Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
Leôncio: um chefe Arara
Este trabalho procurará, ao jogar luz sobre a trajetória de Leôncio Arara, mostrar como reelaborações
acerca da trajetória e lembranças dessa liderança indígena foi um ponto chave que permitiu o
reposicionamento étnico de seus parentes como os atuais Arara da Volta Grande do Xingu. Atualmente esse
grupo Arara são uma população de 234 pessoas distribuídas em quatro aldeias e outras famílias dispersas em
um território indígena homônimo no município de Senador José Porfírio, estado do Pará.
O reposicionamento étnico que aqui será abordado pode ser aproximado daqueles conhecidos da literatura como
emergência étnica ou etnogênese (Arruti, 1997; Oliveira, 1998). Boyer (2022) em seus estudos sobre
reposicionamentos étnicos na Amazônia brasileira, mostrou como esses processos envolvem um diálogo entre
dimensões internas e externas desses coletivos. Do lado externo, a compreensão de que às populações
etnicamente diferenciadas são garantidos direitos específicos e de que a cada uma das categorias
étnico-legais, como indígenas, quilombolas ou extrativistas, são atrelados a sentidos levemente diferentes.
A compreensão dessas demandas por parte de atores do Estado insta simultaneamente a um debate interno, que,
a partir do recenseamento de histórias familiares e pessoais se busca construir um consenso em torno da
adoção de uma identidade enunciada coletivamente, e sua operacionalização, com o resgate de elementos
culturais até então esquecidos e a adoção de estruturas políticas, como criação de associações para
representar os interesses do novo coletivo emergente como unidade frente ao Estado.
Na minha tese de doutorado, procurei dar conta de ambas as dimensões desse processo de afirmação étnica.
Para os propósitos desse trabalho, gostaria de me concentrar na dimensão interna, mais precisamente sobre o
papel de Leôncio Arara como pivô desse reposicionamento étnico. Apresentando elementos de sua biografia e
escolha, mostrarei como sua posição foi construída a partir de três bases: seus conhecimentos históricos,
práticas xamânicas e liderança de grupo doméstico. A conjunção dessas características permitiu a Leôncio
estabelecer uma ponte entre os antigos subgrupos Arara do Bacajá e do Sucuriju e sua família no início do
século XX, pavimentando o caminho para o reconhecimento étnico Arara pelo Estado brasileiro. Nesse sentido,
procuro aproximar Leôncio da noção de reformador social indígena (FAUSTO; XAVIER; WELPER, 2016).
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