Grupos de Trabalho (GT)
GT 013: Antropologia das práticas esportivas e de lazer
Coordenação
Leonardo Turchi Pacheco (UNIFAL-MG), Luiz Fernando Rojo (UFF)
Resumo:
No intuito de dar continuidade as reflexões realizadas em mais de vinte e dois anos de reuniões anteriores da RBA e RAM, este grupo de trabalho tem por objetivo aprofundar os diálogos entre as pesquisas no campo de estudos das práticas esportivas e do lazer. Este é um campo antropológico que abrange diálogos e reflexões plurais, propiciando a interação entre pesquisadores e pesquisadoras das mais variadas áreas cientificas. É, também, um campo em expansão na medida em que o tema dos esportes em nosso país se desloca da monocultura futebolística para abarcar diversas práticas esportivas em um nível cada vez mais intenso. Este processo, por sua vez, remete à construção de novos territórios esportivos, incorporando não apenas as práticas já tradicionalmente esportivizadas, mas aquelas desenvolvidas por grupos indígenas, que realizam seus próprios eventos esportivos, inclusive de caráter internacional, por jovens que desafiam os limites entre esporte e práticas artísticas e de lazer – como a incorporação do surf, do skate e do breaking no programa olímpico impõe à nossa reflexão. Desta forma, novas corporalidades adentram o cenário esportivo, seja o de alto rendimento das competições profissionais, seja o das práticas populares e cotidianas, que precisam ser analisadas e interpretadas a partir das reflexões críticas do saber antropológico.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Augusto Leal de Britto Velho (UFRGS)
Resumo: A antropologia do esporte vem realizando importantes pesquisas sobre o futebol profissional e amador; sobre a cultura de arquibancada, também sobre os megaeventos esportivos e a formação de jogadores, desde as categorias de base até os circuitos profissionais. O PPGAS/UFGRS, à partir da linha de pesquisa sobre esportes abrigada dentro do GAEP (Grupo de Antropologia da Economia e da Política), tem uma tradição em investigações pioneiras no tema. Esperamos que este projeto contribua no empreendimento mais amplo de virar o olhar antropológico para o futebol e suas instituições.
A pesquisa em curso visa destacar um aspecto crucial que ainda não foi trabalhado em profundidade: o impacto significativo dos tribunais desportivos na realização do futebol como espetáculo. Estas instituições de caráter privado atuam sobre o esporte como entidades reguladoras e de “accountability que permitem a resolução de conflitos dentro ou fora do estádio de maneira definitiva. Buscaremos neste trabalho estabelecer uma conexão entre a ideia de “seguir o jogo como uma função do árbitro de campo e do TJD. A etnografia destas instituições, apoiada por um diálogo com a antropologia econômica e a antropologia do direito, permitiria entender melhor as diferenciações entre uma abordagem do direito comum e o desportivo, como o caráter privado destes tribunais impacta no seu funcionamento e como funciona a produção de conceitos jurídicos ou de governança sobre tudo aquilo que envolve o futebol profissional.
Particularmente interessantes são os casos que envolvem atos transgressores por parte de torcedores ou torcidas organizadas: Como e por quais motivos os tribunais estabelecem entendimentos de culpabilização ou penalização para clube, torcedor individual ou torcida organizada? Até onde estas três figuras são distinguíveis e separáveis dentro da lógica da justiça desportiva? Ao tentar responder esses questionamentos, planejo mobilizar os dados etnográficos produzidos ao acompanhar o cotidiano do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul.
A hipótese levantada é que existe uma preocupação por parte dos tribunais desportivos em manter o jogo de futebol como um espetáculo ininterrupto e cujas variáveis extra campo sejam controladas. Nesse sentido, associamos a figura dos tribunais desportivos à posição do árbitro de campo, que de forma similar está incumbido e performa em campo para que o jogo siga sem maiores interrupções ao espetáculo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bruno Vieira Borges (USP), Matheus Farah Tijiwa Birk (USP)
Resumo: "O tempo “em que tudo era mato não mais qualifica o cenário da produção das ciências sociais brasileiras sobre as dimensões do esporte. É notável um crescimento vertiginoso de teses, dissertações, periódicos e dossiês destinados ao assunto nas últimas duas décadas, com destaque para a Antropologia. No entanto, a falta de sistematizações bibliográficas, fato necessário para o refino de qualquer área de estudos, nos impede de aferir se esse crescimento foi acompanhado de uma diversificação de objetos e temas.
De modo a sanar esta lacuna, oferecemos uma análise qualiquantitativa dos artigos de Antropologia Urbana publicados na Esporte e Sociedade e na FuLia/UFMG, duas importantes revistas de Ciências Humanas e esportes cujos catálogos contemplam, com frequência, etnografias. Apoiamo-nos na metodologia de trabalho desenvolvida pelo UrbanData-Brasil (https://urbandatabrasil.fflch.usp.br/), banco de dados fundado no desfecho da década de 1980 pela socióloga Licia Valladares e que, desde então, se consagrou como referência para a pesquisa urbana brasileira. Emprestamos de seus protocolos de classificação, em especial, as Áreas Temáticas, vocabulário controlado que mapeia os trinta e cinco principais temas dos estudos urbanos.
Com a amostra dividida em dois recortes temporais, constatamos que a “monocultura futebolística não sofreu uma derrocada, pois 78,8% dos artigos elegeram o futebol como objeto de investigação. Contudo, transparece entre 2015 e 2023 um alargamento do que se entende por “futebol”; aquele mais “tradicional”, jogado profissionalmente e torcido por homens, passa a conviver com outros (futebol de várzea e de bairro, futebol de mulheres, futebol trans, etc). Nesse sentido, o que se tornou mais diversificado na Antropologia foi o campo de pesquisa em futebol, embora outros esportes, de fato, apareçam. Procuramos, assim, oferecer hipóteses para este fenômeno com base na bibliografia e na emergência de agentes e eventos (a refundação do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, a criação da Taça das Favelas, a exposição da relação gênero/esportes na mídia, etc).
No que diz respeito às Áreas Temáticas, sublinha-se o aumento acentuado de pesquisas em gênero e, também, sobre os espaços e as infraestruturas urbanas, o que pode estar relacionado com o ciclo de megaeventos e a construção de novos estádios e praças esportivas. Na contramão, chama atenção a escassez de pesquisas sobre relações étnico-raciais, algo incongruente com o legado colonial brasileiro, os casos de racismo ocorridos no mundo dos esportes e as crescentes manifestações de afirmação de identidade, resistência e denúncia. Estes e outros tópicos, portanto, foram tomados de modo a evitar o acúmulo perdulário de informações e oferecer perguntas e caminhos aos pesquisadores da área."
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Carlos Eduardo Costa (lelus)
Resumo: Esta proposta de trabalho propõe o desenvolvimento analítico em torno de uma linha de pesquisa que se consolida etnográfica e conceitualmente, a Antropologia das práticas esportivas. Nosso foco será uma abordagem comparativa entre distintas técnicas de embates corporais, armistícios e ressignificações nos usos de armas, através do universo das Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate (L/AM/MEC). A proposta é destacar proximidades e diferenças entre modalidades esportivas de combate, tendo a luta corporal kindene e as disputas nos dardos jawari como referência, desde o contexto etnográfico do Alto Xingu, MT/BR. Nosso caminho, após melhor elucidar o universo das artes marciais disputadas ritualmente no Alto Xingu, seguirá por uma breve análise comparativa entre modalidades esportivas de combate que, apesar de suas distâncias geográficas, simbólicas, contextuais, passaram por esportificações técnicas em determinados momentos históricos. Na literatura produzida no Brasil, judô e capoeira são as modalidades mais trabalhadas, assim como o boxe, a "nobre arte". De maneira mais ampla, pretendemos demostrar que as artes marciais são formas integradas de manifestações artísticas realizadas a partir dos contextos em que são vividas, somando pinturas corporais, vestimentas, universo musical, danças típicas e performances próprias a cada uma delas. Além, é claro, da codificação das práticas e do abandono e ressignificação de instrumentos usados como armas. Portanto, nossa proposta é evidenciar as associações entre a rica diversidade etnográfica e as sofisticadas abordagens teóricas em torno das L/AM/MEC para colocá-las em relação, procedimento que também nos é conhecido quando falamos sobre práticas esportivas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Emanuelle de Oliveira Camolesi (UFF)
Resumo: "A prática do voo livre é milenar, tendo registro da construção do que podemos considerar a primeira asa delta datada em 852 d.C. por Abbas Ibn Firnas. Em 1974, o primeiro voo na Pedra da Gávea/RJ foi realizado pelo piloto francês Stephan Dunoyer de Segonzac, e pouco tempo depois, no mesmo ano, pelo carioca Luiz Claudio Mattos, do qual juntos expandiram a prática esportiva em território brasileiro.
Este esporte é composto de conhecimentos específicos, técnica e manejo de equipamentos resistentes ao ar e constante negociação com as condições climáticas que possibilitam sua prática, como a pressão atmosférica e o aquecimento do solo e do ar pelo sol. A asa delta é um aerodesporto controlada pelo profissional ou aluno apenas com a deslocação do peso de seu corpo, permitindo alterações no direcionamento do voo. Partindo deste princípio, tal prática parece rica em construções diferenciadas da corporalidade, já que neste esporte, não há restrições corpóreas demasiadas – seu principal condicionante é o peso, que deve ser entre 35 kg e 80 kg – permitindo a decolagem desde jovens a partir de 16 anos acompanhados de responsáveis, homens, mulheres, idosos e pessoas portadoras de deficiências.
A nula atenção dada ao esporte pela Antropologia Brasileira é uma das motivações para propor um estudo em um dos pontos de decolagem de asa delta, localizado em Niterói/RJ. Estimulada por questões envolvendo este esporte considerado radical e de risco e a construção da corporalidade como local da experiência, foram identificados poucos trabalhos envolvendo esta prática esportiva, concentrados nas áreas de Educação Física e Turismo, mesmo com mais de 30 anos consolidada no Brasil, com muitos adeptos, campeonatos nacionais estabelecidos e aerodesportistas brasileiros no topo dos rankings mundiais.
Para tal, pretende-se utilizar como técnica de trabalho de campo a observação participante e entrevistas, utilizando também, efetivamente, de meu próprio corpo e emoções, a fim de trazer reflexões que somente a experiência e a vivência corpórea no esporte, podem revelar. Como esta é uma pesquisa em desenvolvimento, que dá seus primeiros passos, pretendo apresentar um apanhado bibliográfico quanto as construções da corporalidade que servirão de base para as questões que permeiam o estudo proposto, na prática aerodesportiva exposta. Também é intenção apresentar como se deu a entrada em campo e a recepção da proposta no ponto de decolagem escolhido. "
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fernanda Rocha Macedo (UNESP)
Resumo: O lazer é uma ação escolhida de forma voluntária para ser executada durante o tempo livre, essas auxiliam no desenvolvimento da estabilidade emocional, trazendo para o indivíduo benefícios como a alegria de viver e maior disposição física e mental. É possível notar, que o lazer esteve presente em diversos contextos históricos, nos dias atuais pode-se perceber que o lazer é uma necessidade direta e direito dos indivíduos, que permite vivenciar novas oportunidades e experiências enquanto ser humano, propiciando novos desafios sociais e pessoais, possibilitando a construção da identidade pessoal e social. Também, como forma de lazer, o teatro estimula a aprendizagem, a comunicação e a interpretação de situações da vida cotidiana, influencia o desenvolvimento de diversas capacidades e se reflete no pensamento, e no que se produz com o pensamento. Constitui assim, a prática teatral, uma necessidade humana, no sentido em que confere meios para desenvolver uma comunidade, através da interação e integração de tudo o que a envolve (Lucas, 2019, p.9). Por todo o exposto, proponho desenvolver este trabalho em conjunto com o Instituto Juntos, situado na zona sul da região da Paraíso, na cidade de São Paulo, trazendo a prática teatral como ferramenta de lazer que permite aos seus integrantes desenvolver as capacidades pessoais e sociais. Mediante a realização de entrevistas e consulta de acervos e documentos do Instituto Juntos, pretendendo questionar e observar as ações dos participantes em contexto de grupo, a fim de perceber e entender uma possível ação transformadora pessoal e social.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Gabriel Moreira Monteiro Bocchi (Escola Alef Peretz)
Resumo: Neste trabalho apresenta-se as primeiras reflexões referentes ao desenvolvimento da pesquisa, em âmbito de doutorado, focada em discutir transformações no futebol espetacularizado e na sociedade brasileira pós-Copa do Mundo de 2014. A principal interlocução é com torcedores corinthianos frequentadores da Arena Corinthians, na cidade de São Paulo. Parte-se de distintas perspectivas torcedoras: coletividades que associam as militâncias clubística e torcedora às militâncias políticas; torcedores que deixaram de ser assíduos nas partidas como mandante do Sport Club Corinthians Paulista (SCCP), aqueles que passaram a o ser nos anos seguintes à inauguração da Arena; pessoas vinculadas e não vinculadas a torcidas organizadas e coletivos torcedores. O campo de pesquisa é ampliado para além de torcedores e situações relacionados ao Corinthians, abrangendo coletividades torcedoras-militantes vinculadas ao São Paulo Futebol Clube (SPFC) e o Estádio do Morumbi, a fim de analisar similaridades e diferenças nas experiências torcedoras em regiões distintas da cidade de São Paulo, em modelos de estádios e gestões de clubes distintos. Desenvolve-se um estudo comparativo ao realizado na pesquisa de mestrado, no sentido de analisar temas em comum àquela pesquisa - habitação de lugares públicos, privados e domésticos por torcedores; relações com ingressos, programas de sócio torcedor e acesso aos jogos; setorização dos estádios e formas de torcer; usos de ferramentas digitais como parte dos espaços e relações presenciais - com um intervalo de dez anos. Tem-se por hipótese que tal exercício comparativo entre as vivências etnográficas de 2014/15 com as atuais, 2022-25, permitirá analisar transformações de ordens social, política e econômica no Brasil no mesmo período, a partir das práticas de torcedores, compreendendo-as como relacionadas às suas perspectivas e práticas de vida mais amplas. Apresenta-se, por fim, com maior densidade etnográfica, reflexões sobre coletividades de torcedores-militantes e discussão que entremeia possibilidades antropológicas na pesquisa em diálogos com Michel Agier e Tim Ingold.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Gabriela Seta Alvarenga (UFSCAR)
Resumo: "Essa apresentação pretende dar luz às “dissonâncias paralelas encontradas no campo etnográfico da minha pesquisa de mestrado que pretende responder (em sua dissertação) a seguinte pergunta: “O que muda quando o dançarino vira atleta? e que encontra em campo os mesmos falando eloquentemente que às vezes são atletas, e que sempre são b-boys. O trabalho, portanto, tem a intenção de trazer à tona a discussão recorrente na pesquisa em que se fazer atleta é ir aos mega eventos (campeonatos olímpicos/esportivos) e voltar, é sempre como b-boys, para o Hip Hop, traçando assim, uma tensão explícita entre cultura e esporte.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Halisante dos Anjos Vieira Neto (UFF)
Resumo: TÍTULO: O TÊNIS COMO INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO SOCIAL
Halisante dos Anjos Vieira Neto (UFF/Rio de Janeiro)
RESUMO
A presente pesquisa visa abordar questões que se revelaram no campo, sob uma perspectiva de teorias antropológicas das emoções e corporalidades provenientes de projeto social voltado para o esporte, que usa a prática esportiva do tênis para incluir crianças moradoras de comunidades carentes e de áreas adjacentes também em condições de vulnerabilidade, com um objetivo educacional comprometido com o encaminhamento das crianças para escolas e faculdades particulares com bolsa esportiva integral.
Nesse contexto, investigar a interação dos atletas, funcionários e todos os envolvidos no tênis, sobretudo a forma como se comportam diante de cada situação de jogo ou treinamento.
Além disto, as regras de convívio social e alteridade comum a todos, plateia, atletas, arbitragem, boleiros e demais integrantes do evento quem não estão livres desse senso comum inerente ao tênis.
Por fim, coletar dados sobre o rendimento dos atletas em situações de jogo, inclusive quando o atleta oscila durante uma partida, e de repente perde a confiança.
Palavras-chave: emoções, corporalidades, tênis.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Júlio César de Oliveira Porto (UFF)
Resumo: O Brasil é reconhecido mundialmente como o “país do futebol e a sociabilização do brasileiro é marcada pela forte influência da monocultura futebolística. Essa influência possibilita articular o sentimento de pertencimento e nacionalismo além de também ser um grande lazer e um local onde o torcedor pode extravasar sua excitação, tal como disposto no clássico livro de Elias e Dunning. Porém, essa paixão nem sempre se materializa com a ida ao estádio o que gera uma relação paradoxal que transita entre a paixão e o medo: a paixão pelo futebol e o medo de ir aos estádios. Esse medo é quase sempre atribuído às torcidas organizadas que por vezes são estigmatizadas como vilãs e causadoras da sensação de medo de ir aos estádios. Em muitos estados como São Paulo, por exemplo, a política de segurança pública concernente ao tema foi a de estabelecer torcida única. Porém, uma grande dúvida deve ser esclarecida: torcida única é apenas um mito ou uma solução? Conforme Maurício Murad, apenas 5% dos membros de torcida organizada delinquem. No Rio de Janeiro, local onde foi efetuada a pesquisa de campo, por meio de observação participante, junto a membros de torcidas organizada Fla Manguaça, já foi cogitada a implementação de torcida única. Porém, não foi levada a cabo e esta etnografia visa analisar estes aspectos sob a ótica de membros de torcidas organizadas. As políticas de segurança pública sobre esta temática atendem de fato às demandas dos torcedores?
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Júlio César Valente Ferreira (CEFET/RJ)
Resumo: Futebol e carnaval são manifestações da cultura popular, de circularidade, as quais rompem uma suposta hierarquia de manifestações culturais por classe, sendo ambas máquinas de socialização, porque são rotineiros. Isto é, tem futebol e carnaval quase durante todo o ano. No atual modelo de configuração, preparação e apresentação do desfile, uma parcela cada vez mais significativa da agremiação dedica significativa parte de seu tempo cotidiano, e em uma intensidade, a qual supera (e muito) os dias oficiais de folia. As torcidas organizadas de escolas de samba são fenômenos recentes, surgindo a partir da década de 2000. Elas se mobilizam para organizar eventos, auferir recursos para as performances nas arquibancadas do Sambódromo, participar ativamente dos ensaios anteriores aos dias do desfile, promover ações de salvaguarda da memória própria e da agremiação a qual mantém relações de pertencimento e participam ativamente da política interna da agremiação. A pesquisa em questão possui enfoque predominantemente qualitativo. Para tal, teve relevância o delineamento, a observação e a compreensão deste universo apreendido etnograficamente. O posicionamento e a atuação destes coletivos no carnaval são explicados através da compreensão do processo de construção de sua identidade e do delineamento das forças sociais que os mobilizam e das redes internas e externas. A partir do fato de que as torcidas das escolas de samba são fenômenos praticamente desconhecidos e com número praticamente nulo de trabalhos no âmbito acadêmico, a estrutura da pesquisa revela também seu caráter exploratório, considerando a necessidade de aproximação com a realidade empírica em questão. A partir destas premissas, projeta-se a articulação teórica em torno dos conceitos e noções de ritual, malha, redes, sociabilidade e construção da pessoa, trajetórias individuais e carreiras com o trabalho de campo. O estudo de caso foi realizado junto à torcida organizada da escola de samba Unidos de Vila Maria, agremiação carnavalesca da cidade de São Paulo e participante recorrente dos desfiles na principal divisão hierárquica do carnaval paulistano. No decorrer do estudo, verificou-se que sua participação em todas as etapas para a consecução do desfile possibilita aos membros da torcida organizada da Vila Maria ocupar o espaço urbano de outras formas para além daquelas típicas dos foliões e das torcidas organizadas. Também se revelou uma configuração de sociabilidades e práticas junto aos demais integrantes da agremiação carnavalesca, que não permite marcar uma separação rígida entre um habitus de torcedor organizado e outro de folião, principalmente em se tratando de um coletivo formado por jovens, público com reduzida capacidade de agência nas escolas de samba.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Leonardo Vinicius Rodrigues de Mendonça (UFES)
Resumo: Leonardo Vinicius Rodrigues de Mendonça
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: leo.160896@hotmail.com
Crônicas do Capixabão: Uma breve descrição etnográfica da pré-temporada do Vitória Futebol Clube
RESUMO
O presente trabalho é parte do texto produzido para a qualificação de minha pesquisa de mestrado. A empreitada teve início no dia 01/06/2022, quando eu e meu orientador fomos a sede do Vitória Futebol Clube, clube de futebol de Vitória, capital do Espírito Santo, para uma reunião com a diretoria.
A ideia que deu origem ao projeto de pesquisa com o qual ingressei no mestrado era fazer um trabalho de caráter teórico, algo que idealizei como uma filosofia das táticas no futebol, ou mesmo uma sociologia do conhecimento da tática, a partir de uma análise mais abstrata do panorama do esporte nos dias de hoje. A ameaça neoliberal ao futebol é parte de um fenômeno geral, integrado às dinâmicas globais do capitalismo. O esporte não é um universo à parte da sociedade, muito embora sua estrutura de espetáculo o faça parecer. Portanto, em um primeiro momento, tendo em vista essa perspectiva teórica-conjuntural, não estava nos planos realizar um estudo empírico, ou mesmo uma pesquisa que envolvesse qualquer tipo de campo. Mas a possibilidade que se apresentou de passar um período acompanhando a pré-temporada do clube capixaba me fez rever os planos iniciais, e acabou por inverter as prioridades da pesquisa.
O que pretendo apresentar no congresso é a minha experiência ao acompanhar o dia a dia de um clube que disputa um campeonato estadual periférico, e habita as divisões inferiores do futebol nacional. Meu relato etnográfico teve inspiração na perspectiva de Alexandre Nodari, da Literatura como uma forma de Antropologia Especulativa, detalhada em artigo um deste autor. Além disso, baseei o estilo da escrita do texto no clássico trabalho de William Foote Whyte, Sociedade de esquina. No texto, relato não apenas o que observei do cotidiano dos atletas, mas também minhas dificuldades em me adaptar ao ambiente, e principalmente, a maneira pela qual o estilo de jogo de um time de futebol é construído na prática, tendo em vista a discussão teórica da pesquisa, que tem como objeto de investigação a relação entre os sistemas táticos do futebol contemporâneo, e as dinâmicas subjetivas do neoliberalismo, que cada vez se expandem para além do mundo do trabalho.
Palavras Chave: Neoliberalismo, Sociologia do futebol, Estilo de jogo, Etnografia
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maíra Tura Pereira (UFF)
Resumo: Existe um universo de possibilidades e muito já se pesquisou sobre o Futebol de mulheres no Brasil, porém meu trabalho está localizado em uma lacuna ainda não preenchida pelos estudos da Antropologia dos Esportes. Este artigo trata do discurso sobre as emoções das crianças que estão crescendo em categorias de base do Futebol de mulheres. Propõe a utilização do terno futebol de meninas para se referenciar a prática esportiva que envolve essas crianças. Demonstra como as atletas manejam suas emoções e como se dá essa construção dentro e fora do campo e ainda analisa como a questão do gênero ligada ao esporte aparece neste contexto. A maneira como as crianças localizam suas emoções nos diferentes momentos e situações que rodeiam o ambiente esportivo são essenciais na construção de dados. Como procedimento metodológico foi iniciado um trabalho de campo no projeto social "Daminhas da Bola". A pesquisa abrange tanto os treinos quanto os jogos, acrescida da leitura e análise de capítulos de livros e artigos que tratam da questão da emoção, do esporte e do futebol de mulheres. A hipótese é de que as expressões das emoções por parte das meninas são construídas dentro e fora das quatro linhas, não são naturais e estão interligadas às relações de poder assimétricas de gênero. Para a análise das emoções dessas atletas foi utilizado como principal referencial teórico a visão contextualista, proposta por Catherine Lutz e Lila Abu-Lughod.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mártin César Tempass (FURG)
Resumo: O presente trabalho é fruto de reflexões produzidas durante oito anos de aulas de Antropologia para o curso de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande. Partimos do princípio que os seres humanos, inseridos nas mais diversas culturas, necessitam frequentemente de novos acontecimentos para a manutenção das relações sociais. Sem a ocorrência de novidades a vida humana seria insuportavelmente tediosa. Pretendemos, assim, analisar como jogos e esportes são acionados para a produção de fatos novos, tanto entre os praticantes quanto entre os espectadores. Apoiados no trabalho de Norbert Elias e Eric Dunning, objetivamos demonstrar que jogos e esportes, constitutivos do lazer, são os recursos mais acionados para satisfazer “a busca da excitação social, presente em todas as sociedades. Mais detalhadamente, buscamos observar como cada jogo e esporte é escolhido e praticado de acordo com as culturas de seus praticantes, posto que “a busca da excitação nos jogos e esportes é um espelho da sociedade. E, em decorrência disso, a ideia é demonstrar como os corpos são culturalmente e historicamente construídos em consonância com a excitação social almejada. Para exemplificar a argumentação, reuniremos dados bibliográficos e etnográficos sobre jogos, esportes e lazer em diversas sociedades, desde metrópoles até pequenas aldeias indígenas, do futebol massivo até brigas de galos, de profissionais e amadores, de atletas e expectadores.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mateus Cordenonsi Bonez (UFSM)
Resumo: O presente trabalho apresenta parte de uma tese de doutorado em Ciências Sociais, ainda em
andamento, que busca compreender a construção de identidades entre torcedores do
Riograndense Futebol Clube (Santa Maria- RS), instituição futebolística de origem ferroviária
que não conta com time profissional desde 2017. A pesquisa diz respeito a um
empreendimento etnográfico, realizado entre março de 2022 e março de 2024, que almejou
compreender a construção social de identidades dos torcedores por meio de narrativas de si e
de práticas de sociabilidade. Dessa maneira, a etnografia tratou de descrever e interpretar sociabilidades
torcedoras vigentes em um espaço alheio às arquibancadas, mais especificamente em meio a
um grupo de botonistas (praticantes do futebol de mesa), os quais também são torcedores de
futebol dos times locais. As narrativas, aqui exemplificadas pelos relatos de dois antigos
torcedores, afirmam a identidade torcedora, local e ferroviária em consonância com algumas
práticas observadas entre os botonistas em treinos, competições e conversações. Sendo assim, as narrativas
de si, bem como o comportamento e a cultura material evocada pelos botões e outros objetos,
indicaram que as identificações sobre o Riograndense e sobre o trabalho ferroviário se
orientam, entre outras coisas, por expressões de memórias nostálgicas. A torcida
e as memórias torcedoras se mesclam com a cultura material do futebol de botão/mesa no
entendimento sobre a emergência e afirmações de identidades clubísticas, locais e regionais,
as quais evocam tempos áureos da ferrovia, do Riograndense e de antigas sociabilidades.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Mônica da Silva Araujo (UFPI)
Resumo: O intento maior deste trabalho é compreender de que maneira a classificação funcional no esporte paralímpico funciona como um campo de elaboração de concepções sobre o corpo, ao mesmo tempo em que mobiliza disputas em torno da categoria de deficiência.
Na natação paralímpica, assim como em outras modalidades pertencentes ao rol dos esportes paraolímpicos, existem diferenças entre os atletas relacionadas às especificidades motoras que tem como base cada tipo de deficiência. A classificação funcional é justamente o sistema que arquiteta e rege a igualdade competitiva, uma vez que, através do acionamento da diferença no nível corporal fornece o dado necessário para a construção de uma posterior equivalência.
Quando entramos em contato com textos e documentos que tratam da classificação, vemos que ela é apresentada como uma espécie de “princípio de justiça que permite um nivelamento dos participantes ao tentar colocá-los em condições de igualdade para competir. A classificação funcional realiza um mapeamento do corpo que leva à montagem de um tipo de registro matemático que, ao acionar a diferença no nível corporal, fornece o dado necessário para a construção de uma posterior igualdade. A partir dela, os atletas vão sendo alocados em cada uma das classes existentes na natação paralímpica. Além disso, o corpo que é constantemente observado, medido e calculado passa por um processo de ressignificação de corpo deficiente em corpo potente.
A classificação funcional está imersa num campo de disputas que envolve os atletas, treinadores, dirigentes de clubes e associações, classificadores, patrocinadores, dentre outros agentes. As tensões envolvem um confronto entre o que é ser deficiente dentro das regras próprias do esporte e o que é ser deficiente na vida cotidiana. Como desdobramento, temos as identidades forjadas a partir das classes de nadadores sendo atravessadas por vivências que extrapolam o universo paralímpico.
Para o escopo deste trabalho, acompanho a trajetória de um nadador de destaque, que durante muitos nos figurou como estrela entre os atletas de classe S10 (com pouco comprometimento físico) mas que, recentemente, foi impedido de continuar participando de competições, por conta de um processo de reclassificação que passou a considera-lo inelegível para o esporte paralímpico. Realizando um estudo sobre essa trajetória de vida, pretendo mapear as controvérsias e disputas que atravessam a categoria de deficiência, na expectativa de contribuir também com um debate sobre a construção de corporalidades e identidades no esporte paralímpico.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Pedro Diniz Marques Vieira (UFRJ)
Resumo: O artigo tem como objetivo investigar o lugar das tecnologias e materialidades presentes no contexto da formação de nadadores de alto rendimento a partir de uma etnografia realizada nas categorias de base de um clube esportivo. O argumento mobilizado é de que tais tecnologias e materialidades são agentes fundamentais na produção do que chamamos de "corporalidade atlética", que tem como caraterística marcante sua racionalização sistemática, visando ganhos constantes de performance esportiva. Entendo que há toda uma rede sociotécnica que deve ser levada em consideração para se compreender como são produzidos atletas de alto rendimento, sem a qual a progressão permanente do desempenho dos atletas, geração após geração, seria impossível. É comum ouvir que essa rede está "por trás" da performance do atleta. Apesar de só ele aparecer no pódio com a medalha, sabe-se que vários profissionais estavam envolvidos em sua preparação. O que quero sustentar é similar, mas com o foco inverso. Pois argumentar que a rede sociotécnica está por trás da performance suscita a ideia de um indivíduo isolado que tira o melhor proveito dessa infraestrutura oferecida a ele. Ao contrário, entendo que o atleta não pode ser apartado das relações com essa rede, que inclui não só outros indivíduos, mas uma gama de agentes não-humanos que atuam decisivamente na produção do corpo atlético.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Pietro Bueno Longoni (UFRGS)
Resumo: A presente proposta de pesquisa busca compreender, através de uma perspectiva
antropológica, o jogo de xadrez em sua totalidade. Acreditamos que, até o presente momento,
a antropologia e seus conceitos foram pensados por meio do xadrez, de modo que o jogo
figura somente como metáfora para disputas sociais ou sistemas de relações. Com isso em
vista, propomos percorrer o caminho contrário, pensando o xadrez através da antropologia, e
trabalhando em uma interseção entre as temáticas em antropologia dos esportes, análises de
jogos e estudos sobre campos sociais. Buscamos, portanto, analisar o xadrez enquanto uma
prática social, visando compreender as sociabilidades que são mobilizadas através do jogo.
Partindo da abordagem etnográfica, procura-se mapear o perfil dos jogadores, atentando às
relações de sociabilidade nos espaços onde o xadrez é ensinado, praticado e jogado em Porto
Alegre (RS). Ao mesmo tempo, procuramos delimitar de que formas os jogadores se
relacionam e avaliam uns aos outros, bem como os modos pelos quais se defrontam com a
teoria enxadrista e sua linguagem. Também questionamos o porquê dos agentes sociais se
dedicarem a um jogo tão complicado, o qual mesmo a compreensão básica leva tempo
considerável para ser cultivada. A partir disso, conseguimos apreender campo social do
xadrez, revelando-o na sua faceta menos espetacularizada, da forma como é ensinado,
praticado e jogado de modo amistoso ou competitivo nos clubes. Assim, somos capazes de
compreender as múltiplas temáticas que compõem e depreendem-se de seu universo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Roberto de Alencar Pereira de Souza Junior (UFSCAR)
Resumo: Com este trabalho busco refletir sobre a necessidade de atualizações metodológicas às etnografias com torcidas organizadas no Brasil, sobretudo ao se observar suas mais diversas formas de sociabilidade urbana na contemporaneidade. Tomo como recorte a cidade de São Paulo, onde algumas torcidas também atuam como Escolas de Samba no carnaval oficial da metrópole. Na pesquisa de doutorado (FAPESP, processo: 2022/14384-4) proponho a análise comparativa de três torcidas/escolas: Os Gaviões da Fiel e a Camisa 12, associadas ao Sport Club Corinthians Paulista; e a Mancha Verde, atrelada a Sociedade Esportiva Palmeiras. Com o objetivo de vivenciar as Torcidas Organizadas para além da classificação já datada de pertencimento clubístico, a qual propõe a existência desses coletivos em prol do torcer para seus clubes e rivalizar com torcedores de times rivais, tenho explorado a experiência dos torcedores para além do futebol, como no samba de espetáculo da cidade. E busco com isso demonstrar a complexidade contemporânea desses coletivos que ao se expandirem negociam e disputam suas práticas de sociabilidade entre ser Torcida Organizada e Escola de Samba. Ao se tratar de um ambiente amplamente subjetivo, estético e performático, tenho me amparado em uma etnografia multissensorial, a qual visa perceber os múltiplos sentidos em campo para além da descrição meramente objetiva, e com isso tenho vivenciado uma relação constante do fazer etnográfico experimental entre as antropologias das práticas esportivas e audiovisual. Através desse exercício antropoético, isto é, de um fazer antropológico que se propõe inventivo por se ater mais ao sensível do que a razão descritiva impressa nas palavras, tenho aproveitado de minha aptidão enquanto antropólogo, fotógrafo e profissional do audiovisual nas periferias da cidade. A partir disso tenho refletido sobre a necessidade de algumas atualizações metodológicas, desde a presença em campo de pesquisa até a comunicação científica de nossas vivências etnográficas. Afinal, como narrar práticas de lazer e estilo de vida tão estéticas e sensoriais como a de nossos interlocutores senão extrapolando para além da descrição textual? Como compreender a sensorialidade do torcer e do sambar sem uma participação mais experimentada no próprio corpo que etnografa? E como combater os estereótipos reproduzidos pela mídia sem o uso de imagens e sonoridades que proponham uma outra perspectiva de narrativa sobre os torcedores organizados? Com base nestas questões e no que tenho experimentado metodologicamente ao acessar outras vivências dos torcedores para além do futebol, discuto aqui sobre maneiras inventivas de lidar com a observação e a produção antropológica desse conhecimento tão sensível, sonoro e visual.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Rodrigo Álvarez Véliz (Pontificia Universidad Católica de Valparaíso)
Resumo: Diversas formas de entender o esporte tem sido destacada durante os últimos anos, porém, a perspectiva espacial e das emoções não tem sido central. Esta pesquisa busca aprofundar uma temática periférica da geografia como são os esportes, ajudado pelo contacto teórico com a antropologia e uma ponte teórica como as emoções, consideradas formas importantes de conhecer, fazer y experienciar o espaço (Pile, 2010; Tuan, 1977). Se apresenta a abordagem teórica e metodológica da tesse que tenta posicionar a geografia emocional como uma lente para entender a construção simbólica de lugares na natureza e em espaços verdes nos contextos urbanos, a través de uma prática chamada slackline, um esporte de equilíbrio que tem crescido no mundo na última década e que é praticado em diversas modalidades, destacando se para esta pesquisa o highline, sua modalidade de altura. Esta é uma pesquisa em andamento do mestrado em geografia da PUC de Valparaíso (Chile).
Mediante um trabalho etnográfico baseado em participação observante (Soulé, 2007) e etnografia multisituada (Marcus, 1995), que será realizado este ano em setores de prática no Chile e no Brasil, eu tento refletir sobre as possibilidades de construção de lugares e espaços sociais alternativos na cidade e em espaços naturais, a través da experimentação do espaço mediante o corpo e as emoções na prática do slackline. A perspectiva dos protagonistas, quem está na fita, é única e permite experimentar o espaço de uma outra forma, a dezenas de metros de altura numa fita de uma polegada, em constante diálogo consigo mesmo e numa "meditação em movimento". Ao mesmo tempo, existem dinâmicas sociais internas dos grupos que são interessantes de refletir, tanto de género, raciais e de relação com a natureza. E apropriado também discutir as impressões da alteridade, os "outros", aqueles que veem esta prática e são questionados por ela. Se planteia como hipótese que esta prática esportiva e de lazer permite questionar e reinterpretar em diferentes escalas a relação corpo-emoção no espaço e facilita a construção de espaços sociais alternativos aos espaços convencionais urbanos e não urbanos, por meio de práticas espaciais, discursos e imaginários que desafiam certas concepções da sociedade moderna e o ritmo urbano. Procuro responder à pergunta ¿quais são as práticas, discursos e imaginários dos atores que configuram esses espaços social, cultural y geograficamente?
Se planteia a importância dessa pesquisa para fortalecer os diálogos interdisciplinares sobre os esportes, além de propor uma alternativa de aprofundar a abordagem geográfica das práticas esportivas em relação a sua emocionalidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Vicente Magno F Cardoso (UFRGS)
Resumo: O presente resumo se propõe a apresentar trecho da pesquisa em andamento sobre mercadorização de um clube de futebol. O texto é um etnografia do que chamo três tempos da eleição realizada pelo Sport Club Internacional, em 2023. O clube porto-alegrense travava debates internos sobre ações que deveriam ser tomadas pela instituição visando sua existência e competitividade esportiva.
Os três tempos envolvem a pré-eleição, quando grupos políticos colorados confrontaram seus pontos de vista e debateram sobre modelos de Sociedade Anônima de Futebol, sobre qual proposta de associação a uma liga de futebol profissional adotar (dois modelos foram apresentados ao clube), mas também a votação no Conselho Deliberativo (o segundo tempo) e, por fim, a realização do "pátio", a votação com a participação dos associados (o terceiro tempo).
A eleição traz luz ao faccionalismo presente no clube e permite que se observe a complexidade de agentes e seu encadeamento de ações em meio aos rituais políticos do Internacional que visam chegar ao poder na instituição. Os diferentes perfis de indivíduos envolvidos põem em pauta elementos ligados à cultura torcedora, mercadorização e financeirização da instituição.
Palavras-chave: eleição; Internacional de Porto Alegre; faccionalismo
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Vinícius Teixeira Pinto (Universidade Federal de Pelotas)
Resumo: Proponho, a partir de inserção etnográfica, um estudo a respeito dos Consulados de torcedores dos clubes do Sul do Brasil. Trata-se de uma modalidade de organização do torcer marcada por duas características essenciais e obrigatórias: primeiro, são grupos que estão distantes geograficamente da sede de seus clubes; e, depois, são grupos restritos, diminutos e organizados por um “Cônsul”, que é designado pelo próprio clube. A medida em que são representações oficiais e institucionais, os Consulados desempenham um papel intermédio entre os torcedores locais e seus clubes, assumindo tarefas administrativas e trabalhando pela expansão do quadro social à distância. Embora atualmente diferentes clubes do Brasil organizem grupos denominados “consulados ou “embaixadas”, no Rio Grande do Sul, são uma modalidade de organização tradicional, datando possivelmente da primeira metade do século XX. A organização consular também é consideravelmente volumosa nessa região, de modo que Internacional e Grêmio se orgulham de terem cerca de 1.000 entidades dessa modalidade espalhadas pelo Brasil, pelos países vizinhos e pelos demais continentes. A pesquisa é um desdobramento de minha tese de doutorado – intitulada "Sociedades do Torcer" – quando pesquisei detidamente a respeito das transformações históricas e das diferenças entre as modalidades organizadas e coletivas do torcer no Brasil. Na diversidade de formações de torcidas de futebol, as literaturas, tanto internacionais como nacionais, priorizaram olhar para determinados grupos e formas de torcer em detrimento de outras. No caso brasileiro, as pesquisas trabalharam principalmente com as Torcidas Organizadas Independentes (formadas a partir da década de 1960), em seguida com as Torcidas Uniformizadas (iniciadas na década de 1940) e, mais recentemente, com barras (surgidas no século XXI) e torcidas femininas, feministas, LGBTQI+, entre outras que representam grupos que reivindicam seu direito de torcer nos estádios desde a última década. No caso dos Consulados dos clubes gaúchos, elementos de regionalismo, classe social, gênero e raça se mostraram marcantes nesses conjuntos de torcedores. Dada a associação do “grenalismo ao “gauchismo”, a expansão de Internacional e Grêmio, especialmente em direção ao Oeste e ao Norte do país, traz consigo símbolos locais e regionalistas, constituindo espaços privilegiados para a sociabilidade, a transmissão e a descendência do clubismo amalgamado ao regionalismo, entre grupos torcedores pertencentes às camadas altas e médias.