Grupos de Trabalho (GT)
GT 071: Mercados culturais e trabalho: desafios e fazeres etnográficos
Coordenação
Marina Bay Frydberg (UFF), Victoria Irisarri (universidad de buenos aires)
Debatedor(a)
Tatiana Braga Bacal (UFRJ), Ornela Alejandra Boix (CONICET)
Resumo:
Nas últimas décadas a relação entre mercado cultural e trabalho têm mudado significativamente. A divisão moderna entre trabalho e lazer se desfez enquanto a esfera do trabalho e a “vida por projetos” se expandiu. As noções de mercado e de trabalho adquirem novos sentidos que vão além dos debates clássicos da indústria cultural. Os mercados culturais emergem a partir de novas relações entre os produtores culturais e os diversos circuitos alternativos de produção e consumo de bens culturais. As relações de trabalho também se alteram e discursos que valorizam a lógica empreendedora, as novas formas de contratação e a centralidade das redes profissionais ganham espaço e passam a impactar a subjetividade das pessoas que trabalham com cultura. Este GT, continuidade dos debates da última RBA(2022) e RAM(2023), propõe debater as relações entre mercados culturais e trabalho, sem focar em uma definição, mas a partir de trabalhos etnográficos que explorem os diversos sentidos emergentes. Interessa o aporte de trabalhos que se focam na vida cotidiana, nas subjetividades e nos processos de construção de mercados culturais e trabalho, problematizando algum dos eixos: mercados culturais e formas coletivas de produção da arte; novas práticas de trabalho na cultura e suas organizações laborais; dimensão do projeto e do sonho na construção de carreiras na cultura; mercados culturais e as relações com o poder público; mercados culturais e usos das mídias sociais e plataformas digitais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
André Cesari Batista de Lima (FGV CPDOC)
Resumo: O presente trabalho visa investigar a inserção de jovens estudantes de projeto social no campo da
cultura, tendo como objeto de pesquisa a trajetória destes no projeto Centro de Ópera Popular de Acari.
A análise incorpora uma parte da minha trajetória enquanto aluno/músico/professor do Centro de Ópera. Assim,
com base em entrevistas realizadas sobre a trajetória que alguns participantes da instituição, o objetivo
está em perceber como estes jovens percorreram uma trajetória e como foram se inserindo no campo da cultura
como meio de trabalho.
Entendendo as múltiplas complexidades do campo cultural, devemos compreender que os sujeitos que estão
inseridos nessa área, experimentam e desempenham formas diferentes de inserção no mundo do trabalho e,
assim, produzem diversos meios de engajamento e de organização na sua luta política.
No caso o Centro de Ópera Popular de Acari, além do desenvolvimento das oficinas aos alunos, enquanto
espaços de aprendizagem para esses jovens, visam também servirem de espaços de profissionalização para os
mesmos, no qual, a partir do ensino, seja de uma atividade, seja ela artística ou não, capacitam o seu
público para o mercado de trabalho. Deve-se ressaltar também que um projeto social localizado em regiões
periféricas da cidade, visa não apenas o ensino de uma habilidade artística ou técnica. Ao oferecer aulas,
esses projetos capacitam os alunos, não apenas em termos técnicos e artísticos, mas também no
desenvolvimento de competências e noções como socioemocionais, cidadania, o trabalho em equipe e a
consciência de que os mesmos fazem parte da sociedade.
Assim, deve se compreender como esse campo profissional, as suas manifestações culturais e o seu
desenvolvimento, possui uma dinâmica particular em relação ao seu funcionamento.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Angícia Gomes Pereira Mourão (SEDUC-CE)
Resumo: Neste trabalho, proponho uma análise da agência dos números (DESROSIÈRES, 1993; SCOTT, 1998; FOUCAULT,
2021) expressos na quinta e última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada em 2020. Esta
pesquisa é um diagnóstico realizado, na maioria das vezes, a cada quatro anos pelo Instituto Pró-Livro, com
o apoio da Câmara Brasileira dos Livros (CBL), do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e da
Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros). Além de evidenciar a imbricação entre
Estado e mercado no setor cultural brasileiro, os números dessa pesquisa costumam ser apresentados como de
importância fundamental para a compreensão e promoção dos hábitos de leitura dos brasileiros. Em última
instância, é a eles que se costuma atribuir legitimidade tanto aos argumentos em prol da leitura, quanto ao
senso comum de que o brasileiro não lê. Dessa forma, este trabalho contribui para as discussões a respeito
das relações entre poder público e privado no mercado cultural brasileiro, das políticas públicas como
práticas sociais e discursos culturalmente situados e da formulação de indicadores culturais no Brasil.
Palavras-chave: Mercado editorial. Políticas públicas. Indicadores culturais. Retratos da Leitura no Brasil.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Augusto Carlos de Oliveira Maux (UFRN)
Resumo: Este trabalho examina os desdobramentos de pesquisa de mestrado acerca da crise do setor artesanal do
Rio Grande do Norte durante a pandemia de Covid-19, onde identifiquei a concorrência dos modelos de
organização coletiva com o modelo de artesã-empreendedora, problematizando a apropriação das tecnologias
como um dilema concorrente à disputa pelos caminhos do artesanato. A pesquisa de campo foi realizada no
período de 2020 a 2022, passando por minha participação como servidor público no programa estadual do
artesanato, pelo acompanhamento de cooperativas do setor, e por etnografia digital.
As artesãs que prosperaram em alguma medida no período sentiram rapidamente o acúmulo de atribuições do
empreendedorismo individual. Para obter alcance nas plataformas digitais, foi necessária uma carga brutal de
trabalho e o domínio de diversas técnicas que até então não compunham o ofício artesanal.
Para além de cenários de empreendedorismo e precariedade, há no campo da Economia Solidária um projeto para
a organização autogerida do setor que tem sido desafiado por diversas insuficiências não triviais. Coletivos
de Economia Solidária, em parceria com a coordenação estadual e instituições de ensino superior, buscaram
alternativas para o enfrentamento da crise derivada da pandemia, porém essas mobilizações esbarram num
sistema que privilegia as formas hegemônicas de organização.
A pesquisa evidenciou situações em que precariedades e adaptações se apresentam sem uma delimitação nítida.
Entendo que o debate freireano proposto por David Nemer fornece elementos para articular analiticamente, em
etnografias sobre o digital, o que Ortner chama de antropologia sombria e antropologia do bem, voltada aos
efeitos perniciosos e respectivas formas de enfrentamento aos efeitos do neoliberalismo. É necessário, dessa
forma, atentar para as apropriações feitas pelas artesãs das tecnologias e modelos organizacionais
disponíveis.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fabíola de Carvalho Leite Peres (UFRGS)
Resumo: Desde que a carreira de Dj Marlboro alcançou proporção nacional, entre o final dos anos 90 e início de
2000, a importância destes profissionais extrapolou as tendas dos bailes funks das favelas do Rio de Janeiro
e foi ganhando espaço cada vez maior na mídia e no cenário musical brasileiros. Ao longo dos anos,
principalmente no caso do funk, suas possibilidades de trabalho se alargaram. Além das funções de seleção,
mixagem e reprodução de faixas em eventos e rádios, recentemente, os Djs têm ganhado destaque como
produtores, compositores e intérpretes de músicas. Esta é uma das características que alicerçam o novo
período da profissão, que, assim como em outros mercados culturais, emerge a partir de novas relações entre
os produtores e os variados circuitos de produção e consumo. Extremamente ligado à difusão, cada vez mais
simplificada, de conhecimentos e equipamentos técnicos através da internet e de equipamentos digitais, esta
se torna uma profissão almejada por muitos jovens moradores de bairros de periferia.
É neste cenário que surge, em 2021, o objeto que inspira este artigo: o Trilogia do Santo Amaro. Este
produto, criado através do Baile do Santo Amaro (RJ), é composto por um trio de Djs residentes deste
evento, realizado no Morro do Santo Amaro (zona sul do Rio de Janeiro). Este produto revoluciona as práticas
dos Djs, que tradicionalmente estão inseridas em uma lógica individual, e cria uma nova forma coletiva de
performance e de produção da arte.
A realização de etnografias em bailes funks cariocas e apresentações do grupo de Djs, aliada a entrevistas
com os integrantes, possibilitou que fossem mapeados os processos de construção do trio, assim como
observadas as performances, estéticas e produções que criam, no Trilogia do Santo Amaro, uma nova forma de
trabalho no universo cultural dos Djs e dos bailes funk. É o objetivo principal deste artigo, portanto,
descrever de que forma tais performances, estéticas e produções criam esta maneira de trabalho coletivo
cultural, assim como analisar como diferem dos shows tradicionais de um único Dj. É ainda possível refletir
sobre o cenário geral de mercado para os profissionais atrelados ao gênero musical funk e a ascensão social
que esta carreira permitiu a cada um dos integrantes do Trilogia do Santo Amaro.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Isabella Marques Ferreira (UNB)
Resumo: O trabalho é um esforço de se pensar mercado cultural a partir da Conferência Nacional da Cultura. O
evento de 5 dias aconteceu em Brasília em Março de 2024, depois de 10 anos de hiato, é um esforço de
retomada da políticas culturais, melhor ainda, é um esforço de construir essas políticas democraticamente,
com participação direta dos fazedores de cultura de todos os estados brasileiros. O objetivo de todos é que
ao final do evento, as propostas prioritárias de cada grupo de trabalho operem como alicerce para a
construção do Plano Nacional de Cultura para a próxima década.
O evento é composto por uma metodologia de diferentes etapas de agrupamentos, falas e discussões. A partir
do acompanhamento das diferentes etapas da conferência nacional, com foco no eixo de Economia Criativa o
objetivo do meu trabalho é compreender com mais densidade as nuances da proposta de fazer política cultural
de forma democrática. Compreendo que em nossa democracia, são poucos os momentos de escuta direta às
demandas da população, bem como, é grande a distancia entre a política pública pensada pelo Governo e seu
alcance e execução entre os cidadãos.
Foram longas horas de fala e escuta. Com isso, tenho algumas possibilidades de caminhos para este trabalho,
assim a análise aprofundada dos dados indicarão o percurso, são elas: refletir sobre a democracia e a escuta
bem como a falta delas; atentar sobre as especificidades dos trabalhadores da cultura e do fazer cultural,
tal como a intermitência dos contratos, as dificuldades de manutenção econômica de suas atividades bem como
as desigualdades de oportunidades com campo cultural; a economia criativa pensada a partir dos significados
do fazer cultural: econômico, simbólico e cidadã; aproximações e distanciamentos entre os diferentes agentes
que compuseram o evento.
Independente do caminho trilhado, é intrínseco ao trabalho pensar a economia criativa e o mercado cultural
extrapolando a noção de economia de mercado capitalista. Além disso, estará presente uma análise qualitativa
fundamental para a perspectiva cultural, tendo em vista que os dados quantitativos muitas vezes mascaram as
desigualdades do setor.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
João Vitor Holanda Martins (UFRN)
Resumo: O centro histórico de Natal, situado no bairro da Cidade Alta, é marcado por duas atmosferas distintas
que se entrecruzam e se relacionam, durante o dia: comércio, compras, carros e ônibus, já à noite: lojas
fechadas e o ir para casa após um dia de trabalho. Enquanto isso bares, boates e festas do beco da lama
(viela onde existem uma série de atividades culturais no centro histórico) e adjacências se abrem a um novo
público que passa a ocupar este lugar. Essa dinâmica é marcada por um cotidiano cercado de problemas que
envolvem o local como a saída de lojas da região, falta de transporte público adequado, e um esvaziamento do
local, em meio a esse cenário agentes culturais permanecem a realizar eventos e disputar esse centro
histórico. Neste trabalho pretendo observar e analisar as relações e disputas políticas existentes entre
produtores culturais, artistas, donos dos bares e/ou espaços culturais, e órgãos e agentes políticos,
compreendendo assim como se dá a realização de eventos artístico-culturais no centro histórico. Dessa forma,
este trabalho trata-se de um estudo antropológico acerca da produção cultural e os agentes envolvidos nesse
processo no centro histórico de Natal, mais precisamente na Cidade Alta.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luana Paula Peixoto Aglio dos Passos (UFES), Leandro Lucas Faccin (UFES)
Resumo: Trata-se de pesquisa, em andamento, que visa analisar as condições de trabalho das mulheres que são
digital influencers, através de uma abordagem exploratória baseada em revisão bibliográfica e entrevistas
semiestruturadas. As digital influencers desempenham um papel significativo nas mídias sociais digitais,
influenciando tendências e opiniões. No entanto, as nuances e as complexidades de seu trabalho parecem pouco
exploradas pelas pesquisas acadêmicas. O objetivo principal é compreender as condições de trabalho
enfrentadas por mulheres que possuem como trabalho ser digital influencer em diferentes nichos de mercado, a
partir de pesquisas que abordem questões como: condições de trabalho, relações com empresas e seguidores ou
o impacto desse tipo de atuação nas redes sociais digitais nas dimensões pessoais e ou profissionais. Também
será buscado compreender se os artigos abordam como essas mulheres lidam com o(s) algoritmo(s) nas redes
sociais digitais, ou seja, quais impactos os algoritmos podem causar para suas relações profissionais,
comerciais ou pessoais. Como metodologia, optou-se pela pesquisa e análise de artigos que tragam informações
relevantes sobre o tema, além de entrevistas semiestruturadas com diferentes mulheres que trabalham como
digital influencers, escolhidas de forma intencional e a partir da disponibilidade das mesmas. Inicialmente
foi feito um levantamento bibliográfico na base de dados Google Acadêmico com o uso do aplicativo Publish ou
Perish utilizando as palavras-chave: trabalho, redes sociais mulheres Influencers. A partir da base de
dados encontrada, foi feita uma filtragem pelos pesquisadores dos artigos mais relevantes para os objetivos
do trabalho, com a leitura e fichamentos dos artigos selecionados. Juntamente com essa filtragem humana, foi
criado um prompt para ser utilizado na Inteligência artificial (IA) da empresa Microsoft chamada Copilot
para que ela também fizesse uma análise se os artigos encontrados no levantamento inicial possuíam
pertinência temática com o objeto do presente trabalho. A partir da seleção dos artigos, das reflexões
teóricas e dos resultados das entrevistas,, buscou-se responder às seguintes perguntas: Como é o trabalho de
digital influencer? Como é ser mulher digital influencer? Quais as especificidades deste trabalho? Ao
abordar tais questões, espera-se contribuir para uma melhor compreensão das realidades pessoais e
profissionais enfrentadas pelas mulheres digital influencers.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Manoel Pimenta de Paulo Neto (UFMS), Ricardo Luiz Cruz (UFMS)
Resumo: Palavras-chave: Trabalho, Reestruturação Produtiva, Mundo da costura.
RESUMO:
Em Campo Grande (MS), as trabalhadoras da costura costumam exercer os seus ofícios em suas casas e através
da modalidade de facção, na qual recebem peças (de camisetas ou calças de colégio, por exemplo) cortadas em
fardos e as quais devem montar de acordo com uma peça piloto e uma ficha técnica. Os intermediários são os
agentes (comerciais) que se colocam entre elas e os clientes (pequenas e médias empresas de confecção de
vestuário esportivo, profissional e escolar, em geral), controlando assim a organização dos seus serviços no
mercado local.
Esse controle coloca as costureiras numa situação de competição e de precarização, na medida em que os
primeiros tendem a escolher quem aceita receber os menores valores. Eles costumam demandar serviços de
costura sem qualquer tipo de contrato formal, exigindo das trabalhadoras que tenham maquinário adequado para
a produção, flexibilidade de horários, capacidade de aceitar longas jornadas diárias e prazos curtos de
entrega. Não rara são as vezes em que um intermediário não paga a costureira pela tarefa realizada, e ela
acaba aceitando costurar novas peças a seu pedido ao se ver dependente dele.
O objetivo desta comunicação é refletir a respeito da construção social do trabalho na costura em Campo
Grande, sob a ótica das costureiras da cidade, e num contexto de transformações do trabalho na cidade, com a
criação artista passando a mobilizar a produção dos mais variados bens e serviços, como hambúrgueres,
roupas, cervejas, cortes de cabelo e feiras, por exemplo, marcando a emergência local do chamado novo
capitalismo ou capitalismo artista.
Quais seriam as formas de percepção do trabalho existentes entre essas trabalhadoras? Haveria o domínio de
um tipo de visão dessa atividade? Quais valores as orientam? Até que ponto seus olhares sobre o trabalho são
pautados por valores como a confiança, a solidariedade e o compromisso interpessoal a longo prazo? Como
pensar a presença desses valores nas suas percepções a respeito dessa atividade? Como as transformações
recentes no mundo do trabalho, com a esfera estética ou cultural assumindo um papel de destaque na
organização desse universo, são vividas pelas trabalhadoras da costura em Campo Grande? Esta comunicação
toma essas questões como ponto de partida para pensar uma etnografia do universo local da costura, sob a
ótica das costureiras.
Lista de referenciações bibliográficas disponíveis, apenas enviar um e-mail/solicitação:
pimenta.manoel@ufms.br
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Isabella Sousa Silveira (UNIMONTES)
Resumo: Introdução: Para que aconteça, todo evento cultural depende de uma série de fatores. Em uma região
carente de programações carnavalescas, onde não havia investimento dos órgãos públicos no setor, o
surgimento do Praia das Raparigas - um evento em moldes inéditos para a cidade, que levou como slogan o mote
100% cultural, popular e sem fins lucrativos, tendo na época expectativa de público de 3 mil pessoas. O
evento, entretanto, caiu nas graças da cidade e carregou 15 mil pessoas para a Praça dos Jatobás, em Montes
Claros/MG, o que culminou, no ano seguinte, no renascimento da programação carnavalesca de rua
montesclarense, organizado pela prefeitura e que levou 20 mil pessoas às ruas. Objetivo: O objetivo do
presente estudo é analisar as estratégias comunicacionais utilizadas na promoção do evento e sua articulação
em prol da defesa dos direitos culturais e exercício do direito à cidade, bem como seus impactos, pontos
positivos, negativos e decorrências para a cidade. Metodologia: Foi utilizado no artigo a metodologia
descritiva, qualitativa e estudo de caso, realizadas mediante análise de todo o acervo do material
existente, bem como fotos, entrevistas, postagens nas redes sociais, etc. Resultados: A realização do Praia
das Raparigas, em 2017, funcionou como um despertar para a comunidade local em relação ao Carnaval. Após
este início, a cultura carnavalesca renasceu na cidade, onde foram realizados outros diversos eventos
públicos, como o Bloco Jegue-love ou o Carnavaliza. Durante o ano de 2017, o carnaval virou temática em
Montes Claros; o Bloco das Raparigas do Bonfim disseminou-se e passou a ser contratado com frequência em
outros eventos; e festas carnavalescas aconteceram durante todo o ano, movimentando a economia local. Além
disso, no ano de 2018, houve o que não acontecia na cidade há mais de 10 anos: o carnaval de rua
montesclarense. Organizado pela prefeitura, também na Praça dos Jatobás, e com duração de 3 dias de folia, o
evento reuniu, em um dos seus dias, 20 mil pessoas no espaço público. Conclusão: O principal legado deixado
pelo Praia das Raparigas foi a volta do carnaval de rua na cidade que, devido ao seu sucesso, provavelmente
ainda acontecerá por vários anos, ganhando, cada vez mais, proporções maiores. A partir do Praia, Montes
Claros passou a realizar novamente um carnaval de rua gratuito, popular e, principalmente, seguro.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mauro Cordeiro de Oliveira Junior (Colégio Pedro II)
Resumo: Um site de viagens americano, em 2018, elegeu o desfile das escolas de samba do carnaval carioca como o
maior espetáculo da Terra, alcunha que, curiosamente, os agentes públicos - como a prefeitura do Rio de
Janeiro - e privados - como a Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) - que promovem a festa já
utilizavam desde o início do século para definir este ritual festivo-competitivo quase centenário.
Este espetáculo internacionalmente reconhecido é produzido através de um longo ciclo anual por uma série de
trabalhadores que, por meio dos seus ofícios, constroem os distintos elementos artísticos que encantam o
público a cada carnaval. São processos técnicos operados por trabalhadores da cultura que, no caso das
escolas de samba, são costureiras, ferreiros, pintores, escultores, marceneiros, aderecistas, figurinistas,
entre outros profissionais.
A emergência de saúde pública provocada pela pandemia de Covid-19 a partir do ano de 2020 interrompeu
diversas atividades laborais até que a cobertura vacinal permitisse a retomada. No universo carnavalesco,
seu impacto foi avassalador sobre a vida de alguns milhares de trabalhadores. O carnaval de 2021 não
aconteceu e os barracões ficaram fechados durante mais de um ano. Este cenário evidenciou a insegurança das
condições da força de trabalho que produz o espetáculo mercantilizado como símbolo nacional.
Através de uma relação entre agentes públicos e privados, o desfile manifestação cultural é comercializado
como um evento pela lógica turística. Em contrapartida, os produtores do espetáculo enfrentam os desafios e
dificuldades de um cenário de precariedade que estrutura a festa. A ausência de políticas públicas
destinadas à cadeia produtiva do carnaval é elemento central para o debate do caráter da gestão estatal em
relação ao evento.
Parte de uma pesquisa de tese de doutorado realizada em dois barracões de escolas de samba entre nos anos de
2019 e 2023, este trabalho irá versar, através de uma perspectiva etnográfica, sobre o impacto do isolamento
e da não realização do carnaval em 2021, até a retomada e os desfiles fora do período carnavalesco em 2022,
na vida de Augusto, homem negro que desempenha o papel de chefe de ateliê de fantasias com trinta anos de
experiência no carnaval. Por meio dele, abordarei os desafios do fazer artístico no universo carnavalesco,
as dificuldades impostas pela pandemia e a precariedade e insegurança do trabalho neste mercado.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Nayra Joseane e Silva Sousa (SEDUC MARANHÃO)
Resumo: Este artigo busca refletir sobre os processos e práticas de músicos e musicistas piauienses em seu fazer
laboral que constitui a produção musical autoral na cena contemporânea teresinense. Interessa-me como os
artistas se apropriam e subvertem dimensões hegemônicas da produção musical, criando coalizões, cujos
sentidos e significados são capturados no movimento etnográfico. Para refletir sobre alguns caminhos
percorridos por esses artistas que operam com a música, tensiono a partir da interseccionalidade levando em
conta como as categorias raça e gênero afetam as trajetórias artísticas e reiteram corpos subalternizados no
mercado musical da cidade. As reflexões deste trabalho delineiam movimentos a partir da trajetória
profissional de três artistas da cena musical de Teresina (PI) cujos trabalhos artísticos refletem práticas
de existência e esperança no modo de produzir sua música.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ornela Alejandra Boix (CONICET)
Resumo: Esta ponencia parte de una inmersión etnográfica de larga duración en las tramas colectivas del mundo
artístico de la música indie en La Plata, Argentina, en los últimos 10 años. Por la extensión temporal y la
profundidad de algunos de los vínculos etnográficos construidos, esta investigación permite captar la
emergencia y desarrollo de procesos de trabajo en la música por parte de distintas personas: músicos,
sonidistas, managers, gestores, productores (y sus distintas combinaciones). Entendemos que la reducción a
sociología del trabajo de estas experiencias es tan inconveniente como no entender que existe una
organización específica de las actividades en el mundo de la música que es necesario comprender.
Considerando esto, y la pregnancia de la autogestión en el indie de La Plata, enfocamos estas experiencias
de trabajo musical en sus tramas de la vida cotidiana. Concretamente, en la ponencia presentamos las
características de la red artística objeto de estudio e inscribimos allí distintos trayectos personales en
la música. En este marco, los objetivos son: analizar la heterogeneidad de maneras en las que la música se
vuelve un trabajo en las trayectorias personales; comprender la invención de nuevos trabajos alrededor de la
música (en el marco de una ampliación histórica de las inserciones posibles en los mundos del arte) y
explorar las tensiones entre la búsqueda de profesionalización y la pasión artística presente en estas
apuestas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Paôla de Oliveira Silva (UNIMONTES)
Resumo: O seguinte trabalho trata-se de uma análise do cenário da produção cultural da cidade de Montes Claros -
MG. Montes Claros é uma cidade de porte médio que se localiza no Norte de Minas Gerais, com cerca de 414.240
habitantes, tendo uma ampla diversidade cultural presente no cotidiano, manifestada em ações diárias e
utilizada como referência em produções artísticas. Apesar desta afirmação, a cidade não possui um fomento
para a produção dessa riqueza, na oferta de eventos e locais que se destinam ao lazer e cultura que dialogam
com a realidade dos moradores pertencentes a grupos em condições socialmente vulneráveis, como moradores das
periferias e regiões marginalizadas. A oferta de eventos culturais é em sua maioria voltada para as pessoas
que possuem um capital cultural, como exposições de artes plásticas e grupos de danças, além de sempre
estarem localizados na região central da cidade. Contudo, proponho investigar como a cidade norte-mineira se
move culturalmente, como os espaços são apropriados, quais são esses espaços e quem são esses agentes que os
ocupam. Buscarei também apresentar produtores e fazedores da cultura norte-mineira e suas percepções sobre o
fazer cultura na cidade. Deste modo, utilizou-se da pesquisa de campo com a observação participante e
entrevistas. Posto isso, será aberto um debate sobre a disputa pelos espaços e a hegemonia na produção de
arte/cultura da cidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Socorro de Souza Batalha (UFAM), Alvatir Carolino da Silva (IFAM)
Resumo: Esta comunicação deriva de um trabalho etnográfico sobre a trajetória social (BOURDIEU, 2011) da atriz
popularmente conhecida na cidade de Manaus e no Amazonas (AM) como Rosa Malagueta, atuante no cenário
cultural local e com trabalhos em âmbito nacional. Malagueta diz que sua verve artística inicia aos sete
anos de idade quando vendia flores artificiais em frete a igreja de São José, no bairro Praça 14 de Janeiro,
flores essas confeccionadas por sua avó que também fora Mãe de Santo no mesmo bairro. Eu fazia palhaçadas e
interagia com as pessoas e vendia todas as rosas para minha avó (MALAGUETA, 2023). No entanto, seu sonho de
atuar nas artes cênicas começa na adolescência durante o período escolar, por meio de representações
teatrais nos lugares de periferias dos bairros da Zona Leste de Manaus (AM). Partindo dessas premissas, na
sua condição de atriz, Rosa Malagueta atua no teatro, cinema, fez novela na Rede Globo e nos diz que sempre
quis viver para arte, mas que viver da arte é muito penoso e difícil. Portanto, um projeto de vida e um
sonho que se materializa à margem do glamour projetado pelo senso comum e atomizado na vida de alguns poucos
profissionais das artes cênicas e cinematográficas que exibem boas estruturas. O que pretendemos com relatos
da trajetória social (BOURDIEU, 2011) desta atriz é aproximar um olhar antropológico sobre o cotidiano de
uma pessoa que atua na produção cultural local e encara demandas de ser mãe, avó, atriz, produtora,
figurinista, costureira, brincante de boi-bumbá e ainda alinha o mundo do mercado cultural local com um
fazer herdado por transmissão familiar que é o de ser quituteira, pois Rosa Malagueta tem uma banca de café
regional em uma praça situada no Centro Histórico de Manaus, como ela ressalta se não fosse essa banca de
café a nossa situação seria bem pior. No entanto, Malagueta tem articulado projetos culturais por meio de
editais oriundos das leis Paulo Gustavo (2022) e Aldir Blanc (2020). A atriz e produtora aponta questões
críticas sobre essas modalidades e financiamento de projetos, dificuldades de formação e consolidação de
público nos teatros de Manaus e a desvalorização dos artistas e produtores locais pelas políticas, pelo
público e setores da imprensa, o que, segundo ela, são empecilhos para se viver dignamente das artes.