Grupos de Trabalho (GT)
GT 103: Universidade Indígena no Brasil: experiências e possibilidades
Coordenação
Gersem José dos Santos Luciano (UNB), Ana Maria Rabelo Gomes (UFMG)
Debatedor(a)
Rita Gomes do Nascimento (UFRN), Altaci Corrêa Rubim (UNB), Rosilene Cruz de Araujo (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO)
Resumo:
A criação da Universidade Indígena é reivindicação do movimento indigena reapresentada ao Ministro da Educação no início de 2023 como parte das propostas consideradas prioridade no VI Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (dez./2022). Essa proposição resulta, por um lado, das experiências que vem ocorrendo de forma crescente nos últimos 25 anos de presença e participação de indígenas no ensino superior como discentes, docentes e pesquisadores, Por outro lado, a proposição busca dialogar com experiências de outros países, em especial na América Latina, em instituições referidas como universidades interculturais e/ou universidades indígenas. Neste GT, propomos revisitar diferentes experiências para buscar identificar referências e reflexões de caráter epistemológico, metodológico, de práticas e políticas de conhecimento que possam constituir o repertório a partir do qual seja possível construir a proposta de "Universidade Indígena no Brasil" considerando diversos programas e experiências de: documentação das línguas indígenas e revitalização linguística; gestão territorial e ambiental em TI; sáude indígena; ensino superior (licenciaturas interculturais indígenas e demais modalidades); pesquisa e autoria indígena; centros de formação conduzidos por organizações indígenas; museus indígenas; educação escolar básica indígena; participação de sábios e conhecedores indígenas nas universidades; atuação de indígenas como docentes e pesquisadores nas universidades; dentre outros.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Alexandre Magno de Aquino (UFRGS)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo relatar e refletir sobre o desenvolvimento do Catálogo do Aluno indígena
no ambiente virtual TUAUFRGS, que visa contemplar formas dialógicas e interculturais orientadas para a
cocriação desse ambiente, situando a construção de uma pauta de motivações e aspirações relacionadas às
especificidades culturais dos povos indígenas na UFRGS. Além de promover o acesso ao conteúdo
disponibilizado pelo Catálogo do Aluno da TUAUFRGS (históricos, atestados, diplomas, etc), entende-se que a
elaboração de um catálogo diferenciado afirma valores culturais num contexto em que o letramento e o mundo
digital é por excelência a moeda de troca da interação com a universidade, como importante lugar de
vivência. A promoção de novas formas de experiências estéticas torna-se fundamental para os esforços que
promovam a interculturalidade, seja auxiliando no uso de equipamentos, programas e ferramentas da
informática, seja fomentando o uso da tecnologia da informação, alicerçada em métodos democratizantes.
Atenta-se para o fato da universidade ter incorporado definitivamente, com a política de ações afirmativas,
a questão da diversidade, notadamente das populações indígenas. Diante dessa diversidade, enfatiza-se a
importância do autorreconhecimento e da auto-afirmação na universidade. Apresenta-se resultados preliminares
da oitiva desta parcela da comunidade universitária, especialmente no que se refere ao acesso à informação
dos serviços disponibilizados nesse ambiente virtual do Catálogo, descrevendo os avanços para as etapas mais
propriamente aplicadas do projeto de extensão em andamento. Esse projeto articula aspectos estéticos e
técnicos, permitindo democratizar os serviços neste contexto histórico em que a cibercultura, especialmente
no que se refere às ferramentas educacionais disponibilizadas por aplicativos e sites, como ocorre em um
Ambiente Virtual de Aprendizado, motiva usuários a se tornarem cada vez mais coparticipes, agregando
conteúdo e significado social, visando o desenvolvimento da autonomia, de processos de coautoria e a
curiosidade, da colaboração, da cooperação e do respeito mútuo, que favorecem diferentes formas de
comunicação (linguagem escrita; texto, linguagem imagética; imagens), refletindo sobre o uso da informática,
explorando o Design Participativo, com foco no ambiente em si, para definir as imagens, as representações
gráficas, a possibilidade de explorar links, páginas, espaços cibernéticos. Esta abordagem considera
determinado contexto social no desenvolvimento de tecnologias computacionais interativas, seja para apoio às
atividades escolares, seja para contribuição no cotidiano universitário, diagnosticando processos em que os
indígenas acessam o mundo digital nesse sistema de registro acadêmico.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Felipe Domingo Curivil Bravo (Centro Indígena de Investigaciones Taki unquy)
Resumo:
Palabras claves:
Educación superior indígena pluralismo epistemológico conocimientos educativos.
Desde la conformación de los Estados nacionales en América Latina (siglo XIX) la educación se ha traducido
en políticas asimilacionistas hacia los pueblos indígenas, por ello los sistemas educativos han sido
agencias para la integración nacional donde se han reproducido diversas violencias coloniales y también sus
actores y/o funcionarios una correa de transmisión de la hegemonía del Estado-nación, excluyendo saberes y
conocimientos indígenas. Sin embargo, cuando estos se han incorporado, generalmente se ha hecho sobre la
base de ideas e imágenes estereotipadas, reflejando que el sistema educativo reproduce tanto saberes como
estructuras coloniales (Bertely, 2014). Esto porque los sistemas educativos nacionales han integrado bajo
políticas de inclusión las diferencias culturales a una estructura (neo) colonial establecida que reproduce
racismos visibles e invisibles. Así, el horizonte colonial en nuestro continente constituye un sustrato
profundo de mentalidades y prácticas que hasta hoy estructuran modos de convivencia (Albó, 1993).
Si estos principios, y las tensiones que los rodean, están presentes en las discusiones sobre la educación
escolar básica en contextos de pueblos indígenas, también se movilizan en los debates sobre diferentes
modelos de educación superior, universitaria y técnico profesional. Este trabajo se centrará en el ámbito de
la educación superior, a partir de establecer por un lado un balance crítico sobre la misma en contextos de
pueblos indígenas en Chile y por otro lado identificar algunas consideraciones indispensables para analizar
las tensiones y desafíos entre conocimientos y políticas educativas estatales en el contexto de la educación
superior en Wall mapu (territorio Mapuche, Chile), lo anterior ante un próximo estudio etnográfico del caso
de la implementación de la única institución de educación superior intercultural indígena en Chile, el
Centro de Formación Estatal Intercultural de la VIII región del Biobío ( territorio Mapuche lafkenche ).
Ahora bien desde el punto de vista contextual, abordaremos las tensiones y desafíos entre conocimientos y
políticas educativas estatales en el contexto de la educación superior en Wall mapu (territorio Mapuche,
Chile) reconociendo el surgimiento los últimos años de importantes iniciativas desde educación inicial a la
educación superior, instancias propiciadas por comunidades, organizaciones e instituciones del pueblo
Mapuche, donde destaca el liderazgo de la juventud mapuche constituyendo hoy un movimiento por los derechos
educativos y lingüísticos.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Florêncio Almeida Vaz Filho (UFOPA)
Resumo: A discussão em vista da elaboração do projeto de uma universidade indígena no Brasil parece se dar,
agora, em terreno mais fértil, após duas décadas de experiência de estudantes indígenas no ensino superior
através das políticas de ações afirmativas. Ao longo desse tempo, principalmente nas universidades públicas,
o processo passou por aperfeiçoamentos e muitos avanços, sempre com a ativa participação dos estudantes
indígenas. Indígenas egressos de cursos de pós-graduação, lentamente, começaram a assumir o papel de
professores nas universidades públicas, num processo que não raro permite ver que o racismo institucional
anti-indígena continua muito bem vivo. Os acadêmicos indígenas envolvidos nesses processos têm muitos
aprendizados e lições para contribuir com a proposta de criação da universidade indígena no Brasil, olhando
também para as ricas experiências que acontecem nos demais países latino-americanos. Neste trabalho,
trazemos como aportes para essa discussão um relato-testemunho sobre o processo de ações afirmativas voltado
para os indígenas na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), onde o autor é professor no Curso de
Antropologia e atuou como Diretor de Ações Afirmativas. Destacaremos: os Seminários preparatórios para o
Processo de Seleção Especial Indígena (PSEI), que contaram com a participação de estudantes indígenas,
lideranças dos povos indígenas e suas organizações; a Formação Acadêmica Indígena (FAIN), como etapa de
acolhida para os calouros indígenas em preparação para a entrada nos seus cursos específicos; o Curso da
língua Nheengatu para a formação de professores de escolas indígenas, ministrado por especialistas
acadêmicos e indígenas falantes vindo das aldeias; e o Diretório Acadêmico Indígena (DAIN), como entidade de
organização dos indígenas que muito protestou contra os casos de racismo e ajudou na elaboração da política
de ações afirmativas da Ufopa. Esses quatro elementos mostram, entre outras coisas, a importância da
participação das lideranças dos povos indígenas e dos próprios universitários indígenas na definição da
política que se quer implantar. Mostram que a universidade deve ser um espaço de diálogo dos saberes
indígenas e científicos, como ocorre na FAIN. E mostram também que processos de revitalização de línguas
indígenas, na verdade, envolvem vários aspectos da vida coletiva, como memória, mitologia, xamanismo,
cantos, identidade de grupo e projeto de futuro. Tais experiências podem trazer lições e aportes para
enriquecer a proposta de criação de uma universidade indígena necessária e possível.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Karenina Vieira Andrade (UFMG), Marciane Rocha (UFMG)
Resumo: Neste trabalho, pretende-se fazer uma reflexão sobre como poderíamos traduzir os conceitos de museu e
patrimônio cultural para as perspectivas indígenas, de modo a construir práticas museais colaborativas, nas
quais diferentes visões possam estabelecer um diálogo simétrico. A discussão será baseada na experiência e
no diálogo entre a antropóloga Karenina Andrade e a estudante indígena Marciane Rocha. As autoras se propõem
a refletir sobre o tema a partir de suas perspectivas a antropóloga, a partir de sua experiência de
pesquisa etnográfica junto ao povo Yekwana, e a estudante de antropologia e artesã yekwana, a partir de
sua visão de mundo e sua atuação como mediadora no Espaço do Conhecimento UFMG. Ambas estiveram envolvidas,
de diferentes maneiras, com a exposição Mundos Indígenas. Inaugurada em dezembro 2019 no Espaço do
Conhecimento UFMG, um museu universitário, a exposição contou com a participação de cinco povos indígenas,
que foram convidados a apresentar um pouco de seus mundos para os não indígenas. Participam da exposição os
povos Yanomami, Maxacali, Xacriabá e Pataxoop e Yekwana. Ao longo do trabalho, as autoras discutem o tema a
partir do que significou para o povo Yekwana levar parte de seu mundo para dentro de um museu. As autoras
discorrem sobre os processos de fabricação dos objetos que foram escolhidos para compor a parte yekwana da
exposição Mundos Indígena e que são utilizados tanto em contextos rituais quanto na vida cotidiana, de modo
a refletir sobre a composição e fabricação de tais itens, em que a expertise e a técnica envolvidas passam
desde a preparação dos materiais de fabricação até os cantos aichudi. Como, pois, garantir que não figurem
como meras coisas inertes, ao serem exibidas como parte de uma coleção em um museu na cidade? Fazemos alguns
apontamentos para repensar a presença dos mundos indígenas em museus, a partir da experiência na produção da
exposição Mundos Indígenas pelo povo Yekwana.
A partir da experiência com a exposição em um museu universitário, as autoras refletem também sobre a
relação entre as iniciativas fomentadas pelas universidades em projetos de pesquisa, extensão e ensino
relacionados aos povos indígenas que sejam pensados como parte de práticas inclusivas dialógicas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marina Ribeiro Romero (UNICAMP), Chantal Medaets (UNICAMP), Luiz Felipe Medina (UNICAMP), Lucas
Ferreira dos Santos (UNICAMP)
Resumo: Nesta comunicação apresentaremos uma síntese e análise do levantamento nacional de programas de ação
afirmativa destinados a indígenas em cursos regulares de Graduação de universidades públicas brasileiras que
realizamos entre 2021 e 2023. A partir deste levantamento, que está disponível em banco de dados de acesso
livre (https://www.ceape.fe.unicamp.br/pt-br/obiques), apontaremos os modelos que que têm emergido em âmbito
nacional para estimular o acesso e promover a permanência de estudantes indígenas nas universidades públicas
do país, indicando sua distribuição regional, os alcances e limites destes programas de acordo com a
literatura acadêmica disponível, assim como reflexões críticas de estudantes indígenas integrantes da UPEI
União Plurinacional dos Estudantes Indígenas e dos coletivos indígenas da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Diante dessa reflexão, que aponta para uma diversidade de ações para o ingresso indígena no
ensino superior, vemos também o surgimento de discussões sobre a criação de Universidades Indígenas, que
representam um modelo completamente diferente daquele que busca promover o ingresso de estudantes indígenas
em cursos regulares, e nos leva a repensar os modelos adotados até agora.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Marivania Leonor Souza Furtado (UEMA)
Resumo: Esta pesquisa realiza uma reflexão sobre as implicações das concepções de interculturalidade
(Walsh,2009) e diálogos pluriepstêmicos (Baniwa,2023) apresentados como diretrizes político-pedagógicas para
a implementação de Licenciaturas Interculturais Indígenas vinculadas ao Programa de Formação Docente para a
Diversidade Étnica PROETNOS da Universidade Estadual do Maranhão, que tem esta pesquisadora como
Coordenadora Geral. O Programa PROETNOS teve início em 2022 e atende a 180 indígenas e quilombolas,
divididos em 6 turmas, sendo três de Licenciaturas Interculturais Indígenas e 3 turmas de Licenciatura em
Educação Quilombola, com 30 estudantes indígenas e quilombolas, respectivamente, em cada turma. Esta
reflexão toma como referencial teórico-metodológico os estudos decoloniais e contracoloniais (Bispo dos
Santos, 2023), bem como a proposta da etnografia nos interstícios, desenvolvida pelo grupo de estudos,
pesquisa e extensão em Lutas Sociais, Igualdade e Diversidades LIDA/UEMA, que tem esta pesquisadora como
membro fundadora e coordenadora. O principal fio da linha a ser seguido para a tessitura da abordagem aqui
proposta é a de que, no processo de tentativa de apagamento histórico das epistemologias indígenas,
mostram-se como resistência as línguas e as racionalidades matemáticas indígenas, possibilidades ímpares
para a construção de processos escolares nas aldeias autônomos e não traduzíveis às racionalidades
hegemônicas eurocentradas. A formação de docentes indígenas pelo PROETNOS/UEMA seria o locus privilegiado
para a observação da construção de uma coalisão epistêmica entre saberes ocidentais e pluriepstemologias
indígenas, entendendo a prática pedagógica como potente para a emergência de um novo aspecto da
interculturalidade crítica, a saber; a interculturalidade insurgente.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Paulo Maia (UFMG), Luciene Alves dos Santos (UFMG), Saniwê Alves Braz (UFMG)
Resumo: Contra a monotonia, a monocromia e a monocultura instauradas, em setembro de 2023, ofertamos na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) uma disciplina nas Formações Transversais em Saberes
Tradicionais com a seguinte ementa: O clima da educação e das artes nos territórios indígenas; O que é e o
que pode ser feito com um têhêy?; Uma incursão guiada pela "escrita condensada" dos Têhêy - pescaria de
conhecimento: imagens que ensinam sem a escrita de palavras, somente pela oralidade, a "ciência da terra";
Contextualizando alguns valores, modos de ensinar e aprender no território/ aldeia/escola pataxoop [pataxó]
de Muã Mimãtxi: Na terra cada um tem o seu lugar de vida; A alegria de quem é vivo e se movimenta com a
natureza; O manejo de cuidar da terra; Tudo na natureza vive acompanhado; As plantas ajudam a terra a ficar
bonita; A força dos brotos; Plantio é a alegria da terra; A fartura; Compartilhar e ajudar os animais;
Camaradagem; A alegria e a liberdade Pataxó com a natureza. A presente comunicação associado a
imagens/desenhos/têhêys pretende dar conta da experiência compartilhada nesta ocasião tendo em vista os
processos pedagógicos, metodológicos, avaliativos e organizacionais empregados neste encontro de saberes
que, em larga medida, buscou delinear os contornos de uma pedagogia interespecífica.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Sérgio César Corrêa Soares Muniz (PPDSR - UEMA)
Resumo: As lutas e articulações dos povos indígenas no Brasil para abrir passagem em direção ao ensino superior,
tem sido um caminho percorrido desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, mas que se acirrou a
partir da primeira década do século XXI, considerando algumas conquistas e experiências pioneiras como os
casos da Universidade do Estado do Mato Grosso em 2001 e da Universidade de Brasília em 2004 que,
respectivamente, lançaram políticas de ação afirmativa para povos indígenas ingressarem em uma Licenciatura
Intercultural 'específica e diferenciada' reservada exclusivamente a esse segmento e a reserva de vagas para
candidatos indígenas nos cursos regulares da IES. Desse contexto até os dias atuais, outras conquistas
foram, ao menos formalmente, alargando essa passagem de acesso para os povos indígenas às salas de aula das
universidades. Em 2005 e 2012, o Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais
Indígenas (PROLIND) e a "Lei de Cotas" foram importantes conquistas políticas para o acesso de indígenas ao
ensino superior. No entanto, no caso do Maranhão, foi em 2007 que a Universidade Federal do estado, a UFMA,
lançou uma política de ação afirmativa demandada pelos movimentos e articulações da população negra do
estado. Essa política, como que de forma não intencional, acabou por contemplar os povos indígenas do
estado. Já em 2016, a Universidade Estadual do Maranhão passou a realizar a primeira Licenciatura
Intercultural Indígena do estado, a LIEBI. O curso contemplou quatro povos indígenas do estado
(Tentehar/Guajajara, Canela, Krikati e Pyhcop Catiji/Gavião) e formou, em 2022, 54 cursistas. Uma análise
das experiências formativas e produções intelectuais de alguns cursistas da LIEBI entre os anos de 2016 e
2022, contexto em que atuei como docente e orientador no curso, tornou possível o entendimento de que nas
trocas, partilhas e correlações epistemológicas realizadas pelos indígenas, entre os seus saberes e os
conhecimentos acadêmicos, se manifestavam equivalências e incongruências que em Muniz (2023) chamei de
"colisões epistêmicas" e "coalizações epistêmicas". As primeiras eram expressivas de uma negociação
improvável, sem efetividade, entre as formas daquelas indígenas para pensar o mundo e as formas não
indígenas (acadêmicas). As segundas indicavam que para qualificar a atuação dos indígenas em esferas de
discussão acerca de seus direitos, um certo tipo de aliança política entre os saberes indígenas e os
acadêmicos deveria ser considerado enquanto possibilidade. Para ver e sentir de perto essas colisões e
coalizações recorri a "etnografia dos/nos interstícios" (FURTADO, MUNIZ e OLIVEIRA, 2018) e MUNIZ (2023),
por ser parte protagonista do processo que, nesse trabalho, é objeto de reflexão.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Valéria Mendonça de Macedo (UNIFESP)
Resumo: A partir da experiência na coordenação da Licenciatura Intercultural Indígena recém-criada na UNIFESP,
espero compartilhar aspectos das experiências e reflexões de professores/as indígenas sobre sua prática
docente e as escolas em que lecionam. Particularmente, serão enfatizados desafios e desdobramentos criativos
da justaposição da docência e da pesquisa-intervenção nas comunidades, bem como as transformações trazidas
pela experiência universitária na prática docente. Ainda, serão abordadas transformações trazidas por esses
universitários indígenas na prática docente dos professores não indígenas na licenciatura e na
produção/circulação de conhecimentos na universidade. Serão compartilhadas experiências e reflexões dos
professores indígenas que se interessarem por sua veiculação neste GT e pela co-autoria em textos que se
desdobrarem desta sistematização preliminar
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Vitor Miranda Ciochetti (Estudante)
Resumo: O ensino de línguas nas Instituições de Ensino Superior (IES) está majoritariamente vinculado a uma
perspectiva instrumental, com o objetivo de angariar um capital cultural para a evolução profissional e
acadêmica, em que se destacam o ensino das línguas de origem europeias. Centrada nessa visão eurocêntrica,
as IES ainda atribuem às línguas e às culturas indígenas a lugares marginais no currículo. Sabe-se, por sua
vez, que as línguas indígenas, para além do caráter comunicativo-instrumental, ocupam um lugar central na
preservação das culturas, tradições e saberes de seus povos, possuindo extrema relevância na luta política
dos povos indígenas em defesa de uma educação específica e diferenciada que considere seus os processos de
ensino e aprendizagem. Considerando esses aspectos, os povos indígenas enfrentam o desafio de transformar as
instituições educacionais em atores estratégicos na valorização das suas línguas e culturas. Ao mesmo tempo,
nas últimas duas décadas, tem despontado projetos de produção dialógica entre os saberes indígenas e os
saberes científicos nas IES. Neste trabalho, propõe-se apresentar o curso de Língua e Cultura Mbya Guarani,
projeto desenvolvido pela Rede de Atenção à Pessoa Indígena, vinculado ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, campus Butantã, com o objetivo de discutir as potencialidades e desafios do
ensino de línguas indígenas em universidades. Desde 2019, a Rede de Atenção à Pessoa Indígena, em parceria
com as comunidades Mbya Guarani da cidade de São Paulo, desenvolve o curso de Língua e Cultura Mbya Guarani,
ofertado gratuitamente para o público interno e externo da universidade em caráter de Extensão
Universitária. As(os) professoras(es) do curso são, em sua maioria, jovens lideranças da Terra Indígena do
Jaraguá, a menor T.I. demarcada no país localizada na maior cidade da América Latina. Cabe destacar que o
curso é oferecido na Casa das Culturas Indígenas, uma edificação tradicional Guarani, conhecida como Opy e
traduzida para o português como Casa de Reza, construída em 2017 no Instituto de Psicologia. A Casa de Reza
é um espaço fundamental na organização social dos povos Guarani, na transmissão de seus saberes, práticas
culturais e religiosas. Nesse sentido, a Casa das Culturas Indígenas, ao fazer referência a uma instituição
central na cultura Mbya Guarani, produz novos sentidos em relação à presença indígena no espaço
universitário, possibilitado a troca de saberes entre o meio acadêmico e as comunidades indígenas.
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