Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 073: Mobilidade, memória e etnicidade: trajetórias biográficas e familiares indígenas
Trajetórias e Mobilidades: uma família indígena Atikum no Cangaço
Durante a década de 1920, os indígenas Atikum Domingos, Raimundo e Rufino dos Anjos Oliveira ingressam
ao cangaço após um conflito com a família Marcolinos, fazendeiros que viviam nas proximidades da Serra do
Umã, em Carnaubeira da Penha em Pernambuco. Em um sertão marcado por questões de valores morais e códigos de
honra, a família indígena viveu um divisor de águas quando um dos membros da fazenda Molungu seduziu a irmã
de Domingos dos Anjos e recusou-se a casar com ela. Domingos, entendendo o ato como uma desonra a sua irmã e
a sua família, assassinou José Marcolino. Nesse contexto, se viu com poucas saídas, começou a se refugiar em
alguns dos muitos esconderijos da Serra do Umã após ameaças de morte pela família Marcolino, à época, o
cangaço era uma das saídas para resolver esses tipos de conflito. Assim, o intento deste trabalho é repensar
as trajetórias de vida da família dos Anjos Oliveira através dos periódicos da época, quando Domingos, seu
pai e seu irmão ingressam ao cangaço, construindo uma interseção de questões socioculturais e históricas
entre o povo Atikum e os cangaceiros do bando de Lampião. Com a entrada no cangaço, a família indígena foi
atravessada por múltiplas experiências, que acabaram moldando os seus processos de reconfiguração
sócio-espacial nos sertões nordestinos, além disso, a mobilidade era um quesito de grande importância nesse
contexto, a partir dela conseguiam construir e estabelecer relações, como foi o caso do grupo de Lampião e
os indígenas Atikum, assim, as mobilidades de pessoas eram elaboradas por meio de experiências. A família
dos Anjos Oliveira foi atravessada por múltiplas experiências, como a mobilidade e os processos de
reconfiguração sócio-espaciais, sendo inseridos em novos contextos socioculturais, geográficos e
identitários, quando ingressam ao grupo de Lampião, a sobrevivência da família e dos bandoleiros é moldada
pela necessidade de adaptação e pela mobilidade de pessoas como estratégia essencial para garantia de
subsistência. É importante ressaltar também os contextos de subalternização e marginalização vivenciados
pelo povo Atikum e pelos cangaceiros diante de um Estado do sertão construído muitas vezes por fazendeiros,
os grupos eram frequentemente desafiados a se reorganizarem, dessa forma, o ingresso da família de Domingos
dos Anjos Oliveira é um dos fatores do estabelecimento das relações entre os Atikum e os cangaceiros, assim,
os indígenas da Serra do Umã ofereciam refúgio e apoio aos cangaceiros do bando de Lampião. A análise de
recortes de jornais é necessária para compreender a trajetória e as dinâmicas vivenciadas por essa família,
buscando preencher as lacunas, os silêncios e os contextos presentes na narrativa dos jornais.