ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 092: Retomadas, tessituras e insurgência no fazer antropológico e outros fazeres.
No meio do caminho tem um muro: a branquitude como obstáculo às práticas pedagógicas
Este resumo se refere às reflexões a partir da pesquisa de campo no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina. O objetivo da pesquisa etnográfica é identificar como a branquitude, enquanto expressão do racismo, interfere nas práticas pedagógicas da comunidade escolar. Embora distintos, branquitude e racismo são categorias que se relacionam quando somados à análise do poder. Ao acionar a categoria branquitude, posicionamos as pessoas brancas nos estudos sobre racismos. O que envolve examinar como a identidade racial branca é construída e produz vantagens sistêmicas em relação a outras identidades raciais. Em 2007, o Conselho Universitário da UFSC criou o Programa de Ações Afirmativas. Mas somente em 2023 o Colégio de Aplicação aderiu ao critério racial às políticas de ações afirmativas vinculadas ao sorteio de vagas para matrícula de estudantes. A antropologia dispõe de ferramentas que podem auxiliar na compreensão, junto da comunidade escolar, dos obstáculos que separam em 15 anos a adesão do critério racial às PAA para a entrada de estudantes na escola, em relação à universidade. Das/dos 100 educadoras/es, 97 se autodeclaram pessoas brancas e somente 3 se autodeclaram pessoas negras. Mesmo com assimetrias explícitas, circulam concepções em torno da excepcionalidade da escola. Como por exemplo, a presença de doutoras/es e mestras/es no quadro docente, além de projetos de pesquisa e extensão. Segundo a antropóloga Flavia Medeiros, a branquitude se expressa naquilo que parece sutileza, mas é explicitação. Ao entrarmos na escola, nos deparamos com um mural de uso exclusivo da disciplina de Alemão, mesmo havendo outras línguas oferecidas pela instituição. Como um cartão de visitas da escola, o mural serve como uma cápsula de embranquecimento, uma vez que está fixado na parede externa de uma estrutura circular utilizada por trabalhadoras/es da equipe de limpeza. A hiper-visibilidade naturalizada da branquitude enquadra paisagens e pessoas, por isso a importância em compreender a escola como um aparelho que proporciona a reprodução do dispositivo da racialidade (Carneiro, 2023). As pessoas negras têm sido historicamente responsáveis em desvelar a branquitude (Cardoso, Faustino e Brito, 2023), denunciando as dissimulações racistas, as facetas do salvadorismo branco e o abismo entre discursos e práticas engajadas. Enquanto mulher branca, cisgênero e lésbica, continuamente formada por um letramento racial racista (Lima, 2023), tensiono o que trago de antemão ao campo. Neste sentido, estranhar a branquitude é estranhar o familiar (Damásio, 2021) e constantemente negociar com a ideologia da superioridade racial branca (Carneiro, 2023).