Mesas Redondas (MR)
MR 57: Para evitar a queda do céu: o que as crianças nos ensinam para sair da crise contemporânea?
Coordenação:
Emilene Leite de Sousa (UFMA)
Participantes:
Antonella Maria Imperatriz Tassinari (UFSC)
Flávia Ferreira Pires (UFPB)
Maria do Socorro Rayol Amoras (UFPA)
Resumo:
Em diálogo com a Antropologia da Criança, a mesa traz investigações com crianças a partir de cosmovisões tradicionais, tomando-as como sujeitos, privilegiando perspectivas críticas e decoloniais, que apontem saídas para o caos social e o neoliberalismo. Serão apresentadas pesquisas situadas na virada ontológica da disciplina, atentas aos impactos do humano sobre o planeta, cujas reflexões se produziram a partir das relações das crianças indígenas Galibi-Marworno com o ambiente, através da aprendizagem de uma ética de cuidados no contato com os "donos" (humanos e não humanos) dos lugares; da produção de territorialidades do bem-viver das crianças do quilombo do Abacatal no Pará; e dos modos de relação e enfrentamento das crianças com vírus (o invisível) da Covid-19 no estado da Paraíba. A multiplicidade das infâncias, enquanto categoria estrutural dentro do ciclo geracional, estará presente. A mesa tratará de temas caros à antropologia - subjetividades, parentesco, territorialidades, aprendizagens, etnicidades, meio ambiente, Estado, polítcas públicas, cuidado e família, etc –, à partir das soluções propostas pelas crianças para sair da crise contemporânea.
Trabalho para Mesa Redonda
Antonella Maria Imperatriz Tassinari (UFSC)
Resumo: A partir de pesquisa de campo com crianças Galibi-Marworno do Uaçá (Oiapoque/AP), pretende-se explorar as dinâmicas de aprendizagem relacionadas ao reconhecimento, cuidado e respeito a um ambiente vivido por diferentes tipos de pessoas, humanas e não humanas. A educação Galibi-Marworno sustenta que as crianças devem viver livremente na comunidade para desenvolver um corpo forte e saudável e adquirir conhecimentos úteis para as atividades cotidianas. Esta apresentação argumenta que a extensão dessa liberdade e a possibilidade de circulação das crianças depende do reconhecimento das características dos diferentes contextos socioambientais em que ocorrem essas atividades. Boa parte dos desafios da aprendizagem está em reconhecer os diferentes contextos socioambientais em que ocorrem as atividades diárias (marcados por domínios de “propriedade” humana e não humana), identificar a presença dos “donos” dos lugares e conhecer seus vínculos com esses "donos" (humanos do mesmo grupo local, humanos de outros gruopos locais e não humanos), bem como as regras de contato, cuidado e respeito que se deve ter com essas pessoas. É dessa maneira que as crianças Galibi-Marworno nos ensinam sobre cuidado e ética socioambiental.
Trabalho para Mesa Redonda
Flávia Ferreira Pires (UFPB)
Resumo: Em outra oportunidade já escrevi sobre o que as crianças podem fazer pela antropologia. Nesse momento,
minha empreitada é ainda maior, pretendo tentar responder O que as crianças em situação de orfandade pela
Covid-19 no estado da Paraíba podem ensinar para o mundo. Através de cenas etnográficas apresentarei casos
de crianças que perderam as mães para a covid-19, atentando para as soluções inventadas por elas para
enfrentar o luto e as tragédias decorridas dele. Os novos arranjos familiares, as guinadas na trajetória
escolar e os abalos na saúde mental serão os temas mais suscitados nesse diálogo com esses atores e atrizes.
Concluo sobre a urgente de ter em conta as crianças para encontrar soluções para a crise ambientar,
econômica e política contemporânea.
Covid-19, Crianças, Orfandade
Trabalho para Mesa Redonda
Maria do Socorro Rayol Amoras (UFPA)
Resumo: A discussão que proponho nesta Mesa Redonda parte das minhas investidas com a antropologia da criança para situar as crianças do Quilombo do Abacatal como interlocutoras de um debate acerca de suas relações com o “trabalho” e a manutenção do território no tempo, isto é, como elas dizem: o “jeito de se viver”. Um posicionamento que busca compreender como elas atualizam o repertório ancestral dos saberes do seu grupo que ensinam o viver com dignidade, isto é, para os quilombolas de Abacatal a satisfação das necessidades humanas pressupõe viver em harmonia com a natureza. Arrisco-me a dizer que as crianças abacataenses situam uma compreensão de Bem-Viver quando se expressam na articulação política da vida, quando participam ativamente do fortalecimento das relações comunitárias e solidárias, compartilhando espaços comuns de sociabilidades e de trabalho colaborativo, produzindo territorialidades que afirmam um modo de vida particular. A participação ativa dessas crianças, no pertencimento e na permanência do grupo, instiga refletir o que anunciou Antônio Bispo (2023): “os quilombos são perseguidos exatamente porque oferecem uma possibilidade de viver diferente”. O debate, portanto, argumenta que as crianças quilombolas e suas experiências infantis com a construção das referências identitárias de um “jeito de se viver” muito têm a contribuir com o conjunto das formulações acerca das saídas para a crise contemporânea, aquelas pensadas a partir de um Bem-Viver - “viver diferente” - que redireciona as relações do chamado mundo do trabalho, sendo uma possibilidade de imaginar outros mundos pelas crianças.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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