ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 076: Antropologia nos Museus: coleções etnográficas, detentores e artistas
Cuidar do passado para imaginar o futuro: práticas de curadoria e trocas de saberes no Museu Indígena Anízia Maria do Povo Tabajara e Tapuio, Nazaré Lagoa de São Francisco (Piauí)
Discussões e ações entorno da chamada museologia indígena existem no Brasil desde o começo da década de 1990 lembramos as experiências pioneiras do museu Magüta do povo Tikuna no estado de Amazonas (1991) e do Museu Kanindé do povo Kanindé no estado do Ceará (1995). No Estado do Piauí, o primeiro grupo indígena a se apropriar da estrutura e do conceito de museu como instrumento para apoiar o processo de rearticulação de sua própria memória foi o povo Tabajara e Tapuio-Itamaraty da comunidade Nazaré (Lagoa de São Francisco). Em 2016, após a participação no II Fórum de Museus Indígenas no Brasil organizado pela Rede de Memória e Museologia Social, algumas famílias da comunidade decidiram criar seu próprio museu: o Museu Indígena Anízia Maria. Na mesma ocasião, Nazaré foi indicada para sediar a terceira edição do Fórum em 2017. A partir desses dois momentos o museu ganhou uma importância sempre maior como instrumento físico e conceitual para apoiar o fortalecimento da identidade indígena e de reivindicação dos direitos políticos, tanto dentro da comunidade quanto em relação à sociedade não indígena. Este processo culminou na criação, no ano de 2023, do Museu dos Povos Indígenas do Piauí (MUPI), cuia construção foi financiada pelo governo do estado depois de anos em que os representantes do movimento indígena passaram a solicitar uma estrutura mais ampla e melhor equipada. Apesar de ter suas problemáticas e contradições, o MUPI representa um sucesso em termos de visibilidade e reconhecimento no espaço público. Sobretudo, com ele foi institucionalizado um aspecto que tem caracterizado a trajetória do Museu Indígena Anízia Maria desde a sua primeira fundação, ou seja, a presença da juventude indígena na gestão dos espaços do museu e na organização das atividades a ele relacionadas. Objetivo desta apresentação é justamente repercorrer a atuação do grupo de jovens no museu, a fim de demonstrar a centralidade deles na articulação de uma experiência indígena Tabajara e Tapuio contemporânea. O diálogo intergeracional que se constrói entorno dos objetos guardados no museu e dos saberes tradicionais que eles representam e que são prerrogativa de adultos e idosos faz com que não apenas a memória seja mantida viva, mas que o mesmo conceito de curadoria seja sujeito a repensamentos. No contexto museológico do Museu Anízia Maria antes, e do MUPI agora, curar as coleções toma um duplo sentido: por um lado, cuidar da memória e da história da comunidade em vista de um futuro em que o desejo de dar continuidade ao legado dos ancestrais indígenas seja respeitado; por outro, produzir narrativas contra hegemônicas que, ao se opor aos clássicos estereótipos sobre os povos indígenas, curem a epistemologia ocidental da colonialidade de que está imbuída.