Trabalho para Mesa Redonda
MR 57: Para evitar a queda do céu: o que as crianças nos ensinam para sair da crise contemporânea?
O Bem-Viver no “jeito de se viver” das crianças do Quilombo do Abacatal-PA/Amazônia
A discussão que proponho nesta Mesa Redonda parte das minhas investidas com a antropologia da criança para situar as crianças do Quilombo do Abacatal como interlocutoras de um debate acerca de suas relações com o “trabalho” e a manutenção do território no tempo, isto é, como elas dizem: o “jeito de se viver”. Um posicionamento que busca compreender como elas atualizam o repertório ancestral dos saberes do seu grupo que ensinam o viver com dignidade, isto é, para os quilombolas de Abacatal a satisfação das necessidades humanas pressupõe viver em harmonia com a natureza. Arrisco-me a dizer que as crianças abacataenses situam uma compreensão de Bem-Viver quando se expressam na articulação política da vida, quando participam ativamente do fortalecimento das relações comunitárias e solidárias, compartilhando espaços comuns de sociabilidades e de trabalho colaborativo, produzindo territorialidades que afirmam um modo de vida particular. A participação ativa dessas crianças, no pertencimento e na permanência do grupo, instiga refletir o que anunciou Antônio Bispo (2023): “os quilombos são perseguidos exatamente porque oferecem uma possibilidade de viver diferente”. O debate, portanto, argumenta que as crianças quilombolas e suas experiências infantis com a construção das referências identitárias de um “jeito de se viver” muito têm a contribuir com o conjunto das formulações acerca das saídas para a crise contemporânea, aquelas pensadas a partir de um Bem-Viver - “viver diferente” - que redireciona as relações do chamado mundo do trabalho, sendo uma possibilidade de imaginar outros mundos pelas crianças.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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