Grupos de Trabalho (GT)
GT 002: Alimentando o fim do mundo: agronegócio, saúde e Antropoceno
Coordenação
Jean Segata (UFRGS), Ivana Dos Santos Teixeira (University College London)
Resumo:
Este GT concentra-se nas interseções entre os Sistemas Alimentares Globais, Saúde e Antropoceno, com ênfase na expansão do agronegócio no Brasil e América Latina. Muitos países em desenvolvimento veem o agronegócio como um motor de crescimento econômico. Mas a rápida expansão desse setor tem frequentemente se dado às custas de desregulamentações ambientais e trabalhistas. Além disso, enquanto o agronegócio promete um futuro biotecnológico sustentável voltado à erradicação da fome, o que ele parece alimentar são as emergentes catástrofes ambientais, sociais e de saúde com consequências devastadoras, como epidemias emergentes, eventos climáticos extremos e desigualdades. Diante disso, o objetivo do GT é reunir pesquisas antropológicas que envolvam alimentação, meio ambiente, relações humano-animal, toxicidade e saúde e que contribuam com evidências sobre como o agronegócio tem acelerado transformações que caracterizam as geografias desiguais do Antropoceno e suas hierarquias de classe, raça, gênero e espécie. Em foco, estão as etnografias sobre a exploração do trabalho de populações vulneráveis, a apropriação de territórios indígenas e áreas de conservação, o aumento de doenças vetoriais e hídricas e eventos climáticos adversos à saúde, também o câncer e as doenças crônicas não-transmissíveis associadas ao crescente uso de agrotóxicos e ao consumo de alimentos ultraprocessados baseados em cultivos e criações intensivas de monoculturas animal e vegetal e a insegurança alimentar.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Bruna Luiza Soares Pires (UFOB)
Resumo: Esta pesquisa busca discutir os principais impactos da pandemia de COVID-19 nas vidas da população da região oeste do estado da Bahia, especificamente a região geográfica imediata de Barreiras, e analisar quais políticas públicas foram implementadas e como foram desenvolvimentos nos municípios locais. O oeste da Bahia é um território de expansão agrícola, com alta concentração de renda e significativas desigualdades socioeconômicas, cuja dinâmica impacta profundamente na vida das pessoas residentes na região, fazendo com que as condições precárias de vida dos grupos ali residentes tenham se intensificado em um cenário de emergência de saúde pública, como a pandemia. Os caminhos metodológicos percorridos são de base qualitativa, desenvolvidos por meio do levantamento de fontes bibliográficas e documentais. Observa-se que em um país desigual como o Brasil a pandemia acentuou todos os problemas socioeconômicos existentes, criando-se formas de se justificar essas desigualdades para a comodidade de uma minoria privilegiada da população. Grande parte dos municípios do oeste da Bahia são compostos por uma população predominantemente rural, que já viviam inúmeras privações materiais, mesmo em um período pré-pandêmico, e que foram intensificadas durante a pandemia, gerando retrocessos em lutas históricas. Entre esses retrocessos deve-se citar o aumento do desemprego e da insegurança alimentar entre os mais vulneráveis, paralelo ao fortalecimento do agronegócio na região. Para parte da população local, a fome e a miséria passaram de um medo para uma realidade que foi experienciada durante mantida após a pandemia, onde as políticas públicas foram insuficientes para acolher as demandas. Este trabalho visa apresentar análises que permitam compreender os danos da pandemia sobre essa população, podendo subsidiar políticas para a reparação desses prejuízos no cenário pós-pandemia.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Graziela da Silva Motta (IFFarroupilha)
Resumo: Em 1989 a lei dos agrotóxicos entra em vigor e o decreto que a detalha data de 2002. Se considerarmos a revolução verde como o embrião da economia do agronegócio, temos, pelo menos, vinte anos de liberdade para os usos de substâncias nocivas na agricultura. Isso significa dizer que qualquer produto tóxico poderia ser utilizado, armazenado ou descartado na natureza e não havia empecilhos legais para isso. Mesmo depois da sua regulamentação, os agrotóxicos continuaram sendo as substâncias mais utilizadas nas agriculturas – como o herbicida glifosato nas lavouras de grande e de pequena escala – e seus defensores na sociedade e na política se esforçam para alterar seu nome – para defensivos agrícolas ou produtos fitossanitários -, a fim de “abrandar” as associações negativas causados pela pronúncia do “tóxico” ligado ao “agro”. A dificuldade (e o descaso) em se investigar um nexo causal para o adoecimento por “agrotóxicos” amplia cada vez mais a liberdade para o uso indiscriminado dessas substâncias, mesmo em tempos de regulamentação. Em algumas produções agrícolas, como é o caso da maçã, coexistem máquinas e humanos que, não raro, se confundem numa deriva perigosa. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é analisar as causas da morte de um trabalhador indígena que atuava nas atividades rurais de produção de maçã no interior do Rio Grande do Sul, a fim de refletir sobre os riscos do trabalho manual na agricultura. Trata-se de resultados parciais de uma pesquisa que se encontra em andamento intitulada “mãos que movimentam o mercado: uma pesquisa sobre trabalho e trabalhadores rurais”. Ao final dessa investigação, pretende-se realizar um documentário que explora as relações de trabalho no campo, dando destaque para a história de vida do trabalhador mencionado.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Jonathan Madeira Rocha (UFRGS), Jean Segata (UFRGS)
Resumo: Inteligência artificial, drones e aplicativos para dispositivos móveis têm ganhado destaque em feiras do agronegócio, influenciando políticas, práticas e a formação de um novo imaginário agropecuário no Brasil. Eles indicam uma tendência de substituição de técnicas tradicionais da agricultura e da pecuária pelo uso de infraestruturas digitais e biotecnológicas. Esse "pacote tecnológico do agro" promete inovação e eficiência com baixo custo ambiental e social, promovendo a ideia de maior produtividade de maneira sustentável e moderna, quando, na realidade, tem reconfigurado relações, identidades, tradições, ecologias e a saúde de populações humanas e animais, além de ambientes. Este trabalho examina como o ufanismo tecnológico no setor se tornou hegemônico, não só entre fazendeiros e investidores, mas também na opinião pública, nos operadores de políticas públicas e entre as populações rurais e urbanas. Mesmo aqueles que sentem diretamente os efeitos nocivos desse modelo de produção percebem uma aceitação e até entusiasmo pela industrialização da agricultura. Ao descrever a digitalização do agronegócio no Rio Grande do Sul, objetiva-se fornecer evidências de que, apesar dos recordes na balança comercial, esse modelo impõe mais custos do que benefícios às pessoas envolvidas na crescente atividade agrícola. Portanto, o digital é analisado não apenas como um conjunto de técnicas e infraestruturas que intensificam e lucram com a atividade, mas também como um meio de convencer sobre a sustentabilidade, modernidade e eficiência do agronegócio. Para analisar esse cenário, o estudo começa com a construção de uma história etnográfica sobre a expansão e consolidação do agronegócio nas últimas três décadas no Rio Grande do Sul, enfatizando os novos discursos modernizadores associados às inovações tecnológicas. A pesquisa segue, a partir das feiras e exposições agropecuárias no estado, explorando como as tecnologias digitais chegam às propriedades da região do Pampa gaúcho e como elas transformam as relações produtivas, a criação e a extinção de postos de trabalho, a demanda por novas habilidades e o abandono de técnicas tradicionais, incluindo aquelas que definem identidades no sul do Brasil.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Jordeanes do Nascimento Araujo (UFAM)
Resumo: Por mais de quatro décadas a Amazônia vem se constituindo como fonte de recursos da natureza vinculado ao crescimento econômico do Brasil. Atualmente novas áreas estão sendo incorporadas a esse processo confirmando a continuidade da Amazônia como fronteira agrícola do país. Atualmente o sul do estado Amazonas vem sendo inserido ao mercado global das commodities da soja. Neste contexto procuramos analisar as transformações territoriais no município de Humaitá como reflexo do processo de expansão da fronteira. Compreendendo que a fronteira é uma área de apropriação natureza e de diferentes possibilidades de projetos, partimos do uso do território para tal análise. A retomada do plantio de soja, vem acompanhado de sistemas técnicos para dinamizar a atividade e deslocando a pecuária e o desmatamento para os territórios institucionalizados pelo Estado para a reprodução da vida amazônica, como é o caso dos assentamentos de desenvolvimento sustentável e agroextrativistas. Ao que tudo indica a fronteira agrícola irá se estabelecer no sul do Amazonas.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Júlia Moreira Ribeiro (UNILAB), Lailson Ferreira da Silva (UNILAB)
Resumo: Nossa pesquisa debruça-se sobre as relações entre a organização do cultivo agroecológico do café 100% arábica em torno da Associação EcoarCafé, formada por cafeicultores da região do Maciço de Baturité, e o aumento da participação de mulheres nessa modalidade de agricultura. O cultivo do café no Maciço teve dois grandes marcos históricos: primeiramente, a sua introdução em 1822, que foi em monocultivo e gerou um grande processo de desmatamento. Nesse primeiro momento, também houve a construção de uma ferrovia, ligando a região a Fortaleza, com a finalidade de escoamento do produto. Segundamente, o Programa de Erradicação dos Cafezais na década de 1960, de iniciativa federal, promoveu o redirecionamento da cafeicultura para o sudeste do país e inseriu o monocultivo da banana. Atualmente, essa prática extrativista tem gerado impactos socioambientais nos municípios do Maciço. A retirada do café colaborou para a degradação da região, pois as raízes profundas da planta ajudam na sustentação do solo, mas esta não aconteceu totalmente. A descoberta de que o melhor cultivo se dá à sombra de plantas nativas da região, como a ingazeira, despertou interesse dos cafeicultores interessados em manter o plantio, possibilitando o reflorestamento da região e consorciando com outras variedades de plantas. A pesquisa, portanto, visa observar os atuais movimentos que as/os cafeicultores realizam em diálogo com os modos de produção agroecológicos, focando na atuação feminina e como se dão suas contribuições para influenciar na propagação de práticas ecológicas. Acompanhamos por meio da trajetória de Mônica Farias, filha de um tradicional cafeicultor em Mulungu e atual presidente da associação citada, a influência no aumento da entrada de outras mulheres na cultura do café tanto em setores administrativos quanto nos trabalhos diretos com o campo. Percebemos uma relação entre os modos de fazer e a preservação da região por meio do fazer parentes (Haraway, 2016), sendo também associado à ideia do ecologismo dos pobres (Alier, 2007), no qual há uma preocupação com os recursos naturais necessários à subsistência e à diversidade dos cultivos no Maciço. Nesse sentido, o aumento da participação das mulheres tem menos a ver com uma suposta afinidade biológica do feminino com a natureza, como propõe o ecofeminismo de base essencialista (Paulilo, 2016), do que com a possibilidade de as mulheres tomarem à frente da construção de relações ecológicas e de conservação dos seus lugares de origem por meio da entrada na agricultura, levando em consideração também que os centros urbanos não necessariamente são o único antro de possibilidades de vida.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Karina Borges Cordovil (Nenhum)
Resumo: Esta cartilha foi desenvolvida de forma colaborativa com o povo Ka’apor, de forma a dar um retorno da pesquisa que foi desenvolvida a partir de 2017 em Gurupiuna, através do meu ingresso como aluna no Programa de Pós-graduação em Estudos Antrópicos na Amazônia. Busquei através desta mostrar a importância da alimentação dos Ka’apor, a partir de sua cosmologia, suas formas de compreensão e entendimento sobre o que é comida e seus modos de vê-la. Notamos uma característica fundamental na relação deles com a sua alimentação, que é a forma de cultivar e preservar o lugar de onde provém seu alimento, a floresta (Ka’a), uma relação de cooperação entre eles e a natureza. Para este foi imprescindível o auxilio dos colaboradores Ka'apor, a exemplo de Maiowá Ka'apor.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Núbia Vieira Cardoso (INSEA)
Resumo: No ano de 2019 foi registrado um incremento recorde de desmatamento em relação aos anos anteriores na Amazônia Legal. O município de São Felix do Xingu, no Sudeste Paraense, destaca-se nesse contexto, apresentando duas áreas protegidas com maiores índices de desmatamento. São Félix do Xingu, localizado na Amazônia Oriental está entre os seis municípios mais extensos do país. Do total da extensão territorial de 84 mil km², 50% dela é formada por terras indígenas que somadas às unidades de conservação chegam a mais de 70% de toda a sua extensão territorial. Município da Bacia do Médio Xingu, a sede municipal é atingida por via terrestre por uma única estrada estadual, ainda que o município abrigue o maior rebanho bovino do Brasil, 2,5 milhões de cabeças. Se de um lado a maior parte da extensão territorial é constituída por áreas voltadas para a conservação da natureza, de usufruto indígena e de posse da União, de outro, o rebanho bovino, demanda novos pastos, o que faz do município uma fronteira econômica, e territorial em permanente atualização. Dentre as alegorias associadas a São Félix do Xingu uma delas é a de capital do desmatamento. Buscando apresentar e discutir a dinâmica geoeconômica do município de SFX na atualidade, esta pesquisa foi desenvolvida em duas grandes partes e em dois momentos. A primeira, “a viagem de ida”, onde é elaborada a fundamentação teórica e histórica partindo do quadro regional onde está inserido o município. O segundo, a viagem de volta quando partindo do “concreto”, por meio da relação entre dados públicos e dos dados da pesquisa de campo, realizada em junho de 2022 em São Félix do Xingu, leva até o terceiro momento: a síntese. Identificou-se a relação entre o uso e apropriação da terra com a re-estruturação da produção da pecuária. Se na primeira década dos 2000 a produção esteve concentrada em fazendas, na atualidade a produção é descentralizada, tanto na distribuição da cadeia produtiva quanto na sua distribuição territorial até a escala do comércio e exportação. Ao contrário da imagem de um exótico “Brasil profundo”, o estudo geoeconômico de São Félix do Xingu na atualidade levou ao seu espelhamento com o Brasil. Sua função em uma rede de negócios central na economia brasileira contemporânea demonstra que ao contrário de exceção, o Município deve ser a regra.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Pedro Paulo Amorim Cezar (UFOB)
Resumo: A insegurança alimentar (IA) refere-se à falta de acesso regular e seguro a alimentos nutritivos em quantidade e qualidade suficientes para uma vida saudável. A insegurança alimentar entre os universitários é uma realidade que tem sido observada em outras pesquisas (Martins, 2021; Moura, 2022), refletindo um desafio a ser enfrentado. A IA pode ocorrer tanto por falta de recursos para aquisição de alimentação, como também devido a escolha por alimentos de baixo valor nutricional, muitas vezes em razão da facilidade de preparo e pelo baixo custo que geralmente possuem. Esta pesquisa concentra-se no Oeste da Bahia, especificamente nos estudantes universitários da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), que foi criada em 2013, após o desmembramento da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fruto de uma política de interiorização do ensino superior. A interiorização das universidades proporciona oportunidades àqueles estudantes que teriam maior dificuldade no acesso à graduação devido barreiras geográficas, financeiras e/ou sociais. Além disso, permite com que grupos historicamente excluídos da educação superior consigam pertencer a esse espaço, tais como estudantes da zona rural e de comunidades tradicionais. No território onde essa pesquisa se insere, é marcado pela forte expansão do agronegócio. Segundo o Censo Agropecuário de 2018, 93% da produção agropecuária no território é de origem não familiar, mostrando a expansão desta atividade econômica na região. O agronegócio pode aprofundar desigualdades na região, em razão da maior concentração de terras aos grandes produtores, bem como pelo aumento dos preços de custo de vida nas cidades, contribuindo com expulsões da população com menor condição socioeconômica. No que tange ao contexto das universidades, os Restaurantes Universitários (RU) oferecem refeições acessíveis e nutritivas aos estudantes, o que corrobora com a promoção da Segurança Alimentar e Nutricional, além de serem espaços de socialização importante para a comunidade acadêmica. Em 2020, com a chegada da pandemia de COVID-19 no Brasil, foi necessário a adoção de algumas medidas de contenção, tais como o isolamento social, que impôs a suspensão das aulas presenciais nas escolas e universidades, além da interrupção das atividades dos restaurantes universitários, como no caso da UFOB. Essa suspensão pode ter gerado impactos negativos nas condições alimentares dos estudantes, muito embora a instituição tenha oferecidos auxílios em forma de pecúnia para os alunos em maiores condições de vulnerabilidade. Esta pesquisa constitui parte integrante de uma pesquisa de mestrado em andamento, que tem como objetivo compreender os impactos da pandemia de COVID-19 na (in)segurança alimentar de universitários na Universidade Federal do Oeste da Bahia.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Thágila Maria dos Santos de Oliveira (UFRN), Julie Antoinette Cavignac (UFRN)
Resumo: A produção e o consumo de comida nos meios urbanos têm gerado cada vez mais debates nos setores privados e públicos e ações da sociedade civil tanto a nível individual como coletivo. Ao analisar os ativismos alimentares no Brasil e na América Latina, Portilho (2020) afirma que estes se dividem em duas gerações: a primeira marcada por ações na esfera institucional e predominância de críticas éticas, e a segunda marcada pela politização da comida e do ato de comer, e pela participação de vários atores, como profissionais de saúde, chefs de cozinha, veganos, ambientalistas, sindicalistas e membros dos movimentos sociais. Esta nova conformação, como citado por Barbosa (2016), é caracterizada pela convergência entre temas éticos e estéticos, envolvendo ações coletivas e individuais de compra, preparo, consumo e descarte de alimentos, como ocorre nas casas de permacultura. As casas de permacultura são espaços concebidos por indivíduos das classes médias urbanas que buscam viver em harmonia com a natureza. Nestes lugares, a alimentação, vestuário, produtos de higiene, e outros itens devem ser produzidos respeitando o fluxo e o tempo da natureza. Na região central de São Paulo, mais especificamente na Vila Mariana e em Perdizes, estão localizadas a Casa Botânica e a Casa Planta, respectivamente, que funcionam desde 2018. Ambas são casas de permacultura destinadas à hospedagem e visitação, sendo procuradas por viajantes, mulheres, mães, idosos, chefs de cozinha, profissionais de saúde, artistas e membros de movimentos sociais, como o movimento da agricultura familiar, pessoas ligadas ao MST, veganos, feministas e membros do movimento LGBT e punk, que desejam repensar a forma de se alimentar em uma megalópole caracterizada pela vida acelerada. Embora essas pessoas não se identifiquem como ativistas alimentares, a comida e o ato de comer são considerados por elas como atos políticos, e rever os hábitos alimentares é uma maneira de "salvar" o meio ambiente. Com a utilização de entrevistas semiestruturadas com os frequentadores das casas, realizadas para minha pesquisa de doutorado em antropologia social no PPGAS UFRN, busco trazer respostas para as perguntas: quais as circunstâncias socioculturais que levaram a essas mudanças no perfil dos ativismos? Quem são esses ativistas? Por que escolheram esse estilo de vida? O trabalho de campo inicial realizado entre agosto e novembro de 2023 mostrou que a experiência de compartilhar vivências com pessoas compartilhando as mesmas ideias é considerada uma forma de contestação a uma sociedade que valoriza o hiperconsumo e a artificialização da alimentação e das relações humanas.
Palavras-chaves: ativismos alimentares; alimentação sustentável; casa de permacultura; consumo alimentar.
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
Vitória Giovana Duarte (UFRGS)
Resumo: Este trabalho aborda o ativismo alimentar no Brasil, com foco na organização Crioula | Curadoria Alimentar, para compreender os arranjos do ativismo alimentar periférico no país. A partir desse caso exemplar, a análise propõe que existem diferentes formas de performar o ativismo alimentar, categorizando-os em ativismo alimentar periférico e hegemônico. Assim, caracterizo o que estou propondo para pensar a primeira categoria e apresento hipóteses do que a diferencia desta segunda. A pesquisa utiliza abordagens dos Estudos Sociais das Ciências e Tecnologias, sobretudo a Teoria Ator-Rede e as discussões sobre múltiplas ontologias/performances da realidade, além da literatura sobre sistemas e ativismo alimentar no Brasil. O campo incluiu análise de documentos, entrevistas semiestruturadas com membros da organização e observação participante em suas atividades. Conclusões preliminares destacam quatro diferenças fundamentais entre as formas dessas categorias performarem seu ativismo alimentar: a relação com o Estado, a influência no debate público sobre alimentação, as discussões centrais em suas agendas e a identidade das pessoas envolvidas nos arranjos e para quem eles são construídos.
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