Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 021: Antropologia e Extensão Universitária
Um Jardim que abriga o lixo e impede a horta
O Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) aborda as dimensões nutrição, soberania alimentar, gênero, raça e etnia, abarca, ainda, necessidades de grupos invisibilizados e demanda participação em soluções territoriais. Vislumbrando o DHAA, hortas comunitárias podem ser uma ferramenta para alcançar transformação social em ambientes vulnerabilizados a partir de uma interação dialógica, uma vez que funcionam como jardins pedagógicos ao criar laços entre a produção de alimentos, meio ambiente e comunidade. O objetivo do trabalho foi construir, de modo coletivo, especialmente, com as cozinheiras do projeto Gramachinhos, soluções possíveis para introdução de ingredientes não doados na alimentação cotidiana das crianças e adolescentes. Nesse sentido, iniciamos o planejamento de uma horta no Projeto Gramachinhos - antigo Aterro Sanitário de Jardim Gramacho - Duque de Caxias/RJ. Estratégias da pesquisa-ação foram priorizadas na condução do trabalho e as construções teóricas de Amartya Sen sobre liberdade e desenvolvimento guiaram uma análise crítico-reflexiva sobre como uma horta pode se apresentar num movimento contra-hegemônico de privação de liberdade, a exemplo de um restrito acesso à comida. Numa roda de conversa, sob uma perspectiva interativa acerca do conhecimento de horta, preferências de espécies para plantio e cuidados no manejo, as cozinheiras demonstraram familiaridade com a temática, sinalizando, inclusive, o cultivo em casa, tal qual destacaram o alecrim, a salsa e o manjericão como temperos de maior interesse para iniciar uma horta. A estrutura/localização, ao entrarem no centro do debate, revelaram-se limitantes, pois como o espaço interno é compartilhado com outras atividades para o público infantil, dificulta o manejo da horta e arrisca sua integridade. Por outro lado, ao se levantar a hipótese de uma horta acessível para moradores da região, as cozinheiras, igualmente moradoras, refutaram a ideia apontando falta de educação dos sujeitos do território. Assim, a conversa avançou em busca de solucionar o primeiro problema encontrado - onde plantar? Nessa lógica, a troca de experiências com grupos semelhantes pode colaborar com diferentes estratégias, por isso, foi realizada uma vivência no Projeto Favela Orgânica, localizado nos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira - RJ, que tem um trabalho comunitário de utilização integral dos alimentos, agroecologia e segurança alimentar e nutricional. Nos termos de Sen, o desenvolvimento tem de estar relacionado, sobretudo, com a melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos. Desse modo, acreditamos que processos construídos no coletivo, buscando uma liberdade substantiva, carregam em si um potencial para consolidar ações em torno do DHAA, de modo resiliente e transformador.