Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 071: Mercados culturais e trabalho: desafios e fazeres etnográficos
Rosa Malagueta, os desafios de viver para a arte e viver da arte
Esta comunicação deriva de um trabalho etnográfico sobre a trajetória social (BOURDIEU, 2011) da atriz
popularmente conhecida na cidade de Manaus e no Amazonas (AM) como Rosa Malagueta, atuante no cenário
cultural local e com trabalhos em âmbito nacional. Malagueta diz que sua verve artística inicia aos sete
anos de idade quando vendia flores artificiais em frete a igreja de São José, no bairro Praça 14 de Janeiro,
flores essas confeccionadas por sua avó que também fora Mãe de Santo no mesmo bairro. Eu fazia palhaçadas e
interagia com as pessoas e vendia todas as rosas para minha avó (MALAGUETA, 2023). No entanto, seu sonho de
atuar nas artes cênicas começa na adolescência durante o período escolar, por meio de representações
teatrais nos lugares de periferias dos bairros da Zona Leste de Manaus (AM). Partindo dessas premissas, na
sua condição de atriz, Rosa Malagueta atua no teatro, cinema, fez novela na Rede Globo e nos diz que sempre
quis viver para arte, mas que viver da arte é muito penoso e difícil. Portanto, um projeto de vida e um
sonho que se materializa à margem do glamour projetado pelo senso comum e atomizado na vida de alguns poucos
profissionais das artes cênicas e cinematográficas que exibem boas estruturas. O que pretendemos com relatos
da trajetória social (BOURDIEU, 2011) desta atriz é aproximar um olhar antropológico sobre o cotidiano de
uma pessoa que atua na produção cultural local e encara demandas de ser mãe, avó, atriz, produtora,
figurinista, costureira, brincante de boi-bumbá e ainda alinha o mundo do mercado cultural local com um
fazer herdado por transmissão familiar que é o de ser quituteira, pois Rosa Malagueta tem uma banca de café
regional em uma praça situada no Centro Histórico de Manaus, como ela ressalta se não fosse essa banca de
café a nossa situação seria bem pior. No entanto, Malagueta tem articulado projetos culturais por meio de
editais oriundos das leis Paulo Gustavo (2022) e Aldir Blanc (2020). A atriz e produtora aponta questões
críticas sobre essas modalidades e financiamento de projetos, dificuldades de formação e consolidação de
público nos teatros de Manaus e a desvalorização dos artistas e produtores locais pelas políticas, pelo
público e setores da imprensa, o que, segundo ela, são empecilhos para se viver dignamente das artes.