ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 099: Técnica, Território e Práticas de Conhecimento
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Coordenação
Alessandro Roberto de Oliveira (UNB), Fabio Mura (UFPB)

Resumo:
Neste GT buscamos abordar as relações e transformações técnicas vivenciadas em diferentes contextos sócio-ecológico-territoriais. Nos interessa refletir sobre as dinâmicas de tradições de conhecimento locais e práticas de conhecimento em curso a partir de uma perspectiva da antropologia (mas em diálogo com outras áreas de saber), interessada nos processos técnicos, sem adesão a acercamentos tecnofilíacos nem tecnofóbicos. Serão bem-vindos trabalhos preferencialmente de caráter etnográfico que reflitam sobre a articulação entre processos técnicos e territoriais, através de aproximações teórico-metodológicas que apresentem avanços quanto a superação de determinados dualismos como natureza/cultura, material/imaterial ou sujeito/objeto. Nesse sentido, esperamos trabalhos que abordem intencionalidades e escolhas técnicas, cadeias operatórias, gestos e ritmos técnicos, a constituição de redes sociotécnicas, as relações com objetos técnicos e os processos de aprendizagem relacionados com diferentes concepções de território e modos de ação que configuram modos de vida e específicas organizações político-territoriais. Nos interessa também receber trabalhos que levem em conta o papel das técnicas e das relações ecológicas na geração de mapeamentos participativos e demais produções colaborativas que resultem da confluência entre preocupações acadêmicas e práticas de conhecimento locais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Relaciones de poder intra e interétnicas vinculados a la producción y circulación de artesanías indígenas en la provincia del Chaco, Argentina.
Ana Emilia Cao (CONICET)
Resumo: El presente trabajo indaga, mediante el método etnográfico, en las relaciones de poder intra e interétnicas vinculadas a la producción y circulación del trabajo (artesanal/artístico) de mujeres indígenas en torno a un conjunto de dispositivos: la Feria Artesanal Aborigen Chaqueña, su Concurso de Artesanías y el Museo Artesanal René J. Sotelo. Utilizamos la categoría nativa trabajo para referirnos a las producciones artesanales/artísticas realizadas por mujeres de los grupos étnicos qom, moqoit, wichi y shimpi/vilela. Se trata de la producción de alfarería, cestería en palma y totora y tejido en lana y chaguar; actividades que representan desde la década del 60’ una importante fuente de ingresos económicos para las mujeres indígenas y sus familias en la provincia del Chaco. El análisis que nos proponemos involucra el estudio de distintos niveles de agencia indígena en el despliegue de estrategias de negociación, resistencia y autonomización que se ponen en marcha a través de la producción y del intercambio de artesanías en el marco de un sistema de relaciones intra e interétnicas asimétricas. Nos enfocamos especialmente en las tensiones que se producen a partir de la intervención y la legitimación institucional (privada y estatal) atendiendo a los efectos de estas operaciones en la configuración de un campo específico para las artesanías indígenas que atraviesa una trama social caracterizada por la desigualdad. Este trabajo responde a una investigación que se inscribe en el paradigma interpretativo y despliega una estrategia metodológica de índole cualitativa que considera un enfoque analítico que atiende tanto a una dimensión macro-social de la realidad (que incluye procesos histórico-políticos) como a una micro-social, que centra su análisis en las relaciones sociales, los vínculos entre las personas y con/ mediante los objetos, sus acciones, valores e interpretaciones.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
As relações entre técnica e estética no registro rupestre: o caso do sítio Roça Nova, Camalaú, PB
Carlos Xavier de Azevedo Netto (UFPB)
Resumo: A tradição dos estudos arqueológicos acerca dos grafismos rupestres, a chamada Arte Rupestre, no território brasileiro não agrega os atributos estéticos aos atributos técnicos, encontrados nessas manifestações. Assim, a presente comunicação tem como objetivo apresentar as possibilidades relacionais entre as categorias de atributos apontados acima, fruto da pesquisa de pós-doutoramento, efetivada junto ao Programa de Pós-graduação em Arqueologia e Patrimônio Cultural sob a supervisão do Prof. Dr. Carlos Etchevarne. Par essa discussão optou-se por centrá-la nos casos observados no Sítio Roça Nova, onde foram identificadas somente pinturas na rocha, localizado no Município de Camalaú, Estado da Paraíba. Trata-se de um sítio localizado no semiárido paraibano, conhecido como Cariri Paraibano, formado por uma lâmina de rocha granítica, em 45°, resultando em uma parte abrigada, onde são executadas as pinturas, em vermelho, e suas tonalidades, com raros casos de amarelo. Foram observadas duas técnicas de aplicação das pinturas, digitado/espatulado, impressões e uso de pinceis”. Além dessas técnicas, foi vista a ocorrência de uma estratigrafia na estratégia de ocupação da superfície do suporte, onde o uso da digitação/espatulado e impressões ocupando a faixa superior e inferior da rocha, enquanto aqueles grafismos executados a partir do uso de pinceis encontram-se na parte intermediária. Quanto aos motivos representados, foi observado a ocorrência de motivos ligados à aves, em composição com geométricos, já nas faixas superior e inferior, os motivos são m ais variados, onde aparecem cervídeos, antropomorfos e geométricos, na faixa superior, mãos, com alterações, impressas, nas faixas superior e inferior. No tocante às cores, a predominância é o vermelhos e suas variedades para todo o sítios, para os casos de figuras em amarelo, estas ocorrem entre as figuras impressas de mãos, na faixa superior e de aves na faixa intermediária, Assim, pode-se constatar para esse sítio uma correlação entre as técnicas de digitação/espátula com motivos de maior amplitude (antropomorfos, cervídeos e geométricos), para a técnica de impressão, com alterações, correlacionada com a representação de mãos e o uso de pinceis”, para a representação de aves em sua faixa intermediária.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Nossa comunidade é artesã: identidade, territorialização e ambiente no Alto do Moura
Darllan Neves da Rocha (UFRJ)
Resumo: Reconhecida pelo Mestre Vitalino e como importante centro de artes figurativas do Brasil, a comunidade artesã do Alto do Moura (Caruaru/PE) se caracteriza pela atividade de manipulação da argila através de três tradições de conhecimentos e técnicas: os utensílios domésticos, os bonecos e as bonecas em barro. Assim, o sentido de comunidade está assentado através de dois aspectos: o conhecimento tradicional técnico e as vinculações na relação de parentesco. Entretanto, a comunidade vivencia o processo de patrimonialização do ofício dos artesãos e artesãs em barro e, durante a realização da pesquisa, o grupo artesão demandou o registro não apenas do ofício, mas também na categoria de lugar, fundamentado pela relação da comunidade com o processo de ocupação territorial. Para o caso apresentado importa ressaltar a dimensão ambiental na perspectiva da técnica, como noções de ambiente interno e ambiente externo desenvolvido por Lerói-Gourhan (1994) ao caracterizar ambiente técnico. O ambiente interno é formado pelo grupo técnico e a organização social, enquanto que o ambiente externo contempla as dimensões da natureza e a presença de outras sociedades, cujos produtos técnicos se interpõem entre ambos os ambientes. Neste sentido, a Mura e Silva (2011) propõem um enfoque processual aos estudos sociotécnicos, considerando os contextos sócio-ecológico-territoriais específicos e transcendendo a prática efetiva dos sujeitos – sejam eles humanos ou não humanos -, dando ênfase às intencionalidades políticas, às relações de poder e às necessidades de uso, bem como à confrontação de diferentes designers (ibid, p. 120). Destarte, partindo da negação em buscar enquadrar realidades sociais em categorias previstas e seguir a etnografia como elemento reflexivo e motivação para problematização, ampliação ou refutação de categorias pré-estabelecidas, tais como conceitos de sustentabilidade’, pois a queima da lenha para queima das peças é considerado agressivo ao ambiente, e de subsistência’, considerando que a necessidade da produção de peças de barro não está associada ao fim imediato para consumo e de sobrevivência. Assim, superando a dualidade de contraposição entre natureza e cultura e contemplando os aspectos sociotécnicos, na qual as relações de poder, se torna importante para compreensão da identidade da comunidade artesã e seu processo de territorialização em relação ao próprio ambiente que se insere.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
RESISTÊNCIA RIBEIRINHA: a cartografia como instrumento de defesa
Deyvson Pereira Azevedo (IFPA)
Resumo: Na Amazônia Tocantina os Territórios Tradicionais vêm sofrendo com o avanço de Projetos Portuários Privados transnacionais que omitem as relações socioespaciais constituídas para se instalarem nesses Territórios. Esta pesquisa buscou evidenciar as representações e relações socioecológicas constituídas pelos agentes sociais do Território Ribeirinho Agroextrativista da Ilha Xingu, em Abaetetuba, Pará. Os métodos adotados foram a pesquisa etnográfica a partir da escuta atenta, observação participante e construção de mapas da espacialidade dos Ribeirinhos Agroextrativistas com uso de diferentes recursos visuais da paisagem local e análise documental. Os resultados apresentam a produção de informações e elaboração de representações, a diversidade de conhecimentos e práticas constituídos na dinâmica da vida dos ribeirinhos em acoplamento com o sistema ecológico e as relações culturais que os envolvem. Esses vínculos socioecológicos e políticos são visualizados com a produção de mapas a partir de uma cartografia participativa, concatenando instrumentos tecnológicos e visuais das relações de convivência do pesquisador com esses povos, onde tais representações permitiram identificar um emaranhado de saberes do contexto de ribeirinhos agroextrativistas que transcendem a função de caracterização geográfica e incorporam os bens comuns das águas e das florestas, as técnicas da pesca artesanal, a construção de moradias e artefatos com bens ecológicos locais, os ciclos socioecológicos e a visão política, econômica e ecológica do território constituídos nas relações seculares de convivência. Estes resultados possuem significativa relevância tanto acadêmica quanto social, pois visibiliza relações socioecológicas seculares, reconhece as epistemologias embricadas nos modos de vida ribeirinhos agroextrativistas e fornece às instituições que auxiliam na permanência desses povos em seus territórios, instrumentos para sua conservação e defesa.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Processos técnicos, artesanato e as estéticas da etnicidade e da indianidade (Terceira etapa)
Diego Vartuli Cavanellas (UFPB)
Resumo: Os efeitos da mudança de status para indígenas na organização das atividades dos grupos domésticos são aqueles que influenciam as escolhas sobre quais processos técnicos empreender, quais materiais acessar e quais objetos construir ou transacionar. Neste sentido, partindo de conhecimentos tradicionais locais (INGOLD & KURTILLA, 2000), os grupos domésticos tabajara têm começado a produzir e a dar atenção a objetos decorativos - como pulseiras, colares e indumentárias -, tidos como artesanato étnico”. Dão vida, assim, a transformações técnicas e produção de estéticas objetais e corporais significativas. Dando continuidade as etapas anteriores, desenvolvidas entre 2020 e 2022, o intuito do trabalho foi cotejar tanto a produção de objetos destinados tradicionalmente a atender as demandas internas aos grupos domésticos, quanto a construção de ferramentas e utensílios destinados às atividades de ecologia doméstica, com aqueles hoje produzidos para atender uma demanda externa, construída a partir de uma noção de indianidade (OLIVEIRA, 1988) isto é, neste caso, a imagem que o senso comum faz sobre o que seria identitariamente e esteticamente indígena. Este cotejamento leva a também se questionar sobre uma noção genérica do que seria uma atividade artesanal e de como conotar o próprio artesanato como uma categoria sociotécnica específica. Leroi-Gourhan (1983), falando sobre a indústria humana, refere-se ao fato de que a relação entre o gesto técnico, a ferramenta e os materiais utilizados leva a produzir uma estética funcional. Neste sentido, dependendo do destino de uso, um determinado objeto ou ferramenta terá sua eficiência e eficácia técnicas prevalecendo na definição da forma que estes elementos assumirão, resultando em uma estética associada às propriedades técnicas dos materiais utilizados. O nível de variação na forma e na estética dependerão, por sua vez, dos limites existentes na competência, conhecimentos e ferramentas disponíveis para quem constrói o objeto em questão, criando-se, assim, conjuntos técnicos e ações sobre a matéria relacionados a ambientes técnicos particulares (LEROI-GOURHAN, 1977a). Neste termos, entre os grupos domésticos tabajara, as produções de objetos e instrumentos voltados a desenvolver atividades de pesca, coleta, agricultura e caça, bem como aquelas residenciais (como a construção de habitações, culinária, costura e trançados) permitem associar, a partir de habilidades e conhecimentos tradicionalmente refinados, materiais de diversas procedências, com o intuito de que o resultado do processo técnico empreendido seja eficaz tanto quanto possível.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
COSMONUCLEAÇÃO REGENERATIVA E RESTAURAÇÃO BIOCÊNTRICA: Um encontro vivo entre mundos no Povo Xukuru do Ororubá.
Fabricio Brugnago (Coletivo Jupago Kreká)
Resumo: O Povo Xukuru do Ororubá iniciou em janeiro de 2024 um projeto em parceria com a FAO (Food and Agriculture Organizaton), de Restauração Biocêntrica, categoria criada pela própria a qual valoriza processos de restauração ecológicas impulsionados por humanos, no qual o objetivo principal não é o uso humano dos benefícios alcançados, mas sim a própria vida. Em paralelo, dentro do povo Xukuru do Ororubá, foi criado há 3 anos pelo Coletivo Jupago Kreká, a categoria prática chamada Cosmonucleação Regenerativa, que visa ações humanas de impulsionamento de regeneração ecológica centrada em núcleos de força, sendo o objetivo central, o fortalecimento do próprio núcleo de força e de suas relações ecológicas no cosmos. Este trabalho visa compreender como o encontro entre estas categorias se expressa a partir de práticas e técnicas, considerando os métodos recomendados pela FAO para aplicação e seu uso prático com técnicas desenvolvidas localmente dentro do conceito de Cosmonucleação Regenerativa. A partir das necessidades metodológicas da FAO, indicadores e documentações passam a ser importantes dentro do processo, assim, técnicas são revisitadas para atender a indicadores com objetivos direcionados a um público distinto, envolvendo aprendizado de novas tecnologias e objetos técnicos, e o desenvolvimento de diferentes itinerários e movimentos dentro de trabalhos regenerativos. Apesar dos conceitos nascerem em contextos diferentes, um de um contexto cosmológico local, e outro, a partir de pesquisas com diversas comunidades em diálogos com agências internacionais de desenvolvimento, ambos procuram se distanciar do antropocentrismo e de dualismos como natureza/cultura, material/imaterial, porém consideram o humano enquanto agente planificador do processo em diferentes níveis. Mesmo assim, o fato de planejar não quer dizer que seja considerado necessariamente o principal agente do processo. Esse trabalho é uma pesquisa em andamento a partir do acompanhamento de trabalhos práticos que envolvem mapeamentos técnicos e de tradições de conhecimentos, pela percepção de relações cosmológicas. Utilizarei algumas ferramentas teóricas como o contexto sócio-ecológico-territorial, como pensado por Fabio Mura, dentro de uma ecologia feral como pensado por Tsing, em relações práticas sensíveis, onde corpo, mente e ambiente passam a ser indissociáveis em um contexto sensorial háptico, como debatido por Ingold.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
PERSPECTIVA ETNOARQUEOLÓGICA DA TERRA INDÍGENA POTIGUARA DE MONTE-MÓR: um estudo etnográfico de dois grupos domésticos sobre as apropriações dos objetos e monumentos nas aldeias Jaraguá e Ybycuara, Paraíba.
Germana Karla Martins Soares da Silva (UFPB)
Resumo: A partir da perspectiva etnoarqueológica da terra indígena potiguara de Monte-mór, este estudo direcionou seu foco para a investigação etnográfica de dois grupos domésticos distintos, localizados nas aldeias Jaraguá e Ybycuara. Neste contexto, foram coletados relatos acerca dos achados arqueológicos dentro de seus territórios, acompanhados da expressão do desejo de que tais objetos técnicos e monumentos fossem preservados em um conceito que emerge como "museu vivo". Surge a necessidade de uma reflexão sobre os sentidos do patrimônio arqueológico, conforme percebidos por esses grupos indígenas. As interpretações e significados atribuídos aos sítios arqueológicos pelos indígenas diferem substancialmente das abordagens tradicionais colonialistas, cartesianas e eurocêntricas, que historicamente se concentraram em perspectivas particulares ao lidar com descobertas arqueológicas. Diante disso, o propósito desta investigação é descrever os sentidos e apropriações associados aos objetos e monumentos pelos dois grupos domésticos na terra indígena Monte-mór. Para atingir este objetivo, adotou-se um procedimento metodológico fundamentado na realização de pesquisa etnográfica em conjunto com a análise de fontes históricas. Dessa forma, será possível uma compreensão mais abrangente sobre as narrativas e percepções dos grupos em relação ao seu próprio patrimônio arqueológico.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
DAS PAREDES AOS MUROS: Interações e graffiti urbano na cidade de Imperatriz-MA
Jesus Marmanillo Pereira (UFPB)
Resumo: A presente pesquisa é parte de um projeto mais amplo sobre graffiti urbano na cidade de Imperatriz-MA, e tem como objetivo apresentar a relação entre organização social, processos de transação do conhecimento e algumas dinâmicas territoriais com base na trajetória de um artista local chamado Edney Areias. Utilizando autores como Barth (2000), Mura (2011), Velho (2013) e Goffman (2013), analisamos o itinerário biográfico do interlocutor e suas dinâmicas cotidianas para demonstrar como ocorrem os processos de transação do conhecimento ao longo de diversas situações que marcam seu percurso, que vai desde telas e paredes até os muros localizados nas vias públicas da cidade. Ao utilizar as interações como base analítica, compreendemos a reprodução da prática do graffiti como um processo dinâmico da cultura, envolvendo fluxos, valores, deslocamentos e experiências. Portanto, demonstraremos como os status e papeis sociais foram modificados e adaptados em relação ao desenvolvimento e construção do próprio repertório de possibilidades desse interlocutor. No âmbito dos processos técnicos, demonstraremos como as novas situações vividas por ele implicaram na atualização do conhecimento técnico e de habilidades ligadas a sua maneira de fazer graffiti e se apresentar publicamente. Também observaremos como o conhecimento resultante desse processo se expressa territorialmente na cidade, demarcando um perfil específico de artista em relação a outros. Para acompanhar os contextos biográficos e vivenciais cotidianos dele e compreender as dinâmicas em torno do conhecimento a respeito do graffiti em Imperatriz-MA, foram realizados entre 2020 e 2022, uma serie de registros fotográficos, observações diretas, trabalhos com os arquivos e diálogos com Edney Areias.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Notas sobre a relação entre técnica e território na FLONA-Tapajós (PA)
Júlia Dias Escobar Brussi (UFOPA)
Resumo: A presente proposta resulta de uma pesquisa que ainda está em andamento e que se volta a compreender determinadas comunidades dos Estados do Pará e do Maranhão enquanto territórios sociobiodiversos, a partir, principalmente, da perspectiva do ambiente, do conhecimento e da sustentabilidade. Três dessas comunidades localizam-se na Floresta Nacional do Tapajós (Flona-Tapajós), localizada a cerca de 40 quilômetros da cidade de Santarém, e constituem o foco de nossa atenção aqui, sendo elas: São Domingos, Maguari e Jamaraquá. Tais comunidades compartilham não só de um mesmo ambiente, de floresta às margens do Rio Tapajós, mas também desempenham uma série de atividades produtivas em comum, entre as quais o artesanato com sementes e com o látex extraído das seringueiras locais. Apesar da semelhança da paisagem, dos recursos disponíveis e das atividades desenvolvidas nas três comunidades, é possível verificar que cada comunidade tem suas especificidades quanto à produção das denominadas biojóias feitas com as sementes (coletadas e compradas), mas principalmente, quanto ao uso e processamento do látex. Em cada uma dessas localidades a borracha passa por cadeias operatórias distintas que, por sua vez, resultam em produtos distintos. Destaca-se que, as diferenças e as especificidades de cada comunidade também são ressaltadas nas falas de seus moradores, que em suas narrativas tendem a reforçar certa separação e isolamento das suas comunidades em relação às demais. No entanto, quando nos atentamos às etapas anteriores à produção propriamente dita, como o momento de obtenção dos recursos necessários, ou até as suas etapas posteriores, como o destino dos produtos, é possível perceber a atuação de uma rede de parentesco, de circulação e de trocas que ultrapassam as fronteiras da comunidade. Busca-se a refletir, portanto, sobre a forma como tais práticas de conhecimento se apresentam e se distribuem por essas comunidades, a partir da perspectiva da técnica e do território.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A agroecologia como Educação Ambiental em um território de reforma agrária no Distrito Federal
Layane de Oliveira Ferreira (UNB)
Resumo: Neste trabalho buscamos compreender como as práticas de conhecimento agroecológicas contribuem na formação dos estudantes de uma escola do campo localizada em espaço de Reforma Agrária no Distrito Federal. O Centro Educacional Agro urbano - CED Agro urbano Ipê, localizado no Conglomerado Agro urbano - CAUB I, Riacho Fundo II, Núcleo Bandeirante, possui grande valor para a comunidade escolar circundante porque promove diversos projetos voltados para a conservação ambiental, a valorização da cultura do campo e o fortalecimento de práticas que contribuem para a sustentabilidade cultural, social e econômica desse território comunitário. Esses sujeitos campesinos em sua maioria têm uma relação direta de produção de conhecimentos com recursos provenientes da terra. Nesse sentido, o CED Agrourbano Ipê promove diversos projetos através confluência entre saberes populares e saberes científicos em conjunto com a comunidade, objetivando uma educação ambiental pensada para o exercício do cuidado com a vida nas diversas formas e especificidades. Nesta comunicação enfocamos o sistema sociotécnico desenvolvido pela escola que articula as ações humanas com água, peixes e plantas. A aguaponia é um sistema de produção integrado que combina a captação de água da chuva para abastecimento de um tanque de criação de peixes, por sua vez associado a uma composteira e ao sistema agroflorestal nas escolas e nas unidades de agricultura familiar do CAUB I. Abordaremos então essa cadeia operatória com especial atenção para as intencionalidades e ritmos pedagógicos dessa dinâmica ecológica com atenção aos processos de aprendizagem.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
A atividade dos mateiros e guias na Floresta Nacional do Tapajós: trilhas que se entrecruzam
Leiliane Moreira de Araújo Pacheco (UFOPA)
Resumo: O presente trabalho parte de uma pesquisa de graduação em andamento na Floresta Nacional do Tapajós. Esse território, distante cerca de 40 quilômetros da cidade de Santarém-PA, abrange 530.000 hectares do bioma tropical terrestre amazônico com floresta primária e secundária, uma rica biodiversidade e várias comunidades que praticam pesca, extrativismo de subsistência, artesanato e turismo, inclusive científico. As comunidades mais procuradas para fins turísticos e de pesquisa são: Jamaraquá, Maguari e São Domingos. O trajeto das trilhas, que levam os visitantes floresta adentro e ao encontro de centenárias árvores consideradas sagradas pelos comunitários, além de refrescantes igarapés, só podem ser percorridos com a presença de um guia, que também pode ser um mateiro. Os guias e os mateiros são pessoas das comunidades que integram as Associações locais, se revezam no atendimento aos turistas e, mais importante, detêm uma série de habilidades e conhecimentos relativos àquele ambiente. Pretendo analisar essas duas categorias, do mateiro e do guia, enquanto detentores de um conhecimento crucial para sobrevivência e o modo de vida das comunidades, o qual é transmitido através das gerações. Durante as caminhadas nessas trilhas, ora com mateiros, ora com guias, observamos que cada um desses agentes apresenta um conjunto de habilidades distintas. Os mateiros conseguem, por exemplo, identificar no percurso da trilha um sapo-folha camuflado ou um sapo minúsculo, que facilmente passaria despercebido pelos visitantes. Foi possível observar que, de modo geral, os mateiros têm um maior repertório em termos do nome das árvores, do uso dos seus frutos, sementes e resinas, ou do canto dos pássaros. A diferença entre tais repertórios, conhecimentos e habilidades, resulta do tipo de engajamento que mateiros e guias têm com aquele ambiente. Nesse sentido, é importante ressaltar que os guias passam por um treinamento para receber turistas, oferecido pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), instituição responsável pela administração e controle da entrada naquele território. O trabalho buscará traçar, portanto, um contraste entre as habilidades de mateiro e de guia, destacando as especificidades dessas atividades, seus conhecimentos e suas formas de engajamento com a floresta, além da dinâmica de aprendizado em cada um desses casos. Buscaremos, ainda, verificar de que modo a inserção de mulheres e jovens, enquanto guias, vem ressignificando essas funções, destacando como a atividade de guia se tornou essencial para a dinâmica de vida dos indivíduos dessas comunidades tradicionais, marcadas por uma íntima e ancestral prática de conhecimento e relação com a natureza.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Reflexões sobre o uso do corpo na Capoeira Angola: Técnica e conhecimento.
Luís Felipe Cardoso Mont'mor (SEECRN)
Resumo: Este resumo busca apresentar reflexões autoetnográficas (Jones; Ellis 2016) de uma pesquisa em andamento, que trata sobre a Capoeira Angola como uma tradição de conhecimento e seus processos sociotécnicos. Enquanto uma tradição de conhecimento, este gênero de arte marcial se caracteriza por seus modos transacionais de caráter performático (Barth, 2000), que podem ser observados a partir de estilos (Leroi-Gourhan, 2002) e usos dos movimentos corporais, que se caracterizam como modos de ação política (Mura, 2011) representativos de indivíduos, que por sua vez integram uma tradição individuada, a partir das propostas de Simondon (2020). A ideia, portanto, lançando mão do que foi exposto, é compartilhar os resultados parciais que esta pesquisa apresenta, no que se refere então aos usos dos corpos e as técnicas desenvolvidas na prática em questão e como o pesquisador praticante de uma arte marcial, utilizando seu próprio corpo e a sua atenção (Wacquant, 2002; Ingold, 2010; 2020), pode passar a desenvolver reflexões sobre os ritmos técnicos (Leroi-Gourhan 2002; 1984a; 1984b) e o conhecimento produzido, sejam eles[as] nas diversas formas que se manifestam. Palavras-chave: Capoeira Angola; Técnica; Conhecimento.