Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 021: Antropologia e Extensão Universitária
Retomar telas: um relato de experiência de ensino, pesquisa e extensão a partir da Sessão Kilombo da UFRPE-UAST, no sertão pernambucano
Essa proposta é fruto da trajetória de exercício intelectual e engajado de contra-colonização (SANTOS, 2015) que deu vida, no âmbito da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada, ao projeto de ensino, pesquisa e extensão Sessão Kilombo. A ideia é pensar as articulações múltiplas da trajetória que culminam na realização do evento em diálogo com a recente proposta de curricularização da extensão, a implementação em curso do notório saber de mestras e mestras da cultura popular e a indissociabilidade deste tripé tão importante para as universidades.
A Sessão Kilombo, que está em sua terceira edição e é o único evento de cinema de autoria quilombola da região, emerge como expressão de projetos em rede que englobam o grupo de pesquisa Macondo, a disciplina de Educação para as relações étnico-raciais, a universidade, a escola quilombola, o cineclube Bamako, o Movimento Negro pela Igualdade Étnico-racial de Serra Talhada e outros coletivos e cineastas quilombolas e aliados de/em Pernambuco, numa interrelação que atualiza e dialoga através de múltiplos espaços sociais, diluindo fronteiras problemáticas como a oposição “a academia” versus “a sociedade”.
A partir de tal cenário, busca-se contribuir para a efetivação da Lei n° 11.645/2008, via um intercâmbio de saberes entre estudantes das licenciaturas, técnicos administrativos, professores da instituição e a comunidade extra-acadêmica com os povos quilombolas. O estado de Pernambuco, vale endossar, possui a quinta maior população de quilombola do país, distribuída majoritariamente no Sertão (IBGE, 2020). Nesse sentido, a Sessão Kilombo tem como sustentáculo a noção de amefricanidade, elaborada por González (1988), para pensar as dinâmicas histórico-culturais do Brasil a partir da relevância dos encontros entre povos indígenas e povos afro-diaspóricos que se estabeleceram e perpetuam no território brasileiro. A posição geográfica de nosso campus, no Sertão e com uma quantidade significativa de estudantes quilombolas e indígenas, possibilitou a construção de um evento para rediscutir, continuamente, outros modos de fazer antropologia na força conjunta.
A ideia é exercitar uma práxis antropológica que dialogue com as proposições de Lélia González, Nego Bispo, Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento e Zora Neale Hurston, que produziram ensaios etnográficos-literários e artísticos fecundos e contra-coloniais. A Sessão Kilombo é um território de retomada da tela de cinema a partir dessas e outras experimentações. A ideia não é comparar conhecimentos, mas expressar outros mundos possíveis, reconhecendo e valorizando suas epistemologias e saberes orgânicos (SANTOS, 2015), tornando estes o epicentro de discussões para a construção de uma educação antirracista.