Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
Padrinho Manéli, professor da doutrina: memórias familiares sobre o legado deixado por um forasteiro que
se fez caboclo na comunidade Barreiro Preto (Território Indígena Xakriabá/MG)
As exegeses etnográficas apresentadas nesta comunicação partem da produção de minha dissertação de
mestrado, defendida em 2022, no Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas
Gerais (PPGAn/ UFMG). O pretérito contexto de escrita, atravessado pelas intempéries da COVID-19, foi
limitante para o desenvolvimento de buscas documentais em acervos locais ( cartórios, registros paroquiais,
inventários, testamentos, livros de atas de irmandade, etc.) quando a tônica da pesquisa se revelou de ordem
biográfica. Reunindo esforços que partiram do registro de narrativas orais, memórias familiares e consulta a
documentações históricas digitais (acessíveis de forma online), busquei levantar dados sobre a trajetória do
forasteiro letrado Manoel Fernandes de Oliveira, que migrou nos anos 1920 para o Terreno dos Caboclos de São
João, atual Território Indígena Xakriabá, partindo de Brejo do Amparo (MG), que hoje corresponde ao
município de Januária (MG). A partir de 2024, com o ingresso no doutorado da mesma instituição, pretendo
retomar os dados de pesquisa previamente vistos com o objetivo de revisitá-los e incorporar novas
informações a respeito da intrigante trajetória desse sujeito. Partilhando do ensejo em, antes, torná-las
públicas, avalio que a trajetória de padrinho Manéli revela-se interessante para: 1- pensarmos questões
relativas à penetração e perpetuação de tradições de conhecimento (Barth, 2002) em territórios indígenas; 2
- compreendermos os fluxos culturais (Hannerz, 1997) como regimes amplamente partilhados em localidades
específicas que se disseminam a partir da inserção de pessoas ou grupos familiares em localidades indígenas;
3- entendermos a variação cultural como contínua e a construção da fronteira étnica como contextual e
relacionada a processos históricos de longa duração (Barth, 2000); 4- ressaltarmos a performance de
elementos culturais não pertencentes ao roll dos diacríticos identitários por grupos familiares (como em
Mura, 2013); e, por fim, 5- tornarmos os processos de territorialização (Oliveira,1997) transpassados pelo
fazer parente, relações matrimoniais, de compadrios, e outras sociabilidades, como campo fértil de
pesquisa.