ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 08: As escolas como arena, instrumento e alvo de disputas públicas
Escolas indígenas: resistência, transformação e criatividade na construção de um diálogo inter-epistêmico
O tema da educação escolar indígena no Brasil recebeu renovado interesse antropológico nas últimas décadas, acompanhando o movimento indígena de reivindicação por escolarização, acesso ao Ensino Superior e à pós-graduação e conquistas na legislação decorrentes da Constituição de 1998. Foi um período de intensa mobilidade entre as escolas das aldeias indígenas e as Instituições de Ensino Superior, motivada tanto pelo interesse indígena em acessar conhecimentos acadêmicos quanto pelas políticas de ações afirmativas e fomento à formação de professores indígenas. Mas o que vem acontecendo no chão das escolas das aldeias indígenas? A partir de uma revisão bibliográfica sobre educação escolar indígena (2001-2021), pretende-se apontar para as inovações e transformações dessas escolas, considerando o conceito de “convivência intercultural” (Luciano 2013, p.107) que permite “criar sensibilidades socioculturais, afetivas e humanas” ou o que Walsh (2007, p.52) define como um espaço relacional de “inter-epistemologias”. As etnografias recentes sobre escolas indígenas, várias delas de autoria indígena, têm revelado maior articulação do cotidiano escolar com várias outras esferas da vida social (xamanismo, corporalidade, noção de pessoa, gênero, organização social e política, entre outros). Indicam que, apesar das dificuldades da gestão das escolas indígenas no Brasil, várias experiências têm conseguido transformar seu cotidiano de forma a dar espaço para fontes de conhecimentos não hegemônicos, mestres não humanos e processos alternativos de ensinar e aprender. Argumento que esse espaço das escolas das aldeias, com seus desafios, resistências e experimentações, são atualmente o verdadeiro lócus de emergência de um diálogo inter-epistêmico mais equitativo, pois ancorados no cotidiano das aldeias, com suas dinâmicas e temporalidades próprias.