Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 087: Práticas espirituais na África e nas Américas
As divindades-árvores entre a África e o Novo Mundo. O que as figueiras tropicais têm?
Como os grandes deuses fitomorfos africanos, as divindades-arvores [a família Loko/Iroko/Tempo],
conseguiram atravessar o Atlântico e se implantaram nas Américas e ilhas do Caribe? Nesse processo
diaspórico, o que mais importa ao final: a qualidade da energia/vibração/força que caracteriza a divindade
africana ou o tipo de árvore na qual esta pôde se (re)encarnar no Novo Mundo? Como essas duas dimensões se
articulam? E porquê, no Brasil, a (quase) totalidade das árvores-suportes dessas divindades são figueiras
(género fícus, família moraceae) - e não somente a gameleira branca, como muito se diz - ? Tentaremos
responder a essas perguntas.
Nossa pesquisa começou com investigações etnográficas em torno do orixá Iroko, do vodun Loko, do inquice
Tempo, no Brasil (em alguns terreiros de candomblé do Rio de Janeiro, focalizando alguns adeptos/líderes
religiosos ligados a essas divindades).
Mas também foi necessária uma outra abordagem (ligada à uma antropologia dos sentidos e das emoções, à uma
antropologia simbólica, à etnobotânica): levar a sério as grandes figueiras, observando-as por si mesmas e
nas suas interações com seus ambientes, em áreas florestais, rurais e urbanas, em vários contextos (não
apenas religiosos).
Isso nos levou a perceber as grandes figueiras tropicais sagradas (no Brasil, na África e além), como abrigo
multi-espécies (vegetais, animais, humanos, divindades e entidades), como dispositivo para proteger e
favorecer formas de vidas colaborativas, e como paisagem.