ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 092: Retomadas, tessituras e insurgência no fazer antropológico e outros fazeres.
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Coordenação
Edilma do Nascimento Souza (UNIVASF), Alexandra Eliza Vieira Alencar (UFSC)

Resumo:
Com o objetivo de reunir estudos que abordem propostas de pesquisadores que se deslocam deste lugar do/da/de ‘outro(a/e)’ e constroem uma narrativa de subjetividade implicada com epistemologias êmicas na feitura da teoria antropológica e o fazer em outros espaços, a partir da perspectiva de sujeitos/as/es que existem em diferentes contextos que outrora foram locais centrais para a reflexão sobre alteridade. Hoje, estes contextos passam a ser locus participativos num processo de transformação social ocorrido na última década. Na esteira das/dos/des intelectuais que agora vem construindo proposições teóricas a partir também do que experienciaram seus cotidianos de vida, nos implicando numa ideia de etnografia envolvida. Visamos expandir o debate a partir das reflexões propostas por estes/as pesquisadores/as, partindo de suas produções, vivências, experiências e grafias em reflexões antropológicas. Objetivamos assim, construir espaços que fomentem o debate sobre esses processos de retomada no fazer antropológico por esses sujeitos/as/es, como forma de expansão de suas lutas na produção de conhecimentos e reivindicações por direitos, localizadas no campo acadêmico. A proposta é ampliar e aprofundar o debate sobre as produções e as/os intelectuais, traçando cruzos que reposicionam saberes e fazeres dentro e fora da antropologia brasileira, mas perspectivam saberes e seus usos em diferentes contextos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
VAMOS ABRIR A RODA, ENLARGUECER! - Reflexões Sobre Ser Pesquisadora/Amiga/Vizinha/Intelectual Ao Fazer Campo Em Meu Próprio Bairro
Andreza Lorena Santos Cerqueira (UFSC)
Resumo: Neste artigo, reflito à luz das Epistemologias Feministas Negras e da Antropologia Feminista o processo experiencial que vem sendo realizar etnografias a partir de observações em festas de pagode e paredão no meu bairro, em Salvador/Bahia. Basicamente, a ideia é refletir sobre como as posturas se modificam durante o percurso de observação quando informo ou deixo de informar que estou fazendo pesquisa, quando esperam uma pesquisadora diferente nas confirmações no Instagram e subitamente surge eu, a vizinha, ou o oposto, quando estou dançando e me divertindo e me questionaram se aquele momento é de fato pesquisa. Esse limite existe? Nós mulheres negras - tendo como objeto o pagode ou não - estamos o tempo inteiro levando nossas experiências como construção de subjetividade, dialogando com nossos familiares, reconfigurando raça/classe/ gênero e as demais interseccionalidades e obviamente fugindo das experiências únicas, tal qual os Feminismos Negros nos ensinaram. Ao mesmo tempo, uma vez que atravessadas pelo conhecimento acadêmico, ainda ecoam em nossos ouvidos Geertz, Malinowski e autores da Antropologia Clássica, sugerindo um distanciamento que além de parecer mágico, soa irreal para as nossas experiências de pesquisa. Neste artigo, irei tentar conectar alguns conhecimentos caros aos Feminismos (como o Ponto de Vista Feminista e a Noção de Conhecimento Situado) para debruçar-me sobre as etnografias que venho realizando e de como, a interlocução deixa de ser pela observação mas acionada por outros sentidos como o afeto e a dança.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mulheres (re)fazendo mundos: aproximações entre Veena Das e as Encruzilhadas dos cultos afrodiaspóricos
Cleiane Pereira Souza dos Santos (UFPI)
Resumo: Ao resumo interessa investir na compreensão dialógica entre as formas de habitar a vida cotidiana mediante os eventos de dor e sofrimento em consonância com um exercício conceitual-filosófico próprio de minha pertença comunitária e religiosa, que está ligada às religiões de matrizes afrodiásporicas brasileiras, as Encruzilhadas”. Em sua principal obra, Vida e Palavras: a violência e sua descida ao ordinário, a antropóloga indiana Veena Das(2020) provoca um revisionismo à certeza europeia-feminista-ocidental que sempre buscou universalizar as noções de resistências femininas a partir do modelo binário da subordinação e subversão”, excluindo o que é corporal, feminino, emocional, não racional e intersubjetivo(MAHMOOD, 2006). Desta forma, Das(2020, p. 27) ao se questionar o que é recolher os pedaços e viver nesse lugar de devastação?”, sua intenção é romper com a visão dos corpos que estão nas margens como os outros”, os subalternos e as vítimas”; nos mostrando que esses corpos estão a todo momento se constituindo a partir da vida de muitos outros; dentro de uma dinâmica onde esses corpos estão a todo momento repensando, reavaliando e reescrevendo suas vidas(DAS, 2022).Isto posto, é que acredito que a perspectiva das Encruzilhadas encontra caminho com o pensamento da antropológa indiana a medida que este lugar(as Encruzas) inscreve nossa capacidade de a todo momento (re)inventar nossas formas de viver, lócus onde são determinados diversos caminhos com a intenção pedagógica de mostrar o quanto e de como a todo momento estamos fazendo e nos refazendo nos limites da vida cotidiana, dentro de um oriki que diz: Exu faz o acerto virar erro e o erro virar acerto”(RUFINO,2019), concatenado nessa capacidade que todos nós carregamos, de sempre estar reavaliando e reescrevendo nossas relações uns com os outros.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Sagrado E Político: O Terreiro Como Produtor De Vida E Saúde Para Mulheres Da Comunidade Colibris Na Cidade De Santa Rita/Pb
Durvalina Rodrigues Lima de Paula e Silva (UFPB)
Resumo: Sabe-se que a partir da constituição de 1988 com a criação do Sistema Único de saúde -SUS, uma chave foi virada para a democratização da saúde no Brasil. Contudo, após trinta e seis anos de sua criação, a população mais empobrecida pelas estruturas de poder que alicerçam o Brasil, são lançadas na vala do descaso e negligências devidos as ausências do Estado concernentes as efetivações das políticas públicas, com destaque a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, e a presença das necropolíticas com base no racismo e suas interfaces. Nesta perspectiva, o presente trabalho pretende elucidar tecituras, ainda em construção, que farão parte de um dos capítulos da tese intitulada, Entre a necropolítica e as práticas de produção de vida: Mulheres, Terreiro, Saúde da População Negra na comunidade Colibri-Santa Rita/ PB, alicerçada pela antropologia da saúde. Apresentarei, com base nas narrativas das interlocutoras, as múltiplas formas criadas e reinventadas das mulheres para se manterem vivas de forma individual e coletiva na resistência de sobreviverem diante dos descasos políticos em sua comunidade, das dificuldades de acesso as políticas públicas do SUS nas três atenções e as fragilidades encontradas nos serviços de saúde ofertados, afora os percalços vivenciados por elas com as intersecções das desigualdades de gênero, classe e raça. Além disso, enfatizarei um espaço sagrado e político localizado na comunidade de Colibris na cidade de Santa Rita /PB, um Terreiro de matriz afro-ameríndio que desenvolve um papel fundamental, ser um espaço de cuidados, e através de sua responsável, uma Yálorixá, as mulheres encontram acolhimento e apoio necessário através de conhecimento ancestral, práticas milenares com plantas medicinais e direcionamentos com base no sagrado que contribuem com o acalanto e preenchem de dores, angustia e ausências. Tais reflexões, sem dúvida, contribuirão no fomento de mais pensamentos na trilha de outros fazeres antropológicos nesta grande construção.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A atuação da antropologia na produção social: uma possibilidade profissional a partir de uma experiência empírica
Ioanna Augusta Costa da silva (Municipio de Natal)
Resumo: Diante de um cenário pós pandêmico alguns jovens acadêmicos, militantes e artistas passaram a se reunir em uma praça na zona norte da cidade de Natal para a prática do voleibol. O que começou como uma alternativa de lazer se tornou um movimento cultural, o Vôlei Mix, que buscava mobilizar a comunidade em busca de melhorias e oportunidade para os aparelhos públicos disponíveis. O que busco tensionar nesse trabalho a partir da minha experiência no Vôlei Mix são as possibilidades percebidas de atuação profissional das ciências sociais, principalmente da antropologia, fora da universidade. Ou seja, uma forma da antropologia se engajar diretamente nos espaços sociais, profissionalmente, não necessária para produzir pesquisa, mas podendo fomentar uma transformação social, auxiliar as demandas públicas e realizar projetos culturais. Portanto, a área da produção cultural surge como essa possibilidade, pois é uma área de atuação que visa promover ações, sejam elas de cunho social, artístico, educacionais, entre outras. Essa relação também levanta alguns tópicos sensíveis como o desafios de financiamento desses projetos, as buscas pelas contrapartidas ética e os conflitos que fazem parte desses processos. Por fim, espero mostrar as possibilidades da atuação da antropologia na produção social e do que pode ser um campo profissional necessário para a antropologia dos tempos atuais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cálculos de uma economia do vivido: a instituição de um próprio por meio do amadurecimento profissional
Manu Rocha de Matos (UFSC)
Resumo: O objetivo deste estudo é realizar uma interpretação antropológica, fundamentada na etnografia, das narrativas que envolvem a significação do trabalho docente e as escolhas profissionais dos interlocutores, em conexão com outras dimensões de suas vidas. O foco da pesquisa recai sobre os professores substitutos das redes públicas de ensino em Santa Catarina, que, apesar das condições estruturais precárias decorrentes de um projeto neoliberal de educação em nível nacional, descrevem suas práticas impregnadas de significados substanciais de resistência a esses processos. Destaca-se o amadurecimento como um fator determinante para as tomadas de decisão econômica ao longo de suas trajetórias profissionais. Neste sentido, o trabalho desenvolve-se na interface entre antropologia econômica e antropologia do trabalho, questionando o que significa para a nossa produção de conhecimento resistir às categorias, distinções e definições de cima para baixo, advindas das teorias da globalização do capitalismo em função da crescente reestruturação das bases produtivas e de seus reflexos na administração do serviço público. Para embasar este estudo, foi desenvolvido o conceito de "cálculos de uma economia do vivido", que busca conciliar as noções de "cálculos econômicos" de José Sérgio Leite Lopes com as "táticas" de Michel De Certeau. Essas abordagens dizem sobre as operações mentais e as maneiras de fazer dos trabalhadores comuns para resistir às estruturas administrativas que não lhes permitem criar um espaço próprio. Deste modo, os professores precisam lidar com os contingenciamentos do tempo para tirar proveito dessa ordem econômica. No entanto, ao longo de suas carreiras profissionais, começam a reivindicar um próprio, através da racionalização posterior, afastada no tempo, desse cotidiano imprevisível e instável, permitindo-lhes imaginar e ressignificar esse contexto, que agora é habitado por eventos que conversam com o íntimo e alimenta um sentimento de preparo em relação às futuras escolhas profissionais e econômicas. Palavras-chave: Trabalho Docente; Neoliberalismo; Amadurecimento; Práticas Narrativas

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
E como você se sente sobre isso? - A escrita emocional de si, no percurso de pesquisa sobre branquitude.
Maria Beatriz Barmaimon Garcia (UNILA)
Resumo: Sinto um enjoo ao escrever o que se segue e isso me parece um bom começo. Esse enjoo se relaciona com um conjunto de emoções surgidas de um compromisso político e afetivo assumido por mim: o de estudar a branquitude, sendo uma pessoa branca. Dessa forma, proponho, no presente resumo, elaborar as emoções produtoras e produzidas durante um processo de pesquisa que vincula os Estudos da Branquitude à Educação para as Relações Étnico Raciais. Charles Mills em O contrato racial aponta para a existência de um contrato epistemológico, uma epistemologia da ignorância incluído no próprio contrato racial (MILLS, 2023, p.126), no que concerne à branquitude, como estrutura de poder. Isso significa dizer que os signatários do contrato racial concordam em interpretar erroneamente o mundo”, se mantendo blindados e anestesiados à realidade das desigualdades raciais e suas consequências devastadoras (MILLS, 2023, p.42). Aqui é possível reconhecer um primeiro grupo de emoções, relacionadas ao pertencimento, à satisfação de acreditar que tudo a sua volta faz sentido e que as coisas são como devem ser. Esse grupo de emoções também pode ser vinculado ao que vou chamar de aprender a ser branco”, que nada mais é do que a transferência geracional e interfamiliar de um conjunto de comportamentos e interpretações específicas da branquitude, que moldam a maneira como me movo pelo mundo, meus objetivos e expectativas, o que busco na vida e o que espero encontrar" (DIANGELO, 2016, p.159, tradução nossa). Nesse sentido, a tarefa de recusa ao contrato racial, por pessoas brancas, é uma escolha real [...] embora seja reconhecidamente uma escolha difícil (MILLS, 2023, p.136), afinal ela vai de encontro a tudo aquilo que se aprendeu. Escolho, neste trabalho, a escrita de si como um tipo de registro terapêutico e relativamente etnográfico de, [re]elaboração dos discursos recebidos e reconhecidos como verdadeiros em princípios racionais de ação (KLINGER, 2012, p. 23), com o objetivo de ser o mais verdadeira possível com minhas limitações para que elas sejam corretamente endereçadas e resolvidas, a fim de caminhar em direção à uma crítica justa e atenta das armadilhas impostas pelo que podemos chamar de lei da inércia branca”. Assim, a relação de mecanismos de defesa do ego [...] negação; culpa; vergonha; reconhecimento; reparação”, experimentados pelos brancos ao se confrontarem com a realidade do contrato racial, se torna também lista das emoções vividas pelos mesmos (KILOMBA, 2020, p.29). Minha experiência é que tais emoções surgem desordenadas; todas juntas ou separadas, e que o maior exercício é o de acolhê-las sem sucumbir a elas, legitimá-las sem se vitimizar, lembrando sempre que o cuidado de si se realiza [também] no cuidado do outro (CARNEIRO, 2023, p.311).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Viver da morte: gestão econômica do luto em Finados no Cemitério Santa Izabel (PA) e no Cemitério Senhor da Boa Sentença (PB)
Pollyana Calado de Freitas (UFRJ), Elisa Gonçalves Rodrigues (Universidade Federal do Pará), Weverson Bezerra Silva (UFPB)
Resumo: Este resumo aborda a economia mortuária ou gestão econômica da morte durante e pós-pandemia de Covid-19 em duas cidades cemiteriais localizadas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, analisando os modos de prática, comércio e sociabilidade no Dia de Finados nos Cemitérios Santa Izabel (PA) e Senhor da Boa Sentença (PB). Diante das semelhanças e particularidades observadas nessas duas regiões e cemitérios na mesma data, objetivamos compreender o processo de visitar os mortos, destacando os aspectos sociais e econômicos relacionados a esse dia, e as construções de subjetividade. Intuindo destacar os elementos que constituem o mundo social do cemitério, examinamos questões como o mercado dentro e fora dos muros, a religiosidade econômica e a presença de novos acessórios que compõem os sistemas de relações que são as máscaras, o simbolismo da solidão, o número reduzido de enlutados, como também toda a divisão de classes presente na estrutura do cemitério, que se perpetua nos comerciantes que perpassa as relações dos vivos e/com os mortos, mostrando a diminuição dos serviços de limpeza dos túmulos. Para tanto, correlacionando teoria e método, em um movimento que dinamiza a experiência etnográfica na antropologia, a percepção das vivências cemiteriais, suas práticas socioculturais e as relações construídas entre os indivíduos nos permitiu visualizar estes lugares não apenas como um local de morte e enlutamento, mas como um espaço de vida, atividade social, econômica e continuidade simbólica.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Sobre antropologias e suas crias: o cuidado no centro do fazer etnográfico.
Tatiane dos Santos Duarte (UNB), Daniela Carolina Perutti (USP)
Resumo: Nesta comunicação, aportamos às maternidades como marcador social da diferença considerando as especificidades do fazer antropológico. Nosso argumento é em prol de antropologias que olhem, escutem e escrevam através das sobreposições possíveis entre o pessoal e o intelectual na trajetória de antropólogas mães construída na conciliação entre o trabalho do cuidado e o trabalho científico. Esse debate é deveras importante em uma ciência que se ocupa das relações de alteridade, mas que pouco escuta os sons que emergem do cotidiano de quem cuida ao mesmo tempo em que faz antropologia. Dessa forma, é necessário o reconhecimento do cuidado como centro do trabalho da antropóloga diante do desafio de antropólogas-mães de ir a campo e produzir etnografia tal como aprendemos em nossas formações canônicas. Assim, essa proposta vista discutir o cuidado de um ponto de vista metodológico e epistemológico, centrando em uma prática ética-política em diálogo com o debate feminista interseccional. Se é preciso considerar a existência de muitas realidades em nossos trabalhos de campo, há também as realidades relativas ao próprio fazer antropológico, sempre situado, mas ainda pouco abordado sob a perspectiva do cuidado (PÉREZ-BUSTOS, 2020). A história da antropologia brasileira há muito tem sido criticada pelo apagamento da produção intelectual e da contribuição de mulheres para a formação da nossa disciplina (CORRÊA, 2003). Mais recentemente, discutimos o que faz de uma obra um clássico (BRANCO et al., 2018) e os autores que lemos nos cursos de mestrado e de doutorado (TEIXEIRA; CUNHA, 2023), promovendo, assim, a crítica necessária sobre o reconhecimento de quem faz antropologia (GROSSI; REA, 2020). Para isso, tem-se considerado as interseccionalidades entre raça, gênero, classe e nacionalidade, de modo a refletir sobre os contextos e sujeitos que estudamos, sobre como fazemos antropologia e como ela tem sido ainda produzida de forma hegemônica a partir de pressupostos eurocêntricos, a despeito dos avanços trazidos pelas políticas afirmativas dos últimos anos. Por fim, consideramos ser esta uma importante discussão, pois ainda há poucas reflexões sobre quem faz antropologia no país, especialmente diante da emergência de um debate público acerca do cuidado que tem revelado a manutenção da divisão sexual do trabalho, inclusive, nas ciências sociais. Apesar de estarmos em um processo de pluralização de nosso corpo discente e docente, nossa disciplina continua desparida e descuidada em relação aos contextos de suas antropólogas e suas antropologias e das encruzilhadas que marcam os saberes e fazeres de nós mães e antropólogas, entre os espaços acadêmicos e o cotidiano da vida (re)produtiva.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Percorrendo as trilhas etnográficas de Zora Hurston e Ana Mumbuca
Thaynara Kelly dos Santos Pereira (UFPE)
Resumo: O texto propõe-se a explorar os percursos etnográficos de duas antropólogas em diferentes períodos históricos e culturais, destacando suas principais contribuições e transformações sobre o fazer etnográfico. O trabalho tem como foco principal analisar como Zora Neale Hurston e Ana Claudia Matos da Silva (Ana Mumbuca) desenvolveram suas metodologias de pesquisa etnográfica, adaptando-se às suas experiências e aos contextos em que trabalharam. Apesar de todas as barreiras enfrentadas por ambas, elas foram de encontro com o que até então era visto como a única forma de "fazer etnográfico", o desenvolvido por Malinowski. Utilizando uma abordagem comparativa, busco examinar as práticas etnográficas dessas duas antropólogas, analisando em suas obras as suas principais técnicas de pesquisa e enfoques teóricos. Destaca-se a singularidade de cada abordagem, evidenciando as diferentes perspectivas e influências que moldaram suas trajetórias. De modo geral, esse trabalho busca ressaltar a importância de compreender os percursos individuais de cada antropólogo para apreciar a diversidade da pesquisa etnográfica, onde cada uma desenvolveu sua própria abordagem metodológica, adaptando-se às experiências e aos desafios do campo, e assim deixando um legado mais plural na construção no fazer etnográfico.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
"Na crise parece que os ossos estão quebrando falo e grito, mas parece que não sou ouvida": As experiências de viver com Doença Falciforme no contexto Paraibano e as interfaces do racismo.
Uliana Gomes da Silva (UFPB)
Resumo: Neste artigo, irei tecer reflexões sobre as vivências e as estratégias de cuidado das pessoas negras com doença falciforme no Estado da Paraíba, especialmente no contexto do sistema único de saúde (SUS). Que surge como resultado da pesquisa de Doutorado pelo Programa de pós-graduação em Antropologia (PPGA/CCHLA/UFPB), ainda em desenvolvimento. O histórico da doença genética mais comum no Brasil, que acomete mais a população negra, data mais de um século. As lutas por garantia de direitos são evidenciadas por meio do controle social, a mobilização do movimento negro, assim como as pesquisas e produções acadêmicas que destacam uma série de questões que interferem na qualidade de vida das pessoas com a doença. Estes desafios requerem soluções urgentes para assegurar uma melhoria significativa na qualidade de vida dos indivíduos afetados. Entretanto, constata-se que os avanços na Paraíba são lentos e, em alguns casos, inexistem, a exemplo da ausência de um hospital especializado para atendimento de adultos em crises relacionadas à doença falciforme. A ausência efetiva de tratamento adequado persistente, aliada ao silenciamento, desvalorização, desrespeito e negação de direitos, aumenta o sofrimento das pessoas, acarretando complicações de saúde e gerando uma dor adicional de natureza social. A citação inicial do título, atribuída a Janaina, destaca a percepção das múltiplas dimensões de dor resultantes da interseção entre a condição genética e os fatores sociais que perpassam as estruturas da organização social, a exemplo do racismo.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
No meio do caminho tem um muro: a branquitude como obstáculo às práticas pedagógicas
Victoria Corrêa Tavares (UFSC)
Resumo: Este resumo se refere às reflexões a partir da pesquisa de campo no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina. O objetivo da pesquisa etnográfica é identificar como a branquitude, enquanto expressão do racismo, interfere nas práticas pedagógicas da comunidade escolar. Embora distintos, branquitude e racismo são categorias que se relacionam quando somados à análise do poder. Ao acionar a categoria branquitude, posicionamos as pessoas brancas nos estudos sobre racismos. O que envolve examinar como a identidade racial branca é construída e produz vantagens sistêmicas em relação a outras identidades raciais. Em 2007, o Conselho Universitário da UFSC criou o Programa de Ações Afirmativas. Mas somente em 2023 o Colégio de Aplicação aderiu ao critério racial às políticas de ações afirmativas vinculadas ao sorteio de vagas para matrícula de estudantes. A antropologia dispõe de ferramentas que podem auxiliar na compreensão, junto da comunidade escolar, dos obstáculos que separam em 15 anos a adesão do critério racial às PAA para a entrada de estudantes na escola, em relação à universidade. Das/dos 100 educadoras/es, 97 se autodeclaram pessoas brancas e somente 3 se autodeclaram pessoas negras. Mesmo com assimetrias explícitas, circulam concepções em torno da excepcionalidade da escola. Como por exemplo, a presença de doutoras/es e mestras/es no quadro docente, além de projetos de pesquisa e extensão. Segundo a antropóloga Flavia Medeiros, a branquitude se expressa naquilo que parece sutileza, mas é explicitação. Ao entrarmos na escola, nos deparamos com um mural de uso exclusivo da disciplina de Alemão, mesmo havendo outras línguas oferecidas pela instituição. Como um cartão de visitas da escola, o mural serve como uma cápsula de embranquecimento, uma vez que está fixado na parede externa de uma estrutura circular utilizada por trabalhadoras/es da equipe de limpeza. A hiper-visibilidade naturalizada da branquitude enquadra paisagens e pessoas, por isso a importância em compreender a escola como um aparelho que proporciona a reprodução do dispositivo da racialidade (Carneiro, 2023). As pessoas negras têm sido historicamente responsáveis em desvelar a branquitude (Cardoso, Faustino e Brito, 2023), denunciando as dissimulações racistas, as facetas do salvadorismo branco e o abismo entre discursos e práticas engajadas. Enquanto mulher branca, cisgênero e lésbica, continuamente formada por um letramento racial racista (Lima, 2023), tensiono o que trago de antemão ao campo. Neste sentido, estranhar a branquitude é estranhar o familiar (Damásio, 2021) e constantemente negociar com a ideologia da superioridade racial branca (Carneiro, 2023).