Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 092: Retomadas, tessituras e insurgência no fazer antropológico e outros fazeres.
Cálculos de uma economia do vivido: a instituição de um próprio por meio do amadurecimento profissional
O objetivo deste estudo é realizar uma interpretação antropológica, fundamentada na etnografia, das
narrativas que envolvem a significação do trabalho docente e as escolhas profissionais dos interlocutores,
em conexão com outras dimensões de suas vidas. O foco da pesquisa recai sobre os professores substitutos das
redes públicas de ensino em Santa Catarina, que, apesar das condições estruturais precárias decorrentes de
um projeto neoliberal de educação em nível nacional, descrevem suas práticas impregnadas de significados
substanciais de resistência a esses processos. Destaca-se o amadurecimento como um fator determinante para
as tomadas de decisão econômica ao longo de suas trajetórias profissionais. Neste sentido, o trabalho
desenvolve-se na interface entre antropologia econômica e antropologia do trabalho, questionando o que
significa para a nossa produção de conhecimento resistir às categorias, distinções e definições de cima para
baixo, advindas das teorias da globalização do capitalismo em função da crescente reestruturação das bases
produtivas e de seus reflexos na administração do serviço público. Para embasar este estudo, foi
desenvolvido o conceito de "cálculos de uma economia do vivido", que busca conciliar as noções de "cálculos
econômicos" de José Sérgio Leite Lopes com as "táticas" de Michel De Certeau. Essas abordagens dizem sobre
as operações mentais e as maneiras de fazer dos trabalhadores comuns para resistir às estruturas
administrativas que não lhes permitem criar um espaço próprio. Deste modo, os professores precisam lidar com
os contingenciamentos do tempo para tirar proveito dessa ordem econômica. No entanto, ao longo de suas
carreiras profissionais, começam a reivindicar um próprio, através da racionalização posterior, afastada no
tempo, desse cotidiano imprevisível e instável, permitindo-lhes imaginar e ressignificar esse contexto, que
agora é habitado por eventos que conversam com o íntimo e alimenta um sentimento de preparo em relação às
futuras escolhas profissionais e econômicas.
Palavras-chave: Trabalho Docente; Neoliberalismo; Amadurecimento; Práticas Narrativas
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA