Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 087: Práticas espirituais na África e nas Américas
Curar a T(t)erra: práticas de recomposição na encantaria
Um verdadeiro pajé é aquele que cura. Retomando esse ritornelo posto para mim por praticantes da
encantaria na cidade de Soure, na Ilha de Marajó (PA), busco nesse texto, em um primeiro momento, pensar as
relações entre práticas de cura e seu lugar nas religiões de matriz africana e afroindígenas. Em seguida,
uma abordagem mais situada de uma experiência curativa de um pajé no Marajó durante meu campo de doutorado,
em 2022. Por fim gostaria de pensar a cura da terra se somando a outras vozes que fazem ressoar esse grito
dos encantados, como no caso dos tupinambás da Serra do Padeiro, na retomada de seu território (ver Ubinger
2012; Alarcon 2020), ou na mensagem da preta velha vovó Mariana, do terreiro estudado por Bianca Arruda em
Belmonte (Soares 2014), de que é preciso limpar essa terra manchada de sangue, marcada pela violência da
ocupação colonial. De que maneira a cura nas religiões de matriz africana e afroindígenas, ao estender para
a T(t)erra (Coelho de Souza 2016) os processos de recomposição dos seres (compostos de corpo-terra), nos
possibilita pensar as relações etoecológicas da vida que emergem desses meios? E de que forma essa
singularidade do pajé, que encontra sua verdade na cura (sua verdade sincera como me disse uma pajé em
Soure), nos devolve uma outra imagem, mais pragmática, de processos antes lidos na chave da representação
simbólica por uma certa antropologia dessas experiências religiosas?
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA