Redes sociais da ABA:
GT 003. A luta pelo espaço nos centros urbanos contemporâneos
Apresentação Oral em GT
Pedro Henrique Baima Paiva
Etnografando Audiências Públicas: o caso da Operação Urbana Consorciada Jardim Botânico
O antropólogo Claude Lévi-Strauss visitou a cidade de Goiânia em 1937, quatro anos após o lançamento da pedra fundamental pelo então interventor federal Pedro Ludovico Teixeira, e sua impressão foi que “ali nos sentíamos como numa estação de trem ou num hospital, sempre passageiros, e nunca residentes” (LÉVI-STRAUSS 1996, p. 132). A cidade planejada e modernista que nasceu no centro oeste do país, durante esse tempo foi escolhida por pessoas vindas de vários Estados para trabalhar e viver. Contudo, para algumas dessas pessoas que há mais de 60 anos lutam pela escritura de suas casas, essa sensação de “passageiro”, vez ou outra ainda volta à lembrança. Este é o caso dos moradores da Ocupação do Jardim Botânico (OJB), que mais uma vez enfrentam a ameaça de despejo após o anúncio de projetos urbanísticos para a região. Construída às margens do Botafogo, córrego que historicamente acolheu muitas famílias vindas para a construção da cidade planejada, a OJB trava uma disputa com a prefeitura em busca da regularização fundiária das casas no mesmo momento em que o setor imobiliário lança seu olhar para o potencial de valorização da área e pressiona o poder público por intervenções. É nesse contexto que a cidade de Goiânia, planejada e construída na década de 1930 como símbolo da ruptura do tradicional em busca da modernidade, se torna um ótimo caso para análise. A capital do Estado de Goiás tem experimentado o que Harvey (2014) chamou de desenvolvimento incoerente e insípido que ganhou legitimidade no movimento chamado “novo urbanismo” e que enalteceu a venda da comunidade e do “estilo butique” como modo de vida, criando um produto feito por agentes imobiliários para satisfazer os sonhos urbanos. Ao analisar o diálogo entre a prefeitura, os moradores e os investidores imobiliários considerando-o como sugere Herzfeld (1991), um debate cultural na prática social, procuro contribuir com o estudo de processos urbanísticos e de intervenções urbanas aprofundando o olhar para a relação de familiaridade que os moradores têm com os lugares. Conhecer o saber local a partir das dinâmicas dos moradores, seus valores e suas memórias pode fornecer informações importantes sobre os lugares, que devem ser incorporadas ao saber técnico e especializado do ambiente político e burocrático do planejamento das cidades. Portanto, após o anúncio da prefeitura da capital de realizar sete audiências públicas para discutir com a população uma proposta de Operação Urbana Consorciada para a região, lanço mão da câmera participante, dinâmica de apresentar ao grupo o material registrado durante o work de campo, para filmar essas audiências com os moradores da (OJB) registrando, sobretudo a forma com que as pessoas veem ou imaginam a região.