Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 087: Práticas espirituais na África e nas Américas
Todo conhecimento é um auto conhecimento: sobre os primeiros dias em um terreiro de candomblé
Ana Luísa Nardin Rezende de Abreu (UFMG)
Nesse artigo pretendo contar sobre os primeiros meses da minha pesquisa etnográfica em um terreiro de
candomblé, o espaço em análise é conhecido como Ilê Asè Sòpònnòn e está inserido na tradição de vertente
Nagô. Sua localização é na região do bairro Paraíso, na cidade de Belo Horizonte, MG. O Babalòrìsá do Ilê é
Eduardo de Omolú, reside com sua esposa, sua filha e seu neto em uma casa anexa ao terreiro. Segundo meus
interlocutores a identificação dos terreiros de matriz africana não segue os padrões convencionais de placas
ou indicadores facilmente identificáveis aos de fora. Geralmente, a inserção nesses locais se dá por meio de
um convite dos membros da comunidade. Nas conversas sobre a localização das casas de santo em Belo
Horizonte, os membros da casa de Eduardo de Omolú destacam que os terreiros costumam ser discretos e
situam-se em locais sem placas ostensivas que indiquem templo de candomblé. Em outras palavras, eles
explicam os terreiros encontram-se em lugares escondidos evidenciando uma ecologia resistente dentro da
capital mineira. Diante disso, tenho buscado, por meio da experiência etnográfica, também descrever os
caminhos, isto é, movimentos percorridos pelo grupo dentro e fora do terreiro. Tenho a sensação de que, para
os integrantes do Ilê, é muito importante que eu me envolva plenamente no processo do candomblé. Como
pesquisadora e, simultaneamente, como Abiyán, cabendo a mim observar e participar ativamente, assumindo o
papel de filha da casa que está se iniciando, mas também escrevendo. Portanto, o Ilê Asè Sòpònnòn se revela
para mim como um espaço a ser conhecido, uma casa escondida que se difere significativamente das inúmeras
que já tive a oportunidade de habitar ao longo da vida. Por fim, como destacou Strathern (2014), todo
conhecimento é um auto-conhecimento, e a busca pelo entendimento do outro frequentemente carrega consigo
uma busca de autocompreensão.
Palavras chaves: Ilê Asè Sòpònnòn, esconderijo, movimento.