Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 103: Universidade Indígena no Brasil: experiências e possibilidades
O curso de Língua e Cultura Mbyá Guarani na Casa das Culturas Indígenas da USP
O ensino de línguas nas Instituições de Ensino Superior (IES) está majoritariamente vinculado a uma
perspectiva instrumental, com o objetivo de angariar um capital cultural para a evolução profissional e
acadêmica, em que se destacam o ensino das línguas de origem europeias. Centrada nessa visão eurocêntrica,
as IES ainda atribuem às línguas e às culturas indígenas a lugares marginais no currículo. Sabe-se, por sua
vez, que as línguas indígenas, para além do caráter comunicativo-instrumental, ocupam um lugar central na
preservação das culturas, tradições e saberes de seus povos, possuindo extrema relevância na luta política
dos povos indígenas em defesa de uma educação específica e diferenciada que considere seus os processos de
ensino e aprendizagem. Considerando esses aspectos, os povos indígenas enfrentam o desafio de transformar as
instituições educacionais em atores estratégicos na valorização das suas línguas e culturas. Ao mesmo tempo,
nas últimas duas décadas, tem despontado projetos de produção dialógica entre os saberes indígenas e os
saberes científicos nas IES. Neste trabalho, propõe-se apresentar o curso de Língua e Cultura Mbya Guarani,
projeto desenvolvido pela Rede de Atenção à Pessoa Indígena, vinculado ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, campus Butantã, com o objetivo de discutir as potencialidades e desafios do
ensino de línguas indígenas em universidades. Desde 2019, a Rede de Atenção à Pessoa Indígena, em parceria
com as comunidades Mbya Guarani da cidade de São Paulo, desenvolve o curso de Língua e Cultura Mbya Guarani,
ofertado gratuitamente para o público interno e externo da universidade em caráter de Extensão
Universitária. As(os) professoras(es) do curso são, em sua maioria, jovens lideranças da Terra Indígena do
Jaraguá, a menor T.I. demarcada no país localizada na maior cidade da América Latina. Cabe destacar que o
curso é oferecido na Casa das Culturas Indígenas, uma edificação tradicional Guarani, conhecida como Opy e
traduzida para o português como Casa de Reza, construída em 2017 no Instituto de Psicologia. A Casa de Reza
é um espaço fundamental na organização social dos povos Guarani, na transmissão de seus saberes, práticas
culturais e religiosas. Nesse sentido, a Casa das Culturas Indígenas, ao fazer referência a uma instituição
central na cultura Mbya Guarani, produz novos sentidos em relação à presença indígena no espaço
universitário, possibilitado a troca de saberes entre o meio acadêmico e as comunidades indígenas.