ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
O que se vive não se esquece: eventos críticos, trajetórias e memórias dos Warao no Brasil
Conhecido como gente das águas ou gente das canoas, o povo indígena Warao encontra-se, sobretudo, nos estados venezuelanos de Delta Amacuro, Monagas e Sucre. Mas também estão presentes na República Cooperativa da Guiana, no Suriname e, desde 2014, no Brasil, onde vivem em todas as regiões do país, somando mais de 7 mil pessoas. De acordo com suas narrativas, saíram da Venezuela em direção ao Brasil devido a diferentes fatores, mas que podem ser condensados da seguinte maneira: perda de colheitas, escassez de itens alimentícios, impossibilidade de geração de renda, falta de atendimento médico e de medicamentos, mortes de familiares, agressões e perseguições cometidas por grupos armados que controlavam áreas de mineração etc. A morte do presidente Hugo Chávez e a ascensão de Nicolás Maduro ao Palácio Miraflores parecem demarcar um antes e um depois, quando tiveram que deixar suas comunidades. Não obstante, como ocorrera com outros povos indígenas das Américas, suas vidas estão marcadas por uma série de episódios que modificaram radicalmente suas vidas no decorrer de um processo histórico de longa duração. Nesse caso, destacam-se a invasão de seus territórios por grandes empreendimentos econômicos que visavam a exploração de recursos naturais (petróleo, minério, madeira e palmito) e a chegada de missões religiosas que instalaram seminários, ensinaram o evangelho e a língua espanhola, assim como contribuíram para que suas relações de parentesco e sua organização política fossem reconfiguradas. A partir da descrição das trajetórias de mulheres e homens Warao, este trabalho pretende analisar a maneira pela qual diferentes eventos críticos têm impactado suas vidas, sendo incorporados em seu cotidiano e na memória coletiva. Penso, como Veena Das, que os fragmentos narrados não devem ser compreendidos como partes que podem compor uma totalidade, mas como evidências de uma forma singular de habitar o mundo e lidar com o luto.