Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 071: Mercados culturais e trabalho: desafios e fazeres etnográficos
Entre a gestão coletiva e o empreendedorismo individual : dilemas na reorganização do artesanato
potiguar pós-pandemia
Este trabalho examina os desdobramentos de pesquisa de mestrado acerca da crise do setor artesanal do
Rio Grande do Norte durante a pandemia de Covid-19, onde identifiquei a concorrência dos modelos de
organização coletiva com o modelo de artesã-empreendedora, problematizando a apropriação das tecnologias
como um dilema concorrente à disputa pelos caminhos do artesanato. A pesquisa de campo foi realizada no
período de 2020 a 2022, passando por minha participação como servidor público no programa estadual do
artesanato, pelo acompanhamento de cooperativas do setor, e por etnografia digital.
As artesãs que prosperaram em alguma medida no período sentiram rapidamente o acúmulo de atribuições do
empreendedorismo individual. Para obter alcance nas plataformas digitais, foi necessária uma carga brutal de
trabalho e o domínio de diversas técnicas que até então não compunham o ofício artesanal.
Para além de cenários de empreendedorismo e precariedade, há no campo da Economia Solidária um projeto para
a organização autogerida do setor que tem sido desafiado por diversas insuficiências não triviais. Coletivos
de Economia Solidária, em parceria com a coordenação estadual e instituições de ensino superior, buscaram
alternativas para o enfrentamento da crise derivada da pandemia, porém essas mobilizações esbarram num
sistema que privilegia as formas hegemônicas de organização.
A pesquisa evidenciou situações em que precariedades e adaptações se apresentam sem uma delimitação nítida.
Entendo que o debate freireano proposto por David Nemer fornece elementos para articular analiticamente, em
etnografias sobre o digital, o que Ortner chama de antropologia sombria e antropologia do bem, voltada aos
efeitos perniciosos e respectivas formas de enfrentamento aos efeitos do neoliberalismo. É necessário, dessa
forma, atentar para as apropriações feitas pelas artesãs das tecnologias e modelos organizacionais
disponíveis.
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