Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 099: Técnica, Território e Práticas de Conhecimento
Processos técnicos, artesanato e as estéticas da etnicidade e da indianidade (Terceira etapa)
Os efeitos da mudança de status para indígenas na organização das atividades dos grupos domésticos são
aqueles que influenciam as escolhas sobre quais processos técnicos empreender, quais materiais acessar e
quais objetos construir ou transacionar. Neste sentido, partindo de conhecimentos tradicionais locais
(INGOLD & KURTILLA, 2000), os grupos domésticos tabajara têm começado a produzir e a dar atenção a
objetos decorativos - como pulseiras, colares e indumentárias -, tidos como artesanato étnico. Dão vida,
assim, a transformações técnicas e produção de estéticas objetais e corporais significativas. Dando
continuidade as etapas anteriores, desenvolvidas entre 2020 e 2022, o intuito do trabalho foi cotejar tanto
a produção de objetos destinados tradicionalmente a atender as demandas internas aos grupos domésticos,
quanto a construção de ferramentas e utensílios destinados às atividades de ecologia doméstica, com aqueles
hoje produzidos para atender uma demanda externa, construída a partir de uma noção de indianidade (OLIVEIRA,
1988) isto é, neste caso, a imagem que o senso comum faz sobre o que seria identitariamente e esteticamente
indígena. Este cotejamento leva a também se questionar sobre uma noção genérica do que seria uma atividade
artesanal e de como conotar o próprio artesanato como uma categoria sociotécnica específica. Leroi-Gourhan
(1983), falando sobre a indústria humana, refere-se ao fato de que a relação entre o gesto técnico, a
ferramenta e os materiais utilizados leva a produzir uma estética funcional. Neste sentido, dependendo do
destino de uso, um determinado objeto ou ferramenta terá sua eficiência e eficácia técnicas prevalecendo na
definição da forma que estes elementos assumirão, resultando em uma estética associada às propriedades
técnicas dos materiais utilizados. O nível de variação na forma e na estética dependerão, por sua vez, dos
limites existentes na competência, conhecimentos e ferramentas disponíveis para quem constrói o objeto em
questão, criando-se, assim, conjuntos técnicos e ações sobre a matéria relacionados a ambientes técnicos
particulares (LEROI-GOURHAN, 1977a). Neste termos, entre os grupos domésticos tabajara, as produções de
objetos e instrumentos voltados a desenvolver atividades de pesca, coleta, agricultura e caça, bem como
aquelas residenciais (como a construção de habitações, culinária, costura e trançados) permitem associar, a
partir de habilidades e conhecimentos tradicionalmente refinados, materiais de diversas procedências, com o
intuito de que o resultado do processo técnico empreendido seja eficaz tanto quanto possível.