ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 013: Antropologia das práticas esportivas e de lazer
"Vila Maria, Eu Sou!": a torcida organizada da escola de samba Unidos de Vila Maria
Futebol e carnaval são manifestações da cultura popular, de circularidade, as quais rompem uma suposta hierarquia de manifestações culturais por classe, sendo ambas máquinas de socialização, porque são rotineiros. Isto é, tem futebol e carnaval quase durante todo o ano. No atual modelo de configuração, preparação e apresentação do desfile, uma parcela cada vez mais significativa da agremiação dedica significativa parte de seu tempo cotidiano, e em uma intensidade, a qual supera (e muito) os dias oficiais de folia. As torcidas organizadas de escolas de samba são fenômenos recentes, surgindo a partir da década de 2000. Elas se mobilizam para organizar eventos, auferir recursos para as performances nas arquibancadas do Sambódromo, participar ativamente dos ensaios anteriores aos dias do desfile, promover ações de salvaguarda da memória própria e da agremiação a qual mantém relações de pertencimento e participam ativamente da política interna da agremiação. A pesquisa em questão possui enfoque predominantemente qualitativo. Para tal, teve relevância o delineamento, a observação e a compreensão deste universo apreendido etnograficamente. O posicionamento e a atuação destes coletivos no carnaval são explicados através da compreensão do processo de construção de sua identidade e do delineamento das forças sociais que os mobilizam e das redes internas e externas. A partir do fato de que as torcidas das escolas de samba são fenômenos praticamente desconhecidos e com número praticamente nulo de trabalhos no âmbito acadêmico, a estrutura da pesquisa revela também seu caráter exploratório, considerando a necessidade de aproximação com a realidade empírica em questão. A partir destas premissas, projeta-se a articulação teórica em torno dos conceitos e noções de ritual, malha, redes, sociabilidade e construção da pessoa, trajetórias individuais e carreiras com o trabalho de campo. O estudo de caso foi realizado junto à torcida organizada da escola de samba Unidos de Vila Maria, agremiação carnavalesca da cidade de São Paulo e participante recorrente dos desfiles na principal divisão hierárquica do carnaval paulistano. No decorrer do estudo, verificou-se que sua participação em todas as etapas para a consecução do desfile possibilita aos membros da torcida organizada da Vila Maria ocupar o espaço urbano de outras formas para além daquelas típicas dos foliões e das torcidas organizadas. Também se revelou uma configuração de sociabilidades e práticas junto aos demais integrantes da agremiação carnavalesca, que não permite marcar uma separação rígida entre um habitus de torcedor organizado e outro de folião, principalmente em se tratando de um coletivo formado por jovens, público com reduzida capacidade de agência nas escolas de samba.