ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 099: Técnica, Território e Práticas de Conhecimento
Nossa comunidade é artesã: identidade, territorialização e ambiente no Alto do Moura
Darllan Neves da Rocha (UFRJ)
Reconhecida pelo Mestre Vitalino e como importante centro de artes figurativas do Brasil, a comunidade artesã do Alto do Moura (Caruaru/PE) se caracteriza pela atividade de manipulação da argila através de três tradições de conhecimentos e técnicas: os utensílios domésticos, os bonecos e as bonecas em barro. Assim, o sentido de comunidade está assentado através de dois aspectos: o conhecimento tradicional técnico e as vinculações na relação de parentesco. Entretanto, a comunidade vivencia o processo de patrimonialização do ofício dos artesãos e artesãs em barro e, durante a realização da pesquisa, o grupo artesão demandou o registro não apenas do ofício, mas também na categoria de lugar, fundamentado pela relação da comunidade com o processo de ocupação territorial. Para o caso apresentado importa ressaltar a dimensão ambiental na perspectiva da técnica, como noções de ambiente interno e ambiente externo desenvolvido por Lerói-Gourhan (1994) ao caracterizar ambiente técnico. O ambiente interno é formado pelo grupo técnico e a organização social, enquanto que o ambiente externo contempla as dimensões da natureza e a presença de outras sociedades, cujos produtos técnicos se interpõem entre ambos os ambientes. Neste sentido, a Mura e Silva (2011) propõem um enfoque processual aos estudos sociotécnicos, considerando os contextos sócio-ecológico-territoriais específicos e transcendendo a prática efetiva dos sujeitos - sejam eles humanos ou não humanos -, dando ênfase às intencionalidades políticas, às relações de poder e às necessidades de uso, bem como à confrontação de diferentes designers (ibid, p. 120). Destarte, partindo da negação em buscar enquadrar realidades sociais em categorias previstas e seguir a etnografia como elemento reflexivo e motivação para problematização, ampliação ou refutação de categorias pré-estabelecidas, tais como conceitos de sustentabilidade, pois a queima da lenha para queima das peças é considerado agressivo ao ambiente, e de subsistência, considerando que a necessidade da produção de peças de barro não está associada ao fim imediato para consumo e de sobrevivência. Assim, superando a dualidade de contraposição entre natureza e cultura e contemplando os aspectos sociotécnicos, na qual as relações de poder, se torna importante para compreensão da identidade da comunidade artesã e seu processo de territorialização em relação ao próprio ambiente que se insere.