Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 013: Antropologia das práticas esportivas e de lazer
Torcer à distância: os Consulados de torcedores dos clubes do Sul do Brasil
Proponho, a partir de inserção etnográfica, um estudo a respeito dos Consulados de torcedores dos clubes do Sul do Brasil. Trata-se de uma modalidade de organização do torcer marcada por duas características essenciais e obrigatórias: primeiro, são grupos que estão distantes geograficamente da sede de seus clubes; e, depois, são grupos restritos, diminutos e organizados por um “Cônsul”, que é designado pelo próprio clube. A medida em que são representações oficiais e institucionais, os Consulados desempenham um papel intermédio entre os torcedores locais e seus clubes, assumindo tarefas administrativas e trabalhando pela expansão do quadro social à distância. Embora atualmente diferentes clubes do Brasil organizem grupos denominados “consulados ou “embaixadas”, no Rio Grande do Sul, são uma modalidade de organização tradicional, datando possivelmente da primeira metade do século XX. A organização consular também é consideravelmente volumosa nessa região, de modo que Internacional e Grêmio se orgulham de terem cerca de 1.000 entidades dessa modalidade espalhadas pelo Brasil, pelos países vizinhos e pelos demais continentes. A pesquisa é um desdobramento de minha tese de doutorado – intitulada "Sociedades do Torcer" – quando pesquisei detidamente a respeito das transformações históricas e das diferenças entre as modalidades organizadas e coletivas do torcer no Brasil. Na diversidade de formações de torcidas de futebol, as literaturas, tanto internacionais como nacionais, priorizaram olhar para determinados grupos e formas de torcer em detrimento de outras. No caso brasileiro, as pesquisas trabalharam principalmente com as Torcidas Organizadas Independentes (formadas a partir da década de 1960), em seguida com as Torcidas Uniformizadas (iniciadas na década de 1940) e, mais recentemente, com barras (surgidas no século XXI) e torcidas femininas, feministas, LGBTQI+, entre outras que representam grupos que reivindicam seu direito de torcer nos estádios desde a última década. No caso dos Consulados dos clubes gaúchos, elementos de regionalismo, classe social, gênero e raça se mostraram marcantes nesses conjuntos de torcedores. Dada a associação do “grenalismo ao “gauchismo”, a expansão de Internacional e Grêmio, especialmente em direção ao Oeste e ao Norte do país, traz consigo símbolos locais e regionalistas, constituindo espaços privilegiados para a sociabilidade, a transmissão e a descendência do clubismo amalgamado ao regionalismo, entre grupos torcedores pertencentes às camadas altas e médias.