Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 013: Antropologia das práticas esportivas e de lazer
A classificaçao funcional na natação paralímpica: mapeando controvérsias e disputas em torno da categoria de deficiência.
O intento maior deste trabalho é compreender de que maneira a classificação funcional no esporte paralímpico funciona como um campo de elaboração de concepções sobre o corpo, ao mesmo tempo em que mobiliza disputas em torno da categoria de deficiência.
Na natação paralímpica, assim como em outras modalidades pertencentes ao rol dos esportes paraolímpicos, existem diferenças entre os atletas relacionadas às especificidades motoras que tem como base cada tipo de deficiência. A classificação funcional é justamente o sistema que arquiteta e rege a igualdade competitiva, uma vez que, através do acionamento da diferença no nível corporal fornece o dado necessário para a construção de uma posterior equivalência.
Quando entramos em contato com textos e documentos que tratam da classificação, vemos que ela é apresentada como uma espécie de “princípio de justiça que permite um nivelamento dos participantes ao tentar colocá-los em condições de igualdade para competir. A classificação funcional realiza um mapeamento do corpo que leva à montagem de um tipo de registro matemático que, ao acionar a diferença no nível corporal, fornece o dado necessário para a construção de uma posterior igualdade. A partir dela, os atletas vão sendo alocados em cada uma das classes existentes na natação paralímpica. Além disso, o corpo que é constantemente observado, medido e calculado passa por um processo de ressignificação de corpo deficiente em corpo potente.
A classificação funcional está imersa num campo de disputas que envolve os atletas, treinadores, dirigentes de clubes e associações, classificadores, patrocinadores, dentre outros agentes. As tensões envolvem um confronto entre o que é ser deficiente dentro das regras próprias do esporte e o que é ser deficiente na vida cotidiana. Como desdobramento, temos as identidades forjadas a partir das classes de nadadores sendo atravessadas por vivências que extrapolam o universo paralímpico.
Para o escopo deste trabalho, acompanho a trajetória de um nadador de destaque, que durante muitos nos figurou como estrela entre os atletas de classe S10 (com pouco comprometimento físico) mas que, recentemente, foi impedido de continuar participando de competições, por conta de um processo de reclassificação que passou a considera-lo inelegível para o esporte paralímpico. Realizando um estudo sobre essa trajetória de vida, pretendo mapear as controvérsias e disputas que atravessam a categoria de deficiência, na expectativa de contribuir também com um debate sobre a construção de corporalidades e identidades no esporte paralímpico.