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Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 25: Uma 'Antropologia implicada' nos tempos e espaços rurais: homenagem a Carlos Rodrigues Brandão
Beira rio, beira vida: etnocartografias de comunidades tradicionais
No ano de 2011 realizamos um trabalho de campo a bordo da Barca Tainá, saindo do norte de Minas Gerais, da cidade de Pirapora até a cidade de Manga, última cidade de Minas Gerais já na fronteira com a Bahia, o trecho navegável do Rio São Francisco mineiro. Carlos Rodrigues Brandão, foi nosso capitão nessa viagem, onde nosso objetivo era visitar ilhas e pequenos povoados ribeirinhos. Compreendemos de acordo com Brandao (2012), que a palavra etnocartografia possuiu múltiplo sentido para essa viagem: “Em uma direção foi nosso objetivo mergulhar em uma leitura geo-cartográfica do rio São Francisco. Começamos por uma leitura de mapas antigos e terminamos por um novo levantamento das ilhas do São Francisco e de algumas de suas comunidades ribeirinhas. Em uma outra direção, convergente, etno-mapeamos cenários, cenas e, sobretudo, pessoas, comunidades e modos de vida tradicionais longo do São Francisco.” E assim, "Rio baixo, norte acima", foi possível observar, descrever e conviver com homens, mulheres, crianças, velhos, jovens, que fazem o viver nessas beiras de rio e sertão. Realizamos entrevistas, imagens, vídeos, participamos de cerimonias religiosas, ritos de benzeçoes e do fazer artesanato em barro. Estivemos em casas de adobe, em lavouras de mandioca e de diversidade de feijões e milhos. Vimos o rio se transformando em estrada liquida, transportando famílias, trabalhadores e coisas diversas. Participamos de rodas de batuque, de São Gonçalo. Vimos fome e fartura, casas de ausentes e de famílias a esperar os seus entes retornarem da migração. Foram muitas as imagens das “gentes do sertão e do rio”. Estivemos com Pessoas que as vezes estavam sós, em uma lavoura de vazante de ilha, às vezes em um par, outras vezes em uma família ou mesmo em um pequeno grupo comunitário reunido. Foram onze (11) dias pelas águas do São Francisco, onde vivemos mais uma experiência de trabalho científico e de formação de pesquisadores que nos reuniu desde o ano de 2005. No "sertão seco" e no "sertão molhado" (nome que fizemos circular entre nós através da explicação de Carlos Brandao) do Norte de Minas, para diferenciar as comunidades tradicionais de beira rio e de dentro do sertão. Todas e todos os pesquisadores estiveram ligadas a algum de nossos projetos coletivos. E, assim, cada pesquisador, ao lado de desenvolver sua dissertação ou tese, participava ativamente de trabalhos coletivos de pesquisa ou de desdobramento de pesquisas, com trabalhos diretamente associados a comunidades pesquisadas. Uma experiência de viver a pós-graduação de forma solidária, na dimensão da ciência realizada de forma engajada.