Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 002: Alimentando o fim do mundo: agronegócio, saúde e Antropoceno
As mulheres e o café no Maciço de Baturité, Ceará: uma aliança agroecológica.
Nossa pesquisa debruça-se sobre as relações entre a organização do cultivo agroecológico do café 100% arábica em torno da Associação EcoarCafé, formada por cafeicultores da região do Maciço de Baturité, e o aumento da participação de mulheres nessa modalidade de agricultura. O cultivo do café no Maciço teve dois grandes marcos históricos: primeiramente, a sua introdução em 1822, que foi em monocultivo e gerou um grande processo de desmatamento. Nesse primeiro momento, também houve a construção de uma ferrovia, ligando a região a Fortaleza, com a finalidade de escoamento do produto. Segundamente, o Programa de Erradicação dos Cafezais na década de 1960, de iniciativa federal, promoveu o redirecionamento da cafeicultura para o sudeste do país e inseriu o monocultivo da banana. Atualmente, essa prática extrativista tem gerado impactos socioambientais nos municípios do Maciço. A retirada do café colaborou para a degradação da região, pois as raízes profundas da planta ajudam na sustentação do solo, mas esta não aconteceu totalmente. A descoberta de que o melhor cultivo se dá à sombra de plantas nativas da região, como a ingazeira, despertou interesse dos cafeicultores interessados em manter o plantio, possibilitando o reflorestamento da região e consorciando com outras variedades de plantas. A pesquisa, portanto, visa observar os atuais movimentos que as/os cafeicultores realizam em diálogo com os modos de produção agroecológicos, focando na atuação feminina e como se dão suas contribuições para influenciar na propagação de práticas ecológicas. Acompanhamos por meio da trajetória de Mônica Farias, filha de um tradicional cafeicultor em Mulungu e atual presidente da associação citada, a influência no aumento da entrada de outras mulheres na cultura do café tanto em setores administrativos quanto nos trabalhos diretos com o campo. Percebemos uma relação entre os modos de fazer e a preservação da região por meio do fazer parentes (Haraway, 2016), sendo também associado à ideia do ecologismo dos pobres (Alier, 2007), no qual há uma preocupação com os recursos naturais necessários à subsistência e à diversidade dos cultivos no Maciço. Nesse sentido, o aumento da participação das mulheres tem menos a ver com uma suposta afinidade biológica do feminino com a natureza, como propõe o ecofeminismo de base essencialista (Paulilo, 2016), do que com a possibilidade de as mulheres tomarem à frente da construção de relações ecológicas e de conservação dos seus lugares de origem por meio da entrada na agricultura, levando em consideração também que os centros urbanos não necessariamente são o único antro de possibilidades de vida.