ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
Padrinho Manéli, professor da doutrina: memórias familiares sobre o legado deixado por um forasteiro que se fez caboclo na comunidade Barreiro Preto (Território Indígena Xakriabá/MG)
As exegeses etnográficas apresentadas nesta comunicação partem da produção de minha dissertação de mestrado, defendida em 2022, no Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGAn/ UFMG). O pretérito contexto de escrita, atravessado pelas intempéries da COVID-19, foi limitante para o desenvolvimento de buscas documentais em acervos locais ( cartórios, registros paroquiais, inventários, testamentos, livros de atas de irmandade, etc.) quando a tônica da pesquisa se revelou de ordem biográfica. Reunindo esforços que partiram do registro de narrativas orais, memórias familiares e consulta a documentações históricas digitais (acessíveis de forma online), busquei levantar dados sobre a trajetória do forasteiro letrado Manoel Fernandes de Oliveira, que migrou nos anos 1920 para o Terreno dos Caboclos de São João, atual Território Indígena Xakriabá, partindo de Brejo do Amparo (MG), que hoje corresponde ao município de Januária (MG). A partir de 2024, com o ingresso no doutorado da mesma instituição, pretendo retomar os dados de pesquisa previamente vistos com o objetivo de revisitá-los e incorporar novas informações a respeito da intrigante trajetória desse sujeito. Partilhando do ensejo em, antes, torná-las públicas, avalio que a trajetória de padrinho Manéli revela-se interessante para: 1- pensarmos questões relativas à penetração e perpetuação de tradições de conhecimento (Barth, 2002) em territórios indígenas; 2 - compreendermos os fluxos culturais (Hannerz, 1997) como regimes amplamente partilhados em localidades específicas que se disseminam a partir da inserção de pessoas ou grupos familiares em localidades indígenas; 3- entendermos a variação cultural como contínua e a construção da fronteira étnica como contextual e relacionada a processos históricos de longa duração (Barth, 2000); 4- ressaltarmos a performance de elementos culturais não pertencentes ao roll dos diacríticos identitários por grupos familiares (como em Mura, 2013); e, por fim, 5- tornarmos os processos de territorialização (Oliveira,1997) transpassados pelo fazer parente, relações matrimoniais, de compadrios, e outras sociabilidades, como campo fértil de pesquisa.