ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Simpósio Especial (SE)
SE 25: Uma 'Antropologia implicada' nos tempos e espaços rurais: homenagem a Carlos Rodrigues Brandão
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Coordenação:
Andréa Maria Narciso Rocha de Paula (UNIMONTES)
Emilia Pietrafesa de Godoi (UNICAMP)

Sessão 1 - O trabalho da terra e do saber: educação, meio-ambiente e trabalho

Participante(s):
Luzimar Paulo Pereira (UFJF)
Neusa Maria Mendes de Gusmão (UNICAMP)
Renata Medeiros Paoliello (UNESP)
Debatedor(a):
John Cunha Comerford (UFRJ)

Sessão 2 - Cantar, dançar e rezar: religiosidades populares e rituais camponeses

Participante(s):
Carlos Alberto Steil (Unicamp)
Carmem Lúcia Rodrigues (UNIFAL-MG)
Wagner Neves Diniz Chaves (UFRJ)
Debatedor(a):
Wilson Rogério Penteado Júnior (UFRB)

Sessão 3 - Roda de Conversa|Carlos Rodrigues Brandão: antropólogo e professor engajado

Participante(s):
Alik Wunder (Unicamp)
Andréa Maria Narciso Rocha de Paula (UNIMONTES)
Letícia Aparecida Rocha (Conselho Pastoral dos Pescadores - MG)
Lucimar Magalhães de Albuquerque (PUC MINAS)
Simone de Souza (Escola Estadual da Fazenda Passagem Funda)
Yan Victor Leal da Silva (UNIMONTES)
Debatedor(a):
Emilia Pietrafesa de Godoi (UNICAMP)

Resumo:
Carlos Rodrigues Brandão foi antropólogo e educador incansável e deixou-nos um legado imenso. Por ocasião do primeiro ano da sua partida (julho de 2023), propomos, neste Simpósio Especial, abordar as temáticas centrais de sua obra, apontando as contribuições e as perspectivas abertas por seus estudos. C. Brandão dedicou as suas pesquisas ao mundo da vida e do trabalho camponês e às culturas populares - a religião, as festas e seus ritos. Também integrou aos seus estudos a dimensão ambiental dos cenários e vidas rurais. A abertura para o outro sempre esteve presente não somente no antropólogo, mas também no educador. "Educação e cultura popular" se constituíram em um outro campo vigoroso de investigação do antropólogo. Quando nos referimos a uma Antropologia Implicada (Bruce Albert, 1995), evocamos a sua prática de pesquisa e de produção de conhecimento compromissada intelectual e eticamente com a situação vivenciada pelas comunidades estudadas. Para debater os aportes trazidos e as perspectivas abertas pelos seus estudos, contaremos com a participação de antropólogas, antropólogos, representantes de movimentos sociais e povos tradicionais. A terceira sessão será uma Roda de Conversa que contemplará também depoimentos, versos e cantos, evocando a partilha de saberes sempre vivida por C. R. Brandão. Como ele próprio refletiu na Introdução de Etnocartografias do São Francisco (2013:13): "saibamos alargar até a fronteira aberta da arte os territórios das ciências humanas".

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Beira rio, beira vida: etnocartografias de comunidades tradicionais
Andréa Maria Narciso Rocha de Paula (UNIMONTES)
Resumo: No ano de 2011 realizamos um trabalho de campo a bordo da Barca Tainá, saindo do norte de Minas Gerais, da cidade de Pirapora até a cidade de Manga, última cidade de Minas Gerais já na fronteira com a Bahia, o trecho navegável do Rio São Francisco mineiro. Carlos Rodrigues Brandão, foi nosso capitão nessa viagem, onde nosso objetivo era visitar ilhas e pequenos povoados ribeirinhos. Compreendemos de acordo com Brandao (2012), que a palavra etnocartografia possuiu múltiplo sentido para essa viagem: “Em uma direção foi nosso objetivo mergulhar em uma leitura geo-cartográfica do rio São Francisco. Começamos por uma leitura de mapas antigos e terminamos por um novo levantamento das ilhas do São Francisco e de algumas de suas comunidades ribeirinhas. Em uma outra direção, convergente, etno-mapeamos cenários, cenas e, sobretudo, pessoas, comunidades e modos de vida tradicionais longo do São Francisco.” E assim, "Rio baixo, norte acima", foi possível observar, descrever e conviver com homens, mulheres, crianças, velhos, jovens, que fazem o viver nessas beiras de rio e sertão. Realizamos entrevistas, imagens, vídeos, participamos de cerimonias religiosas, ritos de benzeçoes e do fazer artesanato em barro. Estivemos em casas de adobe, em lavouras de mandioca e de diversidade de feijões e milhos. Vimos o rio se transformando em estrada liquida, transportando famílias, trabalhadores e coisas diversas. Participamos de rodas de batuque, de São Gonçalo. Vimos fome e fartura, casas de ausentes e de famílias a esperar os seus entes retornarem da migração. Foram muitas as imagens das “gentes do sertão e do rio”. Estivemos com Pessoas que as vezes estavam sós, em uma lavoura de vazante de ilha, às vezes em um par, outras vezes em uma família ou mesmo em um pequeno grupo comunitário reunido. Foram onze (11) dias pelas águas do São Francisco, onde vivemos mais uma experiência de trabalho científico e de formação de pesquisadores que nos reuniu desde o ano de 2005. No "sertão seco" e no "sertão molhado" (nome que fizemos circular entre nós através da explicação de Carlos Brandao) do Norte de Minas, para diferenciar as comunidades tradicionais de beira rio e de dentro do sertão. Todas e todos os pesquisadores estiveram ligadas a algum de nossos projetos coletivos. E, assim, cada pesquisador, ao lado de desenvolver sua dissertação ou tese, participava ativamente de trabalhos coletivos de pesquisa ou de desdobramento de pesquisas, com trabalhos diretamente associados a comunidades pesquisadas. Uma experiência de viver a pós-graduação de forma solidária, na dimensão da ciência realizada de forma engajada.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
A religião como cultura: o olhar implicado de Carlos Rodrigues Brandão sobre a vida dos subalternos do campo
Carlos Alberto Steil (Unicamp)
Resumo: A contribuição de Carlos Rodrigues Brandão aos estudos da religião popular é indiscutível. Sua abordagem etnográfica, assim como seus aportes teóricos, é incontornável para a antropologia e as ciências sociais da religião. E, para além dos parâmetros científicos, que ele domina com grande competência, seus escritos revelam uma longa vida compartilhada com as populações rurais subalternas, com as quais ele convive intensamente, fazendo de seus interlocutores amigos e companheiros. Tomando como base seus livros e escritos sobre o tema, a minha fala, neste Simpósio Especial, destacará alguns aspectos relevantes do pensamento de Brandão sobre os emaranhados do catolicismo rústico, com suas rezas e cantos, com as festas e folguedos da cultura popular. Destacarei, ainda, que o seu compromisso etnográfico intenso e sua inserção apaixonada em campo são as condições efetivas da objetividade e da profundidade da sua investigação. Por fim, num esforço de diálogo com sua obra, pretendo lançar algumas perguntas sobre os desafios que as transformações recentes na cultura popular e na configuração das relações sociais no campo estão impondo a nós, antropólogos que estudam religião.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
O antropólogo peregrino pelas estradas de terra no Sul de Minas: devoção, cantoria e a partilha da vida.
Carmem Lúcia Rodrigues (UNIFAL-MG)
Resumo: Muito foi dito, escrito e divulgado sobre Carlos Rodrigues Brandão desde sua partida (11/07/2023). Ele era um escritor compulsivo, publicou mais de setenta livros, que tratam de temas aos quais se dedicou por décadas: educação (sobretudo a educação popular), pesquisa participante, comunidades rurais e tradicionais, cultura popular. Foi professor por mais de cinquenta anos, em diversas universidades brasileiras e no exterior. Etnógrafo primoroso, pesquisou em campo a cultura popular ao longo de toda sua vida, nos rincões mais isolados dos sertões mineiros até em aldeias remotas da Galicia (Espanha), onde morou por um tempo. No trabalho de campo exercitava, como maestria inigualável: a escuta atenta, o olhar perspicaz, a troca de saberes e sobretudo a convivência amorosa com o povo do campo: mestres de folias de reis e do congado, agricultores e agricultoras, quilombolas, indígenas e outras tantas gentes… Conheci o Brandão em 1997, no ano em que se aposentou da Unicamp. Foi ele o responsável por minha conversão à antropologia. Coerente aos preceitos da educação em que apresenta no famoso livrinho de bolso “O que é a Educação” (1981), Brandão nos ensinava a “ler o mundo” a partir de seu próprio exemplo, na lida com as pessoas. Revelava de maneira informal, nas muitas histórias que gostava de contar, conhecimentos de obras clássicas, de preferência durante as caminhadas pelas estradinhas de terra no Sul de Minas. Como sua orientanda de doutorado na Unicamp, o Brandão me conduziu com leveza e grande sensibilidade na realização de uma pesquisa etnográfica sobre o “Fandango Caiçara”, concluída em 2013. O acompanhei algumas vezes ao participar das folias de reis mais contemporâneas. Nos últimos anos, os foliões realizavam os circuitos de carro em bairros periféricos de Poços de Caldas e em Caldas. Era com profunda devoção que observava as cantorias e os rituais, ainda que fossem mais breves e menos complexos daqueles analisados em Sacerdotes de Viola (1981). Uma das coisas que o Brandão mais gostava de fazer era caminhar ao lado de pessoas amigas ao redor do sítio dele, em Caldas (MG), para apreciar as matas, as cachoeiras, as montanhas e, em especial, as estrelas e os passarinhos. É desse lugar, de perto e de braços dados com o Brandão, que pretendo narrar como me tornei pesquisadora e professora de antropologia. Muito ainda será dito e lembrado a respeito desse grande educador e antropólogo, mas para nós, que tivemos a boa sorte de estar por um longo tempo ao seu lado, no sítio “Rosa dos Ventos”, o que fica é a certeza de que ele foi uma das pessoas mais generosas desse mundo. Sua maior alegria era a partilha da vida. Generoso, afetuoso e agregador, é assim que sempre nos lembraremos dele, o nosso querido Brandão.

Trabalho para RC - Roda de Conversa
Ateliê de costura: memórias e abordagens que nos permitem o encontro com o antropólogo engajado.
Letícia Aparecida Rocha (Conselho Pastoral dos Pescadores - MG), Letícia Aparecida Rocha (Educadora Social do CPP-MG)
Resumo: Ao nos debruçarmos sobre o legado deixado pelo professor Carlos Rodrigues Brandão como antropólogo e educador, no Simpósio Especial da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, nos propomos ao tecimento, a muitas mãos, fazermos um ateliê de costuras de suas contribuições acadêmicas enraizadas no cotidiano do mundo camponês e às culturas populares. Neste ateliê de memórias convido o Ivo Polleto, pessoa felizarda, que conviveu com o professor Carlos Brandão na época da sua fecunda contribuição na formação da diocese de Goiás em 1968, ocasião que fora nomeado como bispo daquela diocese Dom Tomás Balduíno, frade diocesano e ativista do MEB em Conceição do Araguaia. bispo reconhecido pela sua forte e significativa atuação na luta pela terra, juntamente com Dom Pedro Casaldáliga , fundador da Comissão Pastoral da Terra. Até os anos de 1990, Carlos Rodrigues Brandão assessorou projetos de ação pastoral junto as comunidades camponesas, enfrentando todo o peso da ditadura militar. E a partir das memórias de Ivo Polleto quero elucidar a primeira e confirmada constatação, que tenho do professor Carlos Rodrigues Brandão como antropólogo comprometidos com as causas do povo, acolhendo a coetaneidade (FABIAN, 1983) daqueles que foram colocados como sujeitos de suas pesquisas antropológicas.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Os animais não humanos na antropologia de Carlos Rodrigues Brandão
Luzimar Paulo Pereira (UFJF)
Resumo: Ao nos debruçarmos sobre o legado deixado pelo professor Carlos Rodrigues Brandão como antropólogo e educador, no Simpósio Especial da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, nos propomos ao “tecimento,” a muitas mãos, fazermos um ateliê de costuras de suas contribuições acadêmicas enraizadas no cotidiano do mundo camponês e às culturas populares. Neste ateliê de memórias convido o Ivo Polleto, pessoa felizarda, que conviveu com o professor Carlos Brandão na época da sua fecunda contribuição na formação da diocese de Goiás em 1968, ocasião que fora nomeado como bispo daquela diocese Dom Tomás Balduíno, frade diocesano e ativista do MEB em Conceição do Araguaia. bispo reconhecido pela sua forte e significativa atuação na luta pela terra, juntamente com Dom Pedro Casaldáliga , fundador da Comissão Pastoral da Terra. Até os anos de 1990, Carlos Rodrigues Brandão assessorou projetos de ação pastoral junto as comunidades camponesas, enfrentando todo o peso da ditadura militar. E a partir das memórias de Ivo Polleto quero elucidar a primeira e confirmada constatação, que tenho do professor Carlos Rodrigues Brandão como antropólogo comprometidos com as causas do povo, acolhendo a coetaneidade (FABIAN, 1983) daqueles que foram colocados como sujeitos de suas pesquisas antropológicas.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
"SIGO ATRAVÉS": travessias entre saberes com o Mestre Carlos Rodrigues Brandão
Neusa Maria Mendes de Gusmão (UNICAMP)
Resumo: "Sigo através" é expressão do sábio Bashô, monge zen, peregrino e grande poeta admirado e diversas vezes citado pelo Mestre Brandão, nosso homenageado neste Simpósio. A expressão se faz eixo deste artigo, no qual busco dialogar com Brandão e comigo mesma, apresentando nossas práticas como pesquisadores do sertão e da educação. O que se pretende aqui, é trazer à tona o sertão e suas gentes como espaço educativo de fazeres e acontecimentos, de encontros e desafios ao nosso próprio saber/fazer mediante outros saberes, outras visões de mundo. O compartilhar, desde sempre presente no pensamento de Brandão em termos de prática antropológica e educação, revela-se em muitas de suas obras, no intento de luta pela igualdade e valência de saberes. Nesse sentido, uma entre muitas de suas obras e de imenso significado, se destaca por colocar em intenso diálogo o sertão e sua gente e estes, com o mundo acadêmico e com o universo literário de Guimarães Rosa, expondo o lugar de nossas falas, ou seja, a antropologia e a educação

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Carlos Rodrigues Brandão e o Trabalho de Campo: apredizado e poesia
Renata Medeiros Paoliello (UNESP)
Resumo: A apresentação visa relembrar o trabalho de Carlos Brandão na formação de seus alunos, a partir de minha experiência como mestranda em antropologia social na UNICAMP, em meados dos anos 1980. Ao mesmo tempo rigoroso e sensível, deixou sua marca em cada um que, com ele, não só cursou disciplina, mas aprendeu a prática da pesquisa etnográfica. Não à toa, em O Afeto da Terra, ele alude a Bachelard: simultaneamente noturno - o das poéticas - e diurno, o do cuidado metódico com o olhar e a escuta na abertura para a alteridade. Na tangência entre o fazer científico e a educação, inspirará seus alunos a efetivamente se relacionarem com aqueles entre os quais se pesquisa como sujeitos, e a se colocarem por sua vez como sujeitos de um aprendizado mútuo e ativo. Transformar-se no campo e a partir dele é a grande aventura na coprodução de um conhecimento, propriamente antropológico, que, se permanece mais ou menos hermético para não iniciados, é aquele que melhor oferece a possibilidade de transpor barreiras entre mundos simbólicos sem reduzir suas diferenças, sem aniquilar suas especificidades. São esses passos, de uma antropologia feita também com o corpo e os sentidos, que pretendemos evocar vivamente, nas pegadas de Carlos Brandão, antropólogo, poeta, viajante e, sobretudo, para os que foram seus alunos, um professor memorável e exemplar.

Trabalho para SE - Simpósio Especial
Entre dádivas, afetos, saberes e aprendizados
Wagner Neves Diniz Chaves (UFRJ), Wagner Chaves (Professor Associado do Departamento de Antropologia Cultural / UFRJ)
Resumo: Os estudos pioneiros de Carlos Rodrigues Brandão sobre religiosidade popular, especificamente os voltados para os rituais do catolicismo popular, como Folias, Congadas, Cavalhadas, Festas do Divino, Danças de São Gonçalo, Moçambiques, entre outros, são indispensáveis para quem se aventura a pesquisar tais assuntos. Nessa comunicação em homenagem ao querido e saudoso mestre que há um ano nos deixou, minha intenção é destacar duas de suas mais originais contribuições para essa área de estudos: a primeira diz respeito ao uso que faz da teoria maussiana da reciprocidade para a descrição e interpretação das trocas e processos rituais, especialmente no caso das Folias; a segunda, em torno das dinâmicas de transmissão e circulação de conhecimentos no âmbito dos coletivos populares que movimentam em suas performances, saberes, competências e habilidades diversas e desigualmente distribuídas. Ao final da apresentação, esses dois caminhos inspiram algumas notas etnográficas a partir da minha própria pesquisa e vivência junto às Folias de Santos Reis, São José, Santa Luzia entre outros santos e santas.