ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Simpósio Especial (SE)
SE 08: As escolas como arena, instrumento e alvo de disputas públicas
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Coordenação:
Guillermo Vega Sanabria (UFBA)

Sessão 1 - Etnografia de/nas escolas, educação e democracia

Participante(s):
Antonella Maria Imperatriz Tassinari (UFSC)
Bóris Maia e Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Emilene Leite de Sousa (UFMA)
Debatedor(a):
Mylene Mizrahi (PUC-RIO)

Sessão 2 - Ensinando “temas sensíveis” na escola

Participante(s):
Anna Paula Vencato (UFMG)
Lívia Tavares Mendes Froes (IFBAIANO)
Maria Filomena Gregori (UNICAMP)
Debatedor(a):
Paulo Victor Leite Lopes (UFRN)

Sessão 3 - Roda de Conversa|Da sociabilidade e das formas de violência nas escolas

Participante(s):
Ana Maria Rabelo Gomes (UFMG)
Nathalie Le Bouler Pavelic (paris 8)
Rodrigo Pereira da Rocha Rosistolato (UFRJ)
Debatedor(a):
Diogenes Egidio Cariaga (UEMS)

Resumo:
Este Simpósio visa reunir aportes para a análise de disputas públicas que têm as escolas como arena, instrumento e alvo. Algumas dessas disputas são antigas no Brasil, como as relacionadas ao ensino religioso, cívico e moral ou as permanentes tentativas de reforma educacional – vide o “Novo Ensino Médio”. Outras são recentes, como os enfrentamentos em torno da “ideologia de gênero”, da “escola sem partido”, do homeschooling, da militarização das escolas ou da resposta e explicações aos ataques armados em escolas pelo país afora. Propomos que no cerne dessas disputas estão os direitos conquistados por grupos historicamente marginalizados; primeiro as mulheres e o movimento feminista, no raiar do século XX e, depois, as pessoas LGBTQ+, negros, povos indígenas, comunidades quilombolas, jovens e crianças, imigrantes, etc. Tais avanços concretizam-se no âmbito escolar nas modalidades especializadas da educação, no ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena e nas ações afirmativas, por exemplo. Contudo, existe ao mesmo tempo um movimento de agendas ultraconservadoras, mais visível entre os adultos, mas também presente entre os mais jovens, nas escolas, na forma de posturas antifeministas, racistas, xenófobas, LGBTQfóbicas e que banalizam ou exaltam abertamente a desigualdade e a violência. O Simpósio foca nos paradoxos do discurso da diversidade neste contexto e nos desafios etnográficos e analíticos colocados pela experiência daqueles que vivenciam estes fenômenos.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Escolas indígenas: resistência, transformação e criatividade na construção de um diálogo inter-epistêmico
Antonella Maria Imperatriz Tassinari (UFSC)
Resumo: O tema da educação escolar indígena no Brasil recebeu renovado interesse antropológico nas últimas décadas, acompanhando o movimento indígena de reivindicação por escolarização, acesso ao Ensino Superior e à pós-graduação e conquistas na legislação decorrentes da Constituição de 1998. Foi um período de intensa mobilidade entre as escolas das aldeias indígenas e as Instituições de Ensino Superior, motivada tanto pelo interesse indígena em acessar conhecimentos acadêmicos quanto pelas políticas de ações afirmativas e fomento à formação de professores indígenas. Mas o que vem acontecendo no chão das escolas das aldeias indígenas? A partir de uma revisão bibliográfica sobre educação escolar indígena (2001-2021), pretende-se apontar para as inovações e transformações dessas escolas, considerando o conceito de “convivência intercultural” (Luciano 2013, p.107) que permite “criar sensibilidades socioculturais, afetivas e humanas” ou o que Walsh (2007, p.52) define como um espaço relacional de “inter-epistemologias”. As etnografias recentes sobre escolas indígenas, várias delas de autoria indígena, têm revelado maior articulação do cotidiano escolar com várias outras esferas da vida social (xamanismo, corporalidade, noção de pessoa, gênero, organização social e política, entre outros). Indicam que, apesar das dificuldades da gestão das escolas indígenas no Brasil, várias experiências têm conseguido transformar seu cotidiano de forma a dar espaço para fontes de conhecimentos não hegemônicos, mestres não humanos e processos alternativos de ensinar e aprender. Argumento que esse espaço das escolas das aldeias, com seus desafios, resistências e experimentações, são atualmente o verdadeiro lócus de emergência de um diálogo inter-epistêmico mais equitativo, pois ancorados no cotidiano das aldeias, com suas dinâmicas e temporalidades próprias.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Em busca da escola segura: modelos e práticas em disputa nas políticas de prevenção à violência escolar
Bóris Maia e Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Resumo: Esta apresentação visa discutir, a partir de dados de pesquisa etnográfica no Brasil e nos Estados Unidos, como, nas últimas décadas, a instituição escolar tem sido objeto de políticas de prevenção à violência que se baseiam em modelos distintos de controle social e segurança em contextos democráticos. A lógica que orienta a formulação de tais políticas, no entanto, encontra desafios na prática das escolas e das instâncias burocráticas educacionais, que, frequentemente, redefinem as orientações vindas de instâncias superiores em função das concepções de educação e controle social que seus atores manifestam. Assim, a implementação de projetos de justiça restaurativa, militarização das escolas, mediação escolar, programas anti-bullying, antirracistas e contra a homofobia, entre outros, são redesenhados na prática, variando de acordo com a adesão dos membros da comunidade escolar a eles. Tais políticas e suas formas de implementação na prática têm consequências diretas sobre as relações de sociabilidade e a construção do comum vivenciadas pelos estudantes, configurando diferentes modos de socialização política em torno do tema da segurança e das violências na escola.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Comida-da-escola e comida-de-casa: alimentação e pertencimento em uma escola do campo
Emilene Leite de Sousa (UFMA)
Resumo: Esta etnografia trata da relação construída pelas crianças de uma escola no interior do estado do Maranhão, entre a alimentação e o pertencimento ao campo. Por meio da narrativa da comida as crianças reforçam a sua identidade rural, em uma escola em que o currículo e o corpo docente, por meio de suas práticas, negam o pertencimento ao campo. Transitando pelas categorias comida-da-escola e comida-de-casa, as crianças diluem dicotomias clássicas como casa/roçado e roçado/escola. A etnografia foi produzida com base na observação, na produção de desenhos e por meio de conversas informais, técnicas utilizadas nesta pesquisa.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Aprendendo a ensinar: o que os jovens têm a nos dizer sobre temas sensíveis?
Lívia Tavares Mendes Froes (IFBAIANO)
Resumo: Esta comunicação é resultado de reflexões em torno da minha prática docente, enquanto professora de Sociologia, do Instituto Federal Baiano, no ensino médio. Não se trata, portanto, do compartilhamento de resultados de uma pesquisa sistemática. No Campus Itaberaba - BA, tenho ministrado o componente para todas as séries dos cursos técnicos de Agroindústria e Agropecuária integrados ao ensino médio. Após seis anos de experiência em sala de aula, a troca com estudantes só vem evidenciando a complexidade que representa o esforço de simplificação e inteligibilidade de um campo do conhecimento que exige um esforço considerável de abstração e bagagem teórica para apreensão de conceitos e categorias. Ainda que não haja consenso sobre tópicos e perspectivas teóricas a comporem os planos de ensino, as Orientações Curriculares Nacionais, publicadas em 2006, destacam dois papéis centrais viabilizados pela Sociologia, no ensino médio que são: a desnaturalização e o estranhamento dos fenômenos sociais. Dois movimentos que podem, incialmente, causar desconforto uma vez questionam uma série de certezas a respeito de valores, normas e comportamentos construídos, no decorrer da vida dessa pessoa que chega no ensino médio. Para refletir sobre esses e outros incômodos, analiso, ainda que de forma preliminar, as interações vivenciadas com, e entre os jovens, durante a abordagem de temas sobre gênero e sexualidade, tanto no decorrer das minhas aulas quanto durante atividades promovidas pelo Geni, o Núcleo de Estudos em Gênero e Sexualidade do IF Baiano. Destacarei, também, como minha formação em Antropologia tem se configurado enquanto importante companheira nessa travessia na qual aprendo, diariamente, e na interação com os estudantes, a ensinar esses e outros temas. No decurso dos anos, tenho observado uma diversidade de maneiras de como os jovens se apropriam, mobilizam e se posicionam diante dos temas gênero e sexualidade. Se é possível encontrar resistência, constrangimento e evitação desses temas, observo, ao mesmo tempo, interesse e muitas vezes reivindicação, por parte de alguns, em conhecer e debater o assunto, muitas vezes considerado tabu no ambiente familiar. Obviamente a escuta e observação atenta não são especificidades da Antropologia, mas desenvolvê-la enquanto ofício elementar para a prática antropológica tem representado, na minha experiência docente, relevante apoio no processo pedagógico, principalmente por levar à sério, o que os jovens dizem e demonstram. Na comunicação, serão compartilhadas ainda, algumas estratégias didáticas utilizadas.

Trabalho para RC - Roda de Conversa
Brincar de ataques” / “Brincar de receber encantados” : educação escolar indígena na aldeia Tupinambá de Serra do Padeiro, Bahia
Nathalie Le Bouler Pavelic (paris 8)
Resumo: A comunicação pretende evidenciar alguns aspectos da educação escolar indígena visto através do olhar dos seus estudantes na aldeia tupinambá de Serra do Padeiro. As violências e violações aos direitos indígenas sofridas pelos Tupinambá por parte de indivíduos e grupos contrários à demarcação, inclusive por agentes do poder público, impactaram directamente e continuam impactando a rotina escolar. A omissão do governo federal, ao não garantir os direitos territoriais dos Tupinambá, só fez acirrar o conflito e aumentar a violência. A comunicação quer demostrar que, a depender da situação vivenciada pelas crianças e pelos jovens - dentro ou fora da escola - as atividades inventadas e realizadas por eles mudam nitidamente. Em situação de conflito tenso, as brincadeiras tendem a refletir e exteriorizar as violências enquanto em tempo de relativa paz, elas tendem a expressar mais aspectos da própria cultura e assim reforçá-la.

Trabalho para RC - Roda de Conversa
Sociabilidade, estigmatização e segregação de estudantes
Rodrigo Pereira da Rocha Rosistolato (UFRJ)
Resumo: A comunicação apresentará os resultados da pesquisa "estigma e construção das trajetórias educacionais", financiada pelo CNPq. A investigação envolveu pesquisadores e pesquisadoras de todos os níveis e experiências, de professores(as) a alunos(as) de iniciação científica. Realizamos um conjunto de etnografias com foco na observação dos processos de estigmatização e rotulação presentes nas escolas, discutindo a relação destas formas de sociabilidade, por vezes violentas, com a construção das trajetórias educacionais dos alunos na educação básica.