ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 076: Antropologia nos Museus: coleções etnográficas, detentores e artistas
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Coordenação
Aristoteles Barcelos Neto (University of East Anglia), Luísa Valentini (USP)
Debatedor(a)
Ana Carolina Estrela da Costa (Museu das Culturas Indígenas)

Resumo:
A proposta deste GT é reunir reflexões e práticas levadas adiante por antropólogas (os-es), museólogas (os-es), detentores de objetos musealizados, organizadores de museus comunitários, curadores e artistas para compartilharem experiências, que lançaram novos olhares e arranjos para coleções, acervos e reservas técnicas. Bem como, iniciativas de museus ou pontos de memória, que foram constituídos sem acervos, coleções ou objetos. Ao reunir tais trabalhos pretendemos abrir um debate sobre múltiplas perspectivas de como a decolonização nos museus está se dando e como as diferentes práticas colaborativas e compartilhadas de fato acontecem, seus limites e possibilidades.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Abordagens interdisciplinares nas classificações em acervos museológicos
André Luís Maragno (UFPR)
Resumo: O uso imponderado ou a reprodução automática das classificações e termos adotados nos processos documentais museológicos podem colocar em risco não apenas a conservação de materialidades, dadas as múltiplas formas de cuidado e armazenamento, como também colaborar para a perpetuação de violências históricas, coloniais e epistêmicas em museus com acervos históricos e etnográficos. A partir de uma etnografia dedicada a este tema, no Museu Paranaense em Curitiba, que investigou desde as formas históricas dessas classificações durante a formação do acervo até os esforços recentes do museu para revisá-las, a pesquisa observa as dificuldades, problemas e tensões das classificações, desde a produção de relações das equipes com o tema ao longo da história do museu até seu impacto nos sistemas atuais de bancos de dados utilizados para nomear, localizar e documentar os itens musealizados. Além de uma revisão epistêmica das definições de documentação museológica, também foi possível reconhecer o trabalho e as influências de outras ciências presentes no museu em relação ao tratamento da informação patrimonial, bem como os impactos causados pela aplicação de diferentes metodologias nas classificações. Explorando as interações, semelhanças e diferenças geradas nas ações de trabalho do museu, destacam-se possíveis caminhos para mitigar perpetuações coloniais históricas, como modelos de tomada de decisão aplicados aos processos museológicos, revisões periódicas do plano museológico, maior cuidado nos processos de aquisição, revisão dos processos de conservação e revisão de arquitetura dos modelos atuais de bancos de dados, entre outros. Por meio de uma revisão de classificações, é possível acessar uma gestão de acervos que caminhe para uma museologia descolonial, despatriarcal e plural.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Cuidar do passado para imaginar o futuro: práticas de curadoria e trocas de saberes no Museu Indígena Anízia Maria do Povo Tabajara e Tapuio, Nazaré Lagoa de São Francisco (Piauí)
Anna Bottesi (Università di Bologna), Elayne da Silva Nascimento (Museu dos Povos Indígenas do Piauí)
Resumo: Discussões e ações entorno da chamada museologia indígena existem no Brasil desde o começo da década de 1990 lembramos as experiências pioneiras do museu Magüta do povo Tikuna no estado de Amazonas (1991) e do Museu Kanindé do povo Kanindé no estado do Ceará (1995). No Estado do Piauí, o primeiro grupo indígena a se apropriar da estrutura e do conceito de museu como instrumento para apoiar o processo de rearticulação de sua própria memória foi o povo Tabajara e Tapuio-Itamaraty da comunidade Nazaré (Lagoa de São Francisco). Em 2016, após a participação no II Fórum de Museus Indígenas no Brasil organizado pela Rede de Memória e Museologia Social, algumas famílias da comunidade decidiram criar seu próprio museu: o Museu Indígena Anízia Maria. Na mesma ocasião, Nazaré foi indicada para sediar a terceira edição do Fórum em 2017. A partir desses dois momentos o museu ganhou uma importância sempre maior como instrumento físico e conceitual para apoiar o fortalecimento da identidade indígena e de reivindicação dos direitos políticos, tanto dentro da comunidade quanto em relação à sociedade não indígena. Este processo culminou na criação, no ano de 2023, do Museu dos Povos Indígenas do Piauí (MUPI), cuia construção foi financiada pelo governo do estado depois de anos em que os representantes do movimento indígena passaram a solicitar uma estrutura mais ampla e melhor equipada. Apesar de ter suas problemáticas e contradições, o MUPI representa um sucesso em termos de visibilidade e reconhecimento no espaço público. Sobretudo, com ele foi institucionalizado um aspecto que tem caracterizado a trajetória do Museu Indígena Anízia Maria desde a sua primeira fundação, ou seja, a presença da juventude indígena na gestão dos espaços do museu e na organização das atividades a ele relacionadas. Objetivo desta apresentação é justamente repercorrer a atuação do grupo de jovens no museu, a fim de demonstrar a centralidade deles na articulação de uma experiência indígena Tabajara e Tapuio contemporânea. O diálogo intergeracional que se constrói entorno dos objetos guardados no museu e dos saberes tradicionais que eles representam e que são prerrogativa de adultos e idosos faz com que não apenas a memória seja mantida viva, mas que o mesmo conceito de curadoria seja sujeito a repensamentos. No contexto museológico do Museu Anízia Maria antes, e do MUPI agora, curar as coleções toma um duplo sentido: por um lado, cuidar da memória e da história da comunidade em vista de um futuro em que o desejo de dar continuidade ao legado dos ancestrais indígenas seja respeitado; por outro, produzir narrativas contra hegemônicas que, ao se opor aos clássicos estereótipos sobre os povos indígenas, curem a epistemologia ocidental da colonialidade de que está imbuída.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
O patrimônio cultural wauja em museus universitários e nacionais e a criação do Museu Indígena Ulupuwene: sobre a responsabilidade de trocas sistemáticas e simétricas entre instituições guardiãs e povos indígenas
Aristoteles Barcelos Neto (University of East Anglia)
Resumo: Um vasto número de artefatos, fotografias, desenhos, manuscritos, filmes e gravações dos/sobre os Wauja encontra-se em coleções de museus universitários, notadamente nos Museus de Arqueologia e Etnologia da USP, UFPR e UFBA, da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e de museus nacionais da Alemanha (Forum Humboldt de Berlim e Museum für Völkerkunde de Leipzig), Estados Unidos (National Museum of Natural History da Smithsonian Institution), Portugal (Museu Nacional de Etnologia de Lisboa) e França (Musée du quai Branly de Paris). Essas coleções foram formadas entre 1884 e 2005 por expedições científicas, e estão documentadas de maneira muito desigual, algumas com erros ou inconsistências. A quase totalidade desse patrimônio é desconhecida dos Wauja. Apenas alguns poucos deles tiveram a oportunidade de conhecer algumas amostras dessas coleções em anos recentes [as duas coleções alemãs, que estão em estado mais crítico de documentação falha ou insuficiente, jamais foram qualificadas pelos Wauja]. Por outro lado, as tradições vivas das culturas visual, material e ritual wauja são pouquíssimo conhecidas por esses museus e seus curadores. Ou seja, para o caso dos Wauja, eles e os museus que guardam seu patrimônio vivem em domínios separados e praticamente sem relações, e estas, quando ocorrem, são em geral isoladas e carentes de continuidade. A nova definição de museu, aprovada em 2022 durante a Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus (ICOM), estabelece que os museus devem atuar juntamente com a participação das comunidades”. Portanto, museus que não envolvem comunidades de interesse de maneira direta, constante e sistemática, operam fora da definição oficial estabelecida pela comunidade internacional. Em abril de 2023, os Wauja criaram, por meio de uma assembleia comunitária, o Museu Indígena Ulupuwene (MIU). O MIU se inspira na filosofia do ecomuseu (museu liderado pela comunidade e focado em abordagens integradas dos patrimônios natural e cultural) e nas ideias da Museologia Social (museu é antes de tudo os modos de pensar e praticar a preservação dos patrimônios e memórias, e não apenas um edifício) e na espiritualidade wauja (cura, generosidade, alegria, festas e proteção das crianças). Além do objetivo de apoiar a preservação dos patrimônios naturais e culturais wauja, o MIU tem o objetivo de criar pontes de diálogo e trocas entre a aldeia Ulupuwene e os museus mencionados. Essa comunicação aborda os problemas éticos e práticos em torno da guarda das coleções wauja, sua insuficiente curadoria por esses museus e os desafios de estabelecer trocas sistemáticas e simétricas entre os Wauja e as várias instituições guardiãs.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Museu-vídeo, museu-professor: reflexões sobre museu indígena a partir da experiência no Rio Mapuera
Camila Pereira Jácome (UFOPA), Roque Yaxikma Waiwai (APITMA)
Resumo: Neste trabalho apresentamos os primeiros resultados de um projeto para reflexão e proposição de um museu indigena no Rio Mapuera, situado entre duas terras indígenas, a Nhamundá-Mapuera e Trombetas-Mapuera. Essas terras indígenas tem distintos e inúmeros povos, incluindo Wai Wai, Parukwoto, Katwena, Hixkaryana, Tunayana, Txikiyana, Mawayana, Xerew, Karafawyana, entre outros. Essa iniciativa partiu de uma discussão colocada pelos indígenas para os pesquisadores da arqueologia e antropologia, sobre o desejo de se fazer um museu indigena. Atualmente existe um número crescente de jovens indígenas cursando a Universidade, na graduação e pós-graduação, e sobretudo entre aqueles que cursaram Arqueologia e Antropologia, a reflexão sobre o museu ganhou se ampliou. Conceitos como valorização/preservação da cultura, memória e patrimônio, são frequentemente chamadas neste debate tanto pelos que cursam a universidade, como por pessoas que vivem nas aldeias. Paralelamente a isso, muito recentemente, outras instituições brasileiras e estrangeiras têm desenvolvidos projetos com indígenas dessa região, que lidam com o tema do patrimônio, repatriação digital e qualificação de acervos já existentes. Neste trabalho, iremos apresentar alguns dos resultados do projeto Nos caminhos da cultura”: diálogos sobre museu e patrimônio cultural dos povos indígenas do Trombetas, cujo objetivo principal era o de delinear uma proposta de plano de museu indígena. A metodologia proposta foi de oficina, com aulas e dinâmicas de grupo, para orientar e qualificar o debate entre os pesquisadores indígenas e não indígenas, e as pessoas participantes das aldeias. A oficina ocorreu na Aldeia Inajá, em 2023, com a participação de 90 pessoas, que vieram das 17 aldeias do rio Mapuera. As atividades da oficina foram orientadas pelos seguintes eixos: O que é Museu?; Museus sobre indígenas e museus indígenas; Acervos dos Povos Indígenas dos rios Mapuera e Trombetas (e região) nos Museus do Brasil e outros Países. As dinâmicas em grupos trouxeram grande diversidade expressadas nas falas dos participantes sobre conhecimentos, técnicas e objetos que deveriam ser inclusos no museu do Mapuera. As falas também destacaram que além da exposição dos objetos em si, é fundamental e igualmente importante, registrar a ação e a performance do conhecimento. Nessa perspectiva, os indígenas que participaram da oficina veem o museu não como um espaço estático, mas onde eventos ocorrem e devem ser registrados. Podemos apontar, a partir de trechos de falas, que o museu é como gravar um vídeo, onde aquilo que se registra/guarda é passível de ser visto e revisto, assim como, também pode exercer o papel de professor, presentificando o passado, mas também propondo sua continuidade no futuro para as novas gerações.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Presença e colaboração Karajá. Uma abordagem à receptividade karajá a um projeto de repatriação digital.
Daiane Chiara de Souza Mendes (UFOPA)
Resumo: Pretendo nesta comunicação descrever o envolvimento dos indígenas karajá com o Projeto Presença Karajá. Trata-se de um projeto iniciado em 2017 por iniciativa de Manuelina Duarte (UFG) que tem por objetivo mapear, identificar e analisar coleções de Ritxoko (as famosas bonecas Karajá”), que estão presentes em diversos museus brasileiros e estrangeiros. O objetivo final é promover uma repatriação digital delas através de plataformas virtuais de exposição. Baseado em contatos com pesquisadores, museus e representantes do povo Karajá tal projeto constrói uma verdadeira rede de informações das coleções encontradas nesses museus. Meu trabalho se baseia na experiência junto aos colegas indígenas que são membros do projeto, bem como em uma experiência etnográfica no município de Santa Maria das Barreiras (aldeias Santo Antônio e Maranduba), numa oficina de fazer Ritxoko. Tal oficina integrava o I Simpósio da Educação na Cultura Karajá (outubro de 2023) de iniciativa da prefeitura local. Na comunicação que proponho pretendo demonstrar a boa receptividade dos Karajá às iniciativas de repatriação digital. Tanto da parte daqueles que se envolveram como membros do projeto quanto da parte dos Karajá das aldeias de Sta Ma. Das Barreiras que, por processos históricos, ficaram à parte das iniciativas de projetos que alcançam as grandes aldeias da Ilha do Bananal. As participantes da oficina promovida em Sta Maria das Barreiras mostraram considerável interesse em aprender a confecção, não apenas em termos de um aludido resgate cultural mas também como extensão de suas redes de conexão, seja com outras aldeias, seja com aliados tori (não-índio).

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Os caminhos do Museu Apyãwa: um processo de musealização em curso
Elizabeth de Paula Pissolato (UFJF), Koria Valdvane Tapirapé (UFG), Ana Guggenheim Nunes Coutinho (PPGAS-Museu Nacional), Pedro Henrique Oliveira Reis Teixeira (Escola Estadual)
Resumo: Os Apyãwa/Tapirapé, povo tupi-guarani que vive no estado de Mato Grosso, Brasil, vêm se organizando para construir um museu em seu território na região da Serra do Urubu Branco. Trata-se de um sonho antigo, que se fortalece junto com uma série de retomadas apyãwa: o antigo território, o retorno das festas da tarywa (ciclo ritual anual), a escola própria, o fortalecimento da língua e da pesquisa apyãwa. O percurso da musealização apyãwa passa pelo encontro, em diferentes momentos desde os anos 1970, com pesquisadores antropólogos que lhes visitaram e pela visita de mestres e lideranças do povo a museus etnográficos nos Estados Unidos e na França. Isto simultaneamente à formação crescente de pesquisadores e pesquisadoras apyãwa através da escola e em cursos de graduação e pós-graduação universitários. Desde 2019, a partir de processo colaborativo entre o povo Apyãwa e a UFJF (contando também com colaboradoras da UFRJ) elaboramos um projeto para a edificação do museu (conforme demanda inicial das lideranças apyãwa) ao mesmo tempo que realizamos conversas e reflexões voltadas à musealização apyãwa. Como equipe de antropologia do projeto, desenvolvemos recentemente oficinas com professores e pesquisadores apyãwa para a escuta da experiência de outros povos indígenas, como os Kaninde e os Tikuna, na feitura de seus museus e nos inserimos nos debates da Rede Indígena de Memória e Musealização Social. Submetemos a presente proposta ao GT com intenção de trazer os desafios que temos encontrado na busca de caminhos para a construção da gestão apyãwa tanto dos acervos que irão compor o museu na aldeia de Tapi'itawa quanto dos objetos apyãwa que hoje habitam instituições museológicas no Brasil e no exterior.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Alguns sentidos possíveis de uma coleção entre os Rikbaktsa: uma reflexão comparativa sobre os atos de colecionar entre indígenas e estrangeiros
Gabrielle Cardoso Meneses (UFRJ)
Resumo: No artigo Mismatches: Museums, Anthropology and Amazonia (2021), a antropóloga Anne-Christine Taylor chama atenção para o descompasso entre a concepção ocidental de coleção e as concepções indígenas sobre os atos de colecionar. Segundo Taylor, há uma incompatibilidade entre o modo como os museus ordenam os objetos e as ideias indígenas sobre o que constitui um conjunto e sua variação interna. De que forma o que essas populações entendem por agrupar, compilar, enfim, colecionar poderia perturbar a nossa definição dessa prática e oferecer novos caminhos para os museus com acervos etnográficos? Partindo desse problema, esta comunicação pretende explorar etnograficamente como os Rikbaktsa, um povo de língua Macro-Jê da Amazônia, pensam as suas coleções na aldeia e as comparam com alguns itens colecionados pelos brancos. Os artesãos rikbaktsa têm um interesse particular em colecionar penas de aves, dedicando, cotidiana e ritualmente, uma atenção minuciosa à variação cromática delas e a maneira mais eficaz de conservá-las. Apesar das comparações cotidianas, é no contexto onírico que podemos perceber com maior clareza de que modo essa população confronta suas coleções na aldeia com alguns artigos colecionados pelos brancos. Os Rikbaktsa possuem uma teoria interpretativa dos sonhos em que cada objeto onírico é interpretado como duplo de um animal específico. Sonhar com a pena da asa de uma harpia, por exemplo, é presságio de encontro com o espectro de um morto dentro do corpo de uma cobra surucucu. A relação entre o item sonhado e o provável executor da agressão é sempre baseada na semelhança entre a morfologia do primeiro e um aspecto físico do segundo. O interessante é que dentro do esquema interpretativo dos sonhos no qual penas e outros itens figuram enquanto algoz, fora incorporado também alguns objetos vindos dos brancos, tais como agulha, dinheiro e anzol; interpretados igualmente enquanto duplos oníricos de animais perigosos. Esses artigos estrangeiros são obtidos em quantidade e as pessoas os guardam, assim como fazem com as penas. Diante desse cenário, pergunto-me: o que permite que os Rikbaktsa estabeleçam uma correspondência onírica entre os itens quantificáveis dos brancos e suas coleções de penas? Por que são exclusivamente artigos que não existem se não vinculados a ideia de conjunto aqueles que possuem agência nos sonhos? Mais além: como o sentido que os Rikbaktsa atribuem ao ato de colecionar pode alargar e problematizar nossa própria concepção desse ato? Por fim, procurarei explorar de que modo tal sensibilidade aos atos de colecionar inflete no desenvolvimento da autonomia patrimonial e cultural dessa população, em como eles observam positiva, mas criticamente seus objetos em coleções de museus brasileiros e estrangeiros.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Da multiplicidade de vozes em uma pesquisa colaborativa
Helena Moreira Schiel (UFOPA)
Resumo: Nesta comunicação pretendo disuctir a receptividade indigena a um projeto que tinha por interesse pesquisar objetos indígenas sulamericanos em um museu etnológico alemão (Museu 5 Kontinente de Munique) afim de fazer uma espécie de repatriação digital”. Trata-se de um museu etnológico fundado em 1862. A pesquisa se voltava para as coleções de um biólogo alemão, Ernst Fittkau, que morou três anos no Brasil e levantou vasta coleção de objetos indígenas. A ideia inicial era fazer um levantamento dos objetos coletados por Fittkau que fossem do interesse de alguns grupos indígenas que eu pretendia alcançar. A resposta indígena à abordagem demonstrou um interesse enorme e implicou em uma ampliação do foco (não mais apenas em Fittkau mas em toda a coleção) e demonstrou um interesse bastante profundo nos objetos que estavam ali armazenados. Nossa análise irá abordar a receptividade dos representantes indígenas e seu interesse nos acervos. Tal como mencionado por Glenn Penny (2021), a perspectiva indígena atual é muito mais próxima daquela que animava o espírito salvacionista dos primeiros museus alemães, segundo a visão de mundo que apregoava Adolf Bastian, o fundador do museu de etnologia de Berlim. A presença de numerosos objetos, ou objetos mais antigos salvaguardados em instituições incentiva os indígenas a buscar o que faziam seus antepassados. Bibliografia PENNY, Glenn. 2021 In Humboldt’s shadow : a tragic history of German ethnology. New Jersey : Princeton University Press

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Arquivos de povos indígenas: vislumbres e caminhos para o apoio à gestão autônoma
Luísa Valentini (USP)
Resumo: Quando se fala em memória dos povos indígenas, se pensa imediatamente em práticas tradicionais de transmissão de conhecimentos, em projetos culturais, ou então, em documentação que é do seu interesse e foi produzida por pesquisadores ou instituições que trabalham junto a eles. Apesar disso, já faz várias décadas que os povos indígenas no Brasil produzem e reúnem conjuntos documentais diversos, produzidos por eles próprios: famílias e casas têm documentação pessoal guardada; associações indígenas têm suas memórias; escolas indígenas também produzem documentação. Essa memória documental é percebida contemporaneamente por lideranças, professoras e professores, e pela juventude indígena como um recurso a mais para o fortalecimento intergeracional na construção da vida cotidiana, e da garantia dos direitos à memória e à cultura, à educação escolar diferenciada e o direito fundiário. Os documentos produzidos em contextos indígenas podem ser encontrados em papel, em fitas cassete e em formato digital variado. Eles também podem estar distribuídos em redes de parentesco, de aliança política, de colaboração em pesquisa, e mesmo sob a custódia compartilhada de instituições. Como construir uma gestão autônoma desse material, garantindo a sua preservação para gerações futuras e ao mesmo tempo de modo respeitoso à sensibilidade e ao cotidiano de cada povo e cada comunidade? A apresentação será feita de modo a compartilhar questões técnicas, de direitos e políticas, e construir uma conversa com os participantes do GT.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Inventário dos patrimônios materiais e imateriais da aldeia Ulupuwene: construindo uma museologia indígena no Alto Xingu
Willis Kapulupi Yawalapiti Waurá (UFG)
Resumo: Desde a criação Museu Indígena Ulupuwene (MIU) em abril de 2023 pela comunidade da aldeia Ulupuwene, um grupo de jovens pesquisadores indígenas tem se dedicado a elaborar o inventário dos patrimônios materiais e imateriais do povo Wauja dessa aldeia. Esse trabalho, orientado pelo antropólogo Autaki Waurá e pelo museólogo Aris Barcelos Neto, e liderado na aldeia por Wajamani Waurá é guiado pelas seguintes questões: 1 Qual é o item patrimonial material (cultural ou natural) ou imaterial dessa pesquisa?; 2. Há outros itens patrimoniais diretamente relacionados ao item patrimonial em foco e quem está responsável pela sua pesquisa?; 3. Em que mitos (aunaki) e outras narrativas esse item patrimonial é mencionado?; 4. Que pessoas tem conhecimentos sobre como fazer, usar e expressar (ou seja, dançar, cantar, tocar, narrar) esse item patrimonial?; 5. Quem são as pessoas que estão ensinando e aprendendo sobre esse item patrimonial?; 6. Quantos objetos representativos desse item patrimonial existem na aldeia?; 7. Onde esse tipo de item patrimonial é encontrado no território wauja?; 8. É um item patrimonial considerado com risco de perda?; 9. Como esse item patrimonial é entendido e conhecido por pessoas de diferentes gerações?; e 10. Qual seria o modo mais adequado para preservar esse item patrimonial? Essa comunicação apresenta os resultados parciais desse trabalho.