ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
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Coordenação
José Maurício Paiva Andion Arruti (UNICAMP), Claudia Mura (UFAL)

Resumo:
Este GT visa reunir pesquisas etnográficas que abordam a mobilidade de pessoas e famílias indígenas e seus processos de re-configuração sócio-espacial, em ambientes rurais ou urbanos, em contextos de desigualdade e convivialidade. A mobilidade é aqui compreendida desde sua dimensão histórica, condição para a análise das suas formas contemporâneas, e como uma maneira de habitar o mundo, de construir relações, produzir vida e lugares, por meio do agenciamento de memórias, entidades e conhecimentos. As configurações sócio-espaciais apontam para os modos materiais de reelaboração familiar e étnica, para além das fronteiras físicas e administrativas das Terras Indígenas, em contextos de subalternização e marginalização, mas também de re-produção do comum, na forma de fluxos, redes, lugares ou novos territórios. Finalmente, o nexo entre relações de desigualdade e convivialidade assinala nosso interesse nas configurações sociais constituídas simultaneamente por laços de solidariedade e cooperação, bem como por diferenças, conflitos e dominação, de seres humanos entre si e destes com outros seres vivos. Serão valiosas as contribuições que analisem as perspectivas e conceptualizações indígenas sobre suas próprias trajetórias individuais e familiares, assim como as dinâmicas de atualização dos coletivos étnicos, que valorizem os agenciamentos da memória e invistam sobre a reflexividade que o próprio deslocamento promove sobre a condição indígena.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Padrinho Manéli, professor da doutrina: memórias familiares sobre o legado deixado por um forasteiro que se fez caboclo na comunidade Barreiro Preto (Território Indígena Xakriabá/MG)
Amanda Jardim da Silva Rezende (UFMG)
Resumo: As exegeses etnográficas apresentadas nesta comunicação partem da produção de minha dissertação de mestrado, defendida em 2022, no Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGAn/ UFMG). O pretérito contexto de escrita, atravessado pelas intempéries da COVID-19, foi limitante para o desenvolvimento de buscas documentais em acervos locais ( cartórios, registros paroquiais, inventários, testamentos, livros de atas de irmandade, etc.) quando a tônica da pesquisa se revelou de ordem biográfica. Reunindo esforços que partiram do registro de narrativas orais, memórias familiares e consulta a documentações históricas digitais (acessíveis de forma online), busquei levantar dados sobre a trajetória do forasteiro letrado Manoel Fernandes de Oliveira, que migrou nos anos 1920 para o Terreno dos Caboclos de São João, atual Território Indígena Xakriabá, partindo de Brejo do Amparo (MG), que hoje corresponde ao município de Januária (MG). A partir de 2024, com o ingresso no doutorado da mesma instituição, pretendo retomar os dados de pesquisa previamente vistos com o objetivo de revisitá-los e incorporar novas informações a respeito da intrigante trajetória desse sujeito. Partilhando do ensejo em, antes, torná-las públicas, avalio que a trajetória de padrinho Manéli revela-se interessante para: 1- pensarmos questões relativas à penetração e perpetuação de tradições de conhecimento (Barth, 2002) em territórios indígenas; 2 - compreendermos os fluxos culturais (Hannerz, 1997) como regimes amplamente partilhados em localidades específicas que se disseminam a partir da inserção de pessoas ou grupos familiares em localidades indígenas; 3- entendermos a variação cultural como contínua e a construção da fronteira étnica como contextual e relacionada a processos históricos de longa duração (Barth, 2000); 4- ressaltarmos a performance de elementos culturais não pertencentes ao roll dos diacríticos identitários por grupos familiares (como em Mura, 2013); e, por fim, 5- tornarmos os processos de territorialização (Oliveira,1997) transpassados pelo fazer parente, relações matrimoniais, de compadrios, e outras sociabilidades, como campo fértil de pesquisa.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
“Ninguém faz a reza só”: cuidado e mobilidade a partir das mulheres pankararu que habitam São Paulo
Arianne Rayis Lovo (UNICAMP)
Resumo: As mulheres pankararu que habitam a cidade de São Paulo lideranças espirituais e políticas, deslocam-se entre diferentes lugares aldeia e cidade e, nesse aspecto, são protagonistas na manutenção da ciência pankararu conjunto de ações, práticas e conhecimentos que modulam as relações entre pessoas e encantados, seres espirituais que oferecem proteção ao grupo. Tais entidades estão presentes em lugares como a mata, os serrotes e as cachoeiras, na Terra Indígena Pankararu (TI Pankararu), em Pernambuco, mas visitam seus parentes humanos em locais fora da aldeia, pois mesmo distante, eles vêm para proteger”. Esse reino encantado possui uma natureza de temporalidade diferente daquela vivida pelos humanos, pois possibilita um deslocamento entre lugares que não é medida pela distância geográfica, sendo equiparada a um tempo do outro mundo”. Assim, pessoas e encantados estão imbricadas numa relação do cuidar em que o cuidado é pensado como uma ação cosmopolítica, pois encontra-se implicado na relação multiespécie, sendo percebido em sua dimensão afetiva, ética, política e disruptiva. Cuidar é também conhecer um modo de se compor com o mundo. Deste modo, o presente trabalho irá privilegiar os modos de fazer e conhecer das mulheres pankararu, dando destaque às trajetórias de rezadeiras (especialistas rituais) e lideranças políticas em suas práticas de cuidado, que abrangem tanto uma relação entre humanos (indígenas e não indígena), quanto outros que humanos (encantados, plantas e bens). A forma de habitar o território é pensada numa dimensão do vivido, como um modo de produção de vida, estabelecendo relações, conhecimento e formas de habitar o mundo (Lovo, 2017, 2023). O trabalho busca, assim, compreender os sentidos do habitar e do cuidar a partir de uma perspectiva feminina.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ayllunaka paulistanos - o sentido comunitário e familiar como base dos conjuntos autóctones andinos na/da cidade de São Paulo
Cristina de Branco (CRIA)
Resumo: “Estamos formando comunidades, estamos formando ayllus aqui neste país, nos diz Beatriz Morales, Quechua boliviana, migrante há quase trinta anos na cidade de São Paulo, integrante do Kollasuyu Maya e da Comunidad Autóctona Vientos del Ande. Como co-roteirista e co-protagonista da série documental Ventos do Peabiru (2023), Beatriz explica, no segundo episódio, a expansão do Tawantinsuyu e do Kollasuyu, territórios ancestrais das sociedades Quechua e Aymara, respectivamente. Ainda que secularmente recortados por fronteiras coloniais e depois republicanas, estes amplos territórios seguem sendo percorridos por pessoas Aymara e Quechua numa ininterrupta e dinâmica mobilidade ancestral (CELAC 2014). A partir de meados do século passado e sobretudo nas décadas de 80 e 90, por diversos fatores, pessoas Aymara e Quechua começam a migrar intensamente para além de seus povoados rurais e até para lá de seus territórios ancestrais. Foram sendo ativados diversos processos de transterritorialização, de criação de territorialidades de referência indígena centro-andina e altiplânica nas cidades de Buenos Aires, Santiago do Chile e São Paulo (Branco 2023). Estes fluxos migratórios são iniciados pela migração individual do sujeito adulto para rapidamente serem transformados em migrações familiares, articuladas por redes comunitárias, entre familiares e vizinhos dos povoados e/ou cidades natais. O ayllu, a comunidade rural originária andina (no plural Aymara, ayllunaka), começa a ser reinventado em contextos urbanos distantes. Os conjuntos de música e dança autóctone altiplânica fazem parte dessa rearticulação migrante do ayllu enquanto lógica comunitária de base. Em São Paulo, estes conjuntos surgem na virada do milênio, quando estas redes migratórias e as estratégias de subsistência socioeconômica da comunidade migrante já estavam relativamente estabilizadas (Branco 2022). Em geral, os conjuntos são formados por grandes famílias e amigos e têm uma composição transgeracional, das crianças aos integrantes mais velhos, os transmissores dos costumes e do saber musical. Os conjuntos servem enquanto dispositivo de união e articulação familiar e comunitária migrante e como meio de transmissão de repertórios culturais e espirituais de referência indígena andina às novas gerações. Como diz Teófilo Pillco, fundador do Huaycheños de Corazón, no quarto episódio da série documental: De onde somos, para onde vamos e como, com que vamos, esse seria nosso legado [para os nossos filhos e netos]”. Nessa sintonia, a partir da minha etnografia doutoral e da série documental, esta comunicação busca refletir sobre os elos entre família, comunidade e estratégias de integração e sobrevivência étnica destas pessoas indígenas imigrantes internacionais e seus descendentes em São Paulo.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Leôncio: um chefe Arara
Eduardo Cezar Cândido Xavier Ferreira (UFRJ)
Resumo: Este trabalho procurará, ao jogar luz sobre a trajetória de Leôncio Arara, mostrar como reelaborações acerca da trajetória e lembranças dessa liderança indígena foi um ponto chave que permitiu o reposicionamento étnico de seus parentes como os atuais Arara da Volta Grande do Xingu. Atualmente esse grupo Arara são uma população de 234 pessoas distribuídas em quatro aldeias e outras famílias dispersas em um território indígena homônimo no município de Senador José Porfírio, estado do Pará. O reposicionamento étnico que aqui será abordado pode ser aproximado daqueles conhecidos da literatura como emergência étnica ou etnogênese (Arruti, 1997; Oliveira, 1998). Boyer (2022) em seus estudos sobre reposicionamentos étnicos na Amazônia brasileira, mostrou como esses processos envolvem um diálogo entre dimensões internas e externas desses coletivos. Do lado externo, a compreensão de que às populações etnicamente diferenciadas são garantidos direitos específicos e de que a cada uma das categorias étnico-legais, como indígenas, quilombolas ou extrativistas, são atrelados a sentidos levemente diferentes. A compreensão dessas demandas por parte de atores do Estado insta simultaneamente a um debate interno, que, a partir do recenseamento de histórias familiares e pessoais se busca construir um consenso em torno da adoção de uma identidade enunciada coletivamente, e sua operacionalização, com o resgate de elementos culturais até então esquecidos e a adoção de estruturas políticas, como criação de associações para representar os interesses do novo coletivo emergente como unidade frente ao Estado. Na minha tese de doutorado, procurei dar conta de ambas as dimensões desse processo de afirmação étnica. Para os propósitos desse trabalho, gostaria de me concentrar na dimensão interna, mais precisamente sobre o papel de Leôncio Arara como pivô desse reposicionamento étnico. Apresentando elementos de sua biografia e escolha, mostrarei como sua posição foi construída a partir de três bases: seus conhecimentos históricos, práticas xamânicas e liderança de grupo doméstico. A conjunção dessas características permitiu a Leôncio estabelecer uma ponte entre os antigos subgrupos Arara do Bacajá e do Sucuriju e sua família no início do século XX, pavimentando o caminho para o reconhecimento étnico Arara pelo Estado brasileiro. Nesse sentido, procuro aproximar Leôncio da noção de reformador social indígena (FAUSTO; XAVIER; WELPER, 2016).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Indígenas no Leste e Nordeste do Brasil: notas a partir do Censo 2022 e do Monitoramento das Terras Indígenas da Anaí.
Estêvão Martins Palitot (UFPB), Lara Erendira Almeida de Andrade (INRS | Institut national de la recherche scientifique)
Resumo: O registro da população indígena nos censos brasileiros oscilou ao longo do tempo e apenas a partir de 1991 coletas mais sistemáticas e consistentes têm sido realizadas pelo IBGE. Nessas últimas décadas o instituto tem reformulado suas metodologias e ampliado o diálogo com o movimento indígena, o que apontou significativas mudanças na execução do Censo de 2022. Tomando como foco de análise as regiões etnográficas do Leste e Nordeste brasileiros percebemos que os povos indígenas nessas regiões vivenciam dificuldades históricas de reconhecimento e os dados demográficos sobre estas etnias e seus territórios são muito variáveis em função disso. Neste trabalho, realizamos uma análise dos dados iniciais da população indígena no Censo 2022 publicados pelo IBGE em comparação com as informações sobre localização de terras indígenas fornecidas pelo monitoramento de terras da Associação Nacional de Ação Indigenista - ANAÍ, com o intuito de percebermos a efetividade ou não do censo na identificação e contabilização da população indígena.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O que se vive não se esquece: eventos críticos, trajetórias e memórias dos Warao no Brasil
Gabriel Calil Maia Tardelli (UNB)
Resumo: Conhecido como gente das águas ou gente das canoas, o povo indígena Warao encontra-se, sobretudo, nos estados venezuelanos de Delta Amacuro, Monagas e Sucre. Mas também estão presentes na República Cooperativa da Guiana, no Suriname e, desde 2014, no Brasil, onde vivem em todas as regiões do país, somando mais de 7 mil pessoas. De acordo com suas narrativas, saíram da Venezuela em direção ao Brasil devido a diferentes fatores, mas que podem ser condensados da seguinte maneira: perda de colheitas, escassez de itens alimentícios, impossibilidade de geração de renda, falta de atendimento médico e de medicamentos, mortes de familiares, agressões e perseguições cometidas por grupos armados que controlavam áreas de mineração etc. A morte do presidente Hugo Chávez e a ascensão de Nicolás Maduro ao Palácio Miraflores parecem demarcar um antes e um depois, quando tiveram que deixar suas comunidades. Não obstante, como ocorrera com outros povos indígenas das Américas, suas vidas estão marcadas por uma série de episódios que modificaram radicalmente suas vidas no decorrer de um processo histórico de longa duração. Nesse caso, destacam-se a invasão de seus territórios por grandes empreendimentos econômicos que visavam a exploração de recursos naturais (petróleo, minério, madeira e palmito) e a chegada de missões religiosas que instalaram seminários, ensinaram o evangelho e a língua espanhola, assim como contribuíram para que suas relações de parentesco e sua organização política fossem reconfiguradas. A partir da descrição das trajetórias de mulheres e homens Warao, este trabalho pretende analisar a maneira pela qual diferentes eventos críticos têm impactado suas vidas, sendo incorporados em seu cotidiano e na memória coletiva. Penso, como Veena Das, que os fragmentos narrados não devem ser compreendidos como partes que podem compor uma totalidade, mas como evidências de uma forma singular de habitar o mundo e lidar com o luto.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
OH QUE UMA NOITE NÃO É NADA... OI QUEM CHEGOU FOI PANELADA, NO ROMPER DA MADRUGADA...”: um estudo sobre a etnogênese em Rio de Contas, Bahia
Márcio Santos Matos (GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA/ SERPOMI)
Resumo: Como parte dos processos de etnogênese (FONTELLA, 2020) o reconhecimento e debate em torno da existência indígena no Alto Sertão da Bahia, vem gradativamente se configurando como um campo de pesquisa em vias de expansão. Logo, é nesse sentido que o contexto social dos Sertões de Cima apresenta um campo etnográfico em mudança, de modo que, como questão de pesquisa, busca-se aqui compreender esse movimento de resgate da etnicidade protagonizado pelo Povo Kariri da Panelada, residente em Rio de Contas, sul da Chapada Diamantina, Bahia. Por fim, esta comunicação procura abordar o momento atual da pesquisa, apresentando uma breve discussão teórica, relacionando-a aos desafios enfrentados pelos interlocutores com os quais converso, durante sua busca por uma identificação e reconhecimento (ARRUTI, 2006), seja ante os demais parentes indígenas, seja ante o Estado Brasileiro. Palavras-chave: Etnogênese, Povos Indígenas do Nordeste, Povo Kariri da Panelada.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Pelos caminhos das aldeias: um estudo sobre dinâmicas territoriais e mobilidade dos povos indígenas no Baixo São Francisco
Maria Alane dos Santos (UFPB)
Resumo: Este trabalho descende da minha pesquisa de doutorado (em andamento) sobre as dinâmicas territoriais de grupos indígenas localizados na região do Baixo São Francisco. A pesquisa está sendo realizada em três comunidades: Fulkaxó, Pankariri e Kaxagó que estão localizadas entre os estados de Alagoas e Sergipe. Essas comunidades são grupos étnicos que estão se deslocando da terra indígena Kariri-Xocó. Posto isso, procuro analisar a forma como estes territórios são atravessados e formados por meio de vínculos de parentesco, amizade e afinidades que são acionados a partir da mobilidade. O processo de mobilidade envolve complexos laços que ligam pessoas ou grupos de famílias nas áreas de origem e de destino, por meio de vínculos que são criados, mantidos ou rompidos pelos sujeitos que atribuem significado aos seus deslocamentos. Ao longo do texto discuto como se dá a ocupação e o uso dos espaços por famílias que estão em processo de reformulação sócio-espacial, se reterritorializando e configurando novas territorialidades. No decorrer do texto elucido sobre os processos de mobilidades e dinâmicas territoriais. Palavras-chave: indígenas, mobilidade e território.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Vivendo na cidade: uma etnografia sobre grupos domésticos potiguara na cidade de Mataraca
Maria Elita do Nascimento (UFPB)
Resumo: Neste trabalho é realizada uma reflexão sobre o grupo local potiguara ao qual pertenço, localizado na cidade de Mataraca, Litoral Norte da Paraíba. Busco compreender como são construídas as redes de relações estabelecidas por parentesco, trocas de favores, vínculos de amizade, apadrinhamento, casamentos e de cooperação sociotécnica entre os membros do grupo doméstico e não-indígenas, a partir do contexto urbano. Constata-se também como através da ecologia doméstica os indígenas desenvolvem suas atividades para além da cidade, produzindo e reproduzindo tradições de conhecimento em espaços mais amplos, que incluem áreas rurais e Terras Indígenas. Esta dinâmica também produz e reproduz processos de dominialização desses lugares para desenvolver um determinado estilo de vida. O trabalho aborda também os vários níveis identitários que este estilo de vida permite definir, mostrando como a identidade doméstica se constitui como eixo principal para a formulação tanto da identidade étnica quanto daquela individual. PALAVRAS-CHAVE: potiguara, contexto urbano; processos de dominialização

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Trajetórias e Mobilidades: uma família indígena Atikum no Cangaço
Maria Tereza de Melo Cavalcanti (UFAL)
Resumo: Durante a década de 1920, os indígenas Atikum Domingos, Raimundo e Rufino dos Anjos Oliveira ingressam ao cangaço após um conflito com a família Marcolinos, fazendeiros que viviam nas proximidades da Serra do Umã, em Carnaubeira da Penha em Pernambuco. Em um sertão marcado por questões de valores morais e códigos de honra, a família indígena viveu um divisor de águas quando um dos membros da fazenda Molungu seduziu a irmã de Domingos dos Anjos e recusou-se a casar com ela. Domingos, entendendo o ato como uma desonra a sua irmã e a sua família, assassinou José Marcolino. Nesse contexto, se viu com poucas saídas, começou a se refugiar em alguns dos muitos esconderijos da Serra do Umã após ameaças de morte pela família Marcolino, à época, o cangaço era uma das saídas para resolver esses tipos de conflito. Assim, o intento deste trabalho é repensar as trajetórias de vida da família dos Anjos Oliveira através dos periódicos da época, quando Domingos, seu pai e seu irmão ingressam ao cangaço, construindo uma interseção de questões socioculturais e históricas entre o povo Atikum e os cangaceiros do bando de Lampião. Com a entrada no cangaço, a família indígena foi atravessada por múltiplas experiências, que acabaram moldando os seus processos de reconfiguração sócio-espacial nos sertões nordestinos, além disso, a mobilidade era um quesito de grande importância nesse contexto, a partir dela conseguiam construir e estabelecer relações, como foi o caso do grupo de Lampião e os indígenas Atikum, assim, as mobilidades de pessoas eram elaboradas por meio de experiências. A família dos Anjos Oliveira foi atravessada por múltiplas experiências, como a mobilidade e os processos de reconfiguração sócio-espaciais, sendo inseridos em novos contextos socioculturais, geográficos e identitários, quando ingressam ao grupo de Lampião, a sobrevivência da família e dos bandoleiros é moldada pela necessidade de adaptação e pela mobilidade de pessoas como estratégia essencial para garantia de subsistência. É importante ressaltar também os contextos de subalternização e marginalização vivenciados pelo povo Atikum e pelos cangaceiros diante de um Estado do sertão construído muitas vezes por fazendeiros, os grupos eram frequentemente desafiados a se reorganizarem, dessa forma, o ingresso da família de Domingos dos Anjos Oliveira é um dos fatores do estabelecimento das relações entre os Atikum e os cangaceiros, assim, os indígenas da Serra do Umã ofereciam refúgio e apoio aos cangaceiros do bando de Lampião. A análise de recortes de jornais é necessária para compreender a trajetória e as dinâmicas vivenciadas por essa família, buscando preencher as lacunas, os silêncios e os contextos presentes na narrativa dos jornais.
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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Indígenas migrantes: A gente não sabe o que fazer com eles”. Alguns apontamentos sobre as políticas públicas e o acolhimento destes sujeitos a partir das escolas de Boa Vista - RR
Priscila de Alantino Braz Silva (UFRRJ)
Resumo: Este trabalho é parte de uma pesquisa doutoral, em andamento, e tem como objetivo, analisar as políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes indígenas migrantes, residentes ou de passagem por Boa Vista - RR, e que estejam matriculadas nas instituições de ensino público. A partir de então, perceber como estas políticas atuam no seu processo de inserção e adaptação na sociedade de acolhida. A metodologia deste trabalho consiste em pesquisa documental e bibliográfica, observação participante e entrevistas. O Brasil, por meio de suas leis e diretrizes educacionais, assegura o direito à educação diferenciada aos indígenas, porém colocá-las em prática, tendo como sujeitos os migrantes indígenas, ainda se caracteriza como um desafio, pois por não fazerem parte das etnias originárias do território brasileiro, seus modos de vida e manifestação cultural ainda carecem de conhecimento para que o acolhimento os alcance em suas necessidades. Devido ao movimento constante de entrada e saída, de venezuelanos Criollos e indígenas, de Boa Vista - desde aproximadamente 2015 -, as escolas vivem a realidade da falta de vagas, bem como de um processo constante de matrícula de alunos novos, ao longo de todo ano. Isto dificulta, tanto para professores quanto para os alunos, o processo de ensino e aprendizado e ainda mais a criação de laços e afetividades. Com a especificidade de não falar o português, tampouco o espanhol, muitos dos indígenas, em especial os da etnia Warao, encontram-se em desvantagens, tanto em relação aos alunos brasileiros quanto em relação aos venezuelanos, o que consequentemente também dificulta sua inserção e adaptação à sociedade de acolhida. Percebe-se, então, a necessidade de políticas educacionais de acolhimento e permanência para estes sujeitos, visando uma inserção digna na sociedade de acolhida.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Entre Asfalto, terras e serras
Rosijane Fernandes Moura (UFAM)
Resumo: Trago para o Grupo de Trabalho experiências que tive no decorrer da minha adolescência, juventude e da vida adulta para demonstrar que o preparo do corpo da mulher se inicia no momento da sua concepção no corpo da sua mãe, tem sua continuidade ao seu nascimento e crescimento até ser mãe. Lasmar (2005) associa a invisibilidade das mulheres indígenas à hegemonia da perspectiva masculina nas ciências sociais, além de compará-las ao caso da invisibilidade dos próprios índios, uma categoria, segundo a autora, étnica e racial ainda atrelada a representações enraizadas em fontes remotas, e cuja elaboração inicial recua aos primeiros séculos da colonização do Novo Mundo. Atualmente, com o passar dos anos, a presença feminina indígena tem tomado grandes proporções midiáticas, porém, assim como Lasmar, acredito que ainda está em círculos, apenas voltadas à temática como sangue, a fertilidade ou até mesmo a uma imagem sexual erotizada, mesmo quando estas mulheres ocupam lugares de destaque. Hoje as mulheres indígenas ocupam a academia, sendo seu corpo o território sagrado. Assim, cada ato das mulheres torna-se contribuições bibliográficas com suas perspectivas e memórias por meio de partilha de conhecimentos de mulheres para mulheres. Visando contribuir com os conhecimentos femininos indígenas, trago presente na minha pesquisa para o doutorado As esposas do Waí Mahsã”. Neste GT tenho por objetivo trazer presente relatos das mulheres que foram pegas pelos Waí Mahsã (seres que vivem além da visão), e a partir do contato adquiriram doenças, pois desconheciam as localidades que são consideradas de maior conexão com esses seres na região do Rio Negro, logo que a paisagem relatada possuía outras características. Dito isso é importante trazer presente que as mutações que as paisagens sofrem diariamente afeta diretamente não apenas no que diz respeito à conceitos como urbano e interior, mas à saúde e das memórias e compartilhamentos históricos dos povos indígenas. No GT proponho a fazer uma reflexão e comparação com os relatos de experiências de mulheres de outras regiões e estado do Brasil. Cabe salientar que a temática encontra-se em desenvolvimento dentro da pesquisa para o doutorado, mas a importância de refletir sobre a influência da paisagem na vida dos povos indígenas deve ser abordado constantemente.
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