Mesas Redondas (MR)
MR 08: A Pós-Graduação em questão: os desafios da formação em Antropologia diante das demandas contemporâneas
Coordenação:
Rita de Cássia Maria Neves (UFRN)
Debatedor(a):
Alfredo Wagner Berno de Almeida (UEMA)
Participantes:
Andréa Maria Narciso Rocha de Paula (UNIMONTES)
Arydimar Vasconcelos Gaioso (UEMA)
Elionice Conceição Sacramento (pescadora)
Resumo:
A proliferação de cursos de pós-graduação em Antropologia e áreas correlatas promoveu a diversificação da produção acadêmica e a descentralização da formação. Tal movimento veio acompanhado, nas últimas duas décadas, de políticas de cotas/ações afirmativas que democratizaram o ingresso na área. Esse conjunto de fatores veio a constituir um panorama muito diferente para a Antropologia no país. Presenciamos também mudanças estruturais significativas que têm apresentado novas demandas para a expertise antropológica: por parte do Estado, das instituições ambientais, empresariais e até militares. A diversificação se amplia com os trabalhos de consultoria que começaram a ser demandados por empreendimentos de energia elétrica, de construção civil, de empresas madeireiras, de fábricas de papel e celulose, de mineração, de petróleo e gás. Temos um panorama diferente de décadas atrás que nos colocam diante de dilemas envolvendo a dimensão de autonomia científica, da relação com agentes sociais estudados e a ampliação dos gêneros textuais em antropologia. Esta mesa objetiva discutir as experiências de três cursos de pós-graduação que assumiram o desafio de compartilhar suas vivências pautadas na questão dos conhecimentos tradicionais, visto que têm em suas linhas de pesquisa a relação com os povos e comunidades tradicionais e a afirmação de seus direitos étnicos e territoriais: PPGDS/UNIMONTES, o PPGCSPA/UEMA e o PPGAS/UFRN.
Trabalho para Mesa Redonda
Andréa Maria Narciso Rocha de Paula (UNIMONTES)
Resumo: Na Constituição Federal do Brasil de 1988, foram reconhecidos os direitos coletivos de povos indígenas e
comunidades remanescentes de quilombos, visibilizando as lutas e reivindicações dos novos sujeitos de
direitos. Os povos tradicionais dão visibilidade aos modos coletivos de gestão e apropriação dos
territórios,... expressam uma diversidade de formas de existência coletiva de diferentes povos e grupos
sociais em suas relações com os recursos da natureza, (Almeida, 2008: p.26). São povos que expressam na
atualidade o contexto histórico de expropriação e resistência, pois mesmo tendo enfrentado séculos de
expropriações territoriais e simbólicas, eles resistem nos territórios, utilizando formas de uso comum da
terra e a gestão distinta da natureza.
Enquanto sujeitos de direitos, os povos tradicionais têm ocupados vários espaços sociais e políticos da
sociedade, inclusive no campo da educação. Pretendemos dialogar sobre a Antropologia na
interdisciplinaridade, no contexto de um programa de pós-graduação em Desenvolvimento Social. Dialogar sobre
o acionamento da categoria desenvolvimento e os desafios da inserção, entrada e permanência dos povos
tradicionais na pós-graduação.
Referências:
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de Terra de quilombo, terras indígenas, babaçuais livre, castanhais do povo,
faixinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. Alfredo Wagner Berno de Almeida. 2.ª ed,
Manaus:
PGSCAUFAM, 2008.
Trabalho para Mesa Redonda
Arydimar Vasconcelos Gaioso (UEMA)
Resumo: O final do século XX é marcado por intensas mobilizações políticas articuladas com o advento das
categorias de autodefinição, quanto com a emergência de formas político-organizativas específicas. É
possível afirmar que se presencia um momento histórico caracterizado por novas formas de mobilização, de
reivindicação, onde os agentes sociais, por meio dessas práticas mobilizatórias demonstram conhecimento de
seus direitos constitucionais e questionam sobre suas relações com a política. Tomam para si a autoridade de
falarem em seu próprio nome e de tornar esse discurso legítimo, não se configurando como simples
espectadores, mas como agentes de transformação. Nesse sentido, as formas de representação de agentes
sociais organizados em torno de uma identidade coletiva deslocam-se para outras instâncias de representação,
saindo da esfera dos sindicatos e partidos de esquerda, ao trazer em suas pautas de reivindicação elementos
de identidade. Os espaços acadêmicos e universitários, a partir de políticas de cotas e/ou ações
afirmativas, vem democratizando o ingresso de agentes sociais, o que tem fomentado um debate sobre autonomia
e hierarquia do saber científico, resultado de tensões provocadas por diferentes saberes na estrutura do
campus científico. Esse debate tem levado redefinições nas formas de ingressos nas pós-graduações, mas não
são acompanhados na mesma proporção no reconhecimento dos diferentes tipos de saberes como saber científico.
Assim, ao mesmo tempo que reconhece o modo de vida e o saber tradicional dos candidatos à pós-graduação, a
produção intelectual exigida ao longo do curso têm destoado dessa representação, pois ao mesmo tempo que
reconhece as especificidades, também desconhece, ao impor um padrão de conhecimento e produção intelectual
que deslegitima o saber tradicional. Essa situação tem sido desafiadora para os programas de pós-graduação,
que também está submetido à hierarquia do campus científico, devendo cumprir com os padrões estabelecidos
através de métricas. O programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia da
Universidade Estadual do Maranhão não está isento dessa discussão e vem criando ações, desde sua criação, em
2013, para amenizar essas tensões.
Trabalho para Mesa Redonda
Rita de Cássia Maria Neves (UFRN)
Resumo: A partir de 2016, o PPGAS UFRN instituiu ações afirmativas, com editais específicos para povos
indígenas, quilombolas e mais recentemente, ciganos, pessoas trans e travestis, reforçando a formação de
pesquisadores que têm usado o conhecimento adquirido na área em suas pautas de reivindicações,
principalmente no campo do enfrentamento a grandes empreendimentos energéticos que nos últimos anos se
intensificou no estado do Rio Grande do Norte, onde estamos inseridos. O desafio de pensar o conhecimento no
campo acadêmico, mas também na interface com o conhecimento tradicional é a base sobre a qual esse debate se
estabelece. A proposta desse trabalho é, portanto, enfrentar os desafios postos de pensar o conhecimento
como uma via de mão dupla, mas também analisar essa formação no enfrentamento das questões vivenciadas por
essas comunidades no estado. É também um debate que se dá em uma universidade pública que está inserida em
um estado pobre, na região Nordeste, mas que pode ajudar a pensar para além dessa instituição.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA