Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 002: Alimentando o fim do mundo: agronegócio, saúde e Antropoceno
Das técnicas ao tech: o agronegócio e as transformações digitais da agropecuária no Rio Grande do Sul
Inteligência artificial, drones e aplicativos para dispositivos móveis têm ganhado destaque em feiras do agronegócio, influenciando políticas, práticas e a formação de um novo imaginário agropecuário no Brasil. Eles indicam uma tendência de substituição de técnicas tradicionais da agricultura e da pecuária pelo uso de infraestruturas digitais e biotecnológicas. Esse "pacote tecnológico do agro" promete inovação e eficiência com baixo custo ambiental e social, promovendo a ideia de maior produtividade de maneira sustentável e moderna, quando, na realidade, tem reconfigurado relações, identidades, tradições, ecologias e a saúde de populações humanas e animais, além de ambientes. Este trabalho examina como o ufanismo tecnológico no setor se tornou hegemônico, não só entre fazendeiros e investidores, mas também na opinião pública, nos operadores de políticas públicas e entre as populações rurais e urbanas. Mesmo aqueles que sentem diretamente os efeitos nocivos desse modelo de produção percebem uma aceitação e até entusiasmo pela industrialização da agricultura. Ao descrever a digitalização do agronegócio no Rio Grande do Sul, objetiva-se fornecer evidências de que, apesar dos recordes na balança comercial, esse modelo impõe mais custos do que benefícios às pessoas envolvidas na crescente atividade agrícola. Portanto, o digital é analisado não apenas como um conjunto de técnicas e infraestruturas que intensificam e lucram com a atividade, mas também como um meio de convencer sobre a sustentabilidade, modernidade e eficiência do agronegócio. Para analisar esse cenário, o estudo começa com a construção de uma história etnográfica sobre a expansão e consolidação do agronegócio nas últimas três décadas no Rio Grande do Sul, enfatizando os novos discursos modernizadores associados às inovações tecnológicas. A pesquisa segue, a partir das feiras e exposições agropecuárias no estado, explorando como as tecnologias digitais chegam às propriedades da região do Pampa gaúcho e como elas transformam as relações produtivas, a criação e a extinção de postos de trabalho, a demanda por novas habilidades e o abandono de técnicas tradicionais, incluindo aquelas que definem identidades no sul do Brasil.