Redes sociais da ABA:
GT 003. A luta pelo espaço nos centros urbanos contemporâneos
Apresentação Oral em GT
Vinícius Moraes de Azevedo
“Posso perder a carteira, mas não perco a identidade”: a linguagem da pichação como forma de ação e reapropriação na cidade do Rio de Janeiro.
Misteriosas assinaturas monocromáticas feitas com spray de tinta que aparecem repentinamente em diferentes alturas e superfícies da cidade são alguns dos elementos centrais que compõem o visual do ambiente urbano carioca. É impossível circular pelas ruas, sobretudo as das regiões periféricas da cidade, sem encontrar paredes repletas de pichações. Indivíduos, majoritariamente homens, de diferentes níveis econômicos e educacionais, são os autores dessas caligrafias proibidas. Com o objetivo de garantir notoriedade entre seus pares, eles espalham seus nomes e criam uma forma específica de se comunicar usando o corpo da cidade como seu suporte base. Trata-se de uma linguagem codificada que só pode ser acessada pelos iniciados nessa cosmologia. No contexto de urbanização espetacular observado no Rio de Janeiro, a linguagem da pichação é compreendida como antagônica à noção normativa de uso apresentada pelos setores hegemônicos da sociedade. Esse é um dos fatores do complexo jogo de valores que faz com que a pichação e seus praticantes sejam violentamente combatidos por seus opositores. Para sobreviver e dar vida a uma estética construída coletivamente, os pichadores elaboram uma lógica específica de ocupação dos espaços. Essa metodologia de (re)significar o ambiente urbano, tanto com o corpo como com suas assinaturas, consiste em uma atuação noturna e furtiva na qual meus interlocutores visam paredes e muros que garantem destaque visual e durabilidade para as pichações. Eles fazem uso de brechas e realizam manobras com o intuito de driblar o moderno sistema de segurança citadino. O corpo não pode ser visto, mas deixa a marca de sua presença em diversos espaços e alturas da cidade. Imersos na atividade de produção de seus nomes, esses interlocutores iniciam trajetórias que entendo como carreiras na pichação. São processos de progressão sequencial, marcados por etapas de transição, isto é, mudanças significativas dentro de um sistema, a afetar diretamente o indivíduo e sua subjetividade, e alterar, portanto, seus projetos, sua forma de atuação, de uso do ambiente urbano e sua significação. O objetivo central do work é, através da pesquisa etnográfica, compreender como indivíduos socialmente estigmatizados obtêm prazer, reconhecimento e satisfação pessoal através de uma prática que, em aparência , oferece mais problemas do que benefícios. Nesse contexto, abordo a pichação como código comunicacional, ação política de ocupação do território, e forma de reconhecimento e lazer, a engendrarem especificidades da cultura de rua carioca. Nesta comunicação, apresento as questões centrais da dissertação. Essas problematizações serão apontadas através da exibição de material iconográfico.