Redes sociais da ABA:
GT 003. A luta pelo espaço nos centros urbanos contemporâneos
Apresentação Oral em GT
Francine Nunes da Silva
Imaginar e habitar a cidade: reflexões sobre ocupação, arte e resistência
Em 2014, um casarão abandonado no centro da cidade de São Paulo foi ocupado por um grupo de artistas e produtores culturais para a organização de um ateliê compartilhado de criações artísticas e posteriormente espaço de moradia. Construído em meados de 1920, o imóvel teve várias finalidades e modificações na estrutura. E atualmente é intitulada Casa Amarela Quilombo Afroguarany. Os ocupantes procuram mobilizar localmente ações sócio-culturais que trazem no seu bojo as temáticas da arte, ocupação e resistência voltadas para as matrizes afro-indígenas, por isso a denominação "Quilombo" e "Afroguarany". A realização de atividades ligadas à música, arte urbana (TAG, pixo e graffiti), audiovisual, dança, teatro, performance, ensaio, bazar, sarau e festa de Dancehall confere ao território ocupado uma re-existência e sociabilidade que espelham referenciais culturais e coletivos da vida urbana. A conflitualidade no centro de São Paulo em relação principalmente a habitação é recorrente e os moradores das ocupações, como a da Casa Amarela, sofrem com as inúmeras tentativas de ordem de despejo e reintegração de posse. Assim, pode-se redimensionar a cidade a partir da chave da precariedade de condições e desigualdades sociais, econômicas, políticas, institucionais, laborais que afetam os habitantes, mas sobretudo pela luta por moradia digna como afirmação e organização por direitos de participação e acesso aos serviços públicos e bens culturais que a região central proporciona. Dentro dessa perspectiva as zonas centrais são caracterizadas pelas recorrentes remodelações que reiteram os processos de afastamento do 'outro', discriminação e preconceito. O presente work busca a compreensão da ocupação enquanto habitação e espaço de ação cultural, artística e politica a partir das falas e narrativas dos residentes em meio a situações de negociação, representação e classificação ancoradas em fatores como, etnia, gênero, origem migrante, raça, idade, opção politica, ocupação profissional. As conclusões preliminares trazem reflexões segundo uma abordagem agonística, de que a arte e a "cultura de rua, negra e periférica" podem intervir e ressignificar territórios em um contexto de dissenso em torno de temas silenciados e submersos que o consenso neoliberal tende a obscurecer e obliterar. Ao escapar das essencializações, das histórias oficiais e dos olhares disciplinares, a pesquisa etnográfica opera no sentido de que as conexões entre arte, cultura e política revelam que as formas de resistência podem criar engajamentos de cunho estético e crítico e um tipo de responsabilidade coletiva pela vida, pelas formas de habitar e pelo uso criativo e alternativo de imaginar a cidade.