ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Grupos de Trabalho (GT)
GT 021: Antropologia e Extensão Universitária
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Coordenação
Fernanda Valli Nummer (UFPA), Maria Cristina Caminha de Castilhos França (IFRS)
Debatedor(a)
Carlos Alberto Batista Maciel (UFPA)

Resumo:
A Resolução Nº 7, de 18 de dezembro de 2018 do CNE instituiu as diretrizes para a extensão na educação superior brasileira, definindo seus princípios, fundamentos e procedimentos para o planejamento na política, na gestão e na avaliação das Atividades Acadêmicas de Extensão nas instituições de educação superior de todos os sistemas de ensino do país. Assim, a Extensão passou a ser reconhecida e identificada como componente curricular obrigatório dos projetos pedagógicos dos cursos superiores no Brasil. A Antropologia encontra mais um desafio para atuar em atividades que promovam a articulação de seus saberes com as comunidades locais que ultrapassem a pesquisa de campo e proporcionem por meio das Atividades Acadêmicas de Extensão, “o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade”. O objetivo deste GT é discutir propostas de atividades de extensão em Antropologia, já em execução, em suas diferentes modalidades e eixos integradores e suas relações curriculares em diferentes IES no Brasil. Reflexões teóricas sobre ensino, pesquisa, trabalho de campo na Antropologia e suas possíveis relações com a Extensão Universitária também serão aceitas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Antropologia, extensão universitária e arquivo público: a mobilização comunitária e o diálogo de saberes.
Bernadete Aparecida Caprioglio de Castro (UNESP)
Resumo: O patrimônio cultural constituído pela cultura negra no Brasil demonstra vigor e diversidade de valores que marcaram profundamente nosso cenário histórico-cultural. A organização de associações, grupo de mulheres e jovens, políticas públicas, mostram relações sincréticas, que são atualizadas num cotidiano de enfrentamentos com a sociedade mais ampla em luta pelos direitos civis e pelo reconhecimento étnico. A partir de 2010, formou-se no Arquivo Público e Histórico de Rio Claro-SP grupo de pesquisa sobre cultura negra no município (grupo Africanidades) tendo como objetivo a interlocução com a comunidade negra e a reconstituição de sua trajetória histórica local. A partir de 2015 as atividades de extensão universitária visando a temática da cultura negra no município teve sua inclusão no âmbito da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual Paulista (UNESP), fazendo parte do NUPE – Núcleo Negro da UNESP para Pesquisa e Extensão. Em 2023, o NUPE foi atualizado, e passou a ser vinculado ao Programa Unesp de Integração Social Comunitária – PISC, da Pró-Reitoria de Extensão Universitária, congregando professores, pesquisadores e alunos da UNESP com a finalidade de estimular atividades de extensão e de pesquisa sobre a temática da cultura negra, ações afirmativas e história afro-brasileira e africana, buscando fortalecer a Lei 10.639/03. Nesse sentido, o NUPE GT Rio Claro se reestruturou a partir de 2023, incluindo docentes de diversos departamentos, alunos da graduação e pós-graduação e coletivos, tendo como proposta a retomada de atividades junto à comunidade negra do município. O projeto proposto a partir de 2024 tem como tema Espaços Negros no Município de Rio Claro.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Extensão universitária, antropologia e gênero em práticas educativas
Elisete Schwade (UFRN)
Resumo: Questões de gênero e sexualidade em contextos educativos tem sido objeto de pesquisa, atividades de extensão, componentes curriculares na formação de educadoras/es em todos os níveis, bem como temas de embates políticos, nas ultimas décadas. Trata-se de um conjunto de questões que atravessam a pesquisa, o ensino e a extensão, no interior da universidade e nos diálogos com a sociedade. Com a proposta e implementação da curricularização da extensão universitária, evidencia-se a necessidade de refletir sobre diferentes formas de articulação do ensino, pesquisa e extensão, na graduação e pós graduação, por meio da formação e de intervenções. Esse texto discute a experiência do projeto de extensão "Semeando Gênero na Educação", desenvolvido por membros do Grupo de Pesquisa Gênero Corpo e Sexualidade – GCS/DAN/UFRN. O projeto envolve uma equipe que desenvolve pesquisa em temas objeto das atividades de intervenção realizadas em escolas publicas. As ações realizadas nas escolas se fundamentam em um longo processo de discussão, pesquisa e reconhecimento do contexto escolar, em dialogo com gestores, docentes e estudantes, utilizando a prática da etnografia. As atividades se concentram na construção de espaços de dialogo sobre gênero e diversidade. O texto tem como enfoque o relato dessa experiência, com a indicação de desafios para a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, de modo especial na formação em antropologia.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Quando a Antropologia transpassa fronteiras entre o Ensino e a Extensão: a aplicação de diálogos feministas no enfrentamento à violência de gênero.
Flávia Valéria Cassimiro Braga Melo (UEG)
Resumo: Proponho contribuir com as discussões sobre a aplicabilidade da Antropologia na extensão universitária. Temos acompanhado o debate de que a Antropologia, em especial, a latino-americana, esteja passando por uma virada epistemológica e metodológica. Dos anos 1970 para cá, o fazer descolonial (Mignolo, 2007) aprofundou os debates em Antropologia, assim, ideias foram colocadas em xeque, como por exemplo, alargou-se o debate crítico sobre a colonialidade, a naturalização do racismo, as violências e o patriarcado. Dessa maneira, foram lançadas luzes para outros caminhos, outras epistemologias, outros lestes. Muitos trabalhos etnográficos têm sido abordados com diligência mais cuidadosa em relação à luta travada pelos grupos estudados. Quanto à sala de aula, professoras/es de nossa área têm diluído as fronteiras entre ensino-pesquisa-extensão e recorrido a uma antropologia mais engajada, tendo como aliadas, por exemplo, a metodologia Paulofreiriana de ensino e a proposta de educação transformadora e transgressora de bell hooks (2017), em que a sala de aula tem se tornado um espaço provocador de responsabilidades. Dessa maneira, proponho relatar sobre minhas vivências (enquanto professora e antropóloga) em ações extensionistas, tendo como foco o enfrentamento à violência doméstica e familiar, com mulheres que vivem na periferia da região metropolitana goiana. Sem a intenção de romantizar esse trabalho, farei relato sobre as dificuldades estruturais, financeiras e humanas, além das limitações e impedimentos que nos atravessaram durante a execução desse projeto. O Projeto de Extensão “Diálogos Feministas: rodas de conversa sobre o ciclo da violência doméstica e familiar” (em sua terceira edição) nasceu em sala de aula, no ensino de Antropologia Jurídica, com estudantes do curso de Direito, numa Universidade Pública Estadual (UEG). Nessa experiência, a extensão universitária nos transportou do ambiente da academia e nos levou até a comunidade. Como resultado, os diálogos feministas (em rodas de conversa) puderam ser aplicados como estratégia emancipatória, possibilitando-nos fazer a aplicação de epistemologias feministas e de Leis Mulheristas brasileiras. Temos vivido a experiência da interlocução, escuta, troca de experiências, saberes e acolhimento de mulheres, além de poder divulgar os canais de denúncia para o rompimento do ciclo de violência doméstica e familiar. Enfim, pretendo descrever neste grupo de trabalho sobre a experiência da extensão como um devir antropológico, que também tem nos transformado e nos tornado mais úteis, dentro e fora da academia.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Pesquisa e extensão lado a lado: o caso do podcast Urbanidades, uma iniciativa do UrbanData-Brasil/CEM/USP
Isis Gabrielle Belon Fernandes (USP), Mateus Cardoso de Almeida (USP)
Resumo: Nos últimos anos, o formato podcast adquiriu popularidade e diversas iniciativas se disseminaram pela comunidade acadêmica. As reflexões sobre o seu papel nos processos de divulgação científica têm se mostrado essenciais para compreendermos como essas plataformas podem democratizar o acesso ao conhecimento acadêmico e promover um diálogo mais amplo entre a comunidade científica e o público em geral. Neste trabalho, estimulados a refletir sobre a importância da pesquisa nas iniciativas de extensão, realizamos uma meta-análise dos episódios do catálogo do Urbanidades, podcast sobre o urbano brasileiro produzido pelo UrbanData-Brasil e coordenado pela Profª Bianca Freire-Medeiros (FFLCH-USP). O programa traz entrevistas com autores/as de publicações recentes de diversos formatos e foi reconhecido com Menção Honrosa no último prêmio ANPOCS de divulgação científica. Recentemente, o podcast ultrapassou a marca dos 100 episódios publicados e acumula 10.000 ouvintes e 50.000 plays no Spotify, ao longo dos 6 anos do projeto. Nosso foco são os episódios classificados na disciplina de Antropologia. Os 14 episódios contemplados foram investigados com base nos recursos metodológicos e analíticos do UrbanData, os indexadores utilizados para a classificação das referências da base de dados, sendo eles: disciplina; referência temporal e áreas temáticas (ATs). Quando comparamos a quantidade de trabalhos com temáticas ligadas à disciplina de antropologia presentes na base do UrbanData com os episódios do podcast, proporcionalmente, temos índices parecidos na prevalência das discussões, sendo 9,8% dos trabalhos presentes na base e 14,8% dos episódios. Em relação às Áreas Temáticas em que se classificam os episódios, também reflete-se uma confluência entre os dados. A AT “modo de vida, imaginário social e cotidiano é a que mais aparece em ambos os casos e a sua associação com os temas da antropologia é muito evidente. Em segundo lugar, vemos a AT “pobreza e desigualdade e em terceiro lugar, temos a AT “espaço urbano”, relacionada ao escopo dos estudos urbanos. Ao analisar criticamente os episódios do podcast e seu impacto no cenário acadêmico, torna-se evidente a contribuição para a divulgação científica e para a promoção de um diálogo acessível e diversificado, devido a sua representatividade e multidisciplinaridade. Além disso, sua equipe composta inteiramente por bolsistas de graduação evidencia um compromisso com a formação acadêmica e o envolvimento ativo dos estudantes na produção de conhecimento. Dessa forma, o Urbanidades não só enriquece o debate acadêmico, mas também contribui para a integração entre ensino, pesquisa e extensão, tornando-se uma peça fundamental na promoção do conhecimento e da reflexão crítica sobre as pesquisas antropológicas.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Para além dos muros universitários: a extensão falando sobre Aids
Lídia Marcelle Arnaud Aires (UFPB), Luziana Marques da Fonseca Silva (UFPB), Mónica Lourdes Franch Gutiérrez (UFPB), Francisco Paulino de Oliveira Neto (UFPB), Gabriel Cavalcante Bueno de Moraes (UFPB)
Resumo: O projeto de Extensão “Falando sobre AIDS: debate e informações nas ruas, nas praças e nas redes” é um desdobramento de ações e pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisas e Estudos em Saúde, Sociedade e Cultura (GRUPESSC/UFPB) desde o ano de 2007, que mostraram a urgência de ampliar o debate sobre o tema do HIV/aids para além do campo acadêmico e profissional especializado. O nosso propósito é promover atividades/ações que ultrapassem os muros da universidade, ocupando espaços de debates e promovendo a disseminação de informações, abordando as dimensões subjetivas, sociais, culturais e políticas em torno da prevenção, da vivência e convivência com o HIV/Aids. Nesse sentido, o Instagram apresentou-se como ferramenta intermediadora e fundamental para a divulgação das atividades realizadas, e como espaço para divulgar informações que estão circunscritas na história do HIV, especialmente durante o período pandêmico da Covid-19. Desde a primeira versão do projeto (2020-2021), desenvolvemos nossas ações através de uma equipe interdisciplinar - embora a nossa proposta se constitua e siga o eixo antropológico - integrada por estudantes de graduação e pós-graduação, docentes e pesquisadores do campo antropológico, bem como de outras áreas como a pedagogia, a psicologia, o direito e a sociologia, que têm unido suas vozes à nossa. Diante da já referida pandemia, iniciamos a nossa atuação virtualmente, alimentando o perfil no Instagram @falandosobreaids, desenvolvendo os quadros Cine PositHIVo, Biografia PositHIVa, Escuta PositHIVa, Letras PositHIVas e Primeiros Cuidados, que eram publicados periodicamente na rede e estão ativos até hoje. Desde de 2022 e na atual edição (2023-2024), mantemos o Instagram como recurso privilegiado de comunicação, mas não mais apenas para o desenvolvimento de atividades, e sim para a divulgação de ações que realizamos nas ruas, nas praças e mesmo nas redes sociais: oficinas com profissionais de saúde e com estudantes do ensino médio, participação em eventos acadêmicos e do movimento social com ações voltadas à ampla discussão sobre HIV/Aids, entre outras atividades. Virtual ou presencialmente, falamos sobre Aids nos espaços da Universidade Federal da Paraíba, mas ecoamos para além dela através das parcerias com as redes locais, municipais e estaduais para o desenvolvimento e participação em ações que visem à desconstrução do estigma em torno do HIV/Aids e que forneçam informações qualificadas sobre a prevenção e o tratamento, atualizando assim o debate sobre as questões que decorrem da infecção pelo HIV.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Por Uma Luta Ainda Mais Diversa, Direitos Indígenas LGBTQIAPN+ & Políticas Públicas num Contexto Pós-COVID.
Madiana Valéria de Almeida Rodrigues (UFRR)
Resumo: Trata-se de resultados da ação de extensão que objetiva promover espaços de discussão, reflexão e proposição de políticas públicas construídas para atender as singularidades de indígenas LGBTQIAPN+, em Boa Vista, Roraima. Buscou-se usar como balizadores para a leitura e compreensão da realidade observada as políticas públicas de inclusão em vigor no Brasil e no estado de Roraima. De maneira mais objetiva, para além dos referenciais mais teóricos e conceituais, o projeto inclui estudos e pesquisas das principais políticas públicas de educação e inclusão em vigor no Brasil nesta área, sobretudo, as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, que se aplicam a todos os sistemas e instituições de ensino e definem como fundamentos: a dignidade humana; a igualdade de direitos; o reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; a laicidade do Estado; a democracia na educação; dentre outros; e a Resolução n° 12/2015 CNCD, que estabelece parâmetros para a garantia das condições de permanência de pessoas travestis e transexuais - e todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais – nos sistemas e instituições de ensino. Percebemos que a população indígena LBGTQIAPN+ vive invisibilidades e é alvo de violência de gênero. Sabemos, portanto, da necessidade de dar visibilidade, publicar, fazer comunicação, pesquisar pessoas envolvidas nas temáticas dentro e fora da universidade, abordar o assunto sobre indígenas LGBTQIAPN+ dentro e fora das comunidades indígenas, tendo em vista que o assunto pouco se fala, apesar de sua existência concreta. Numa sociedade como a brasileira, marcada pelo preconceito, ser indígena, homossexual, transsexual etc. são recortes que solicitam grande atenção voltada para os direitos e para as políticas públicas. Percebe-se dentro da universidade o protagonismo dos indígenas LGBTQIAPN+ na luta por seu reconhecimento formulando orientações quanto ao seu reconhecimento institucional. Dessa forma a ação buscou promover espaços de discussão, reflexão e proposição de políticas públicas construídas para atender as singularidades de Indígenas LGBTQIAPN+ no contexto pós-pandemia. Por fim, esperamos proporcionar maior visibilidade para o debate dessas questões, avaliando seu potencial analítico e político em vista da sua contribuição para as políticas públicas. Para ajudar a colocar a diversidade sexual em pauta dentro das aldeias e de universidades, para discutir os padrões dos colonizadores, assim como, o padrão heteronormativo, é de especial importância o desenvolvimento de ações de levantamento e disseminação de informação e de educação que garantam a discussão, reflexão e proposição de políticas públicas construídas para atender as singularidades dos indígenas LGBTQIAPN+

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Círculos de Culturas, cidade e pertencimento: diálogos entre saberes e extensão universitária.
Maria Cláudia Martinelli de Mello Pitrez (UFF)
Resumo: O presente trabalho pretende apresentar e discutir o projeto de extensão “Educação, cidade e pertencimento: círculos de culturas entre coletivos estudantis e artísticos da cidade de Campos dos Goytacazes”, que venho realizando no Departamento de Ciências Sociais da UFF. O projeto tem como proposta promover encontros e trocas de saberes que entrecruzam práticas sociais, artísticas e lúdicas entre experiências educativas e artísticas de coletivos e grupos de dentro e fora da Universidade. A partir dos princípios e metodologias freirianos da educação popular, a proposta de extensão busca conectar Universidade e cidade com a criação de círculos de cultura, criando um espaço de troca e acolhimento que prezam pela dialogicidade, valorização dos diferentes saberes, desenvolvimento da consciência crítica e da autonomia dos sujeitos envolvidos. Assim, de modo geral, busca-se criar parcerias, ações e conhecimentos críticos e engajados com o território e comunidades na qual a Universidade está alocada, colocando em diálogo coletivos locais com jovens universitários, na sua maioria oriundos de outras cidade e que não conhecem muito bem a cidade, restringindo suas atividades entre local de estudos e moradia. Com isso, os Círculos de Culturas vem se tornando uma prática educativa importante na construção de vínculos na universidade e também de laços de pertencimento com a cidade a partir de trocas de saberes e mapas afetivos entre a cidade de origem e a cultura local. No entanto, o diálogo educacional e intercultural entre conhecimentos formais e não formais não é fácil e pode gerar muito atrito, se tornando desafiador diante da hierarquia de saberes e da formatação curricular das instituições de ensino. O presente trabalho busca levantar alguns questionamentos em torno de educação, cultura e pertencimento, bem como a função extensionista e de relação entre Universidade e comunidades locais.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Um Jardim que abriga o lixo e impede a horta
Maria Luiza Damasceno Martins (UFRJ), Verônica Oliveira (UFRJ), Isabelle Dias Pereira (UFRJ), Jemilee Andrade da Silva (UFRJ), Amanda Marinho de Souza (UFRJ), Giovana Oliveira Rodrigues da Costa (UFRJ)
Resumo: O Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) aborda as dimensões nutrição, soberania alimentar, gênero, raça e etnia, abarca, ainda, necessidades de grupos invisibilizados e demanda participação em soluções territoriais. Vislumbrando o DHAA, hortas comunitárias podem ser uma ferramenta para alcançar transformação social em ambientes vulnerabilizados a partir de uma interação dialógica, uma vez que funcionam como jardins pedagógicos ao criar laços entre a produção de alimentos, meio ambiente e comunidade. O objetivo do trabalho foi construir, de modo coletivo, especialmente, com as cozinheiras do projeto Gramachinhos, soluções possíveis para introdução de ingredientes não doados na alimentação cotidiana das crianças e adolescentes. Nesse sentido, iniciamos o planejamento de uma horta no Projeto Gramachinhos - antigo Aterro Sanitário de Jardim Gramacho - Duque de Caxias/RJ. Estratégias da pesquisa-ação foram priorizadas na condução do trabalho e as construções teóricas de Amartya Sen sobre liberdade e desenvolvimento guiaram uma análise crítico-reflexiva sobre como uma horta pode se apresentar num movimento contra-hegemônico de privação de liberdade, a exemplo de um restrito acesso à comida. Numa roda de conversa, sob uma perspectiva interativa acerca do conhecimento de horta, preferências de espécies para plantio e cuidados no manejo, as cozinheiras demonstraram familiaridade com a temática, sinalizando, inclusive, o cultivo em casa, tal qual destacaram o alecrim, a salsa e o manjericão como temperos de maior interesse para iniciar uma horta. A estrutura/localização, ao entrarem no centro do debate, revelaram-se limitantes, pois como o espaço interno é compartilhado com outras atividades para o público infantil, dificulta o manejo da horta e arrisca sua integridade. Por outro lado, ao se levantar a hipótese de uma horta acessível para moradores da região, as cozinheiras, igualmente moradoras, refutaram a ideia apontando falta de educação dos sujeitos do território. Assim, a conversa avançou em busca de solucionar o primeiro problema encontrado - onde plantar? Nessa lógica, a troca de experiências com grupos semelhantes pode colaborar com diferentes estratégias, por isso, foi realizada uma vivência no Projeto Favela Orgânica, localizado nos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira - RJ, que tem um trabalho comunitário de utilização integral dos alimentos, agroecologia e segurança alimentar e nutricional. Nos termos de Sen, o desenvolvimento tem de estar relacionado, sobretudo, com a melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos. Desse modo, acreditamos que processos construídos no coletivo, buscando uma liberdade substantiva, carregam em si um potencial para consolidar ações em torno do DHAA, de modo resiliente e transformador.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Fazendo democracia e promovendo direitos através do curso de extensão O Mundo das Mulheres e seus Direitos
Martha Celia Ramirez Galvez (UEL), Elaine Ferreira Galvão (UEL)
Resumo: O que é democracia? Foi a primeira pergunta que escutamos de uma das mulheres convocadas para participar em uma reunião de apresentação do projeto de Extensão Mulheres Construindo Democracia (MCD), da Universidade Estadual de Londrina. O projeto geral, que envolve várias frentes de ação, foi formulado em ano eleitoral, após a provocação de dona Rosalina Batista, uma liderança comunitária e à época presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM), que indagou o que a universidade estava fazendo para promover a participação de mulheres na política e formar candidatas para a disputa eleitoral. A provocação estimulou a formulação do projeto MCD, que articula um conjunto de atividades ̶ realizadas em cooperação entre a UEL, o CMDM e a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres de Londrina ̶ voltadas para a promoção dos direitos das mulheres, dos direitos humanos e do desenvolvimento humano sustentável. A partir de tal articulação tem surgido várias demandas, dentre elas, do CREAS, dispositivo de Proteção Social Especial para indivíduos e famílias em situação de risco em função da violação de seus direitos. Para desenhar essa intervenção consideramos 1) os objetivos da política pública de Assistência Social do município, que procura restaurar e preservar a integridade e as condições de autonomia das usuárias; contribuir para a ruptura de padrões violadores de direitos no núcleo familiar; prevenir a reincidência de violações de direitos em contextos intra e extra-familiares; 2) pesquisas com mulheres sobre o atendimento do CRAS, que indicam que atividades grupais entre elas geraram mudanças positivas e a integração em redes socioafetivas para superar situações de vulnerabilidade provocada pela violência. Orientadas pela demanda apresentada, pelos objetivos do CREAS e pelas pesquisas que evidenciavam mudanças estimuladas por reuniões grupais, desenhamos o curso de extensão o Mundo das Mulheres e seus Direitos, orientado para mulheres em situação de risco e desproteção social, atendidas pelo CREAS e CRAS em territórios periféricos da cidade. O curso, certificado pela UEL, segue uma metodologia de rodas de conversa e feminista e é ofertado nos territórios. Consiste em 12 encontros de duas horas, com temáticas que são decididas com as mulheres ou a partir de disparadores como a pergunta sobre o que é democracia. A avaliação das mulheres participantes, das profissionais de CREAS e CRAS e da equipe de extensionista da UEL aponta no mesmo sentido de as pesquisas mencionadas acerca das rodas constituírem um espaço de acolhimento, empoderamento e integração em redes socioafetivas transformadoras. A proposta para esse GT é apresentar o desenvolvimento do curso realizado, até o momento, em sete grupos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Retomar telas: um relato de experiência de ensino, pesquisa e extensão a partir da Sessão Kilombo da UFRPE-UAST, no sertão pernambucano
Paula Manuella Silva de Santana (UFRPE), Manoel Sotero Caio Netto (UFRPE)
Resumo: Essa proposta é fruto da trajetória de exercício intelectual e engajado de contra-colonização (SANTOS, 2015) que deu vida, no âmbito da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada, ao projeto de ensino, pesquisa e extensão Sessão Kilombo. A ideia é pensar as articulações múltiplas da trajetória que culminam na realização do evento em diálogo com a recente proposta de curricularização da extensão, a implementação em curso do notório saber de mestras e mestras da cultura popular e a indissociabilidade deste tripé tão importante para as universidades. A Sessão Kilombo, que está em sua terceira edição e é o único evento de cinema de autoria quilombola da região, emerge como expressão de projetos em rede que englobam o grupo de pesquisa Macondo, a disciplina de Educação para as relações étnico-raciais, a universidade, a escola quilombola, o cineclube Bamako, o Movimento Negro pela Igualdade Étnico-racial de Serra Talhada e outros coletivos e cineastas quilombolas e aliados de/em Pernambuco, numa interrelação que atualiza e dialoga através de múltiplos espaços sociais, diluindo fronteiras problemáticas como a oposição “a academia” versus “a sociedade”. A partir de tal cenário, busca-se contribuir para a efetivação da Lei n° 11.645/2008, via um intercâmbio de saberes entre estudantes das licenciaturas, técnicos administrativos, professores da instituição e a comunidade extra-acadêmica com os povos quilombolas. O estado de Pernambuco, vale endossar, possui a quinta maior população de quilombola do país, distribuída majoritariamente no Sertão (IBGE, 2020). Nesse sentido, a Sessão Kilombo tem como sustentáculo a noção de amefricanidade, elaborada por González (1988), para pensar as dinâmicas histórico-culturais do Brasil a partir da relevância dos encontros entre povos indígenas e povos afro-diaspóricos que se estabeleceram e perpetuam no território brasileiro. A posição geográfica de nosso campus, no Sertão e com uma quantidade significativa de estudantes quilombolas e indígenas, possibilitou a construção de um evento para rediscutir, continuamente, outros modos de fazer antropologia na força conjunta. A ideia é exercitar uma práxis antropológica que dialogue com as proposições de Lélia González, Nego Bispo, Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento e Zora Neale Hurston, que produziram ensaios etnográficos-literários e artísticos fecundos e contra-coloniais. A Sessão Kilombo é um território de retomada da tela de cinema a partir dessas e outras experimentações. A ideia não é comparar conhecimentos, mas expressar outros mundos possíveis, reconhecendo e valorizando suas epistemologias e saberes orgânicos (SANTOS, 2015), tornando estes o epicentro de discussões para a construção de uma educação antirracista.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
CICLO DE ENCONTROS: Alternativas Pedagógicas para uma Universidade Pluriepistêmica
Sara Nogueira de Araújo (UNB), Khamai Guarino Guerra (UNB)
Resumo: O documento tenta apresentar a experiência da Socius, enquanto projeto de extensão, na aplicação de uma nova metodologia pedagógica dentro do universo de pesquisa-ação proposto, em conjunto a mestras e mestres do saberes tradicionais, pelo antropólogo José Jorge de Carvalho, com o Encontro de Saberes. O Ciclo de Encontros pretende discutir, e incidir, embebido pelas contribuições desses agentes e de uma vasta rede de professores do ensino superior, em cima de reivindicações não só de um um corpo discente inquieto com a monoepistemia de nossa academia, mas também de demandas do próprio tempo histórico que vivemos.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Ebó Epistêmico: propondo encruzilhadas e ressignificando a noção de extensão universitária.
Thiago da Silva Santana (UFSC), Alexandra Eliza Vieira Alencar (UFSC), Flavia Medeiros Santos (UFSC)
Resumo: O programa de ensino, pesquisa e extensão Ebó Epistêmico tem como objetivo ofertar conhecimentos que tenha nas diversidades seu princípio formativo. Para tanto no que tange a extensão, além de oficinas de letramento racial em instituições de ensino da rede pública de Santa Catarina, o programa vem desde 2022 desenvolvendo um projeto intitulado Fazendo Cruzos com Antropologias, Artes e Museologias que consiste num evento científico semestral, que reúne cerca de 300 pessoas, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina (CFH/UFSC), promovendo a transposição curricular da disciplina obrigatória da Licenciatura em Ciências Sociais para um público mais amplo que o acadêmico. Dessa forma este artigo pretende analisar a 2ª edição do evento cujo tema foi “Pedagogias das/nas Encruzilhadas: Exu como educação”, realizada em junho de 2023, no sentido de questionar porque as ações de curricularização de extensão devem somente abarcar espaços fora das universidades, uma vez que há movimentos sociais que enxergam este espaço enquanto um espaço de poder a ser ocupado por esses agentes. Assim nossa metodologia utilizará de descrições etnográficas do referido evento, destacando seus impactos no espaço universitário e relacionando com as noções de curricularização de extensão presentes nas políticas públicas que vem sendo implementadas pela UFSC no que tange este tema.

Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Petflix: a extensão universitária como elo na discussão de temas contemporâneos em ciências sociais.
Vanessa Oliveira da Silva (Fclar/UNESP), Vitória Sousa (FCLAR), Leandro Teixeira da Silva (fclar)
Resumo: Este resumo é fruto de um tralho realizado junto ao programa de educação tutorial (PET-Ciências Sociais) da Faculdade de Ciências e Letras/UNESP. O petflix nasce da necessidade de fomentar a discussão na universidade, ainda em tempos de pandemia. Desta forma, o início dos trabalhos do Petflix se deu em outubro de 2021, trazendo para o debate temas emergentes que dialogam entre si, como por exemplo questões de gênero e relações étnico-raciais, meio ambiente e mudanças climáticas, a interdisciplinaridade nas ciências humanas e da saúde, debates acerca da crise científica e política no Brasil. Inicialmente, a execução do projeto se deu de maneira remota, dado o cenário pandêmico, inaugurando com o evento “Bate papo com projeto interação: responsabilidade social e meio ambiente”; posteriormente, em 2022, retornamos com a agenda presencial, com o evento “50 anos da Conferência de Estocolmo: desdobramentos contemporâneos e a crise ambiental no Brasil”, contanto com a presença da atual ministra dos povos indígenas, Sônia Guajajara. Ao longo do processo de desenvolvimento da Comissão, tecemos debates com outras figuras centrais do ponto de vista político e acadêmico, tais como: Professor Dr. Pedro Jacob, Amara Moira, Adélia Sampaio, Sâmia Bonfim, Daiara Tukano, Alessandra Korap, Professor Dr. Thiago Duarte, Paulo Galvão, dentre outros. O debate estabelecido entre Petflix e a comunidade acadêmica aguça as novas possibilidades de pensar a realidade social junto aos agentes políticos e ativistas em consonância com a agenda teórico-metodológica na Universidade, pensando que as produções cientificas corroboram para a transformação da sociedade. Além disso, é expressamente urgente a integralidade da Universidade para com as questões que emergem acerca da proteção social e da sobrevivência do nosso Planeta, dado as interferências do capitalismo na organização societária. Portanto, com os agravantes já conhecidos acerca do distanciamento das produções acadêmicas para com a sociedade, o Petflix conecta as produções artístico-visuais e as produções acadêmicas, proporcionando uma conversa pertinente às questões contemporâneas, e, germinando saberes.