Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
Ninguém faz a reza só: cuidado e mobilidade a partir das mulheres pankararu que habitam São Paulo
As mulheres pankararu que habitam a cidade de São Paulo lideranças espirituais e políticas, deslocam-se
entre diferentes lugares aldeia e cidade e, nesse aspecto, são protagonistas na manutenção da ciência
pankararu conjunto de ações, práticas e conhecimentos que modulam as relações entre pessoas e encantados,
seres espirituais que oferecem proteção ao grupo. Tais entidades estão presentes em lugares como a mata, os
serrotes e as cachoeiras, na Terra Indígena Pankararu (TI Pankararu), em Pernambuco, mas visitam seus
parentes humanos em locais fora da aldeia, pois mesmo distante, eles vêm para proteger. Esse reino
encantado possui uma natureza de temporalidade diferente daquela vivida pelos humanos, pois possibilita um
deslocamento entre lugares que não é medida pela distância geográfica, sendo equiparada a um tempo do outro
mundo. Assim, pessoas e encantados estão imbricadas numa relação do cuidar em que o cuidado é pensado como
uma ação cosmopolítica, pois encontra-se implicado na relação multiespécie, sendo percebido em sua dimensão
afetiva, ética, política e disruptiva. Cuidar é também conhecer um modo de se compor com o mundo. Deste
modo, o presente trabalho irá privilegiar os modos de fazer e conhecer das mulheres pankararu, dando
destaque às trajetórias de rezadeiras (especialistas rituais) e lideranças políticas em suas práticas de
cuidado, que abrangem tanto uma relação entre humanos (indígenas e não indígena), quanto outros que humanos
(encantados, plantas e bens). A forma de habitar o território é pensada numa dimensão do vivido, como um
modo de produção de vida, estabelecendo relações, conhecimento e formas de habitar o mundo (Lovo, 2017,
2023). O trabalho busca, assim, compreender os sentidos do habitar e do cuidar a partir de uma perspectiva
feminina.