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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 103: Universidade Indígena no Brasil: experiências e possibilidades
Indígenas na Ufopa - As experiências na Amazônia como lições e aportes para a construção da Universidade Indígena do Brasil
A discussão em vista da elaboração do projeto de uma universidade indígena no Brasil parece se dar, agora, em terreno mais fértil, após duas décadas de experiência de estudantes indígenas no ensino superior através das políticas de ações afirmativas. Ao longo desse tempo, principalmente nas universidades públicas, o processo passou por aperfeiçoamentos e muitos avanços, sempre com a ativa participação dos estudantes indígenas. Indígenas egressos de cursos de pós-graduação, lentamente, começaram a assumir o papel de professores nas universidades públicas, num processo que não raro permite ver que o racismo institucional anti-indígena continua muito bem vivo. Os acadêmicos indígenas envolvidos nesses processos têm muitos aprendizados e lições para contribuir com a proposta de criação da universidade indígena no Brasil, olhando também para as ricas experiências que acontecem nos demais países latino-americanos. Neste trabalho, trazemos como aportes para essa discussão um relato-testemunho sobre o processo de ações afirmativas voltado para os indígenas na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), onde o autor é professor no Curso de Antropologia e atuou como Diretor de Ações Afirmativas. Destacaremos: os Seminários preparatórios para o Processo de Seleção Especial Indígena (PSEI), que contaram com a participação de estudantes indígenas, lideranças dos povos indígenas e suas organizações; a Formação Acadêmica Indígena (FAIN), como etapa de acolhida para os calouros indígenas em preparação para a entrada nos seus cursos específicos; o Curso da língua Nheengatu para a formação de professores de escolas indígenas, ministrado por especialistas acadêmicos e indígenas falantes vindo das aldeias; e o Diretório Acadêmico Indígena (DAIN), como entidade de organização dos indígenas que muito protestou contra os casos de racismo e ajudou na elaboração da política de ações afirmativas da Ufopa. Esses quatro elementos mostram, entre outras coisas, a importância da participação das lideranças dos povos indígenas e dos próprios universitários indígenas na definição da política que se quer implantar. Mostram que a universidade deve ser um espaço de diálogo dos saberes indígenas e científicos, como ocorre na FAIN. E mostram também que processos de revitalização de línguas indígenas, na verdade, envolvem vários aspectos da vida coletiva, como memória, mitologia, xamanismo, cantos, identidade de grupo e projeto de futuro. Tais experiências podem trazer lições e aportes para enriquecer a proposta de criação de uma universidade indígena necessária e possível.