentadas principalmente por pessoas de classe média e alta, edificações, empreendimentos ou ainda outros locais que possuem, em sua arquitetura ou mesmo “nomenclatura”, expressões e/ ou referências a outras regiões ou lugares, especialmente estrangeiras, de fora do Brasil. O mesmo ocorre nos cadernos de “Negócios” dos jornais da capital, principalmente - e não por acaso desde a capa - dos dominicais, com anúncios e previsões de novos empreendimentos imobiliários e/ou de outras ordens na capital paraense.
Neste work discuto então tais “estrangeirismos”, notando tal processo não apenas como a reprodução de termos de outra região do país ou mesmo fora do Brasil, mas sim como indicadores da tentativa de se buscar outra vivência ou mesmo experiência através de elementos estéticos: os estabelecimentos; suas imagens e os jornais em que são apresentados. Mais que isso: discuto o quanto tais processos talvez ampliem hiatos ou mesmo esgarçam tênues linhas de compreensão do espaço urbano ou mesmo de apropriações ou afastamentos por parte dos sujeitos a que se destinam ou não tais “anúncios”.
Levando em conta o caráter polissêmico de tais discussões, como afirma Flávio Leonel Abreu da Silveira (A paisagem como fenômeno complexo, reflexões sobre um tema interdisciplinar, 2009), me aproximo da categoria “pastiche”, processo estético que visa uma “homenagem” a estilos ou obras anteriores (Pós-Modernismo: A lógica cultural do capitalismo tardio, Fredric Jameson, 2002.
Indo além, ciente de que “percorrer as paisagens que conformam um território, seguir os itinerários dos habitantes, reconhecer os trajetos, interrogar-se sobre os espaços evitados, é evocar as origens do próprio movimento temporal desta paisagem urbana no espaço” (Etnografia de Rua: Estudo de Antropologia Urbana, Cornelia Eckert e Ana Luiza Carvalho da Rocha, 2003) proponho ainda o diálogo entre Antropologia e Comunicação para compreender tal utilização de terminologias nos referidos empreendimentos, que apontam para um curioso e profícuo diálogo entre a paisagem urbana e seu “prolongamento” impresso em jornais, que talvez indiquem para um modo peculiar de consumo ou ainda de aderência às imagens e significados que “carregam” e instigam.