Redes sociais da ABA:
GT 003. A luta pelo espaço nos centros urbanos contemporâneos
Apresentação Oral em GT
Victória Ester Tavares da Costa
Reforma do Bar do Parque, em Belém do Pará: dinâmicas de ocupação e repercussão
Ponto de encontro de músicos, poetas, prostitutas que lá encontravam seus clientes e moradores das proximidades ou das ruas, o Bar do Parque era conhecido desde os anos 1960 por sua característica mais intensa: a boemia. Rastro da Belle Époque em Belém, a arquitetura europeia de casarões e prédios localizados no centro da cidade contém certa estrutura histórica. Próximo ao centenário Cine Olympia e ao Theatro da Paz, na Praça da República, o Bar do Parque é o local de observação deste texto. Em 2017, o anúncio de um edital municipal que previa encontrar novos gestores para o Bar, que fizessem modificações na estrutura, trazendo uma “revitalização conceitual” baseado em um novo modelo “comum na Europa”, segundo o próprio documento oficial, fez com que a mobilização acerca das possibilidades de descaracterização deste espaço fossem sentidas por seus frequentadores e simpatizantes. Apesar das petições e reivindicações, o Bar do Parque foi fechado e reinaugurado no início de agosto de 2018, cuja repercussão foi notada principalmente nas mídias sociais, em que há nítida divisão de opiniões no que tange a reforma, seu público e às questões de gestão. Partindo de Certeau, sobre um espaço tornar-se local (“A invenção do cotidiano”, 1990) a partir das características que se desvelam nas interações entre as pessoas e os elementos presentes, então tem-se, hoje, várias percepções sobre o Bar do Parque. Neste ínterim, o uso e a ocupação do espaço tornou-se tema de debates (por vezes fervorosos) cujos resultados repercutiam diretamente no usofruto do Bar e seu entorno. A reforma trouxe mais que mudanças físicas à paisagem deste trecho do bairro da Campina, gerou mobilização de grupos em relação a esta área, seja na convocação dos batuques na praça, seja nos clientes (novos ou antigos) do bar ou mesmo curiosos, à distância. O abandono público antes da reforma é unanimidade. As alterações nos preços, na estrutura, nos serviços oferecidos e, principalmente, no público, são os questionamentos mais frequentes nas mídias digitais, mas foi também o que gerou uma dinâmica de ocupações. Assim, através de etnografias pelo próprio Bar do Parque e do contato com frequentadores e ex-frequentadores, acrescentarei à pesquisa algumas das opiniões emitidas na internet (Kozinets, “On Netnography: Initial Reflections on Consumer Research Investigations of Cyberculture”, 1998), elencando pontos que desvelam as diversas percepções da reforma no âmbito do prédio e de seu entorno. Deste modo, discuto também a partir de Agier (“Do direito à cidade ao fazer-cidade: O antropólogo, a margem e o centro”, 2015) e de Magnani (“Etnografia como Prática e Experiência”, 2009) de que forma as práticas sociais que estão ocorrendo podem refletir diretamente neste recorte da cidade.