Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 08: As escolas como arena, instrumento e alvo de disputas públicas
Aprendendo a ensinar: o que os jovens têm a nos dizer sobre temas sensíveis?
Esta comunicação é resultado de reflexões em torno da minha prática docente, enquanto
professora de Sociologia, do Instituto Federal Baiano, no ensino médio. Não se trata,
portanto, do compartilhamento de resultados de uma pesquisa sistemática. No Campus
Itaberaba - BA, tenho ministrado o componente para todas as séries dos cursos técnicos
de Agroindústria e Agropecuária integrados ao ensino médio. Após seis anos de
experiência em sala de aula, a troca com estudantes só vem evidenciando a
complexidade que representa o esforço de simplificação e inteligibilidade de um campo
do conhecimento que exige um esforço considerável de abstração e bagagem teórica
para apreensão de conceitos e categorias. Ainda que não haja consenso sobre tópicos e
perspectivas teóricas a comporem os planos de ensino, as Orientações Curriculares
Nacionais, publicadas em 2006, destacam dois papéis centrais viabilizados pela
Sociologia, no ensino médio que são: a desnaturalização e o estranhamento dos
fenômenos sociais. Dois movimentos que podem, incialmente, causar desconforto uma
vez questionam uma série de certezas a respeito de valores, normas e comportamentos
construídos, no decorrer da vida dessa pessoa que chega no ensino médio. Para refletir
sobre esses e outros incômodos, analiso, ainda que de forma preliminar, as interações
vivenciadas com, e entre os jovens, durante a abordagem de temas sobre gênero e
sexualidade, tanto no decorrer das minhas aulas quanto durante atividades promovidas
pelo Geni, o Núcleo de Estudos em Gênero e Sexualidade do IF Baiano. Destacarei,
também, como minha formação em Antropologia tem se configurado enquanto
importante companheira nessa travessia na qual aprendo, diariamente, e na interação
com os estudantes, a ensinar esses e outros temas. No decurso dos anos, tenho
observado uma diversidade de maneiras de como os jovens se apropriam, mobilizam e
se posicionam diante dos temas gênero e sexualidade. Se é possível encontrar
resistência, constrangimento e evitação desses temas, observo, ao mesmo tempo,
interesse e muitas vezes reivindicação, por parte de alguns, em conhecer e debater o
assunto, muitas vezes considerado tabu no ambiente familiar. Obviamente a escuta e
observação atenta não são especificidades da Antropologia, mas desenvolvê-la enquanto
ofício elementar para a prática antropológica tem representado, na minha experiência
docente, relevante apoio no processo pedagógico, principalmente por levar à sério, o
que os jovens dizem e demonstram. Na comunicação, serão compartilhadas ainda,
algumas estratégias didáticas utilizadas.