Grupos de Trabalho (GT)
GT 087: Práticas espirituais na África e nas Américas
Coordenação
Clara Mariani Flaksman (UFRJ), Miriam Cristina Marcilio Rabelo (Docente)
Resumo:
O objetivo deste GT é dar continuidade às discussões que vêm sendo feitas tendo como base o contraponto etnográfico entre as duas abordagens clássicas da antropologia dos povos afro-americanos, geralmente divididas entre um determinismo cultural - que considera as características sócio-culturais originais africanas como condicionantes das realidades destes coletivos -; ou um determinismo histórico - que afirmaria que são as condições dos novos contextos circunvizinhos os principais responsáveis pelo desenvolvimento contemporâneo dessas manifestações. Assim, o GT visa colocar em comunicação casos etnográficos estudados tanto em diferentes partes do continente americano quanto no continente africano, permitindo assim ao grupo de trabalho articular conexões tanto entre práticas religiosas quanto entre coletivos de matriz africana. Serão privilegiadas propostas que empreendam reflexões etnográficas sobre os modos pelos quais estas práticas instauram e são instauradas por meios “eto-ecológicos”, ou seja, meios nos quais a constituição do ser não pode ser desligada das relações que este estabelece com o ambiente e com os outros seres que o povoam.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Luísa Nardin Rezende de Abreu (UFMG)
Resumo: Nesse artigo pretendo contar sobre os primeiros meses da minha pesquisa etnográfica em um terreiro de
candomblé, o espaço em análise é conhecido como Ilê Asè Sòpònnòn e está inserido na tradição de vertente
Nagô. Sua localização é na região do bairro Paraíso, na cidade de Belo Horizonte, MG. O Babalòrìsá do Ilê é
Eduardo de Omolú, reside com sua esposa, sua filha e seu neto em uma casa anexa ao terreiro. Segundo meus
interlocutores a identificação dos terreiros de matriz africana não segue os padrões convencionais de placas
ou indicadores facilmente identificáveis aos de fora. Geralmente, a inserção nesses locais se dá por meio de
um convite dos membros da comunidade. Nas conversas sobre a localização das casas de santo em Belo
Horizonte, os membros da casa de Eduardo de Omolú destacam que os terreiros costumam ser discretos e
situam-se em locais sem placas ostensivas que indiquem templo de candomblé. Em outras palavras, eles
explicam os terreiros encontram-se em lugares escondidos evidenciando uma ecologia resistente dentro da
capital mineira. Diante disso, tenho buscado, por meio da experiência etnográfica, também descrever os
caminhos, isto é, movimentos percorridos pelo grupo dentro e fora do terreiro. Tenho a sensação de que, para
os integrantes do Ilê, é muito importante que eu me envolva plenamente no processo do candomblé. Como
pesquisadora e, simultaneamente, como Abiyán, cabendo a mim observar e participar ativamente, assumindo o
papel de filha da casa que está se iniciando, mas também escrevendo. Portanto, o Ilê Asè Sòpònnòn se revela
para mim como um espaço a ser conhecido, uma casa escondida que se difere significativamente das inúmeras
que já tive a oportunidade de habitar ao longo da vida. Por fim, como destacou Strathern (2014), todo
conhecimento é um auto-conhecimento, e a busca pelo entendimento do outro frequentemente carrega consigo
uma busca de autocompreensão.
Palavras chaves: Ilê Asè Sòpònnòn, esconderijo, movimento.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ana Rizek Sheldon (não)
Resumo: Boiadeiro Menino de Vizaura é o caboclo de um pai de santo e artista do samba de Salvador. A primeira
vez que o caboclo se apresentou foi numa sessão de mesa branca antes da iniciação do atual babalorixá. Na
ocasião, a presença de boiadeiro foi notada através da imagem de um chapéu de couro vista dentro de um copo
dágua pelas lideranças espirituais que acompanhavam o futuro pai de santo quando adolescente. Mesmo sendo
um caboclo apresentado numa sessão de mesa branca, Boiadeiro Menino de Vizaura conduz as festas dedicadas ao
Exu da casa, mantendo com essas entidades uma relação de amizade e respeito. De acordo com o sacerdote,
Boiadeiro sempre reverencia os Exus como mestres, porque são eles mestres do movimento. Gestos corporais,
deslocamentos e fluxos estão reunidos na noção de movimento. Este trabalho parte das colocações de Boiadeiro
Menino de Vizaura para discutir as especificidades das noções de movimento e as implicações de uma concepção
situada dessas noções nas relações decorrentes das práticas destas entidades através de situações ocorridas
em terreiros candomblés de Salvador.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bianca Zacarias França (UFMG)
Resumo: Esta pesquisa é resultado de um trabalho etnográfico que se iniciou no ano de 2014, com o Templo
Universalista e Espiritualista Solar TUÉS, terreiro de Umbanda Esotérica parceiro deste empreendimento. O
objetivo é compreender como uma cosmologia tão múltipla, definida pelos umbandistas como afrouniversalista,
atravessa a composição e a topologia de forças de territórios, como o terreiro e o corpo, que são
polarizados pelo gênero, como um organizador ritual, e povoados por seres outros. Exu e o tempo aparecem
como grandes promotores de encontros que cruzam os caminhos linhas de força biográfica dos/das médiuns
com o terreiro, com seus guias, com a cidade, com o mundo, que, no limite, é um grande terreiro-território.
Mostrando-nos que nem tudo que se ajunta se mistura, o estilo pluralista ou politeísta parece dar o tom da
arte de unir a diferença sem se acabar com heterogeneidade nem perder seu pertencimento umbandista. A matriz
afro aqui é entendida como uma perspectiva transformacional, sugerindo que todas as linhas podem fazer parte
de um contínuo heterogêneo e o "universalismo", nesse contexto, não se apresenta como algo
desterritorializante ou universalizante. Esse conceito (afrouniversalismo) funciona como um cavalo de santo
e é ocupado e incorporado por uma perspectiva cosmológica que pode ser aproximada ao que José Carlos dos
Anjos (2006) chama de encruzilhada, se afastando do que superficialmente possa se pensar sobre sincretismo e
mistura de religiosidades diferentes. Pelo contrário, é uma forma de pensar diferenças sem apaga-las ou cair
na mera fusão, o que será pormenorizado ao longo de todo o artigo. As diferentes linhas, entidades e
deidades não são essências identitárias pertencentes a indivíduos, mas territórios simbólicos de
intensidades diversas, passíveis de serem percorridos por multiplicidades de raças e indivíduos (Dos Anjos,
2006, p. 22). Dessa maneira, no terreiro, existem percursos nômades e não-essencializados que não são nem
considerados na arena da identidade nacional (Dos Anjos, 2006).
O terreiro, antes de tudo, é um lugar naturalmente dado aos encontros, e seus habitantes médiuns,
exus/pombagiras, caboclos/caboclas, pretos velhos/pretas velhas, crianças, seres extraterrenos, seres
intraterrenos, seres da natureza são especialistas em uma política cósmica da diferença entre mundos
múltiplos, divergentes e, por vezes, perigosos. Esses seres outros também estão em movimento,
modificando-se, criando sua própria história de vida e, de alguma forma, sendo coetâneos a nós, compondo uma
epistemologia umbandista, que é complexa, reflexiva, formadora de conceitos, teoria, práticas e ontologias
nativas que não são apenas boas para pensar.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Conceição de Maria Teixeira Lima (UFMA)
Resumo: Neste trabalho descrevo experiências e narrativas de brincantes do terecô uma religião de matriz
africana - que não têm ligações fixas ou vínculos oficiais com uma tenda. Nesse contexto, as tendas são os
espaços nos quais se realizam diversas obrigações com as entidades, como festejos, sessões e atendimentos às
pessoas que buscam por conselhos e outros tipos de ajuda. Estes locais são chefiados por um pai ou mãe de
santo, e formados por seus filhos e filhas, e por uma diretoria (secretários e diretores responsáveis por
questões de ordem financeira e de comunicação). Apesar da centralidade das tendas na vida de um brincante
(terecozeiro ou baiador) nem todos têm vínculos unívocos ou contínuos com elas. Algumas dessas ligações não
remetem a lógicas fixas e duradouras, indicando que muitos dos terecozeiros que dançam em certas tendas em
período de festa não necessariamente se identificam como pertencendo a elas. Nos contextos de pagamento de
visita que uma espécie de dádiva e contradádiva entre tendas, que retribuem as presenças em suas festas -
é possível encontrar dessas brincantes que circulam. Uma delas é Diva, uma senhora de quase 60 anos, que se
destaca ao chegar nas tendas já posta com suas vestes de dançante. Sempre cumprimentando a todos de forma
muito simpática, conta que já andou muitas distâncias para baiar ou dançar terecô. Segundo ela, suas
entidades (encantados ou guias) até deixam passar a tenda, mas a dança, não!. A partir de uma etnografia de
sua história e de outras duas mulheres, pretendo analisar experiências de criação de vínculos com as
entidades e com os lugares que não passam necessariamente pela ação de assentar a entidade ou a pessoa em
uma tenda específica, mas que são tecidas a partir de percursos tanto das entidades quanto das pessoas.
Busco, assim, refletir sobre cuidados, vínculos e itinerários que não remetem à relação tenda e seu
respectivo pais e mães de santo, mas colocam em primeiro plano a relação da pessoa com a entidade.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Elio Pereira Fernandes (NEAB/UFES), Maria Sampaio do Nascimento (Pesquisadora)
Resumo: Resumo:
O intuito deste trabalho é analisar a trajetória de vida de uma mãe de santo no município de Vila Velha/ES.
Compreendendo que nem sempre é tranquilo o processo de decidir o rumo em nossas vidas. Foi a partir das
narrativas da Mãe Lis que entendemos sua atitude em abrir mão de sua carreira profissional, ao optar pela
vida religiosa, dedicando-se aos seus filhos/as e à sua comunidade religiosa afirmando o seu pertencimento
ao Candomblé, e mantendo em sua casa o culto a Umbanda em memoria a raiz espiritual de seu genitor. Mesmo
com tentativas de silenciá-la por conta de suas práticas religiosas de matrizes africanas, como oferendas em
lugares sagrados, pelos toques dos tambores e cânticos homenageando aos orixás, essa mulher tornou-se vítima
do racismo religioso. Portanto, nunca permitiu as tentativas de apagamento feitas por parte dos intolerantes
ao legado e às memórias deixados pelo seu pai biológico e pelo seu pai de santo.
Palavras-Chaves: Memórias; Candomblé e Umbanda; Racismo Religioso.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Greilson José de Lima (UEMA)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo compreender os elementos políticos e legais que envolvem os povos de
terreiro e as questões ambientais, direitos territoriais e seus espaços sagrados. Teremos como analise as
estratégias dos povos de terreiro, coletivos e representantes do governo do Estado do Maranhão, no processo
de patrimonialização do terreiro do Egito, localizado na Zona Rural de da Capital São Luís. É importante
ressaltar que o terreiro do Egito é um dos mais antigos do estado não é uma ruína de um terreiro construindo
de alvenaria, suas relações com a memória dos povos de terreiro não se limita a noção de patrimônio de pedra
e cal, ele é parte de um território sagrado, de encantaria ou de encantes. O terreiro do Egito, teve muitos
filhos de santo, diferente de outas casa de tambor de mina tradicional, iniciando vários homens na religião,
foi fundado por uma africana e é localizado no topo de uma elevação, seu espaço é composto por várias
árvores de cajueiro, marcando uma espacialidade, um tipo de abrigo. Desde 2014, o terreiro ganha
notoriedade por conta do conflito na Vila Cajueiro, onde se pretendia a construção de um porto comercial.
Essa ação resultou na retirada forçada de moradores da reserva. Por conta desde fato as negociações entre o
governo no estado, lideranças de terreiros e a comunidade de pescadores e extrativistas ganha novos rumos
que iremos discutir.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Jérôme Souty (UERJ)
Resumo: Como os grandes deuses fitomorfos africanos, as divindades-arvores [a família Loko/Iroko/Tempo],
conseguiram atravessar o Atlântico e se implantaram nas Américas e ilhas do Caribe? Nesse processo
diaspórico, o que mais importa ao final: a qualidade da energia/vibração/força que caracteriza a divindade
africana ou o tipo de árvore na qual esta pôde se (re)encarnar no Novo Mundo? Como essas duas dimensões se
articulam? E porquê, no Brasil, a (quase) totalidade das árvores-suportes dessas divindades são figueiras
(género fícus, família moraceae) - e não somente a gameleira branca, como muito se diz - ? Tentaremos
responder a essas perguntas.
Nossa pesquisa começou com investigações etnográficas em torno do orixá Iroko, do vodun Loko, do inquice
Tempo, no Brasil (em alguns terreiros de candomblé do Rio de Janeiro, focalizando alguns adeptos/líderes
religiosos ligados a essas divindades).
Mas também foi necessária uma outra abordagem (ligada à uma antropologia dos sentidos e das emoções, à uma
antropologia simbólica, à etnobotânica): levar a sério as grandes figueiras, observando-as por si mesmas e
nas suas interações com seus ambientes, em áreas florestais, rurais e urbanas, em vários contextos (não
apenas religiosos).
Isso nos levou a perceber as grandes figueiras tropicais sagradas (no Brasil, na África e além), como abrigo
multi-espécies (vegetais, animais, humanos, divindades e entidades), como dispositivo para proteger e
favorecer formas de vidas colaborativas, e como paisagem.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Kauã de Vasconcelos Favilla da Silva (UFRJ)
Resumo: Um verdadeiro pajé é aquele que cura. Retomando esse ritornelo posto para mim por praticantes da
encantaria na cidade de Soure, na Ilha de Marajó (PA), busco nesse texto, em um primeiro momento, pensar as
relações entre práticas de cura e seu lugar nas religiões de matriz africana e afroindígenas. Em seguida,
uma abordagem mais situada de uma experiência curativa de um pajé no Marajó durante meu campo de doutorado,
em 2022. Por fim gostaria de pensar a cura da terra se somando a outras vozes que fazem ressoar esse grito
dos encantados, como no caso dos tupinambás da Serra do Padeiro, na retomada de seu território (ver Ubinger
2012; Alarcon 2020), ou na mensagem da preta velha vovó Mariana, do terreiro estudado por Bianca Arruda em
Belmonte (Soares 2014), de que é preciso limpar essa terra manchada de sangue, marcada pela violência da
ocupação colonial. De que maneira a cura nas religiões de matriz africana e afroindígenas, ao estender para
a T(t)erra (Coelho de Souza 2016) os processos de recomposição dos seres (compostos de corpo-terra), nos
possibilita pensar as relações etoecológicas da vida que emergem desses meios? E de que forma essa
singularidade do pajé, que encontra sua verdade na cura (sua verdade sincera como me disse uma pajé em
Soure), nos devolve uma outra imagem, mais pragmática, de processos antes lidos na chave da representação
simbólica por uma certa antropologia dessas experiências religiosas?
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lânia Mara Silva (UFMG)
Resumo: Pretendo discutir, através de referências bibliográficas e através de relatos
recolhidos em diferentes situações dentro do terreiro, como a relação com as entidades em um terreiro de
umbanda promove novos e distintos agenciamentos para a pessoa, modos de acompanhamento e de se estar
acompanhado, propulsionando modos de agir em que o sujeito da ação se dá em uma composição "eu-entidade".
Acredito que a noção de
vontade será importante para se compreender alguns casos trazidos aqui. Conforme os relatos a serem
apresentados, será possível pensar que eu tenho vontades e necessidades e aqueles que me acompanham tem
vontades e
necessidades e isso elabora um complexo de situações em que essas vontades e
necessidades se conciliam, mas também se confrontam, promovendo, por vezes, um encadeamento de alterações no
próprio corpo e na própria vida da pessoa. Pretendo também discutir as implicações dessa relação em via
dupla, em que os encadeamentos também ocorrem para as entidades e orixás, através do ato de assentar o santo
e da noção de 'exu batizado'.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Lior Zisman Zalis (Centro de Estudos Sociais)
Resumo: Este trabalho parte de uma pesquisa etnográfica realizada no município de Codó, interior do Maranhão,
junto aos praticantes do terecô, religião de matriz africana brasileira, e os encantados, entidades que os
acompanham. Nele pretendo explorar a noção de força sobre os corpos e territórios articuladas pelos
interlocutores através das categorias cair e tombo, presente nas narrativas do passado da religião e também
no presente da sua prática na cidade.
Codó é conhecida na literatura antropológica como "terra de encantaria" e lugar de origem do terecô, também
chamado de tambor da mata. As matas desse território são moradas da família de Légua, encantados chamados de
"povo de Codó". Eles descem em diferentes terreiros do Brasil evocando as matas de Codó em suas doutrinas,
carregando seus territórios para além dos limites da cidade. Através da relação entre os encantados, suas
matas e seus trânsitos, encontramos uma noção polissêmica de território. Tal mata não é só morada de
encantado, mas espaço sobre o qual exercem domínio e por isso, certa gestão de entradas e saídas,
autorização e autoridade, força e poder.
Para analisar a força da encantaria codoense, este trabalho busca tratar das histórias de resistência à
perseguição policial que os terecozeiros sofreram no passado. Naquele tempo driblava-se tal perseguição
através de um uso tático da força e saberes do terecô, acionados tanto pelos brincantes, quanto pelos
encantados. Os tambores eram tocados clandestinamente nas matas de coco babaçu sob a proteção dos
encantados, que fechavam os caminhos, despistando os agentes repressores e fazendo-os se perder. Caso
encontrassem o tambor, os encantados respondiam dando um "tombo", incorporando nos policiais, fazendo-os
cair e dançando em cima deles a noite toda. Esta incorporação responsiva trata de uma participação ativa das
entidades na resistência.
"Quis acabar com o terecô, mas acabou caindo nele" e "o tombo é para mostrar para eles que é de verdade essa
ciência", são frases que alguns interlocutores utilizam para falar do tempo da proibição. Elas tratam da
incorporação como resposta ou evidência, aludindo ao que os encantados são capazes de fazer não apenas nas
suas relações com àqueles que os recebem, mas também quando provocados. Centrando-me nas categorias cair e
tombo, explorarrei outras ressonâncias e sentidos da incorporação das entidades, seja no presente ou nos
processos de resistência histórica. Se o terecô venceu, como contou-me uma mãe de santo da cidade, é porque
nele se mobilizam noções específicas de poder, autoridade e força. Para compreender essa vitória, é preciso
pensar na agência das entidades que, junto aos seus cavalos, dinamizam formas próprias de luta, relação com
o território e dinâmicas comunitárias.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Luis Guillermo Meza Álvarez (UFRN)
Resumo: Espaço de atuação social, expressão organizacional e ponto de articulação de pautas contemporâneas de
coletivos afro-colombianos, o Kilombo Iré Arikú se propõe pautar, ampliar e integrar as concepções sobre
saúde/doença presente nas reglas ou religiões afro-cubanas na atenção em saúde para a população negra na
cidade de Bogotá, Colômbia. Nessas articulações convergem a resistência política, espiritual e antirracista
e são mobilizados referenciais libertários afro-latinos. Procuro descrever aqui os meios, as tensões e os
modos por meio dos quais o Kilombo procura posicionar uma perspectiva cosmológica que liga pessoas, seres
sobrenaturais, terras, regiões, política e luta antirracismo.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Priscilla Lessa de Mello (UFRJ)
Resumo: O trabalho buscará descrever etnograficamente alguns aspectos dos ritos funerários, doenças espirituais
e práticas de cura presentes em comunidades afromexicanas na Costa Chica de Guerrero e Oaxaca, no pacífico
mexicano, buscando compreender, em um primeiro momento, a relação entre os elementos constitutivos da
pessoa: a ânima, o tono e a sombra; e doenças como: susto ou espanto, ninañi, coraje, mal de ojo, aire,
empacho, a enfermidade do monte, entre outras. Depois, analisará dimensões cotidianas dos ritos funerários
presentes na região, para compreender o modo como vida e morte se entrelaçam e constituem um dos modos como
esta população seguiu em fuga de uma sociedade que ao longo dos séculos buscou reduzi-la à identidade
nacional. Desse modo, um dos objetivos da apresentação será compreender o modo como singularmente essa
população resistiu aos processos de assimilação e compôs alianças, seja com a população camponesa e indígena
da região, seja com outros seres: os animais, a terra, os rios e os mares, diablos e seus antepassados, e
hoje, desde a década de 1980, tece conexões com outros povos de matriz africana para retomar seu
pertencimento e relação com a diáspora e com a África.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Taisa Domiciano Castanha (UFBA)
Resumo: O texto parte da ideia de instauração presente na obra de Souriau (2015) e Latour (2019). Argumenta-se
que na quimbanda e na umbanda há formas de existir-junto, onde seres e pessoas se fazem através de
trajetórias emaranhadas. Busca-se discutir que os seres, quer sejam humanos ou entidades, não são prontos
antes da relação: eles se fazem na relação, no processo de instauração e não são fechados em si mesmos.
Através do trabalho de campo realizado entre 2019 e 2020 no Centro Espírita Estrela do Oriente, terreiro
localizado no norte de Minas Gerais, pretendo apresentar as entidades da umbanda e da quimbanda se fazendo
em trajetórias conjuntas, sendo a própria construção do terreiro derivada de um processo instaurativo. Nesse
processo de construção do terreiro, que se iniciou na década de 1950, Chico Preto, o pai-de-santo fundador,
fez experimentos, lidou com o erro e com a hesitação e se engajou para decifrar as vontades das forças e
entidades que residiam naquele local. Para finalizar, reflito sobre os limites dessas existências conjuntas.