ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 099: Técnica, Território e Práticas de Conhecimento
A atividade dos mateiros e guias na Floresta Nacional do Tapajós: trilhas que se entrecruzam
O presente trabalho parte de uma pesquisa de graduação em andamento na Floresta Nacional do Tapajós. Esse território, distante cerca de 40 quilômetros da cidade de Santarém-PA, abrange 530.000 hectares do bioma tropical terrestre amazônico com floresta primária e secundária, uma rica biodiversidade e várias comunidades que praticam pesca, extrativismo de subsistência, artesanato e turismo, inclusive científico. As comunidades mais procuradas para fins turísticos e de pesquisa são: Jamaraquá, Maguari e São Domingos. O trajeto das trilhas, que levam os visitantes floresta adentro e ao encontro de centenárias árvores consideradas sagradas pelos comunitários, além de refrescantes igarapés, só podem ser percorridos com a presença de um guia, que também pode ser um mateiro. Os guias e os mateiros são pessoas das comunidades que integram as Associações locais, se revezam no atendimento aos turistas e, mais importante, detêm uma série de habilidades e conhecimentos relativos àquele ambiente. Pretendo analisar essas duas categorias, do mateiro e do guia, enquanto detentores de um conhecimento crucial para sobrevivência e o modo de vida das comunidades, o qual é transmitido através das gerações. Durante as caminhadas nessas trilhas, ora com mateiros, ora com guias, observamos que cada um desses agentes apresenta um conjunto de habilidades distintas. Os mateiros conseguem, por exemplo, identificar no percurso da trilha um sapo-folha camuflado ou um sapo minúsculo, que facilmente passaria despercebido pelos visitantes. Foi possível observar que, de modo geral, os mateiros têm um maior repertório em termos do nome das árvores, do uso dos seus frutos, sementes e resinas, ou do canto dos pássaros. A diferença entre tais repertórios, conhecimentos e habilidades, resulta do tipo de engajamento que mateiros e guias têm com aquele ambiente. Nesse sentido, é importante ressaltar que os guias passam por um treinamento para receber turistas, oferecido pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), instituição responsável pela administração e controle da entrada naquele território. O trabalho buscará traçar, portanto, um contraste entre as habilidades de mateiro e de guia, destacando as especificidades dessas atividades, seus conhecimentos e suas formas de engajamento com a floresta, além da dinâmica de aprendizado em cada um desses casos. Buscaremos, ainda, verificar de que modo a inserção de mulheres e jovens, enquanto guias, vem ressignificando essas funções, destacando como a atividade de guia se tornou essencial para a dinâmica de vida dos indivíduos dessas comunidades tradicionais, marcadas por uma íntima e ancestral prática de conhecimento e relação com a natureza.