ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 002: Alimentando o fim do mundo: agronegócio, saúde e Antropoceno
Comer é um ato político? Uma etnografia das experiências em torno da produção e consumo de uma alimentação sustentável em casas de permacultura, São Paulo/Brasil
A produção e o consumo de comida nos meios urbanos têm gerado cada vez mais debates nos setores privados e públicos e ações da sociedade civil tanto a nível individual como coletivo. Ao analisar os ativismos alimentares no Brasil e na América Latina, Portilho (2020) afirma que estes se dividem em duas gerações: a primeira marcada por ações na esfera institucional e predominância de críticas éticas, e a segunda marcada pela politização da comida e do ato de comer, e pela participação de vários atores, como profissionais de saúde, chefs de cozinha, veganos, ambientalistas, sindicalistas e membros dos movimentos sociais. Esta nova conformação, como citado por Barbosa (2016), é caracterizada pela convergência entre temas éticos e estéticos, envolvendo ações coletivas e individuais de compra, preparo, consumo e descarte de alimentos, como ocorre nas casas de permacultura. As casas de permacultura são espaços concebidos por indivíduos das classes médias urbanas que buscam viver em harmonia com a natureza. Nestes lugares, a alimentação, vestuário, produtos de higiene, e outros itens devem ser produzidos respeitando o fluxo e o tempo da natureza. Na região central de São Paulo, mais especificamente na Vila Mariana e em Perdizes, estão localizadas a Casa Botânica e a Casa Planta, respectivamente, que funcionam desde 2018. Ambas são casas de permacultura destinadas à hospedagem e visitação, sendo procuradas por viajantes, mulheres, mães, idosos, chefs de cozinha, profissionais de saúde, artistas e membros de movimentos sociais, como o movimento da agricultura familiar, pessoas ligadas ao MST, veganos, feministas e membros do movimento LGBT e punk, que desejam repensar a forma de se alimentar em uma megalópole caracterizada pela vida acelerada. Embora essas pessoas não se identifiquem como ativistas alimentares, a comida e o ato de comer são considerados por elas como atos políticos, e rever os hábitos alimentares é uma maneira de "salvar" o meio ambiente. Com a utilização de entrevistas semiestruturadas com os frequentadores das casas, realizadas para minha pesquisa de doutorado em antropologia social no PPGAS UFRN, busco trazer respostas para as perguntas: quais as circunstâncias socioculturais que levaram a essas mudanças no perfil dos ativismos? Quem são esses ativistas? Por que escolheram esse estilo de vida? O trabalho de campo inicial realizado entre agosto e novembro de 2023 mostrou que a experiência de compartilhar vivências com pessoas compartilhando as mesmas ideias é considerada uma forma de contestação a uma sociedade que valoriza o hiperconsumo e a artificialização da alimentação e das relações humanas. Palavras-chaves: ativismos alimentares; alimentação sustentável; casa de permacultura; consumo alimentar.