Grupos de Trabalho (GT)
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
Coordenação
José Maurício Paiva Andion Arruti (UNICAMP), Claudia Mura (UFAL)
Resumo:
Este GT visa reunir pesquisas etnográficas que abordam a mobilidade de pessoas e famílias indígenas e seus processos de re-configuração sócio-espacial, em ambientes rurais ou urbanos, em contextos de desigualdade e convivialidade. A mobilidade é aqui compreendida desde sua dimensão histórica, condição para a análise das suas formas contemporâneas, e como uma maneira de habitar o mundo, de construir relações, produzir vida e lugares, por meio do agenciamento de memórias, entidades e conhecimentos. As configurações sócio-espaciais apontam para os modos materiais de reelaboração familiar e étnica, para além das fronteiras físicas e administrativas das Terras Indígenas, em contextos de subalternização e marginalização, mas também de re-produção do comum, na forma de fluxos, redes, lugares ou novos territórios. Finalmente, o nexo entre relações de desigualdade e convivialidade assinala nosso interesse nas configurações sociais constituídas simultaneamente por laços de solidariedade e cooperação, bem como por diferenças, conflitos e dominação, de seres humanos entre si e destes com outros seres vivos. Serão valiosas as contribuições que analisem as perspectivas e conceptualizações indígenas sobre suas próprias trajetórias individuais e familiares, assim como as dinâmicas de atualização dos coletivos étnicos, que valorizem os agenciamentos da memória e invistam sobre a reflexividade que o próprio deslocamento promove sobre a condição indígena.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Amanda Jardim da Silva Rezende (UFMG)
Resumo: As exegeses etnográficas apresentadas nesta comunicação partem da produção de minha dissertação de
mestrado, defendida em 2022, no Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas
Gerais (PPGAn/ UFMG). O pretérito contexto de escrita, atravessado pelas intempéries da COVID-19, foi
limitante para o desenvolvimento de buscas documentais em acervos locais ( cartórios, registros paroquiais,
inventários, testamentos, livros de atas de irmandade, etc.) quando a tônica da pesquisa se revelou de ordem
biográfica. Reunindo esforços que partiram do registro de narrativas orais, memórias familiares e consulta a
documentações históricas digitais (acessíveis de forma online), busquei levantar dados sobre a trajetória do
forasteiro letrado Manoel Fernandes de Oliveira, que migrou nos anos 1920 para o Terreno dos Caboclos de São
João, atual Território Indígena Xakriabá, partindo de Brejo do Amparo (MG), que hoje corresponde ao
município de Januária (MG). A partir de 2024, com o ingresso no doutorado da mesma instituição, pretendo
retomar os dados de pesquisa previamente vistos com o objetivo de revisitá-los e incorporar novas
informações a respeito da intrigante trajetória desse sujeito. Partilhando do ensejo em, antes, torná-las
públicas, avalio que a trajetória de padrinho Manéli revela-se interessante para: 1- pensarmos questões
relativas à penetração e perpetuação de tradições de conhecimento (Barth, 2002) em territórios indígenas; 2
- compreendermos os fluxos culturais (Hannerz, 1997) como regimes amplamente partilhados em localidades
específicas que se disseminam a partir da inserção de pessoas ou grupos familiares em localidades indígenas;
3- entendermos a variação cultural como contínua e a construção da fronteira étnica como contextual e
relacionada a processos históricos de longa duração (Barth, 2000); 4- ressaltarmos a performance de
elementos culturais não pertencentes ao roll dos diacríticos identitários por grupos familiares (como em
Mura, 2013); e, por fim, 5- tornarmos os processos de territorialização (Oliveira,1997) transpassados pelo
fazer parente, relações matrimoniais, de compadrios, e outras sociabilidades, como campo fértil de
pesquisa.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Arianne Rayis Lovo (UNICAMP)
Resumo: As mulheres pankararu que habitam a cidade de São Paulo lideranças espirituais e políticas, deslocam-se
entre diferentes lugares aldeia e cidade e, nesse aspecto, são protagonistas na manutenção da ciência
pankararu conjunto de ações, práticas e conhecimentos que modulam as relações entre pessoas e encantados,
seres espirituais que oferecem proteção ao grupo. Tais entidades estão presentes em lugares como a mata, os
serrotes e as cachoeiras, na Terra Indígena Pankararu (TI Pankararu), em Pernambuco, mas visitam seus
parentes humanos em locais fora da aldeia, pois mesmo distante, eles vêm para proteger. Esse reino
encantado possui uma natureza de temporalidade diferente daquela vivida pelos humanos, pois possibilita um
deslocamento entre lugares que não é medida pela distância geográfica, sendo equiparada a um tempo do outro
mundo. Assim, pessoas e encantados estão imbricadas numa relação do cuidar em que o cuidado é pensado como
uma ação cosmopolítica, pois encontra-se implicado na relação multiespécie, sendo percebido em sua dimensão
afetiva, ética, política e disruptiva. Cuidar é também conhecer um modo de se compor com o mundo. Deste
modo, o presente trabalho irá privilegiar os modos de fazer e conhecer das mulheres pankararu, dando
destaque às trajetórias de rezadeiras (especialistas rituais) e lideranças políticas em suas práticas de
cuidado, que abrangem tanto uma relação entre humanos (indígenas e não indígena), quanto outros que humanos
(encantados, plantas e bens). A forma de habitar o território é pensada numa dimensão do vivido, como um
modo de produção de vida, estabelecendo relações, conhecimento e formas de habitar o mundo (Lovo, 2017,
2023). O trabalho busca, assim, compreender os sentidos do habitar e do cuidar a partir de uma perspectiva
feminina.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cristina de Branco (CRIA)
Resumo: Estamos formando comunidades, estamos formando ayllus aqui neste país, nos diz Beatriz Morales,
Quechua boliviana, migrante há quase trinta anos na cidade de São Paulo, integrante do Kollasuyu Maya e da
Comunidad Autóctona Vientos del Ande. Como co-roteirista e co-protagonista da série documental Ventos do
Peabiru (2023), Beatriz explica, no segundo episódio, a expansão do Tawantinsuyu e do Kollasuyu, territórios
ancestrais das sociedades Quechua e Aymara, respectivamente. Ainda que secularmente recortados por
fronteiras coloniais e depois republicanas, estes amplos territórios seguem sendo percorridos por pessoas
Aymara e Quechua numa ininterrupta e dinâmica mobilidade ancestral (CELAC 2014).
A partir de meados do século passado e sobretudo nas décadas de 80 e 90, por diversos fatores, pessoas
Aymara e Quechua começam a migrar intensamente para além de seus povoados rurais e até para lá de seus
territórios ancestrais. Foram sendo ativados diversos processos de transterritorialização, de criação de
territorialidades de referência indígena centro-andina e altiplânica nas cidades de Buenos Aires, Santiago
do Chile e São Paulo (Branco 2023). Estes fluxos migratórios são iniciados pela migração individual do
sujeito adulto para rapidamente serem transformados em migrações familiares, articuladas por redes
comunitárias, entre familiares e vizinhos dos povoados e/ou cidades natais. O ayllu, a comunidade rural
originária andina (no plural Aymara, ayllunaka), começa a ser reinventado em contextos urbanos distantes. Os
conjuntos de música e dança autóctone altiplânica fazem parte dessa rearticulação migrante do ayllu enquanto
lógica comunitária de base.
Em São Paulo, estes conjuntos surgem na virada do milênio, quando estas redes migratórias e as estratégias
de subsistência socioeconômica da comunidade migrante já estavam relativamente estabilizadas (Branco 2022).
Em geral, os conjuntos são formados por grandes famílias e amigos e têm uma composição transgeracional, das
crianças aos integrantes mais velhos, os transmissores dos costumes e do saber musical. Os conjuntos servem
enquanto dispositivo de união e articulação familiar e comunitária migrante e como meio de transmissão de
repertórios culturais e espirituais de referência indígena andina às novas gerações. Como diz Teófilo
Pillco, fundador do Huaycheños de Corazón, no quarto episódio da série documental: De onde somos, para onde
vamos e como, com que vamos, esse seria nosso legado [para os nossos filhos e netos].
Nessa sintonia, a partir da minha etnografia doutoral e da série documental, esta comunicação busca refletir
sobre os elos entre família, comunidade e estratégias de integração e sobrevivência étnica destas pessoas
indígenas imigrantes internacionais e seus descendentes em São Paulo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Eduardo Cezar Cândido Xavier Ferreira (UFRJ)
Resumo: Este trabalho procurará, ao jogar luz sobre a trajetória de Leôncio Arara, mostrar como reelaborações
acerca da trajetória e lembranças dessa liderança indígena foi um ponto chave que permitiu o
reposicionamento étnico de seus parentes como os atuais Arara da Volta Grande do Xingu. Atualmente esse
grupo Arara são uma população de 234 pessoas distribuídas em quatro aldeias e outras famílias dispersas em
um território indígena homônimo no município de Senador José Porfírio, estado do Pará.
O reposicionamento étnico que aqui será abordado pode ser aproximado daqueles conhecidos da literatura como
emergência étnica ou etnogênese (Arruti, 1997; Oliveira, 1998). Boyer (2022) em seus estudos sobre
reposicionamentos étnicos na Amazônia brasileira, mostrou como esses processos envolvem um diálogo entre
dimensões internas e externas desses coletivos. Do lado externo, a compreensão de que às populações
etnicamente diferenciadas são garantidos direitos específicos e de que a cada uma das categorias
étnico-legais, como indígenas, quilombolas ou extrativistas, são atrelados a sentidos levemente diferentes.
A compreensão dessas demandas por parte de atores do Estado insta simultaneamente a um debate interno, que,
a partir do recenseamento de histórias familiares e pessoais se busca construir um consenso em torno da
adoção de uma identidade enunciada coletivamente, e sua operacionalização, com o resgate de elementos
culturais até então esquecidos e a adoção de estruturas políticas, como criação de associações para
representar os interesses do novo coletivo emergente como unidade frente ao Estado.
Na minha tese de doutorado, procurei dar conta de ambas as dimensões desse processo de afirmação étnica.
Para os propósitos desse trabalho, gostaria de me concentrar na dimensão interna, mais precisamente sobre o
papel de Leôncio Arara como pivô desse reposicionamento étnico. Apresentando elementos de sua biografia e
escolha, mostrarei como sua posição foi construída a partir de três bases: seus conhecimentos históricos,
práticas xamânicas e liderança de grupo doméstico. A conjunção dessas características permitiu a Leôncio
estabelecer uma ponte entre os antigos subgrupos Arara do Bacajá e do Sucuriju e sua família no início do
século XX, pavimentando o caminho para o reconhecimento étnico Arara pelo Estado brasileiro. Nesse sentido,
procuro aproximar Leôncio da noção de reformador social indígena (FAUSTO; XAVIER; WELPER, 2016).
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Estêvão Martins Palitot (UFPB), Lara Erendira Almeida de Andrade (INRS | Institut national de la
recherche scientifique)
Resumo: O registro da população indígena nos censos brasileiros oscilou ao longo do tempo e apenas a partir de
1991 coletas mais sistemáticas e consistentes têm sido realizadas pelo IBGE. Nessas últimas décadas o
instituto tem reformulado suas metodologias e ampliado o diálogo com o movimento indígena, o que apontou
significativas mudanças na execução do Censo de 2022. Tomando como foco de análise as regiões etnográficas
do Leste e Nordeste brasileiros percebemos que os povos indígenas nessas regiões vivenciam dificuldades
históricas de reconhecimento e os dados demográficos sobre estas etnias e seus territórios são muito
variáveis em função disso. Neste trabalho, realizamos uma análise dos dados iniciais da população indígena
no Censo 2022 publicados pelo IBGE em comparação com as informações sobre localização de terras indígenas
fornecidas pelo monitoramento de terras da Associação Nacional de Ação Indigenista - ANAÍ, com o intuito de
percebermos a efetividade ou não do censo na identificação e contabilização da população indígena.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Gabriel Calil Maia Tardelli (UNB)
Resumo: Conhecido como gente das águas ou gente das canoas, o povo indígena Warao encontra-se, sobretudo, nos
estados venezuelanos de Delta Amacuro, Monagas e Sucre. Mas também estão presentes na República Cooperativa
da Guiana, no Suriname e, desde 2014, no Brasil, onde vivem em todas as regiões do país, somando mais de 7
mil pessoas. De acordo com suas narrativas, saíram da Venezuela em direção ao Brasil devido a diferentes
fatores, mas que podem ser condensados da seguinte maneira: perda de colheitas, escassez de itens
alimentícios, impossibilidade de geração de renda, falta de atendimento médico e de medicamentos, mortes de
familiares, agressões e perseguições cometidas por grupos armados que controlavam áreas de mineração etc. A
morte do presidente Hugo Chávez e a ascensão de Nicolás Maduro ao Palácio Miraflores parecem demarcar um
antes e um depois, quando tiveram que deixar suas comunidades. Não obstante, como ocorrera com outros povos
indígenas das Américas, suas vidas estão marcadas por uma série de episódios que modificaram radicalmente
suas vidas no decorrer de um processo histórico de longa duração. Nesse caso, destacam-se a invasão de seus
territórios por grandes empreendimentos econômicos que visavam a exploração de recursos naturais (petróleo,
minério, madeira e palmito) e a chegada de missões religiosas que instalaram seminários, ensinaram o
evangelho e a língua espanhola, assim como contribuíram para que suas relações de parentesco e sua
organização política fossem reconfiguradas. A partir da descrição das trajetórias de mulheres e homens
Warao, este trabalho pretende analisar a maneira pela qual diferentes eventos críticos têm impactado suas
vidas, sendo incorporados em seu cotidiano e na memória coletiva. Penso, como Veena Das, que os fragmentos
narrados não devem ser compreendidos como partes que podem compor uma totalidade, mas como evidências de uma
forma singular de habitar o mundo e lidar com o luto.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Márcio Santos Matos (GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA/ SERPOMI)
Resumo: Como parte dos processos de etnogênese (FONTELLA, 2020) o reconhecimento e debate em torno da existência
indígena no Alto Sertão da Bahia, vem gradativamente se configurando como um campo de pesquisa em vias de
expansão. Logo, é nesse sentido que o contexto social dos Sertões de Cima apresenta um campo etnográfico em
mudança, de modo que, como questão de pesquisa, busca-se aqui compreender esse movimento de resgate da
etnicidade protagonizado pelo Povo Kariri da Panelada, residente em Rio de Contas, sul da Chapada
Diamantina, Bahia. Por fim, esta comunicação procura abordar o momento atual da pesquisa, apresentando uma
breve discussão teórica, relacionando-a aos desafios enfrentados pelos interlocutores com os quais converso,
durante sua busca por uma identificação e reconhecimento (ARRUTI, 2006), seja ante os demais parentes
indígenas, seja ante o Estado Brasileiro.
Palavras-chave: Etnogênese, Povos Indígenas do Nordeste, Povo Kariri da Panelada.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Alane dos Santos (UFPB)
Resumo: Este trabalho descende da minha pesquisa de doutorado (em andamento) sobre as dinâmicas territoriais de
grupos indígenas localizados na região do Baixo São Francisco. A pesquisa está sendo realizada em três
comunidades: Fulkaxó, Pankariri e Kaxagó que estão localizadas entre os estados de Alagoas e Sergipe. Essas
comunidades são grupos étnicos que estão se deslocando da terra indígena Kariri-Xocó. Posto isso, procuro
analisar a forma como estes territórios são atravessados e formados por meio de vínculos de parentesco,
amizade e afinidades que são acionados a partir da mobilidade. O processo de mobilidade envolve complexos
laços que ligam pessoas ou grupos de famílias nas áreas de origem e de destino, por meio de vínculos que são
criados, mantidos ou rompidos pelos sujeitos que atribuem significado aos seus deslocamentos. Ao longo do
texto discuto como se dá a ocupação e o uso dos espaços por famílias que estão em processo de reformulação
sócio-espacial, se reterritorializando e configurando novas territorialidades. No decorrer do texto elucido
sobre os processos de mobilidades e dinâmicas territoriais.
Palavras-chave: indígenas, mobilidade e território.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Elita do Nascimento (UFPB)
Resumo: Neste trabalho é realizada uma reflexão sobre o grupo local potiguara ao qual pertenço, localizado na
cidade de Mataraca, Litoral Norte da Paraíba. Busco compreender como são construídas as redes de relações
estabelecidas por parentesco, trocas de favores, vínculos de amizade, apadrinhamento, casamentos e de
cooperação sociotécnica entre os membros do grupo doméstico e não-indígenas, a partir do contexto urbano.
Constata-se também como através da ecologia doméstica os indígenas desenvolvem suas atividades para além da
cidade, produzindo e reproduzindo tradições de conhecimento em espaços mais amplos, que incluem áreas rurais
e Terras Indígenas. Esta dinâmica também produz e reproduz processos de dominialização desses lugares para
desenvolver um determinado estilo de vida. O trabalho aborda também os vários níveis identitários que este
estilo de vida permite definir, mostrando como a identidade doméstica se constitui como eixo principal para
a formulação tanto da identidade étnica quanto daquela individual.
PALAVRAS-CHAVE: potiguara, contexto urbano; processos de dominialização
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Maria Tereza de Melo Cavalcanti (UFAL)
Resumo: Durante a década de 1920, os indígenas Atikum Domingos, Raimundo e Rufino dos Anjos Oliveira ingressam
ao cangaço após um conflito com a família Marcolinos, fazendeiros que viviam nas proximidades da Serra do
Umã, em Carnaubeira da Penha em Pernambuco. Em um sertão marcado por questões de valores morais e códigos de
honra, a família indígena viveu um divisor de águas quando um dos membros da fazenda Molungu seduziu a irmã
de Domingos dos Anjos e recusou-se a casar com ela. Domingos, entendendo o ato como uma desonra a sua irmã e
a sua família, assassinou José Marcolino. Nesse contexto, se viu com poucas saídas, começou a se refugiar em
alguns dos muitos esconderijos da Serra do Umã após ameaças de morte pela família Marcolino, à época, o
cangaço era uma das saídas para resolver esses tipos de conflito. Assim, o intento deste trabalho é repensar
as trajetórias de vida da família dos Anjos Oliveira através dos periódicos da época, quando Domingos, seu
pai e seu irmão ingressam ao cangaço, construindo uma interseção de questões socioculturais e históricas
entre o povo Atikum e os cangaceiros do bando de Lampião. Com a entrada no cangaço, a família indígena foi
atravessada por múltiplas experiências, que acabaram moldando os seus processos de reconfiguração
sócio-espacial nos sertões nordestinos, além disso, a mobilidade era um quesito de grande importância nesse
contexto, a partir dela conseguiam construir e estabelecer relações, como foi o caso do grupo de Lampião e
os indígenas Atikum, assim, as mobilidades de pessoas eram elaboradas por meio de experiências. A família
dos Anjos Oliveira foi atravessada por múltiplas experiências, como a mobilidade e os processos de
reconfiguração sócio-espaciais, sendo inseridos em novos contextos socioculturais, geográficos e
identitários, quando ingressam ao grupo de Lampião, a sobrevivência da família e dos bandoleiros é moldada
pela necessidade de adaptação e pela mobilidade de pessoas como estratégia essencial para garantia de
subsistência. É importante ressaltar também os contextos de subalternização e marginalização vivenciados
pelo povo Atikum e pelos cangaceiros diante de um Estado do sertão construído muitas vezes por fazendeiros,
os grupos eram frequentemente desafiados a se reorganizarem, dessa forma, o ingresso da família de Domingos
dos Anjos Oliveira é um dos fatores do estabelecimento das relações entre os Atikum e os cangaceiros, assim,
os indígenas da Serra do Umã ofereciam refúgio e apoio aos cangaceiros do bando de Lampião. A análise de
recortes de jornais é necessária para compreender a trajetória e as dinâmicas vivenciadas por essa família,
buscando preencher as lacunas, os silêncios e os contextos presentes na narrativa dos jornais.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Priscila de Alantino Braz Silva (UFRRJ)
Resumo: Este trabalho é parte de uma pesquisa doutoral, em andamento, e tem como objetivo, analisar as políticas
públicas voltadas para crianças e adolescentes indígenas migrantes, residentes ou de passagem por Boa Vista
- RR, e que estejam matriculadas nas instituições de ensino público. A partir de então, perceber como estas
políticas atuam no seu processo de inserção e adaptação na sociedade de acolhida. A metodologia deste
trabalho consiste em pesquisa documental e bibliográfica, observação participante e entrevistas. O Brasil,
por meio de suas leis e diretrizes educacionais, assegura o direito à educação diferenciada aos indígenas,
porém colocá-las em prática, tendo como sujeitos os migrantes indígenas, ainda se caracteriza como um
desafio, pois por não fazerem parte das etnias originárias do território brasileiro, seus modos de vida e
manifestação cultural ainda carecem de conhecimento para que o acolhimento os alcance em suas necessidades.
Devido ao movimento constante de entrada e saída, de venezuelanos Criollos e indígenas, de Boa Vista - desde
aproximadamente 2015 -, as escolas vivem a realidade da falta de vagas, bem como de um processo constante de
matrícula de alunos novos, ao longo de todo ano. Isto dificulta, tanto para professores quanto para os
alunos, o processo de ensino e aprendizado e ainda mais a criação de laços e afetividades. Com a
especificidade de não falar o português, tampouco o espanhol, muitos dos indígenas, em especial os da etnia
Warao, encontram-se em desvantagens, tanto em relação aos alunos brasileiros quanto em relação aos
venezuelanos, o que consequentemente também dificulta sua inserção e adaptação à sociedade de acolhida.
Percebe-se, então, a necessidade de políticas educacionais de acolhimento e permanência para estes sujeitos,
visando uma inserção digna na sociedade de acolhida.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Rosijane Fernandes Moura (UFAM)
Resumo: Trago para o Grupo de Trabalho experiências que tive no decorrer da minha adolescência, juventude e da
vida adulta para demonstrar que o preparo do corpo da mulher se inicia no momento da sua concepção no corpo
da sua mãe, tem sua continuidade ao seu nascimento e crescimento até ser mãe. Lasmar (2005) associa a
invisibilidade das mulheres indígenas à hegemonia da perspectiva masculina nas ciências sociais, além de
compará-las ao caso da invisibilidade dos próprios índios, uma categoria, segundo a autora, étnica e racial
ainda atrelada a representações enraizadas em fontes remotas, e cuja elaboração inicial recua aos primeiros
séculos da colonização do Novo Mundo. Atualmente, com o passar dos anos, a presença feminina indígena tem
tomado grandes proporções midiáticas, porém, assim como Lasmar, acredito que ainda está em círculos, apenas
voltadas à temática como sangue, a fertilidade ou até mesmo a uma imagem sexual erotizada, mesmo quando
estas mulheres ocupam lugares de destaque. Hoje as mulheres indígenas ocupam a academia, sendo seu corpo o
território sagrado. Assim, cada ato das mulheres torna-se contribuições bibliográficas com suas perspectivas
e memórias por meio de partilha de conhecimentos de mulheres para mulheres.
Visando contribuir com os conhecimentos femininos indígenas, trago presente na minha pesquisa para o
doutorado As esposas do Waí Mahsã. Neste GT tenho por objetivo trazer presente relatos das mulheres que
foram pegas pelos Waí Mahsã (seres que vivem além da visão), e a partir do contato adquiriram doenças, pois
desconheciam as localidades que são consideradas de maior conexão com esses seres na região do Rio Negro,
logo que a paisagem relatada possuía outras características. Dito isso é importante trazer presente que as
mutações que as paisagens sofrem diariamente afeta diretamente não apenas no que diz respeito à conceitos
como urbano e interior, mas à saúde e das memórias e compartilhamentos históricos dos povos indígenas. No GT
proponho a fazer uma reflexão e comparação com os relatos de experiências de mulheres de outras regiões e
estado do Brasil. Cabe salientar que a temática encontra-se em desenvolvimento dentro da pesquisa para o
doutorado, mas a importância de refletir sobre a influência da paisagem na vida dos povos indígenas deve ser
abordado constantemente.