ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 087: Práticas espirituais na África e nas Américas
Umbanda Esotérica: afrouniversalismo, multiplicidade religiosa e o encontro entre diferentes e diferenças em um terreiro de Umbanda
Bianca Zacarias França (UFMG)
Esta pesquisa é resultado de um trabalho etnográfico que se iniciou no ano de 2014, com o Templo Universalista e Espiritualista Solar – TUÉS, terreiro de Umbanda Esotérica parceiro deste empreendimento. O objetivo é compreender como uma cosmologia tão múltipla, definida pelos umbandistas como afrouniversalista, atravessa a composição e a topologia de forças de territórios, como o terreiro e o corpo, que são polarizados pelo gênero, como um organizador ritual, e povoados por seres outros. Exu e o tempo aparecem como grandes promotores de encontros que cruzam os caminhos — linhas de força biográfica — dos/das médiuns com o terreiro, com seus guias, com a cidade, com o mundo, que, no limite, é um grande terreiro-território. Mostrando-nos que nem tudo que se ajunta se mistura, o estilo pluralista ou politeísta parece dar o tom da arte de unir a diferença sem se acabar com heterogeneidade nem perder seu pertencimento umbandista. A matriz afro aqui é entendida como uma perspectiva transformacional, sugerindo que todas as linhas podem fazer parte de um contínuo heterogêneo e o "universalismo", nesse contexto, não se apresenta como algo desterritorializante ou universalizante. Esse conceito (afrouniversalismo) funciona como um cavalo de santo e é ocupado e incorporado por uma perspectiva cosmológica que pode ser aproximada ao que José Carlos dos Anjos (2006) chama de encruzilhada, se afastando do que superficialmente possa se pensar sobre sincretismo e mistura de religiosidades diferentes. Pelo contrário, é uma forma de pensar diferenças sem apaga-las ou cair na mera fusão, o que será pormenorizado ao longo de todo o artigo. As diferentes linhas, entidades e deidades não são essências identitárias pertencentes a indivíduos, mas territórios simbólicos de intensidades diversas, passíveis de serem percorridos por multiplicidades de raças e indivíduos (Dos Anjos, 2006, p. 22). Dessa maneira, no terreiro, existem percursos nômades e não-essencializados que não são nem considerados na arena da identidade nacional (Dos Anjos, 2006). O terreiro, antes de tudo, é um lugar naturalmente dado aos encontros, e seus habitantes — médiuns, exus/pombagiras, caboclos/caboclas, pretos velhos/pretas velhas, crianças, seres extraterrenos, seres intraterrenos, seres da natureza — são especialistas em uma política cósmica da diferença entre mundos múltiplos, divergentes e, por vezes, perigosos. Esses seres outros também estão em movimento, modificando-se, criando sua própria história de vida e, de alguma forma, sendo coetâneos a nós, compondo uma epistemologia umbandista, que é complexa, reflexiva, formadora de conceitos, teoria, práticas e ontologias nativas que não são apenas boas para pensar”.