ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
“Ninguém faz a reza só”: cuidado e mobilidade a partir das mulheres pankararu que habitam São Paulo
As mulheres pankararu que habitam a cidade de São Paulo lideranças espirituais e políticas, deslocam-se entre diferentes lugares aldeia e cidade e, nesse aspecto, são protagonistas na manutenção da ciência pankararu conjunto de ações, práticas e conhecimentos que modulam as relações entre pessoas e encantados, seres espirituais que oferecem proteção ao grupo. Tais entidades estão presentes em lugares como a mata, os serrotes e as cachoeiras, na Terra Indígena Pankararu (TI Pankararu), em Pernambuco, mas visitam seus parentes humanos em locais fora da aldeia, pois mesmo distante, eles vêm para proteger”. Esse reino encantado possui uma natureza de temporalidade diferente daquela vivida pelos humanos, pois possibilita um deslocamento entre lugares que não é medida pela distância geográfica, sendo equiparada a um tempo do outro mundo”. Assim, pessoas e encantados estão imbricadas numa relação do cuidar em que o cuidado é pensado como uma ação cosmopolítica, pois encontra-se implicado na relação multiespécie, sendo percebido em sua dimensão afetiva, ética, política e disruptiva. Cuidar é também conhecer um modo de se compor com o mundo. Deste modo, o presente trabalho irá privilegiar os modos de fazer e conhecer das mulheres pankararu, dando destaque às trajetórias de rezadeiras (especialistas rituais) e lideranças políticas em suas práticas de cuidado, que abrangem tanto uma relação entre humanos (indígenas e não indígena), quanto outros que humanos (encantados, plantas e bens). A forma de habitar o território é pensada numa dimensão do vivido, como um modo de produção de vida, estabelecendo relações, conhecimento e formas de habitar o mundo (Lovo, 2017, 2023). O trabalho busca, assim, compreender os sentidos do habitar e do cuidar a partir de uma perspectiva feminina.